O que têm em comum uma mãe blogger, um reconhecido actor, um ex sem-abrigo, um jornalista vencedor de dois prémios Pulitzer e a líder de inovação social do Twitter? Para além da generosidade que, cada vez mais, está perto de ganhar um campo de investigação científica só para si, encontraram, no mundo digital e através dele, uma forma de sensibilizar o mundo para as suas causas. E para agirem em sua prol
POR HELENA OLIVEIRA

A generosidade, enquanto campo de investigação científica, tem vindo a crescer significativamente ao longo dos últimos anos. E, apesar dos estudos actuais sobre esta característica humana serem provenientes de disciplinas variadas e, muitas vezes, não inter-relacionadas entre si, focando temas igualmente diversos como a filantropia, o voluntariado e o altruísmo, existe uma tendência cada vez mais generalizada para se tentar criar um campo de pesquisa específico para o estudo desta virtude humana em todas as suas formas.

Um dos líderes desta tendência é a Universidade de Notre Dame que inaugurou, em 2009, uma iniciativa denominada A Ciência da Generosidade, composta por três componentes por excelência. Em primeiro lugar, um concurso de financiamento internacional com vista a estimular a pesquisa científica sobre o tema. Em segundo, um projecto de pesquisa conduzido por uma equipa da própria Universidade de Notre Dame, que tem como objectivo o estudo da generosidade em contextos naturalistas para se compreender melhor os mecanismos sociais e causais que geram ou colocam obstáculos à mesma, elegendo não só as culturas cientificas e académicas, mas também partilhando recursos e pesquisas com líderes políticos, religiosos, cívicos e empresariais.  Para tal, a University of Notre Dame tem estado a estabelecer parcerias com organizações não-governamentais e sem fins lucrativos, com fundações filantrópicas e também com o público em geral. Por último, a iniciativa conta igualmente com um esforço de comunicação que visa estimular uma reflexão geral sobre o valor que a sociedade actual confere à generosidade, aos donativos financeiros voluntários, ao altruísmo, às ajudas informais, entre outras práticas relacionadas.

Um dos estudos que está a ser desenvolvido pela Science of Generosity está relacionado coma forma como as redes sociais estão a influenciar a evolução da cooperação, no sentido em que estes novos meios ajudam a um “contágio” de comportamentos entre os seus utilizadores. Por outro lado, existem especialistas, espalhados um pouco por todo o mundo que, exactamente através das redes sociais, conseguiram inovar na utilização deste popular meio para fazer o seu “bem maior”. A revista Fast Company que anunciou, na passada semana, uma nova rubrica, em actualização, para celebrar a generosidade e que contará com listas mensais de homenageados que falarão da sua própria filosofia da generosidade, levantou já o véu no que respeita a “especialistas em fazer o bem” que utilizam os media sociais para irem mais longe na sua missão de ajudar os outros.

O VER foi pesquisar os motivos que levaram a revista norte-americana a eleger estas 10 personalidades e apresenta o trabalho de alguns, cujo trabalho merece, realmente, ser (re)conhecido.

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Nicholas Kristof, colunista do The New York Times e autor do livro e posterior movimento HALF THE SKY
Enquanto jornalista do The New York Times, Nicholas Kristof tem dedicado muito do seu tempo a investigar os abusos dos direitos humanos. As suas reportagens a propósito do Darfur e dos massacres na Praça de Tiananmen valeram-lhe dois prémios Pulitzer e, em co-autoria com Sheryl WuDunn, escreveu o livro “Half the Sky: Turning Oppression into Oportunity for Women Worldwide”, sobre o qual o VER também já escreveu. Neste livro, as mulheres são, simultaneamente as vítimas e as heroínas, e no mesmo são contadas histórias de terror que incluem o tráfico e a escravatura, a prostituição, as violações e as mortes de honra, sem esquecer também a mortalidade materna. Todavia, mais do que histórias bem contadas (e raramente disseminadas), o livro deu origem a um poderoso movimento, sedeado na Internet e que junta vídeo, jogos, blogues e outras ferramentas educacionais não só para aumentar a consciencialização do mundo em geral para as questões das mulheres nos países em desenvolvimento, mas também para fornecer ideias concretas para lutar contra estes problemas e lhes conferir maior poder. O livro deu origem a uma série televisiva que, conduzida pelo próprio Kristof, mergulha em países como o Camboja, Quénia, Índia, Serra Leoa, Somália, Vietname, Afeganistão, Paquistão, Libéria e também nos Estados Unidos, apresentando as narrativas de vidas dramáticas de mulheres e raparigas que, apesar de viverem mediante as mais difíceis circunstâncias, têm a coragem suficiente para as tentar alterar.

