Chama-se Life Project 4 Youth Alliance e promove o desenvolvimento pessoal e profissional de jovens pobres em zonas rurais e urbanas. A LP4Y defende a capacitação e a ligação entre vários actores e com a sociedade como as alavancas que podem tirar os jovens da pobreza extrema. Desde a sua fundação em 2009, já apoiou mais de 6.700 jovens nos seus 57 programas de educação e formação em todo o mundo. Um projecto que vale a pena ser replicado
Traduzido e adaptado por HELENA OLIVEIRA
© Stanford Social Innovation Review

De acordo com o relatório anual da Organização Internacional do Trabalho (OIT) sobre o emprego mundial, a taxa de desemprego global de 2022 para os jovens com idades compreendidas entre os 15 e os 24 anos foi três vezes superior à taxa dos adultos. O mesmo relatório indica que mais de 23% dos jovens não têm emprego, educação ou formação, o que significa que não estão a desenvolver as competências necessárias para um emprego digno, definido pela OIT como “trabalho produtivo (…) em condições de liberdade, equidade, segurança e dignidade humana”. E mesmo que estejam empregados, os jovens têm mais probabilidades do que os adultos de viver na pobreza extrema, ganhando menos de 2,15 dólares por dia, e de trabalhar no sector informal, onde não têm protecção e benefícios laborais.

Os empreendedores e especialistas em marketing John e Laure Delaporte testemunharam a extensão da pobreza juvenil durante um ano em que viajaram pelo mundo com os seus filhos em 2008-09. Assim que terminaram as suas viagens, lançaram um projecto-piloto com a duração de 18 meses em Manila, nas Filipinas, para formar 15 jovens em competências empresariais e de negócios orientadas para a obtenção de um emprego digno. Os Delaportes escolheram as Filipinas, que se encontrava entre os seus destinos de viagem, devido ao baixo custo de vida e ao facto de o inglês ser uma das suas línguas oficiais. A posição geográfica do país também o tornou atractivo para uma potencial expansão do projecto na Ásia, onde a maioria dos jovens vive abaixo do limiar da pobreza.

John Delaporte afirma que a experiência de trabalhar com os jovens foi “muito gratificante, porque num curto espaço de tempo foi possível vê-los mudar a sua vida e a vida das suas famílias, para sempre”. O projecto-piloto lançou a Life Project 4 Youth Alliance (LP4Y), uma federação internacional de 17 organizações em 14 países com a missão de ajudar os jovens a integrarem-se social e profissionalmente na sociedade. A LP4Y defende a capacitação e a ligação entre vários actores e a sociedade como as alavancas que podem tirar os jovens da pobreza extrema. Desde a sua fundação em 2009, a LP4Y apoiou mais de 6.700 jovens nos seus 57 programas de educação e formação em todo o mundo.

Um ecossistema de integração

A LP4Y criou um “ecossistema de integração” para realizar a sua missão. As relações sociais e profissionais são o elo de ligação que os jovens cultivam à medida que percorrem o ecossistema. Os centros funcionam como hubs de envolvimento. O ecossistema do LP4Y consiste especificamente em três camadas de integração: relações locais, participação profissional e parcerias globais.

Para integrar os jovens no ecossistema, os voluntários do LP4Y deslocam-se aos bairros de lata e às zonas rurais para se encontrarem e interagirem com os jovens locais que, consoante o interesse manifestado, são incentivados a candidatarem-se ao programa de formação profissional para empresários (PTE, na sigla em inglês) no centro existente na sua localidade. Cerca de 1.500 pessoas participam anualmente neste programa. A federação opera duas vertentes do PTE: um programa de formação e desenvolvimento de seis meses adaptado para jovens que vivem na pobreza urbana, e um programa de “aldeia verde” de três meses para jovens que vivem na pobreza rural. Em ambas as vertentes, os participantes elaboram um plano para as suas aspirações de carreira profissional e objectivos de vida, ao mesmo tempo que a LP4Y paga aos participantes um subsídio para cobrir as suas necessidades básicas, para que possam dedicar toda a sua atenção ao programa.

São três os pilares que constituem a metodologia PTE: orientação, experiência de trabalho e exposição profissional. Os formadores do LP4Y, que são chamados de “catalisadores”, orientam os jovens durante o programa. “Os catalisadores estão sempre lá para nós”, garante Colline Pusta, uma formanda do LP4Y nas Filipinas. Pusta descobriu um interesse em contabilidade durante o programa PTE e está agora a fazer um estágio na área. “Eles querem realmente orientar-nos para percebermos o que queremos ser, quais são os nossos empregos de sonho, os nossos objectivos e as nossas aspirações para o futuro”, afirma.

No programa PTE, os jovens trabalham em equipas para construir e gerir uma pequena empresa – denominada iniciativa microeconómica (MEI, na sigla em inglês) – que responda às necessidades da comunidade local, por exemplo, oferecendo aos residentes workshops e formações sobre preservação de árvores, reciclagem e sustentabilidade ambiental. As MEIs são geridas como organizações reais “para familiarizar os jovens com a organização de uma empresa”, explica John Delaporte. Os participantes do PTE têm um horário de trabalho e assumem funções em departamentos como os encontrados nas empresas, desde as compras e vendas até às comunicações. “Tentamos fazer com que os jovens sejam actores da mudança – ou seja, não somos nós, os catalisadores, que identificamos a necessidade, encontramos uma solução e fazemos o [trabalho]”, afirma Lorène Tonati, coordenadora nacional da LP4Y no Nepal.

