Imagine uma corda esticada ao máximo. A cada puxão adicional, ameaça partir-se, mas ainda se mantém, tensionada, no limite. Para muitos profissionais, este é o retrato da vida moderna: uma dança constante entre as exigências profissionais e o bem-estar pessoal, com o risco iminente de colapso. O conceito de burnout é o reflexo desta tensão, uma resposta do corpo e da mente ao excesso. E se existisse uma forma de aliviar essa pressão sem perder o ritmo? Apresenta-se a mindfulness — uma prática que promete não apenas reduzir o stress, mas também reequilibrar a tal corda frágil
POR PEDRO COTRIM

Nos últimos anos, tem-se assistido a uma crescente pressão para alcançar o sucesso profissional, muitas vezes à custa do bem-estar pessoal. O conceito de burnout surgiu no léxico e no consultório enquanto se tentam equilibrar as exigências de trabalho com as necessidades dos tempos de ócio e de descanso.

A questão de se dar mais importância à carreira em detrimento da saúde não é um fenómeno recente. No Japão, o termo «karoshi» – morte por excesso de trabalho – ganhou notoriedade devido à sua frequência nos últimos 40 anos e este fenómeno não se limita à Ásia. Nos Estados Unidos e na Europa, o foco excessivo no trabalho também tem levado a aumentos alarmantes nos níveis de stress, ansiedade e outros problemas de saúde mental, conforme mencionado por autores como Daniel Goleman (1995) em Inteligência Emocional.

A Importância da Mindfulness no Local de Trabalho

A prática de mindfulness, ou atenção plena, tornou-se numa ferramenta reconhecida para combater o stress e melhorar a saúde mental. Esta prática tem raízes nas tradições orientais, mas a sua popularização no ocidente pode ser atribuída ao trabalho de Jon Kabat-Zinn, que desenvolveu o MBSR (Mindfulness-Based Stress Reduction), um programa que demonstrou benefícios comprovados em várias áreas de saúde (Kabat-Zinn, 1990).

Beheshti acredita que a atenção plena é a chave para desbloquear o «eu autêntico», permitindo uma conexão mais profunda entre corpo e mente, permitindo melhores decisões no ambiente de trabalho. Este conceito é reforçado pelo trabalho de Siegel (2007) em The Mindful Brain, onde defende que a prática de mindfulness aumenta a resiliência emocional e melhora a capacidade de adaptação a situações de mudança.

No contexto profissional, CEO como Jeff Weiner (LinkedIn) e Marc Benioff (Salesforce) são defensores ativos da meditação e de mindfulness, utilizando estas práticas para lidar com as pressões associadas às suas posições. Empresas como Google e Aetna também incorporaram programas de mindfulness, com benefícios relatados na produtividade e no bem-estar dos colaboradores (Gelles, 2015).

Os Sete A: Uma Abordagem Prática para Redução do Stress

O Método MAP de Naz Beheshti inclui uma abordagem prática conhecida como os Sete A: adotar, alocar, evitar (avoid), alterar, adaptar, aceitar e atender. Esta estrutura oferece um guia passo a passo para a gestão do stress, enfatizando a importância de mudanças incrementais no comportamento.

A implementação de mudanças comportamentais pode ser um desafio, mas o psicólogo comportamental B.J. Fogg sugere que pequenas modificações podem levar a grandes resultados. No seu livro Tiny Habits (Fogg, 2019), descreve como hábitos minúsculos, sustentados ao longo do tempo, podem criar mudanças profundas. Por exemplo, ao dedicar um minuto diário para a meditação matinal, uma pessoa pode começar a desenvolver um hábito que promove uma mente mais calma e focada.

Os Sete A são baseados na resiliência, um conceito muito explorado por autores como Martin Seligman em Flourish (Seligman, 2011). A resiliência envolve a capacidade de se adaptar às adversidades e utilizar as experiências negativas como trampolins para o crescimento pessoal. Esta habilidade é especialmente relevante no mundo dos negócios, onde líderes que são capazes de «adaptar e aceitar» podem conduzir as suas empresas com mais eficácia em tempos de crise.

O Impacto do Stress Crónico no Corpo e na Mente

O stress crónico, ao contrário do stress agudo, é prejudicial a longo prazo. Vários estudos demonstram que o stress crónico pode resultar em doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2, ansiedade e depressão (Sapolsky, 2004). Beheshti sugere que identificar os diferentes tipos de stress é fundamental para combatê-los de forma eficaz.

