A ACEGE Next, núcleo da ACEGE que representa a geração de jovens profissionais no início de carreira que pretendem viver os valores da fé cristã no seu local de trabalho estendeu o debate sobre a Economia de Francisco aos países de língua portuguesa, através de um curso online que contou com a participação de países como o Brasil, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé. O resultado foi uma troca de experiências únicas, assentes em testemunhos e realidades muito diversas, mas que desejam colocar as pessoas no centro da economia e trabalhar em prol do bem comum
POR GIGI CAVALIERI
Há muito tempo temos que tínhamos o desejo de realizar um evento da UNIAPAC [International Christian Union of Business Executives] com os países de língua portuguesa. Em todas oportunidades de encontros presenciais, congressos, retiros, think tanks, em vários lugares do mundo, combinávamos que o faríamos, mas com tantas e urgentes demandas acabávamos não colocando em prática o nosso desejo.
O chamado do Papa para o encontro “Economia de Francisco” apresentou-se como uma excelente oportunidade para finalmente o conseguirmos fazer: afinal a urgência desta nova economia vem ao encontro do que UNIAPAC propõe, ou seja, uma economia centrada na pessoa.
Entretanto, chegou a pandemia que, por sua velocidade de contaminação, nos deu o sentido exato de que vivemos numa aldeia global, e se podemos dizer que a mesma trouxe algo de bom, foi a possibilidade de estarmos onde e quando quisermos, não de corpo, mas de alma.
Encontrámos na ACEGE, irmã da ADCE Brasil, a acolhida e o entusiasmo que buscávamos e, com o auxílio da tecnologia, passámos aos encontros virtuais para viabilizar o Curso Economia de Francisco dos Países de Língua Portuguesa. A ideia surgiu num primeiro encontro, onde se conjugou uma enorme vontade de construirmos algo em conjunto.
Estávamos no início do mês de abril e o grupo organizador estava consolidado: ânimo, fé, vontade de aproximação e de conhecer a realidade dos países lusófonos – foram estes os grandes impulsionadores do encontro, mesmo que em formato virtual. E assim se agregou de imediato um grupo de pessoas provenientes de Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé, que se juntaram para fazer acontecer.
Com a colaboração de todos estava definido o planejamento: cinco encontros virtuais, todas as terças-feiras do mês de junho, tendo como propósito aproximar as pessoas e apresentar as diversas realidades destes vários países e descobrir o que nos une para além de uma língua comum. Cada sessão foi dirigida por um dos cinco países e teve sempre a mesma estrutura: começava com a apresentação do tema por parte de um professor do país em causa e, na segunda parte contava com testemunhos reais aplicados à realidade desse mesmo país, contando com jovens, empresários, membros do clero, representantes de organizações e muitos outros, que, em 10 minutos, ofereciam o seu contributo para o tema em discussão.
Através de testemunhos, que vão muito além da língua em comum, e sob a ótica dos que estão em contato direto com as comunidades, foram apresentadas ações realizadas em cada país, tudo cuidadosamente preparado, com exemplos concretos, vídeos e apresentações variadas.
O primeiro tema em debate teve como objectivo oferecer uma visão mais ampla e situar os participantes sobre o que nos motivou a preparar este curso. Na primeira sessão e com o tema “Porque precisamos de uma Economia de Francisco”, procurou-se responder à questão sobre o que o Papa Francisco pretende com este convite.
Numa dinâmica de apresentações intercaladas com participantes de cada país, conduzidas por um mestre-de-cerimónias muito versátil, Matheus Machado, seguimos para o segundo encontro, que versava sobre a temátca “Eu: como posso ser melhor cristão no mundo trabalho”. Ou seja, como levar a presença de Cristo ao trabalho?
O painel de oradores foi diversificado e pessoas de diversas áreas de atuação, desde a área da saúde ou da educação, mostraram a importância de uma liderança humilde e o reconhecimento de que trabalhar é uma graça, na medida em que podemos fazer a diferença não só relativamente ao outro, mas para a nossa própria realização.
Como tudo está conectado, o tema seguinte, intitulado “O ambiente: mudanças climáticas, fruto da ação humana”, centrou-se nas questões ambientais. Tendo como base a encíclica Laudato Si’, debatemos como é possível existir um desenvolvimento verdadeiramente integral e sustentável, sem esquecer que as relações humanas e sociais estão integradas na natureza.
E, já que falamos em relações sociais, é preciso estar em sintonia com o outro, ir ao encontro do outro. E foi exatamente esse o tema – “O outro: cuidar do outro através do meu trabalho” que foi seguidamente explorado. Desta vez apoiados na encíclica Fratelli Tutti e com base em testemunhos impactantes, foi discutida a necessidade de sermos uma sociedade do cuidado, com respeito e diversidade e que, através da escuta, possa desenvolver a confiança e a decisão para se partir para ações que impactem e transformem a sociedade.
O último encontro, com o tema “A sociedade: como posso ser agente de transformação na sociedade”, permitiu-nos debater de que forma é que os valores e princípios cristãos permitem chegar ao Bem Comum, tendo em conta que vida é a soma de todos nós. Cada um de nós é um agente de transformação que, trabalhando em equipas, pode gerar ideias e encontrar soluções. Ou, em última análise, não nos esquecermos de que precisamos uns dos outros.
Terminado o curso, ficou a vontade de continuar e, tal como os apóstolos, com o desejo de armar as tendas e ficar junto a Jesus, no alto da montanha.
Foram encontros de grande riqueza pelas apresentações e trocas de experiências, as quais trouxeram esperança de que um mundo melhor é possível, com oportunidades iguais para todos, com maior equidade e onde os valores e princípios cristãos estejam presentes na educação familiar e académica, formando pessoas que desejam trabalhar em prol do Bem Comum, acima do individual e que entendam que a diversidade é uma grande riqueza e nos engrandece.
Assim como os vários dinamizadores e participantes deste curso, a UNIAPAC, presente em 40 países e com uma rede de 45 mil associados, fomenta uma economia que tenha a pessoa como centro das atividades e acredita que é possível uma economia inclusiva que gere um desenvolvimento pleno, integral e sustentável.
Brevemente estaremos reunidos novamente para fortalecer as nossas convicções e, como Cristãos comprometidos, inspirar e sermos multiplicadores de ações que gerem uma sociedade mais fraterna, sã e sustentável.
NOTA: Agradecemos a todos os que participaram nas apresentações e aos que aceitaram o convite para assistir às aulas. Dada a riqueza dos conteúdos, é difícil consolidar num texto tudo o que foi discutido. Assim, os vídeos das sessões do curso estão assinalados, com o respetivo link, ao longo deste artigo e também disponíveis na ADCE Brasil.
Presidente da ADCE SP e da UNIAPAC Latinoamericana; Conselheira de várias empresas e entidades; Diretora da FIESP - Federação das Indústrias do Estado de São Paulo