Em 2012, e no âmbito do AEEASG, a semente “foi lançada e frutificará”, acredita a coordenadora nacional deste Ano Europeu. Para Joaquina Madeira, o conceito de envelhecimento activo lança o debate para uma mudança cultural em que o valor social e económico das pessoas ao longo da vida “passa a ser medido em função das suas capacidades, saberes e experiências, e não em razão da idade” Numa sociedade em mudança, que ainda não adaptou o seu modelo de organização social e económica ao seu actual perfil socio-etário, é essencial criar vontades e dinâmicas para desenvolver políticas e ações concretas que melhorem a vida dos mais velhos. Ora, ao longo de 2012, e no âmbito do Ano Europeu do Envelhecimento Activo e da Solidariedade entre Gerações, várias foram as iniciativas desenvolvidas, quer de formação para uma maior inclusão da população sénior no mercado de trabalho, quer de apoio à criação de mais redes de solidariedade de proximidade para acompanhar e apoiar os cidadãos que vivem em condições de maior dependência e isolamento, ou ainda de desenvolvimento de suportes tecnológicos para a promoção da sua autonomia. Num “contexto acrescido de dificuldades”, as instituições “sentiram a necessidade de rentabilizar recursos e esforços convergindo para as acções de forma concertada”, fortalecendo, assim, a mais que actual lógica da cooperação em rede. Como explica ao VER, numa Grande Entrevista de balanço do AEEASG-2012, Joaquina Madeira, ao espírito de partilha para gerar novas sinergias, deve juntar-se a inovação na procura de soluções eficazes. Este Ano Europeu “foi talvez um tempo para alavancar estas redes”, conclui a coordenadora nacional do Ano Europeu do Envelhecimento Activo e da Solidariedade entre Gerações, sublinhando: “há uma sociedade nova a nascer e quem tem mais consciência disso são as entidades locais, que estão a saber responder ao desafio com dinamismo”. Certo é que nos dias de hoje “cada um de nós vai ter um bónus de vida como nunca houve no passado”, e é por isso urgente tomar medidas que criem uma sociedade mais amiga das famílias e dos seniores e também mais incentivadora da natalidade, defende Joaquina Madeira. Porque, se o próprio conceito de envelhecimento activo implica já um “combate à classificação das pessoas e dos papéis que lhe são atribuídos, em função da idade”, só “a solidariedade e a empatia do ver em nós o outro, nos impulsionam para a acção”.
Que balanço faz das diversas iniciativas desenvolvidas em 2012 no âmbito do AEEASG, em Portugal? Em que áreas – emprego, saúde, protecção social, acessibilidade, formação de adultos, voluntariado, etc. – teve este Ano maior intervenção, promovendo o envelhecimento activo? A avaliação dos resultados do Ano Europeu deve ser focada na continuidade das ações e na tomada de consciência dos desafios que nos batem à porta. Nestes dois aspectos há boas evidências da dinâmica que foi criada e da vontade (expressa por todos os intervenientes, conscientes de que o caminho de futuro é criar uma sociedade mais inclusiva), de que importa desenvolver politicas e ações concretas que melhorem a vida dos nossos concidadãos mais velhos. Não podemos medir com rigor os resultados, nos níveis que refere, mas podemos afirmar que se tomaram iniciativas de incentivo a mais formação para uma maior inclusão dos mais velhos no mercado de trabalho, à criação de mais redes de solidariedade de proximidade para acompanhar e apoiar os cidadãos que vivem em condições de maior dependência e isolamento, de mais suportes tecnológicos para a promoção de autonomia, e de alargamento da rede de Academias e Universidades Seniores. Também se desenvolveramprojectos envolvendo escolas, universidades e cidadãos em iniciativas conjuntas ou na criação de oportunidades de troca de experiências, que se tornarão em práticas correntes e que aproximam gerações. Enfim, estamos cientes que a semente foi lançada e que ela frutificará a todos os níveis, pois o futuro está numa sociedade mais amiga das pessoas idosas e, como tal, de todos os cidadãos. Em que medida conseguiram estas acções mobilizar entidades públicas, empresas e sociedade civil, ao nível da