Sou natural da Eritreia, de onde fugi por causa da ditadura. Após ter vivido no Sudão, na Líbia e na Tunísia, cheguei finalmente a Portugal, em 2011. Fui recebido pelo Conselho Português para os Refugiados, aprendi a língua e conheci a cultura. Actualmente, trabalho na recolocação de refugiados, ajudando-os nas primeiras dúvidas e ansiedades, quando chegam a Portugal. O que tento transmitir é que chegar cá não é o fim, mas sim o começo de uma nova vida
POR SIRAJ IBRAHIM

O meu nome é  Siraj Ibrahim, tenho 35 anos e sou eritreu. Sei que muitos refugiados têm grandes histórias, brilhantes, mas eu também tenho uma pequena história que quero partilhar aqui.

Estou em Portugal há cinco anos. Saí da Eritreia no ano 2005, por causa da ditadura que está a governar o país e que obriga toda a gente a cumprir o serviço militar, sem data para terminar, o que dificulta a nossa vida e o nosso futuro.

Quando saí da Eritreia, fui para o Sudão e depois para a Líbia. E só quando começou a guerra na Líbia, em 2011, é que viajei para a Tunísia. Em 2011, seis anos depois de ter saído do meu país, cheguei a Portugal. Nos países por onde passei, fiz alguns trabalhos que só davam para sobreviver, porque o contexto não permitia começar uma vida normal. A maior dificuldade que encontrei em Portugal foi a língua. Quando cheguei, fui recebido pelo CPR e logo depois comecei a aprender a língua portuguesa. Um ano depois, comecei a dar ajuda em tradução e, em 2014, comecei a trabalhar como tradutor.

[quote_center]A maior dificuldade que encontrei foi a língua portuguesa[/quote_center]

É importante não só aprender a língua como também participar em diferentes actividades para conhecer o país, o povo, a cultura e o ambiente. Isto tudo facilita a integração e abre caminho para construir um futuro. Neste momento estou a trabalhar no CPR, na área de recolocação, que é a transferência de requerentes de protecção internacional entre Estados-membros da União Europeia, como medida de solidariedade. A minha função neste projecto é, nomeadamente, apoiar na recepção no aeroporto, no acolhimento nas diferentes cidades e no conhecimento dos hábitos e tradições locais. No fundo, é ajudar nas primeiras dúvidas e ansiedades que os refugiados têm quando chegam a Portugal.

Aquilo que eu quero transmitir às pessoas, quando as recebo, e que gostava também de transmitir aos que continuam a chegar diariamente a Portugal, é que nós chegámos a este país, mas isso não significa que tudo terminou. É o começo de uma nova vida, e não podemos esquecer o que passámos no nosso país nem a viagem que fizemos até chegar a Portugal. Mas lembro que é importante ter vontade de aprender a língua e participar em todas as actividades, colaborar com as organizações e com as autoridades. Tudo isto para chegarmos ao nosso objectivo.

E eu sei que os portugueses estão a trabalhar muito com os refugiados, com grandes dificuldades de comunicação e de cultura. Tal como para os refugiados ou recolocados, é tudo novo e muito difícil para vocês. Mas também acredito que todos, autoridades e organizações, estão prontos para receber as pessoas, para dar o seu melhor. Portugal sempre abriu a porta para receber deslocados, pessoas que estão a sair da morte, da guerra, da discriminação. Agradeço imenso em nome de todos os refugiados.