O Laboratório de Investimento Social (LIS) é um projecto do Instituto de Empreendedorismo Social (IES) e da Fundação Calouste Gulbenkian, em parceria com a Social Finance UK. Lançado no passado dia 27 de Fevereiro, pretende ser um agente de inovação, procurando adaptar à realidade portuguesa as melhores práticas internacionais e instrumentos financeiros inovadores na área do investimento social, posicionando-se como uma referência nesta área.
O evento de lançamento do Laboratório de Investimento Social , o qual teve lugar na Fundação Calouste Gulbenkian, contou com a presença do secretário de Estado adjunto do primeiro-ministro, Carlos Moedas e com um painel internacional de oradores especializados em Investimento Social – Bernard Horn e Jane Newman da Social Finance UK, e Maximilian Martin, Director Executivo Global da Impact Economy. Com uma plateia que contou com mais de 400 pessoas, o evento mostrou “a actualidade deste conceito e a importância de se encontrarem mecanismos sustentáveis de financiamento focados no sector da inovação e do empreendedorismo social em Portugal”, como reforçou Filipe Santos, líder e supervisor científico do projecto. Depois de uma sessão plenária sobre o conceito de Investimento Social, seguida por dois workshops (v. Caixa), que tiveram como objectivo juntar representantes dos diversos sectores (social, público e financeiro) em torno de temas específicos do investimento social, o evento terminou com a cerimónia de lançamento do Laboratório, numa sessão aberta ao público. Investir em Portugal? Sim, sem dúvida Tendo em conta que os investidores neste sector podem ser mecenas, departamentos de responsabilidade social das empresas, fundos de capital de risco, fundações e business angels, a equipa do recém-criado Laboratório concluiu que o problema do sector social pode não residir na falta de recursos financeiros, mas sim na ausência de imaginação colectiva que impede a criação de estratégias que alinhem as expectativas de retorno e o impacto do seu investimento. Os cálculos realizados pela equipa do LIS, com base em informação pública, demonstram que se 5% dos activos sob gestão dos investidores fossem alocados ao sector social, o resultado cifrar-se-ia em cerca de 1250 milhões de euros, os quais poderiam cobrir quase o dobro das necessidades líquidas de financiamento das organizações sociais (que não chegam aos 770 milhões de euros). Adicionalmente, e de acordo com esta lógica, os benefícios para os investidores sociais são vários. Por um lado, o facto de poderem gerar e pertencer a um “novo tipo de capitalismo” – com um retorno financeiro ainda pouco explorado -, aliado à possibilidade de se alocar recursos de forma equilibrada entre diversos agentes, comprova a sua atractibilidade, pois permite a inclusão de investimentos alternativos à banca. Por outro, a criação de valor a médio e longo prazo reforça o compromisso alargado dos investidores perante as suas acções, permitindo uma análise mais “calma” e detalhada, comparativamente a outras áreas. O facto de sentirem que o seu contributo pode mudar a vida de alguém é outra mais-valia para os investidores, tendo em conta que a missão dos projectos sociais reside, exactamente, no envolvimento com a comunidade. A avaliação dos resultados é fundamental porque permite quantificar o valor social como variável de retorno financeiro, o qual, consequentemente, leva à renovação, revalidação e multiplicação das oportunidades de investimento. Os desafios sociais, em Portugal, são complexos e exigem dedicação. O LIS acredita que uma maior aproximação entre o sector social e as diversas fontes de capital poderá maximizar o valor que este tem para a sociedade, tornando-o mais sustentável e aumentando o seu impacto.
A importância do impacto social O LIS acredita e defende que um acesso facilitado a novas fontes de financiamento conduzirá a uma autonomia e sustentabilidade financeira a médio/longo prazo, facilitando o foco da missão das organizações sociais, na medida em que a principal preocupação destas deixará de ser o financiamento urgente e de curto prazo. Como resultado, as organizações poderão gerir os seus recursos humanos de forma mais organizada, maximizando o impacto dos bens e serviços prestados aos beneficiários, ao responderem mais eficiente e eficazmente aos desafios a que se propõem. Estas novas fontes de financiamento são também um atractivo à entrada, no sector, de novas organizações, originando uma maior concorrência e colaboração entre as mesmas. Este factor é de extrema importância, na medida em que estimula a inovação e o aperfeiçoamento dos serviços prestados, tornando o próprio sector social mais dinâmico, e promovendo, mais uma vez, a eficiência e a eficácia dos serviços prestados.