Por outro lado, o movimento está igualmente a criar uma série de jogos, intitulada Games for Change, que pretende transformar uma normal experiência social online em activismo na vida real. O objectivo é envolver milhões de jogadores no Facebook e transformar a sua cruzada digital, que visa manter em segurança estas mulheres e crianças, em acções na vida real, a partir de micro donativos, com o intuito de aumentar a capacidade da rede e dos parceiros que pertencem ao Movimento Half the Sky.

Adicionalmente, o mesmo jogo está a ser desenvolvido, com o apoio da USAID, para ser utilizado em comunidades da Índia e da África, através de telemóvel, com vista a sensibilizar estas populações, através do entretenimento, para aspectos como as práticas saudáveis de dar à luz ou para o valor, muitas vezes invisível, das raparigas no seio das suas famílias.

Todavia, Kristof foi “nomeado” pela revista Fast Company para esta sua nova rubrica pelo envolvimento que tem nas redes sociais: o colunista tem mais de 1 milhão e 500 mil seguidores no Facebook e no Twitter, onde, de forma contínua, persuade as pessoas a reflectir e a agir em prol destas matérias.

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Edward Norton, actor e co-fundador do CROWDRISE
Conhecido pelas suas variadas e inesquecíveis interpretações em filmes como “Clube de Combate” ou “O Incrível Hulk”, o actor Edward Norton parece ter já nascido com os genes da filantropia e do activismo. O seu avô, James Rouse, construtor imobiliário e responsável pelo projecto da cidade de Columbia, é o fundador da Enterprise Fundation, uma organização sem fins lucrativos que visa retirar famílias da pobreza através da construção de casas decentes e acessíveis; por seu turno, o pai, Edward (sénior), um antigo promotor público federal, lidera também um fundo de conservação da natureza. Em 2010, e depois de Norton ter conseguido, através do Twitter, angariar 1,2 milhões de dólares para a sua “grande causa” – o Fundo de Conservação da Comunidade Massai”, o actor juntou-se a dois amigos, especialistas em Internet, e fundou o website CrowdRise, que oferece às pessoas uma plataforma de livre acesso para estas criarem as suas próprias páginas de angariação de fundos para as causas que defendem. Como afirmou em entrevista à Reuters, pouco depois de ter lançado o CrowdRise, em pouco tempo, várias outras celebridades escolheram a sua plataforma para acolher as páginas que promovem as suas causas favoritas. A lista inclui o actor Seth Rogen, com a sua campanha para a sensibilização do Alzheimer, Will Farrel, cuja missão é angariar fundos para o Cancer for College e o apoio dado por Russel Brand à Fundação David Lynch. Como explica o próprio Norton, “as pessoas usam o Twitter ou o Facebook como forma de partilhar as suas narrativas pessoais, mas a nossa ideia foi a de oferecer uma plataforma para as pessoas poderem dizer ‘estas são as causas que defendo e para as quais preciso de patrocínios’”, explica. Norton refere ainda que a tecnologia permitiu este tipo de envolvimento “entre as pessoas com vida pública e aqueles que se interessam por essas mesmas pessoas, o que é inteiramente inovador e gera um potencial deveras poderoso”.

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Mark Horvath, INVISIBLE PEOPLE TV
Horvath já foi um sem-abrigo. E, agora que já não o é, não finge ter esquecido o tempo em que o foi. Pelo contrário, tem dedicado a sua vida, nos últimos 16 anos, a mostrar a vida dos muitos sem-abrigo existentes nos Estados Unidos, mas de forma crua e não filtrada. Em Novembro de 2008, e com o lançamento da InvisiblePeople.tv, Horvath conseguiu reunir o poder do vídeo e o alcance massivo dos media sociais para partilhar as histórias de milhares de pessoas – desde veteranos, mães, crianças, vitimas de despedimento e outros – que acabaram nas ruas devido a um conjunto diversificado de circunstâncias. O vlog (vídeo blog) opta por um registo intimista nas suas filmagens, sem direito a qualquer tipo de edição, chocando muitas vezes, mas fiel à missão de mostrar as faces da pobreza sem recurso a qualquer tipo de “maquilhagem”. Com o mote de poderem ser ignoradas, mas não sendo invisíveis, os sem-abrigo aqui retratados e filmados chegam rapidamente a audiências globais, como o YouTube, o Twitter e o Facebook, de uma forma mediante a qual pessoas de todas as idades conseguem ser “tocadas” e convidadas a não ignorar uma realidade cada vez mais visível.