A exposição profissional é uma componente importante do programa porque a maioria dos jovens nunca experimentou a vida fora dos seus bairros. Este segundo pilar está também dividido por etapas. Primeiro, os jovens aprendem competências como liderança, trabalho em equipa e gestão do tempo através dos seus MEI, participando também em formações virtuais em TI, inglês e comunicação profissional. Em seguida, participam em visitas a empresas para vivenciar a cultura organizacional e ver como os funcionários da empresa se vestem e interagem uns com os outros. Também participam em workshops para aprenderem sobre as operações da empresa. Durante as visitas, os jovens praticam as suas competências profissionais em entrevistas simuladas.

No final do programa PTE, os participantes candidatam-se a empregos que se alinham com os seus planos de vida, com mais de 70% dos graduados do programa a conseguirem emprego. Os graduados também se tornam membros do Stars Club, a rede de ex-alunos onde podem orientar outros jovens do LP4Y.

Srijana Rai, graduada do PTE do LP4Y e vice-presidente do Stars Club no Nepal, denomina a sua experiência no programa como um “renascimento”. Antes de entrar para o LP4Y, a sua única opção de vida era casar-se. Vinda de uma pequena aldeia no Nepal, Rai nunca tinha visto um computador e não sabia falar inglês. Agora está a estudar gestão de contabilidade comercial, com o sonho de se tornar gestora de um banco.

Inclusão em grande escala

Desde o início do projecto-piloto que os Delaportes acreditaram que a proximidade era imperativa para construir relações de confiança com os jovens. A LP4Y é gerida por voluntários e todos eles – incluindo os seus fundadores – vivem modestamente nas comunidades que servem. Todavia, o tipo de voluntário que praticam não é o habitual: cada um tem um contrato que cobre as suas necessidades básicas, incluindo seguro de saúde, benefícios de reforma, vistos, transporte e um subsídio mensal.

“Ser voluntário, tendo apenas um pequeno subsídio, faz-nos concentrar no que é essencial”, diz Tonati, acrescentando que está a “aprender muito estando no Nepal, a trabalhar com pessoas diferentes, a estar com os jovens e a conhecer a comunidade”.

A estrutura de voluntariado da LP4Y não é uma consequência de falta de financiamento. Os Delaportes financiaram a LP4Y através de donativos privados entre 2009 e 2012, tendo depois estabelecido parcerias com antigos clientes empresariais e, lentamente, passando  a incluir instituições governamentais como o Ministério dos Negócios Estrangeiros e Europeus do Luxemburgo e fundações como a BIC Corporate Foundation e a KPMG Foundation. Actualmente, a LP4Y conta com mais de 450 parceiros que financiam as suas operações e prestam apoio à integração profissional dos jovens participantes sob a forma de estágios, formação e emprego.

“A LP4Y está realmente a tentar mudar o mundo, um jovem de cada vez”, diz o engenheiro biomédico da General Electric (GE) Carlos Walter Illsley Rangel, que criou formações de conteúdo digital que foram utilizadas no programa PTE como parte da parceria da GE com a federação.

A estratégia da LP4Y para a expansão no país em que está a operar baseia-se em parcerias – a característica que define a terceira e última camada do ecossistema de integração. O trabalho é iniciado com a criação de alianças com organizações que têm uma missão semelhante e que estão dispostas a partilhar conhecimentos sobre a inclusão dos jovens. Os esforços de expansão são facilitados pela convicção dos fundadores de que a pedagogia do LP4Y é universal e, por conseguinte, a estrutura do ecossistema é replicável independentemente do local.

As parcerias da LP4Y produziram quatro iniciativas que ajudaram a federação a escalar globalmente e a garantir o apoio ao sucesso profissional dos jovens.

A primeira iniciativa, Youth 4 Change Network, foi criada em 2012 e consiste numa rede internacional de 91 organizações em 37 países que partilham as melhores práticas sobre a integração social e profissional de jovens excluídos. Fundada em 2016, a Youth Inclusion Network (YIN) é uma coligação de empresas que proporcionam oportunidades profissionais aos jovens. O YouthLAB, criado em 2019, é composto por dois centros de inovação: um no Bronx, em Nova Iorque, que se centra na defesa de causas e dá aos jovens uma plataforma para partilharem as suas experiências sobre desafios ambientais e sociais; e o segundo em Seine-Saint-Denis, um subúrbio nos arredores de Paris, onde os jovens recebem formação para se tornarem catalisadores e voluntários do LP4Y. A quarta iniciativa, The Catalysts’ Co, foi lançada em 2020. É uma equipa de consultores internacionais com experiência LP4Y que oferece apoio a empresas, ONG e instituições governamentais que estão a desenvolver programas de sustentabilidade.

Actualmente, a LP4Y tem planos para construir centros no Egipto e no Sri Lanka e está a aguardar a aprovação final do governo antes de iniciar as obras. A federação está também a explorar novos canais – incluindo as suas redes sociais – como plataformas para os jovens se pronunciarem sobre questões relacionadas com a sua exclusão social e profissional. Se a história da LP4Y serve de prova, o seu ecossistema continuará a expandir-se em todo o mundo

Artigo escrito por Andra Maria Valette especializada em desenvolvimento sustentável e inovação social.

Traduzido com permissão de” Linking Youth into Society”. © Stanford Social Innovation Review 2023.

Foto: ©Haddad Azfa/Unsplash.com

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