POR MÁRIA POMBO
Embora pareça demasiado prematuro ou radical, alguns especialistas em tecnologia consideram que a web – descrita no Wall Street Journal como uma “camada fina de design compreensível pelos humanos no topo de uma máquina que murmura que é a internet” – está a morrer. Por cá acreditamos que o seu último suspiro ainda está longe. Contudo, é impossível negar que esta “camada fina de design” tem a concorrência – séria – das aplicações móveis (apps).
Um estudo da Phocuswright – uma agência de análise de dados das indústrias de turismo e viagens que ficou intrigada com a afirmação acima descrita – revela que as pessoas que viajam utilizam diversas aplicações em média 25 vezes por dia, enquanto visitam apenas nove websites diferentes, nos seus smartphones. Em termos temporais, os mesmos indivíduos recorrem a estas ferramentas durante duas horas por dia, sendo o email, as redes sociais e os jogos as principais actividades mencionadas (e que ocupam 66% do tempo que os utilizadores passam com smartphones).
Contudo, e para além de diversão e selfies, o mesmo documento revela que o mercado online é próspero em coisas que as pessoas não fazem ou compram diariamente, mas que passam longas horas por dia a planear. Viajar é uma dessas actividades: os participantes nesta análise referem que viajam cerca de três vezes por ano; contudo os seus smartphones indicam que a pesquisa de voos, hotéis e locais a visitar é diária e quase sempre feita a partir de aplicações móveis. As apps das companhias aéreas, por exemplo, ocupam uma das maiores preferências dos viajantes, tendo em conta que lhes permitem escolher mais facilmente os voos e fazer o check-in online, não necessitando de estar horas e horas no aeroporto.
Apesar de tudo, e escolhendo quase sempre a rapidez, o utilizador comum de plataformas móveis nem sempre tem tempo (e paciência) para instalar uma nova app e opta, muitas vezes, por pesquisar a informação de que necessita directamente na web. É por esse motivo que a maioria (89%) dos viajantes ainda utiliza os motores de busca, fazendo cerca de duas pesquisas por dia. Na prática, e de acordo com este estudo, não é ainda possível confirmar a tendência “web-is-dead”, mas sim que as aplicações estão a ganhar terreno (e adeptos) e que é nestas que as empresas têm vindo a apostar mais, melhorando as suas funcionalidades e tornando o seu design mais atractivo.
Para APProveitar ao máximo
Foi a pensar na época de férias, e reconhecendo o importante papel das aplicações móveis no sector do turismo, que a Tiendeo – uma plataforma especializada na digitalização e geolocalização de catálogos e ofertas de marcas e empresas do sector do retalho – reuniu dez apps que os veraneantes podem e devem levar na mochila, ou melhor, no bolso.
A CEO desta empresa, Eva Martín, afirma que tem assistido “a uma crescente tendência no uso de aplicações, por oposição à consulta de websites, por questões de conveniência e rapidez no acesso à informação”. Dando o exemplo de Portugal, onde “53% dos utilizadores usam a app Tiendeo e não o website”, a licenciada em Engenharia Industrial explica que “especialmente quando viajamos ou vamos às compras, queremos toda a informação no nosso bolso, e este facto é consolidado pelos dados da Tiendeo, cujos downloads da aplicação ultrapassam os sete milhões”.
As apps escolhidas são úteis aos viajantes pois auxiliam-nos em algumas tarefas como procurar alojamento, fazer a mala, encontrar transportes públicos ou gerir os gastos.
- Para planear uma viagem, criando uma wishlist turística, o TouristEye é um bom aliado. Esta app funciona como um guia sobre as cidades, com informações acerca de restaurantes e locais de interesse a visitar, e permite consultar mapas em todas as partes do mundo, guardando as actividades e os roteiros preferidos dos utilizadores – esta característica permite programar atempadamente uma viagem e consultar as informações mais tarde, no momento da visita. A mesma funciona também em modo offline (incluindo mapas e GPS) e é utilizada por mais de 500 mil pessoas.
- Se o problema não for planear uma viagem, mas sim decidir o que colocar na mala, o Packpoint pode ajudar. Inserindo as características da viagem (actividades, clima, tipo de alojamento, etc.), esta app diz ao utilizador o que necessita de levar, poupando tempo e peso na bagagem. O seu design, simples e com ilustrações, faz desta uma ferramenta que pode ser utilizada por qualquer pessoa.
- E como viajar não tem que ser sinónimo de dormir em hotéis caros, há uma app – Couchsurfing – destinada a quem quer viver uma experiência mais ousada ou despreocupada e poupar algum dinheiro. Esta conhecida – e reconhecida – ferramenta tem milhares de utilizadores em todo o mundo e permite conhecer novas pessoas, viajar a baixo custo (já que a estadia é gratuita) e viver o dia-a-dia dos locais, afastando os viajantes dos sítios habitualmente destinados a turistas. Como? Dormindo num sofá ou num espaço que o anfitrião tenha livre. Mais do que promover o conforto, esta app pretende estimular os utilizadores a explorar o mundo.