O stress positivo, ou eustress, pode ser uma força motivadora que leva ao crescimento e à superação de desafios, como descrito por Hans Selye, o criador do conceito de stress (Selye, 1956). No entanto, quando o stress se transforma numa resposta crónica, torna-se destrutivo, com impactos na saúde física e mental.

Naz Beheshti sugere a criação de um Plano de Ação para o Stress. Tal como defendido por autores como Richard Lazarus, um dos pioneiros na psicologia do stress, uma abordagem cognitiva, que inclui a reavaliação das circunstâncias stressantes, pode ajudar a reduzir os seus efeitos negativos (Lazarus & Folkman, 1984).

A Importância de Relações Interpessoais Saudáveis

O sucesso profissional está intrinsecamente ligado às relações interpessoais. De acordo com um estudo da Harvard Business Review (2015), os funcionários que têm boas relações com colegas e supervisores são mais produtivos e têm níveis de satisfação no trabalho significativamente mais elevados. O que é fascinante é que essas conexões interpessoais também têm impacto direto na saúde física. O estudo de Waldinger (2016), que acompanhou mais de 700 homens ao longo de 75 anos, descobriu que aqueles que tinham relações sociais mais fortes viviam vidas mais longas e saudáveis.

Beheshti sublinha que o sucesso profissional começa com a conexão consigo mesmo, seguida da construção de relacionamentos significativos com amigos, familiares e colegas. No ambiente corporativo, promover um ambiente onde as relações interpessoais são valorizadas é crucial para o bem-estar geral da equipa.

Voluntariado e Conexão com a Comunidade

Outro aspecto relevante que Beheshti destaca é a importância do envolvimento comunitário. Empresas como Salesforce, Cisco e American Express oferecem dias de voluntariado aos seus colaboradores, incentivando-os a retribuir à comunidade. Este conceito de retribuição não apenas fortalece a conexão com a comunidade, mas também melhora a autoestima e o sentido de propósito dos colaboradores.

Estudos indicam que o voluntariado está associado a níveis mais baixos de depressão e a uma maior longevidade (Morrow-Howell et al., 2003). Isto sugere que a conexão com o mundo exterior, através de atos de altruísmo, pode ser uma poderosa fonte de bem-estar emocional e físico.

Transformar a Dor em Crescimento: Usar a Adversidade como Catalisador

No contexto do crescimento pessoal e profissional, a dor e o sofrimento podem ser agentes transformadores. Como Seligman (2011) explica, a adversidade pode ser uma oportunidade para desenvolver resiliência e florescer. Beheshti reforça esta ideia ao incentivar os indivíduos a utilizarem a dor como uma oportunidade de crescimento, transformando os desafios em momentos de aprendizagem.

A noção de prana, ou energia vital, é outra peça chave da filosofia de Beheshti. Baseado em práticas milenares de respiração e yoga, a “prana” ajuda a desbloquear energia, permitindo que o indivíduo se mantenha presente e focado. A ciência moderna também apoia esta abordagem. Estudos mostram que práticas de respiração consciente e yoga estão associadas a uma melhor qualidade de vida, redução de stress e melhoria na saúde geral (Brown & Gerbarg, 2005).

Tornar-se o CEO do Seu Bem-Estar

No mundo empresarial, muito se fala sobre liderança e gestão eficaz. No entanto, poucas discussões se focam no líder como o CEO do seu próprio bem-estar. Ao implementar práticas de mindfulness, resiliência e autocuidado, os líderes podem não apenas melhorar sua própria saúde mental e física, mas também criar culturas organizacionais mais saudáveis. O sucesso, portanto, não precisa vir às custas do bem-estar; pelo contrário, ambos podem ser fortalecidos mutuamente, promovendo uma vida mais plena e satisfatória.

Referências Bibliográficas:

Brown, R. P., & Gerbarg, P. L. (2005): Sudarshan Kriya Yogic breathing in the treatment of stress, anxiety, and depression: Part I—neurophysiologic model. Journal of Alternative and Complementary Medicine.

Fogg, B. J. (2019): Tiny Habits: The Small Changes That Change Everything. Houghton Mifflin Harcourt.

Gelles, D. (2015): Mindful Work: How Meditation Is Changing Business from the Inside Out. Houghton Mifflin Harcourt.

Goleman, D. (1995): Emotional Intelligence: Why It Can Matter More Than IQ. Bantam Books.

Kabat-Zinn, J. (1990): Full Catastrophe Living: Using the Wisdom of Your Body and Mind to Face Stress, Pain, and Ill

Beheshti, N. (2021): Pause. Breathe. Choose.: Become the CEO of Your Well-Being, New World Library

Imagem: © David Clode/Unsplash.com

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