“Nunca se deve subestimar os recursos das pessoas corruptas”, alerta Ronald Berenbeim que, em conjunto com Jonas Heartle, esteve na AESE para apresentar um novo “grupo de trabalho anticorrupção” e uma ferramenta que visa integrar os valores de anticorrupção nos currículos académicos das principais escolas de gestão e negócios. O VER conversou com os dois responsáveis do Global Compact das Nações Unidas sobre aquele que é considerado como um dos mais complexos fenómenos globais Apesar de serem várias as iniciativas que se comprometem a participar numa gestão verdadeiramente responsável e transparente, as ferramentas relevantes para efectivar essas práticas, em particular ao nível académico, estão ainda a emergir. Para esse efeito, a iniciativa Principles for Responsible Management Education (PRME) – que tem como missão inspirar e promover a responsabilidade no ensino nas áreas da liderança e gestão – em colaboração com o Global Compact das Nações Unidas, criou um Grupo de Trabalho para integrar os valores de anticorrupção nos currículos académicos das principais escolas de gestão e negócios. O projecto pretende enfatizar o peso e a importância da ética nos cursos de gestão, oferecendo às instituições académicas linhas orientadoras que contribuam para que os seus alunos possam tomar decisões éticas e eficazes que beneficiem, em simultâneo, as organizações e a sociedade. A AESE – Escola de Direcção e Negócios, foi a primeira Escola de Negócios em Portugal a unir-se ao Global Compact, em 2007. Quatro anos passados, considerou que tinha chegado o momento de participar activamente na promoção dos PRME, principalmente depois de ter criado uma Cátedra em Ética, a qual considera crucial para o desenvolvimento equilibrado da economia e da sociedade no seu todo. Assim, e num seminário restrito, realizado no passado dia 28 de Junho, a Escola de Direcção e Negócios convidou dois representantes do Global Compact das Nações Unidas – Jonas Heartle* e Ronald E. Berenbeim* – responsáveis pelo Grupo de Trabalho Anticorrupção, para clarificarem a missão e objectivos desta iniciativa e também para apresentarem o PRME Anti-Corruption Toolkit (v. artigo nesta edição) que será implementado num conjunto de escolas de negócios /universidades a breve trecho. Tendo como mote o seminário em causa, o VER conversou com Jonas Heartle e Ronald Berenbeim não só sobre a iniciativa que lideram, mas também sobre a enorme teia de custos corrosivos que envolve a corrupção. Quais são as principais prioridades do UN Global Compact Tenth Principle Working Group? O objectivo do UN Global Compact Working Group on the 10th Principle – um grupo de trabalho multi-stakeholder – é fornecer um contributo estratégico ao trabalho desenvolvido pelo Global Compact no que respeita à anticorrupção e definir as necessidades da comunidade empresarial na implementação do 10º Principio. O grupo de trabalho espera contribuir para uma maior coerência ao apoiar o alinhamento de estratégias já existentes, evitando, desta forma, uma duplicação de esforços.
Em 2010, a Iniciativa dos Princípios para a Educação em Gestão Responsável [Principles for Responsible Management Education – PRME, na sigla em inglês), a qual trabalha com mais de 500 escolas de negócios em todo o mundo para as encorajar a integrarem as temáticas da responsabilidade corporativa e da sustentabilidade nos seus currículos e investigação, iniciou um grupo de trabalho dedicado exclusivamente às temáticas da anticorrupção. Por ocasião do 3º Fórum Global PRME, o Grupo de Trabalho PRME sobre Anticorrupção lançou um conjunto extenso de orientações para a alteração dos currículos das escolas de negócios e/ou instituições académicas relacionadas com gestão um pouco por todo o mundo. Este projecto é apoiado pela Siemens enquanto parte da sua “Iniciativa para a Integridade”. Assim, e em linha com um objectivo de maior coerência, foi proposto que os dois Grupos de Trabalho sobre Anticorrupção – do PRME e do Global Compact das Nações Unidas – procurassem colaborar a partir das seguintes vias:
Existem muitas formas de definir corrupção. Qual a eleita por vós? Os enormes custos sociais da reputação nos países mais pobres do mundo são sobejamente reconhecidos, tal como o é o seu impacto corrosivo na democracia e na denominada boa governação, tanto para ricos como para pobres. Mas menos compreendido é o preço pago pelas empresas. O que têm as empresas necessariamente de saber de forma a perceberem estes custos, nomeadamente para a sua reputação? A compreensão respeitante ao fracasso dos mercados constitui o reconhecimento de que estes nem sempre maximizam o bem-estar de todos os participantes. Em casos extremos, as falhas dos mercados podem violar os Direitos Humanos tal como estes são definidos na Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 pelas Nações Unidas. E não é de todo exagerado afirmar que a corrupção é a forma de falhanço do mercado que conduz às mais sérias violações dos direitos humanos. Adiciona custos e diminui valor e é utilizada por regimes corruptos e repressivos para consolidarem o seu poder. São vários os exemplos de falhas dos mercados e consequentes abusos, entre os quais se destacam os seguintes:
A corrupção implica, inevitavelmente, um ou mais destes tipos de falhas de mercado. Mais ainda, a corrupção sobrecarrega as economias locais mediante formas que, potencialmente, dão origem a falhas de mercado sistémicas no relacionamento entre o mundo desenvolvido e o em desenvolvimento. De que forma é que é possível medir o impacto da corrupção na economia, na produtividade e também na sociedade? Como é que definem o papel do sector privado na luta contra a corrupção no ambiente de negócios globalizado da actualidade? Enquanto motor do crescimento económico e desenvolvimento, o sector privado possui um papel inestimável e em evolução na erradicação da corrupção, especialmente quando tem operações em países com instituições fracas, na medida em que “fornece terreno fértil tanto para a própria corrupção como para os remédios necessários para a abordar” (Sullivan, John, “Corruption, Economic Development, and Governance: Private sector perspectives from developing nations.” Business against Corruption: Case stories and Examples – Implementation of the 10th United Nations Global Compact Principle against Corruption. 2006). A procura de novas oportunidades está a estimular, de forma crescente, o investimento das empresas nos mercados emergentes, nos quais os negócios não são propriamente “as usual” e onde se encontram práticas empresariais “não comuns”. Que principais passos devem estas dar para evitar serem presas na “teia da corrupção”?