sua participação e envolvimento nesta causa? Mas o que mais importa ressaltar foi a cooperação que se desenvolveu entre as próprias organizações, unindo e partilhando recursos para a realização das acções. Na realidade, num contexto acrescido de dificuldades, as instituições sentiram a necessidade de rentabilizar recursos e esforços convergindo para as acções de forma concertada. Talvez seja agora a oportunidade para se reforçarem parcerias e redes de intervenções, pois é uma mais valia que hoje está disponível e que viabiliza acções que, de outra forma, não seriam possíveis. Contar uns com os outros, num espírito de partilha, criando assim novas sinergias. Este Ano Europeu foi talvez um tempo para alavancar as redes de cooperação e a inovação na procura de soluções eficazes. Há uma sociedade nova a nascer e quem tem mais consciência disso são as entidades locais, que estão a saber responder ao desafio, com inovação e dinamismo. O Ano acaba com um grande evento, o PORTUGAL MAIOR – 1º Encontro Internacional para o Envelhecimento Activo e Solidariedade entre Gerações. Os objectivos de gerar reflexão crítica e partilha de conhecimento, por um lado, e de funcionar como uma plataforma de oportunidades de negócio para empresas que desenvolvem actividades para o target sénior ficaram cumpridos? Foi um evento que se realizou pela primeira vez em Portugal, respondendo a esta enorme conquista de vivermos cada vez mais anos com maior qualidade de vida. Nasceu uma nova realidade sócio demográfica e daí, também, um novo mercado ao nível dos serviços a prestar, dos bens e produtos em áreas tão diversas como a da promoção da autonomia física, das viagens, da cosmética, dos serviços de bem-estar em geral. O Portugal Maior tem esta marca, fazendo uma mostra do tanto que já se faz e existe, e permitindo avaliar até que ponto devemos continuar a pensar na qualidade de vida, à medida que envelhecemos, como factor central para a felicidade de cada um de nós e para a sustentabilidade da sociedade. Não será o lado mais importante, mas é certamente relevante dizer que esta área será a que irá promover mais oportunidades de trabalho e emprego sendo, por outro lado, uma área que irá incentivar a criação e inovação de produtos e serviços que promovam a autonomia e qualidade de vida. Considero assim que este Encontro foi uma “pedrada no charco” que irá ter efeitos muito positivos quer para a qualidade de vida dos cidadãos, quer para os promotores e empresários que se querem lançar nesta área. Que balanço faz ao nível da afluência e participantes, temas em debate e oportunidades de negócios e o que destaca como momentos altos do evento, nomeadamente no que concerne o Congresso de Geriatria e Gerontologia e o 1º Salão Internacional para o Envelhecimento Activo? Desta forma, o modelo do evento e as estratégias de divulgação e informação, entre outros factores, devem ser avaliados tendo em conta o objectivo de alcançar cada vez maiores níveis de participação. Mesmo assim, a edição deste ano do evento correspondeu às expectativas, com bons níveis de participação e animação. E a vontade é de melhorar, mantendo a ambição em alta. Também o Congresso Internacional de Geriatria e Gerontologia, com intervenções de excelência, cobriu uma multiplicidade de áreas onde é necessário aprofundar o conhecimento de maneira a sustentar políticas, medidas e acções que concorram para o envelhecimento activo e para uma sociedade mais inclusiva. Felicito a AIP – Feiras, Congressos e Eventos, bem como a Escola Superior João de Deus, pela ousadia em desbravar novos caminhos, organizando este evento pioneiro em Portugal, e agradeço e saúdo todas as entidades e instituições que, ao longo dos cinco dias, tiveram uma presença qualificada e mantiveram uma participação activa, criando um ambiente convivial e festivo neste Portugal Maior. O primeiro passo está dado. Agora vamos avaliar para melhorar e prosseguir, alargando o leque de participação e de visitas a um espaço que se reveste de maior sentido e oportunidade, nesta nova sociedade com cada vez mais pessoas com mais idade, é certo, mas também com crescente qualidade de vida.