Uma história de cada vez, os vídeos publicados na InvisiblePeople.tv  destroem os estereótipos dos sem-abrigo, obrigam a alterações nas percepções que deles se tem e convidam à acção. Desconfortáveis e muitas vezes realmente chocantes, as histórias contadas através das lentes de Mark Horvath deram origem à organização sem fins lucrativos Invisible People dedicada a mudar radicalmente a forma como pensamos sobre os que vivem na rua e que, tantas vezes, nos parecem invisíveis.

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Claire Diaz-Ortiz, líder de Inovação Social, Twitter
A responsável pela área de inovação social do Twitter, nomeada como uma das 100 pessoas mais criativas nos negócios pela revista Fast Company e autora do livro Twitter for Good: Change the World One Tweet at a Time, cedo começou a pensar de que forma é que, através desta poderosa ferramenta social, poderia chamar a atenção da comunidade para diferentes causas sociais. Uma das mais primeiras colaboradoras do Twitter e responsável pelos inúmeros projectos internos de filantropia da empresa, Claire Diaz-Ortiz é considerada como uma das mais experientes bloggers dos Estados Unidos e uma reconhecida activista social. É igualmente a co-fundadora da Hope Runs, uma organização sem fins lucrativos sedeada no Quénia e que ajuda crianças órfãs que perderam os pais vítimas de SIDA.

Na plataforma publicitária do Twitter, Claire lidera os programas pro bono para ONG, promovendo os tweets como ferramentas utilizadas para promover campanhas específicas. O programa Promoted Tweets for Good é uma aplicação igualmente gratuita que serve um considerável número de organizações sem fins lucrativos. Adicionalmente, a mesma plataforma serve para campanhas pontuais, como no apoio a desastres climáticos ou a situações de agitações civis, como foi o caso do furacão Sandy ou da Primavera Árabe.

Para Claire Diaz-Ortiz, a equação de sucesso do Twitter é simples: aprender, partilhar, ajudar e crescer. “Comece por se relacionar e criar relacionamentos individuais. Certifique-se, quando está a procurar apoio, que mais importante que a angariação de fundos, são os relacionamentos reais. A maioria das pessoas não gosta de ser de imediato interpelada para dar dinheiro (seja nas redes sociais, seja em qualquer outro sítio). Estenda a sua rede e aprofunde esses relacionamentos. Os media sociais permitem a participação em qualquer que seja a causa, que se fortalece à medida que ganha novos apoiantes”.

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Jennifer James, MOM BLOGGERS FOR SOCIAL GOOD
Lançado em Janeiro de 2012, com 400 membros fundadores que alocaram as suas plataformas de media sociais e de bloggers para partilharem o trabalho de inúmeros parceiros dedicados às questões da saúde materna e dos cuidados infantis, a Mom Bloggers for Social Good é, 11 meses passados, uma coligação global de mães bloggers que cobre já 17 países. O objectivo é espalhar as boas notícias sobre o trabalho extraordinário que organizações sem fins lucrativos e ONG estão a realizar em todo o mundo.

Quando os parceiros precisam de chegar às massas para a divulgação de iniciativas, campanhas de sensibilização ou esforços de angariação de fundos, esta plataforma trabalha, de forma voluntária, para o passar da palavra através dos media sociais e de blogues.

A fundadora deste movimento que cresce todos os dias é Jennifer James e a sua aptidão para encetar parcerias com algumas das maiores ONG do mundo valeu-lhe um prémio recente da National Press Foundation Global Vaccines Fellowship. Jennifer escreve actualmente para a Gates Foundation e é uma blogger activa na ONE.org, a organização sem fins lucrativos co-fundada por Bono dos U2 e por outros “pesos-pesados” do mundo empresarial, académico e político, que luta contra a pobreza extrema.  Foi uma das convidadas para o TEDxChange em Berlim e foi escolhida para participar na conferência Rio + Social, enquanto “influenciadora” digital. Para além das parcerias firmadas, a rede de mães bloggers conta já com cerca de 20 mil membros, espalhadas por todo o mundo.

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Editora Executiva