O atmosfera m é um novo espaço de arte, cultura e conhecimento, no Porto, que promove o diálogo e a partilha de ideias, estimulando o pensamento colectivo. Lançado pelo Montepio, em Março, o projecto olha a realidade com vista a “activar a intervenção cívica e fomentar quadros de resposta aos problemas da sociedade e do país”, como explica, em entrevista, o administrador do banco mutualista, Carlos Beato
POR GABRIELA COSTA

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O Montepio – Associação Mutualista inaugurou a 14 de Março, no Porto, um espaço inovador que visa provocar e estimular a troca de ideias, conhecimentos, vontades e experiências entre todos os cidadãos. O atmosfera m dinamiza a Economia Social na cidade Invicta, destinando 1 650 metros quadrados à arte, à cultura e ao progresso comunitário, através de infra-estruturas que potenciam o exercício da cidadania, como uma biblioteca vocacionada para o Terceiro Sector, dois auditórios disponíveis para instituições de solidariedade social e população em geral, salas de formação para projectos de aprendizagem, um espaço de exposições para mostras artísticas, uma ludoteca e um espaço infantil com ferramentas essenciais aos desafios do crescimento.

O espaço, dirigido não só aos associados do banco como a toda a comunidade, sem excepção, oferece às crianças, jovens, adultos e seniores uma programação diversificada e interactiva, com o objectivo de “cruzar idades, profissões, gostos e projectos”, promovendo assim a interculturalidade numa perspectiva intergeracional.

Em entrevista ao VER, o administrador do Montepio, Carlos Beato, defende a relevância da intervenção colectiva, sublinhando que estimular esta tomada de iniciativa, apoiando a sociedade civil, é “promover o diálogo, a partilha de ideias e o pensamento conjunto”. O que permite “olhar a realidade em busca de novas propostas”.

O atmosfera m nasce da vocação solidária e da génese mutualista do Montepio, integrando-se na forte política de Responsabilidade Social do banco, que tem na sua Fundação um dos principais contributos para o desenvolvimento da Economia Social em Portugal. Do plano de acção da mesma para 2014, Carlos Beato destaca a consolidação da formação e capacitação dos dirigentes voluntários, a aposta na reflexão crítica em torno de temas como a governação partilhada e a criação de redes de financiamento. Para o administrador, estes são “factores estruturantes de um novo paradigma de políticas sociais para o futuro, decisivos para o sucesso em tempos de adversidade”.

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Carlos Beato, administrador do Montepio
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Como surgiu a ideia e quais são os grandes objectivos deste ‘Clube de Cidadania’ dedicado à partilha de conhecimento e boas vontades?
Diria que o lema que inspira o nosso projecto responde à questão colocada: um espaço para pensar e agir. De facto, no Montepio acreditamos que entre associados, mas também junto da comunidade, há ideias que só precisam de um local e de algumas “pontes” para se efectivarem. Entendemos, por isso mesmo, responder a essa necessidade e criar um espaço – o atmosfera m – onde todos, das pessoas às instituições da sociedade civil, possam realizar os seus projectos.

Das tertúlias às ações de formação, do lançamento de livros às exposições artísticas, muito pode acontecer neste projecto que arrancou na cidade do Porto e que, em breve, será replicado em Lisboa e, no futuro, noutras cidades.

O atmosfera m nasce da missão mutualista do Montepio, disponibilizando gratuitamente auditórios, biblioteca, salas de formação, de exposições e ludoteca. Em que consiste a programação intergeracional e intercultural pensada para o novo espaço?
A programação é construída com uma periodicidade mensal. Em Abril, por exemplo, tudo girará em torno da Liberdade. Em Maio o tema será a Europa (as eleições darão o mote), em Junho será a vez das crianças, e em Julho abordaremos as questões ligadas à diversidade.

Todas as temáticas são alicerçadas em momentos que promovem a sensibilização e o diálogo entre todos – as crianças são convidadas para a hora do conto, mas passam pelas exposições ligadas ao tema; os adultos podem usufruir da formação em sala mas são convidados a trazer os mais jovens, pois a ideia de ter salas de formação abertas a todos surge, precisamente, do objectivo de promover um maior diálogo intergeracional. Queremos que pais e avós se cruzem nas suas actividades com filhos e netos.

De que modo é que um espaço que permite o acesso de todos os cidadãos à arte, à cultura e ao conhecimento impulsiona o exercício da cidadania e, consequentemente, uma maior intervenção cívica nos problemas prementes do País?
São objectivos do atmosfera m promover o diálogo e a partilha de ideias, estimular o pensamento conjunto, o olhar a realidade em busca de novas propostas, novas soluções e novas respostas. Se estimularmos esta tomada de iniciativa, se apoiarmos a sociedade civil, estaremos a activar a cidadania e a intervenção e, por igual, a fomentar quadros de resposta aos problemas das pessoas, da sociedade e do País.

O Montepio, enquanto associação mutualista que reúne perto de 600 mil portugueses, é prova disso mesmo, da activação da cidadania e da sua importância.