O impacto, definido como a criação de valor para a sociedade, é o mais recente critério inerente aos investimentos realizados. Ao aliar-se aos tradicionais “risco” e “retorno”, permitirá sustentar e justificar o investimento a longo prazo. A importância deste novo critério é substancial, tendo em conta que o empreendedor social não procura apenas criar valor para si ou para a sua organização (lucro ou retorno financeiro), mas também para a sociedade (impacto). E quanto maior for o impacto, mais financiamento e financiadores o projecto irá atrair. A este respeito, Filipe Santos deu o exemplo de uma organização no Reino Unido que teve a ideia de sugerir aos jovens em risco de exclusão que tomassem conta de crianças pequenas. O que poderia parecer uma “tarefa estranha”, conferiu a estes jovens valores tão essenciais como a responsabilidade e a responsabilização, em conjunto com um sentimento de pertença e sentido para as suas vidas. Ou, por outras palavras, o facto de terem alguém que dependesse deles, ajudou-os a deixarem de se sentir sozinhos e a esforçarem-se por constituir um bom exemplo para essas mesmas crianças. Este projecto foi bem-sucedido dado o elevado impacto na comunidade onde foi implementado. Adicionalmente, o impacto originou mais investimento e permitiu que o projecto se prolongasse no tempo e chegasse a um maior número de pessoas. Em suma, o investimento social pretende não só atrair financiadores, mas também preparar as organizações sociais para estes financiamentos, para que maximizem a criação de impacto. Ao pretender, em igual escala, gerar retorno financeiro e retorno de valor para a sociedade, o investimento social potencia as capacidades do sector em causa, pois permite mobilizar alguns recursos já existentes nos sectores público e privado. Desta forma, dá também resposta aos problemas e desafios consequentes da crise, com os quais todos nós nos confrontamos actualmente.
Financiamento das (e nas) organizações O LIS acredita que tão importante como o financiamento das organizações é o financiamento nas organizações, porque é este que as vai preparar e capacitar para a sua actuação, dando-lhes ferramentas que melhorem a gestão do financiamento que recebem. Outra forma de acção do LIS relaciona-se com o desenvolvimento de instrumentos financeiros internacionais, como os Títulos de Impacto Social (Social Impact Bonds ou SIBs, no acrónimo em inglês), Fundos de Investimento Social e Filantropia Estratégia, adaptando-os à realidade portuguesa. Por fim, mas não menos importante, o LIS actuará também no que respeita à avaliação do desempenho e do impacto social, apoiando a elaboração de reporting para os investidores. A metodologia do Laboratório passa por propor soluções para problemas sociais que aliem os interesses dos investidores às necessidades das organizações. O primeiro passo será identificar oportunidades: perceber quais os modelos de intervenção capazes de melhorar a vida das populações vulneráveis, através da análise dos problemas sociais, das barreiras ao investimento e dos custos de intervenção. Posteriormente, o objectivo será atrair financiamentos, mostrando aos investidores a credibilidade do projecto apresentado. Desta forma, cria-se um mercado de investimento social. Finalmente, chegar-se-á à implementação do projecto, capacitando os seus actores e permitindo que este se transforme num modelo a ter em conta futuramente, expandindo-o para outros campos e aumentando o seu impacto. A equipa do Laboratório de Investimento Social é constituída por Filipe Santos, António Miguel e Joana Cruz Ferreira, sendo que: Filipe Santos, docente do INSEAD e presidente do Conselho Estratégico do IES, é o líder e supervisor científico do Laboratório; António Miguel, que integra também a equipa da Social Finance UK, ocupa-se da coordenação; Joana Cruz Ferreira é a analista e investigadora deste projecto.
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Jornalista