Embora o ar condicionado possa proporcionar conforto em climas quentes, a sua utilização generalizada tem consequências ambientais, principalmente através do consumo de energia e das emissões de fluidos refrigerantes. Para resolver estas questões, é essencial promover tecnologias energeticamente eficientes, fontes de energia limpas e um planeamento urbano sustentável para atenuar o impacto do ar condicionado nas alterações climáticas
POR PEDRO COTRIM

O ar condicionado doméstico é cada vez mais comum; com as alterações climáticas, passou a ser essencial ter aparelhos nas casas de cidades como Paris e Berlim, que no passado nunca viveram Verões escaldantes. Na Europa, não são só obviamente as casas a dispor de ar condicionado: supermercados e torres de escritórios, mais de metade dos edifícios do sector terciário estão equipados com ar condicionado. Metade dos hotéis ou cafés-restaurantes possui um, dois terços dos escritórios e uma percentagem muito reduzida nas escolas.

Esta nova procura deverá complicar a gestão da rede eléctrica no Verão. Recorde-se que num a produção deve ser sempre igual ao consumo. No entanto, a corrente exigida pelos aparelhos de ar condicionado irá gerar picos de procura mais elevados durante o Verão que no Inverno.

Para além do consumo actual, e uma vez a electricidade é em grande parte descarbonizada na Europa, a maior parte do impacto ambiental do ar condicionado provém dos fluidos refrigerantes, muitas vezes na forma de gás, essenciais para a produção de ar fresco. Vazamentos, manutenção insuficiente ou não recuperação desses fluidos no final da vida útil do equipamento. Alguns destes gases têm um poder de aquecimento mais de 2000 vezes maior que o CO2. Três quartos das emissões de gases com efeito de estufa provenientes dos aparelhos de ar condicionado devem-se a estes gases.

Além da sua contribuição global para o aquecimento global, o ar condicionado também contribui para o aquecimento local das temperaturas. Na verdade, colocá-lo em acção equivale a libertar ar quente para fora, contribuindo para o aumento da temperatura do ar nos grandes centros urbanos, acentuando o fenómeno das ilhas de calor urbanas.

Se, apesar de tudo, o ar condicionado se mostra essencial, é preciso recordar que os aparelhos de ar condicionado não são todos iguais e que a sua pegada ecológica varia muito. A eficiência energética é desigual entre os diferentes modelos, especialmente dependendo do gás refrigerante em questão. A regulamentação tem um papel importante a desempenhar na proibição dos fluidos mais emissores e na exigência de manutenção destes equipamentos para evitar fugas. Embora tenham sido realizados progressos neste domínio, a legislação continua fragmentada e pouco respeitada um pouco por todo o mundo.

O ar condicionado é intensivo em energia: nos Estados Unidos, onde 90% da população vive em casas com ar condicionado, a energia consumida pelos mesmos é comparável ao consumo total de energia de África. Globalmente, os aparelhos de ar condicionado já representam quase 10% do consumo de eletricidade, de acordo com um relatório de 2018 da Agência Internacional de Energia (AIE). Ao produzir ar frio no interior, os aparelhos de ar condicionado expelem o ar quente para o exterior. Se melhora o conforto interior de quem dela beneficia, aquece as ruas, aumentando o desconforto exterior.

É, portanto, altamente desigual e contribui para o aquecimento global: quanto mais utilizamos ar condicionado, mais aumentamos a sua necessidade, mas não nos países que mais precisam porque, segundo a AIE, dos 2,8 mil milhões de pessoas que vivem nos países mais quentes do planeta, apenas 8% dispõem de ar condicionado.

Outro efeito negativo em tempos de epidemia: suspeita-se que o ar condicionado aumente o risco de transmissão de patógenos pelo ar. Embora ainda não exista nenhum estudo sobre a ligação entre o ar condicionado e a Covid-19, o Conselho Superior de Saúde Pública recomenda a ventilação, mesmo em salas com ar condicionado.

A verdade é que, em termos de equipamentos contra o calor na cidade, o ar condicionado é essencial durante os episódios de ondas de calor para proteger os mais vulneráveis ​​– idosos, doentes e/ou hospitalizados, bebés e crianças – mas também para melhorar o conforto de todos.

A Europa representa apenas 6% dos equipamentos de ar condicionado do mundo, mas o consumo está a aumentar. De acordo com a Agência Internacional de Energia, espera-se que os aparelhos de ar condicionado aumentem de 1,5 mil milhões para 6 mil milhões em todo o mundo dentro de alguns anos. A Índia, a China e a Indonésia são responsáveis ​​por mais de metade do crescimento global. Esta necessidade adicional de energia representaria o equivalente a 20% do consumo total de eletricidade do mundo.

A adaptação pode substituir o ar condicionado? Apresentaram-se hipóteses ambiciosas, por exemplo, um mínimo de 10% de espaços verdes implementados sistematicamente em todas as cidades. Para os edifícios, aplicaram-se melhorias progressivas no desempenho energético e utilizaram-se materiais reflexivos. Ao combinar a vegetação, o desempenho energético dos edifícios e o comportamento das famílias, a temperatura exterior poderá descer quase 4°C no Verão e o consumo de energia cair para metade em algumas cidades.

Estas medidas podem não substituir o ar condicionado, mas limitar os seus efeitos negativos, concluem os investigadores. O objetivo será informar sobre o uso do ar condicionado e apresentar alternativas para manter um certo nível de conforto na cidade durante as ondas de calor. Apenas com medidas de adaptação será possível desempenhar um papel na garantia de uma trajetória de baixo carbono.

A utilização de sistemas de ar condicionado energeticamente eficientes pode reduzir o consumo de eletricidade, diminuindo as emissões de gases com efeito de estufa. A manutenção e limpeza regulares das unidades de ar condicionado também podem melhorar a sua eficiência. A mudança para fontes de energia renováveis para alimentar o ar condicionado, como a energia solar ou eólica, pode reduzir significativamente a pegada de carbono dos sistemas de refrigeração.

Embora o ar condicionado possa proporcionar conforto em climas quentes, a sua utilização generalizada tem consequências ambientais, principalmente através do consumo de energia e das emissões de fluidos refrigerantes. Para resolver estas questões, é essencial promover tecnologias energeticamente eficientes, fontes de energia limpas e um planeamento urbano sustentável para atenuar o impacto do ar condicionado nas alterações climáticas.

Foto: © Thomas Layland/Unsplash.com