- Para quem não dispensa uma noite bem dormida nem o conforto de um quarto cómodo, mas quer poupar algum dinheiro, pode fazê-lo utilizando transportes públicos, bicicleta ou caminhando a pé. Recolhendo informações sobre os transportes em cerca de mil cidades de 65 países, a Moovit ajuda os seus utilizadores a planear as suas viagens, dando informações, em tempo real ou de forma planeada, sobre os horários de diversos transportes e sobre as formas de viajar que são mais adequadas a cada roteiro ou localidade. Esta app, que está disponível em diversas línguas, funciona também como uma comunidade na qual os próprios utilizadores podem, entre si, dar e receber informações acerca dos melhores trajectos.
- Quando o objectivo é evitar filas de turistas e procurar roteiros alternativos, sem deixar de conhecer a cultura e a história de determinado lugar, o Field Trip é uma boa ferramenta, pois funciona como um guia turístico para “não turistas”. Através do GPS, esta app emite avisos, aos utilizadores, informando-os sobre os pontos de interesse próximos do local onde se encontram. Estes avisos variam conforme as preferências dos viajantes, os quais indicam o tipo de alertas que pretendem receber (que podem ser sobre esplanadas, museus, monumentos, etc.) e permitem descobrir os lugares habitualmente pouco conhecidos.
- Considerando que o clima é um dos factores a ter em conta no momento de viajar e na escolha do destino, o Rain Alarm dá aos seus utilizadores todas as informações, em tempo real, acerca das características climáticas do local onde se encontram (via GPS) ou para onde pretendem ir (escolhendo no mapa a localização pretendida). Esta ferramenta está preparada para dar informações essencialmente relacionadas com chuva, nevoeiro e neve, medindo a sua densidade, direcção, distância, etc.. E envia, aos utilizadores, notificações acerca da aproximação ou afastamento de aguaceiros, em 30 países. Pena é que não tenha ainda informação para Portugal.
- Assumindo-se como uma ferramenta agregadora de promoções, descontos e cupões de diversas marcas, a Tiendeo é a “melhor amiga” de quem gosta de fazer compras ou de quem pretende apenas ir a um restaurante e não sabe por onde escolher. Esta app está disponível em 35 países e, através do seu serviço de geolocalização, consegue dar informações sobre os estabelecimentos mais próximos e respectivas reduções de preços ou oportunidades a não perder.
- Considerando que as conversões (de dinheiro, de medidas, de tamanhos, etc.) podem ser um verdadeiro problema para muitas pessoas, a ConvertMe foi criada para facilitar esta tarefa. Esta app faz todo o tipo de conversões de forma instantânea e ajuda os seus utilizadores a poupar tempo, dinheiro e preocupações.
- Se o problema das contas não é tanto a conversão, mas sim a divisão dos gastos entre várias pessoas, o melhor é recorrer à Settle Up. Esta aplicação foi concebida a pensar nas viagens ou nos eventos em grupo e permite controlar quem pagou o quê, guardar as facturas e distribuir os custos por todos os elementos, evitando que uns fiquem prejudicados e outros beneficiados. No fim, as contas podem ser pagas de forma simples e rápida através da plataforma Paypal.
- E finalmente chegámos à Flush, uma app que pode ser útil quando menos se espera. Esta aplicação consegue localizar mais de 100 mil casas de banho públicas em todo o mundo, reunindo também informação adicional acerca das condições das mesmas e disponibilizando feedback de outros utilizadores daquele espaço. Esta é uma forma simples e prática de os utilizadores evitarem andar quilómetros a procurar sanitários públicos ou de se sentirem obrigados a consumir em cafés e restaurantes para poderem usar os seus lavabos.
Com estas sugestões, só resta mesmo desejar boas férias!
Transformar um smartphone num autêntico museu
A maioria das apps acima apresentadas foram criadas para facilitar a vida de quem pretende visitar, pessoalmente, alguns lugares, dentro ou fora do seu próprio país. Mas e como sabemos nem todos têm a sorte – ou melhor, o dinheiro – para ir para fora, nem que seja cá dentro. E foi a pensar nessas pessoas, mas também na dificuldade que existe em visitar alguns deles, seja pela distância, pelo preço dos bilhetes ou pelas filas intermináveis que alguns propiciam, que a Google criou a sua app de artes e cultura. Através desta ferramenta, é possível conhecer centenas de museus e outros espaços culturais, como o Valley of the Temples, na Sicília, – onde estão expostas algumas das mais antigas obras de arquitectura grega clássica do mundo – ou o Museu Nacional de Arte Ocidental, em Tóquio, sem ser necessário sair do lugar.
Para além de mostrar as diversas peças expostas, esta app (que tem vindo a ser continuamente melhorada) permite que o utilizador tenha uma experiência próxima daquela que teria se visitasse realmente aquele lugar, podendo explorar o espaço a 360 graus e aceder a explicações e curiosidades, via áudio, sobre o que está a ver; esta ferramenta permite ainda fazer um registo fotográfico das obras, uma funcionalidade particularmente útil para os que, nas redes sociais, gostam de mostrar o quão interessantes são as suas vidas.
Mas e sarcasmos à parte, com esta aplicação a Google pretende não só possibilitar o acesso à cultura a toda a população que tenha um smartphone, como também criar uma forte ligação entre o vasto repositório de artefactos artísticos, culturais e históricos que estão “espalhados” pelos museus de todo o mundo, reunindo-os num único “lugar”.
Jornalista