Integrado no Portugal Maior decorreu ainda o “Fórum da Rede Social de Lisboa 2012 – Participar para Agir”. Que importância tem, para a promoção efectiva do envelhecimento activo, este tipo de acção aberta ao público, que divulga as actividades de uma rede que integra já 322 entidades, entre autarquias, organismos do sector público, IPSS, organizações não governamentais, associações e fundações? Mas quero, sobretudo, sublinhar a importância destas instâncias de cooperação, que são as redes sociais em todos os concelhos do País que constituem um avanço assinalável na concretização do princípio da parceria com base nos territórios locais, como modalidades de intervenção que potenciam e racionalizam recursos, partem de uma visão integrada das necessidades das comunidades, e actuam de forma articulada e convergente, face a objectivos determinados. Pretende-se que estas estruturas de cooperação constituam uma verdadeira “rede” de suporte e apoio aos cidadãos e famílias em necessidade e que se construa uma resposta “inteligente”, porque ligada entre entidades e focada no cidadão. Este ano, as REDES SOCIAIS e os seus órgãos operacionais, os Conselhos Locais de Acção Social, tiveram um papel determinante nas acções desenvolvidas e são o garante que estas irão ter continuidade porque são necessárias e têm a indispensável sustentabilidade. Importa, agora, que estas redes sejam capazes de agir localmente face aos problemas de desemprego e pobreza que algumas famílias e cidadãos experimentam nesta fase da vida colectiva. Como comenta as actuais estimativas que prevêem que, em 2030, a população sénior atingirá 20% do total mundial e em Portugal representa já mais de 19%, calculando-se que aumente, em 2050, para 37,73%? Estas são as boas notícias. Cada um de nós, individualmente, vai ter um bónus de vida como nunca houve no passado, e a longevidade vai ser uma realidade cada vez mais frequente. Este facto, e a baixa natalidade que desde há trinta anos se vem verificando no nosso País, vem configurando uma sociedade nova, porque diferente em termos socio-demográficos, como os números que referiu bem reflectem.
Urge, para já, tomar medidas que criem uma sociedade mais amiga das famílias e também mais incentivadora da natalidade, de forma a manter-se um certo equilíbrio entre as idades e as gerações e, assim, uma sociedade mais coesa socialmente e mais sustentável. Mas é também urgente adaptarmos o modelo de organização social e económica a esta nova sociedade cujo perfil socio-etário está a mudar. É necessário inovar nas respostas e nas soluções, nos serviços e nos produtos, de forma a que se ajustem às novas necessidades e aspirações dos cidadãos. O conceito de envelhecimento activo lança o debate para uma mudança cultural que combate a classificação das pessoas e os papéis que lhe são atribuídos, em função da idade. O valor social e económico das pessoas ao longo da vida deve ser medido em função das suas capacidades, saberes e experiências e não em razão da idade. O pensamento influencia as acções, pelo que há que mudar a maneira de “pensar a sociedade” e a sua organização, pois a realidade vivida está a alterar-se rapidamente e vamos precisar de todos os cidadãos, independentemente da idade que tenham. Como disse ao VER no arranque do AEEASG, considera que “ainda existe um Portugal sombrio, onde muitos dos nossos velhos não têm todos os seus direitos garantidos e sofrem de pobreza, de exclusão e alguns de grande solidão”. A que distancia está ainda a população sénior de ‘habitar em território útil’, como defende? São situações que assombram o nosso viver colectivo e que não podemos ignorar no quotidiano das nossas vidas. O momento que vivemos é crítico, e chegam-nos notícias que nos inquietam, de abuso e maus tratos sobre os nossos concidadãos mais velhos. Temos que agir. Todos. Como cidadãos e como sociedade. As redes de proximidade, a vizinhança, as associações de condomínios, todos podemos fazer um pouco se quisermos olhar e ver. A solidariedade e, talvez mais ainda, a empatia, o ver em nós o outro, devem ser os valores que nos impulsionam para a ação. Nestes tempos mais próximos