“Queremos que pais e avós se cruzem com filhos e netos” .
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Esta iniciativa, que promove ainda acções de voluntariado dos associados do Montepio, parceiros e empresas, vai ser replicada em três novos espaços até 2015. Em que medida o espírito associativo e os projectos de proximidade são critérios para a eleição desses espaços?
O voluntariado é muito importante para o Montepio, seja na perspectiva dos projectos empreendidos pelos seus colaboradores, seja na perspectiva da actuação dos associados e demais stakeholders.

Por essa razão, e porque a intervenção a favor do coletivo é para nós fundamental – note-se que o Montepio é uma associação –, estamos já a preparar o atmosfera m de Lisboa, que ficará localizado na Rua Castilho, e que esperamos inaugurar até ao final deste ano. Uma vez mais, este será um espaço para associados, para o estreitamento da relação entre estes e o Montepio, mas também para a sociedade civil.

No âmbito da tripla dimensão do Montepio – financeira, mutualista e da Fundação ­­­-, o que distingue a vossa política de RS, no que respeita às grandes áreas a que dão destaque, como a educação, o voluntariado empresarial e a solidariedade?
Para o Montepio, a Responsabilidade Social é uma linha de orientação estratégica que integra o próprio ADN da organização. Está presente nas diversas dimensões da actividade e tem por objectivo efectivar a perspectiva mutualista de solidariedade, partilha e planeamento do futuro. As áreas referidas são algumas das que mais acarinhamos, principalmente através da Fundação, e pretendem contribuir para a formação das gerações vindouras, promover a cidadania junto dos colaboradores e estimular a Economia Social, sector ao qual o Montepio pertence.

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Através de apoio técnico, de investimento financeiro e do estabelecimento de parcerias, desenvolvemos diversos projectos, como o Prémio Escolar Montepioou o Prémio Voluntariado Jovem, e viabilizamos iniciativas conjuntas em áreas como a procura de emprego ou o combate à solidão, sempre com o pressuposto da parceria, do empoderamento e da inclusão.

A Fundação Montepio foi lançada em 1995 com a missão de promover o mutualismo, a Economia Social e a solidariedade. Que balanço faz destes 19 anos de actuação em investimentos inovadores na Economia Social? Face aos desafios sociais inerentes ao contexto de crise, o que destaca no Programa de Acção Estratégica definido para 2014/16?
Falamos de um processo de crescimento gradual, alicerçado na antecipação de tendências e na busca de respostas que possam responder às necessidades mais prementes da sociedade portuguesa. Em linha com as demais entidades do sector social e também com as empresas, temos procurado evoluir de uma perspectiva filantrópica para a abordagem do investimento social, medindo o impacto da actividade, premiando a inovação e o empreendedorismo e garantindo a sustentabilidade dos projectos.

Enquanto factores estruturantes de um novo paradigma de políticas sociais para o futuro, saliento no nosso plano de acção a consolidação da formação e capacitação dos dirigentes voluntários, a aposta na reflexão crítica em torno de temas como a governação partilhada e a criação de redes de financiamento. Todos estes factores são decisivos para o sucesso em tempos de adversidade.

Linhas de Orientação Estratégica da Fundação Montepio para o triénio 2014/16
Globalmente, as quatro Linhas de Orientação Estratégica que norteiam a actuação da Fundação Montepio permitem uma visão integrada dos projectos e acções a desenvolver em consonância com as prioridades definidas para as demais entidades do Grupo, em especial com o Montepio – Associação Mutualista. No âmbito desta estratégia, mantém-se para o triénio 2014/16os objectivos gerais equacionados no Plano de Acção de 2013:

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PROMOVER RESPOSTAS ECONÓMICAS E SOCIAIS INOVADORAS
• Apoiar técnica e financeiramente projectos nas áreas da solidariedade, saúde, educação e formação, em complemento da intervenção do Estado;
• Contribuir para a sustentabilidade dos projectos;
• Fomentar a capacitação dos dirigentes e quadros técnicos das organizações, bem como a certificação da qualidade das organizações.

APOIAR A DINAMIZAÇÃO DA CIDADANIA ACTIVA
• Aderir e participar activamente nas estruturas nacionais e internacionais nas áreas convergentes com a missão e valores da Fundação;
• Estimular a participação cívica das organizações de economia social e a sua democracia interna;
• Sensibilizar a comunidade em geral para os domínios do mutualismo, voluntariado, educação financeira e cidadania.

DIVERSIFICAR GEOGRAFICAMENTE A INTERVENÇÃO DA FUNDAÇÃO MONTEPIO
• Garantir uma distribuição mais equitativa dos recursos da Fundação;
• Aprofundar a relação de proximidade com a comunidade e com as outras entidades do Grupo, aproveitando as sinergias locais;
• Aumentar o conhecimento sobre a realidade do País e fomentar a resolução local dos problemas.

AFIRMAR A IDENTIDADE DA FUNDAÇÃO COMO PROTAGONISTA DA RESPONSABILIDADE SOCIAL EXTERNA DO GRUPO MONTEPIO
• Divulgar interna e externamente a missão, valores e fins da Fundação;
• Contribuir para a consolidação e disseminação da política de Responsabilidade Social externa do Grupo.

Fonte: Fundação Montepio

Jornalista