Recentemente lançado, o livro “A Arte de Gerir Pessoas”,de Fernando Neves de Almeida, presidente em Portugal da Boyden-Global Executive Search, versa sobre o talvez mais popular tema da literatura de gestão: quanto melhor souber gerir pessoas, melhor líder será. O problema é saber qual a forma mais adequada de o fazer. Em entrevista, o autor discorre sobre alguns temas obrigatórios desta complexa forma de arte
Encarando a liderança como um processo contínuo de aprendizagem, sobre si mesmo [o líder] e sobre os que com ele trabalham, o presente livro pretende constituir, também ele, um guia prático de aprendizagem gradual – o autor aconselha a ler um só capítulo de cada vez, “treinando” e reflectindo sobre os seus ensinamentos – que conjuga as teorias do autoconhecimento, do comportamento e da motivação com questionários práticos e estudos de caso. Explorando os conceitos mais amplos da liderança como chave para melhorar o desempenho das equipas, o autor apresenta ainda, no final do livro, um modelo operacional que permitirá ao leitor fazer o seu próprio diagnóstico enquanto líder e alterar ou aperfeiçoar os seus pontos menos fortes. O modelo, que o autor denominou de EDS – Energia, Desempenho, Satisfação – procura interligar o processo motivacional, permitindo o conhecimento mais aprofundado das variáveis controláveis, com vista a influenciar o resultado final. Chegar a bom porto nesta cruzada implica assim o Desempenho – enquanto variável que interessa às organizações – e a Satisfação – a variável que interessa às pessoas. Será o equilíbrio entre estes três elos da cadeia que farão do líder… um líder melhor. No primeiro capítulo de “A Arte de Gerir Pessoas”, é colocada a “million dollar question” de qualquer estudo sobre liderança: se esta é inata ou se pode ser ensinada/aprendida. E refere que não existe o caso de “ou se é [bom líder] ou nunca se será”. Acredita mesmo que é possível transformar um mau líder num líder com as devidas qualidades? Existe uma quantidade séria de mitos que induz, muita gente, a acreditar que os líderes famosos possuem características típicas dos “maus rapazes”. Os “grandes líderes” são manipuladores, autoritários e controladores. A seu ver, e ao longo das últimas décadas, até que ponto esta visão sofreu alterações? Refere também no seu livro a importância das diferentes inteligências com base nos estudos realizados essencialmente por Howard Gardner e Daniel Goleman e, sobretudo o sucesso deste último, com a introdução, em meado dos anos 90, do famoso quociente de inteligência emocional. A introdução do QE, até nos questionários de avaliação, constituiu uma enorme viragem na forma como se olhava para o sucesso mas, na altura, muito se falou também de líderes comprovadamente bem-sucedidos que tinham níveis baixos de QE. Quase duas décadas passadas, que relevância continuam a ter estas questões para as organizações? Em 2011, a HBR Press publicou e recomendou vivamente a obra do psiquiatra Edward Halloweel (SHINE: Using Brain Science to Get the Best from Your People, sobre o qual VER já escreveu), assente numa pesquisa iniciada pelo médico há 30 anos e que tenta responder a uma questão eterna da gestão de recursos humanos: como inspirar as pessoas a darem o melhor de si mesmas? Para o autor a resposta está no cérebro. Para si, onde melhor pode residir esta resposta? Dedica, no seu livro, um capítulo à motivação ou “a mola disparadora da acção”, como a denomina. Estamos cientes da sua importância mas e ao mesmo tempo, o ambiente de trabalho da actualidade está dominado por pressão, confusão e incerteza. E a questão central para os gestores continua a ser a forma de retirar o maior potencial possível dos seus colaboradores. Como é que se motivam colaboradores nesta era tão complexa? Refere igualmente que situações de injustiça, falta de equidade e falha no desenvolvimento de uma cultura são os principais “sentimentos” negativos que uma pessoa pode desenvolver em relação à organização para a qual trabalha. Quando não se tem alternativa, o que fazer para (con)viver com este tipo de sentimentos? Um dos temas que tem igualmente estado na moda, com inúmeros estudos e investigações científicas a ele associadas, prende-se com a questão de alguns dos melhores CEO do mundo (e líderes no geral) apresentarem alguns traços de psicopatia. No final do seu livro, opõe-se à famosa citação de Maquiavel “é melhor ser temido, do que amado”, invertendo-a. Na sua experiência enquanto consultor, e fazendo equivaler as características do líder ao sucesso da organização que lidera, quem mais ganha? O temido ou o amado? |
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Editora Executiva