será difícil progredir em justiça social, de que ainda tanto carecemos como sociedade, e que devemos continuar a exigir. Mas hoje é urgente que cada um de nós cumpra a sua condição de cidadania, agindo solidariamente junto dos concidadãos mais vulneráveis e que sofrem situações de pobreza. Face aos graves desequilíbrios demográficos na Europa e em Portugal (acentuados pela baixa da natalidade), que contributo deu o AEEASG para a disseminação dessa mudança cultural necessária para “nos prepararmos para que a população sénior contribua activamente para a sustentabilidade económica e para o desenvolvimento do País”, como defende? Debates, fóruns, tertúlias e seminários são ocasiões propícias, como disse, à reflexão, à discussão, enfim, à informação e formação que significa mudança. Eu própria participei em mais de uma centena de iniciativas desta natureza ao longo do ano de 2012. Ora estes contextos ajudam na nossa forma de pensar e, naturalmente, de agir. A perspectiva abordada nestas iniciativas foi sempre à volta do conceito de envelhecimento activo e de solidariedade entre gerações e de como podemos passar da palavra aos actos. Por outro lado, a realidade está a mudar, no sentido em que está a emergir uma geração de novos seniores, mais cultos, mais participativos, mais cientes dos seus deveres e direitos, que vêm, naturalmente, contribuir para uma imagem do que é envelhecer e do que é ser velho, completamente distinta do passado. O que é verdade é que a alternativa a ser velho não existe, por isso devemos encarar o envelhecimento não como um castigo, mas como uma bênção. Envelhecer é viver muito e todos desejamos que seja com mais saúde, mais segurança, mais participação e mais inclusão. Enfim, viver intensamente em qualquer idade, procurando a realização pessoal e a felicidade. Importa agora que a sociedade e as organizações que a compõem se adaptem, de forma a dar oportunidades a todos, quer ao nível da saúde, do emprego, da participação cívica, de forma a que todos tenham lugar e oportunidade, independentemente da idade. O AEEASG lançou a semente numa terra, local, que estava bem preparado para a receber. Acreditamos que ela vai crescer e dar frutos. Perante os desafios que o envelhecimento da população coloca, considera que já se está a caminhar para uma sociedade multigeracional, capaz de valorizar as potencialidades dos idosos? O que é mais premente fazer ao nível da solidariedade entre gerações, para fomentar a aproximação dos mais idosos às camadas mais jovens da população? O Ano Europeu vem trazer uma mensagem clara, afirmando que é necessário criar uma sociedade para todas as idades, e não é por se ser mais velho que não se participa de forma activa, até produtiva, na construção do viver colectivo. Assim, sublinha-se a importância da solidariedade entre gerações como sendo o “cimento” da coesão social, capital social primeiro sem o qual as sociedades não são viáveis nem sustentáveis. Este tema foi muito inspirador para os municípios, instituições e serviços que desenvolveram acções e projectos centrados neste objectivo, por todo o País. Trata-se de actividades que irão ter continuidade, pois estão incorporadas nos planos de ação e centram-se na permuta, intercâmbio e proximidade entre os mais velhos e os mais novos, através de iniciativas conjuntas ou de ações de voluntariado. Os princípios que nortearam estas actividades foram os da reciprocidade e partilha, dando e recebendo, ensinando e aprendendo, mutuamente. A proximidade e o conhecimento mútuos geram respeito e reconhecimento dos saberes e experiências imprescindíveis para uma relação construtiva. É fundamental que a solidariedade entre gerações faça parte da agenda de todos os espaços de vida, desde a família à escola, das universidades aos locais de trabalho. O que é normal e desejável é vivermos, envelhecermos entre gerações. Por isso, o Ano Europeu deixou bem expressa a sua mensagem: é necessário criar uma cultura de envelhecimento activo para uma sociedade para todos e todas. Leia também: “Está em causa uma verdadeira mudança cultural” |
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Jornalista