Os escândalos significativamente mediatizados e as expectativas de uma aplicação da lei mais intensa por parte das autoridades governamentais já estabeleceram o risco da corrupção como uma realidade incontornável nas mentes dos executivos. Mas apesar de existir um compromisso para o combate à corrupção, é igualmente referido que as empresas precisam de fazer “mais” para se protegerem a si mesmas. Como definiriam este “fazer mais”? Afirma-se igualmente que existe um fosso entre os riscos da corrupção e os programas contra eles existentes nas empresas. O que pode ser feito para diminuir esta disparidade? De acordo com a Ernst & Young, as medidas que se podem implementar para diminuir esta disparidade são as seguintes:
Apesar de ser possível identificar alguns esforços adequados já realizados pelas empresas, pelos governos e pelas organizações não-governamentais na luta contra a corrupção na última década, existem ainda muitos desafios a ultrapassar. Quais são as prioridades tanto para as empresas como para os governos neste combate? O Professor Berenbeim afirmou que “nunca se deve subestimar os recursos das pessoas corruptas (…) a corrupção é como um vírus mutante, o qual se torna muito difícil de acompanhar”. O que pretende com esta afirmação? É comummente sublinhado que um programa de anticorrupção bem-sucedido tem de ter início com um compromisso claro por parte da gestão sénior. Assim, qual a melhor forma para descrever esta luta, em termos de “business case”, à gestão sénior e, é claro, aos CEOs? No geral, quais são os “must haves” dos programas de anticorrupção? Deslocaram-se a Portugal para apresentar o Anti-CorruptionToolkit (v. artigo nesta edição), elaborado pela iniciativa PRME e em colaboração com o Global Compact das Nações Unidas. E a ideia é integrar os valores anticorrupção como disciplina crucial nos currículos das melhores escolas de negócios. Tal como se pode ler no prefácio do Toolkit, o mesmo oferece ferramentas que abordam os desafios éticos, morais e práticos com os quais os estudantes se irão confrontar no mercado de trabalho. Acreditam realmente que a ética e estes “valores anticorrupção” podem ser ensinados nas escolas? “Um indivíduo é um resultado da sociedade, cultura, família e de experiências passadas que contribuem para moldar o seu comportamento”. Encontramos esta declaração em um dos módulos do Toolkit, o qual se debruça sobre as questões da ciência comportamental. Se existem comportamentos individuais que funcionam como “gatilhos” para actos de corrupção, como é possível “negá-los” e encorajar, ao invés, a integridade? Agora que o Toolkit está completo, quais são os próximos passos para o integrar e implementar nas escolas de negócios? Espera-se que estes Centros Regionais desenvolvam novas ideias para uma colaboração mais estreita com o meio académico e empresarial de forma a se aumentar a eficácia dos esforços, por enquanto isolados, de anticorrupção, desenhando-os e implementando-os. Alguns exemplos de actividades conjuntas podem incluir: o estabelecimento de centros de pesquisa ou cátedras de anticorrupção; plataformas de partilha de boas práticas de negócio e de outras experiências com profissionais da área (por exemplo, os responsáveis pelos departamentos de compliance, especialistas em direito empresarial, os CFOs, etc); o desenvolvimento de sessões de formação e de materiais sob a forma de códigos de conduta, websites, simulações em jogos, etc., para sectores específicos, empresas e cadeias de valor; facilitação da acção colectiva e acordos ou pactos de integridade com determinados sectores de negócio ou através de projectos em conjunto com outros stakeholders (por exemplo, câmaras de comércio, ONGs, sector público); organização de conferências e seminários com especialistas reconhecidos em ética nos negócios ou anticorrupção; assistência na implementação dos programas de compliance e outras ferramentas anticorrupção. Adicionalmente, estes Centros Regionais irão trabalhar em conjunto e de forma intensiva, partilhando ideias e experiências, e ajudando-se mutuamente na implementação dos programas e ferramentas anticorrupção. |
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Editora Executiva