Foi com grande expectativa que recebemos a notícia de mais um evento da Economia de Francisco, de 22 a 24 Setembro de 2022, finalmente em Assis, finalmente cara a cara. Num tempo em que a Europa volta a ver a guerra no seu território e se avizinha uma crise inflacionista e alimentar, em que as desigualdades ficaram mais expostas como consequência da pandemia e em que os fenómenos climáticos extremos se multiplicam, a Economia de Francisco faz ainda mais sentido.
POR AFONSO ESPREGUEIRA, SJ
Em 2019, o Papa Francisco convidou jovens economistas, empreendedores e agentes de mudança de todo o mundo para um encontro em Assis, para «estudar e pôr em prática uma economia diferente, que faz viver e não mata, inclui e não exclui, humaniza e não desumaniza, cuida da criação e não a devasta. Um acontecimento que nos ajude a estar unidos, a conhecer-nos uns aos outros, e que nos leve a estabelecer um «pacto» para mudar a economia actual e atribuir uma alma à economia de amanhã».
Este encontro, a Economia de Francisco – Francisco refere-se a S. Francisco de Assis –, devia ter acontecido em Março de 2020, mas a pandemia de Covid-19, que estava a começar e que em pouco tempo mudou radicalmente as nossas vidas, obrigou a uma mudança de planos. O encontro de Assis foi adiado para Novembro do mesmo ano, na esperança de que pudesse ser presencial, mas a evolução da pandemia tornou também esse encontro impossível. Ainda assim, a Economia de Francisco não deixou de acontecer. A data de Novembro de 2020 manteve-se e o evento realizou-se online, sendo transmitido para o mundo inteiro.
Foi algo frustrante não termos podido juntar-nos em Assis, mas nem por isso esmoreceu o entusiasmo pela missão que o Papa confiou aos jovens. Entre Março e Novembro, a Economia de Francisco, que mal tinha nascido, reinventou-se e o evento tornou-se num movimento com grupos locais em vários países, incluindo Portugal. As “Villages” (grupos de trabalho temáticos) começaram a preparar o evento online para dinamizar conferências e os hubs de cada país foram-se reunindo nas modalidades possíveis, para os participantes se conhecerem e para divulgar a Economia de Francisco a outras pessoas. Em Portugal, os sucessivos confinamentos obrigaram a reuniões online, não tão apetecíveis, mas com a vantagem de facilitarem o encontro entre pessoas de cidades diferentes e de chegar a mais gente. Formou-se um grupo animado e com vontade de trabalhar!
Em Novembro de 2020, o Papa marcou presença virtual no primeiro e tão esperado evento da Economia de Francisco e renovou o apelo feito em 2019: «É tempo, queridos jovens economistas, empresários, trabalhadores e dirigentes empresariais, é tempo de ousar o risco de fomentar e estimular modelos de desenvolvimento, progresso e sustentabilidade em que as pessoas, e especialmente os excluídos (e entre eles, também a irmã Terra), deixem de ser – no melhor dos casos – uma presença meramente nominal, técnica ou funcional para se tornarem protagonistas das suas vidas, assim como de todo o tecido social».
Para isso, é necessário redescobrir o bem comum e o desenvolvimento humano integral, salientou o Papa Francisco, que incentivou os jovens a envolverem-se nos desafios de hoje com o olhar de Jesus: «Não tenhais medo de vos envolver e de tocar a alma das cidades com o olhar de Jesus; não tenhais medo de habitar corajosamente os conflitos e as encruzilhadas da história, para os ungir com o aroma das bem-aventuranças. Não tenhais medo, pois ninguém se salva sozinho. Ninguém se salva sozinho!»
Estimulado pelo evento e pela mensagem do Papa, o grupo português continuou a trabalhar em prol de uma nova economia e fomos capazes de iniciar o podcast Terra a Terra e de promover o curso “Economia de Francisco: o Santo, o Papa e Nós”, que teve mais de 300 inscritos. Em tudo isto foi essencial o apoio da ACEGE, presente e interessada na Economia de Francisco desde a primeira hora.
Em Outubro de 2021, realizou-se o segundo evento global da Economia de Francisco, novamente online, que foi ocasião para o primeiro encontro presencial do grupo português. O local escolhido foi o Convento do Varatojo, casa mãe dos Franciscanos em Portugal, onde se respira o espírito de Assis. Neste dia, para além de um programa próprio, juntámo-nos ao programa internacional e entrámos em directo para dar conta do que temos vindo a fazer no nosso país. Mais uma vez, o Papa Francisco participou no evento e reafirmou a missão que pede aos jovens: «A vós, jovens, renovo a tarefa de recolocar a fraternidade no centro da economia. Nunca como nesta época sentimos a necessidade de jovens que saibam, mediante o estudo e a prática, demostrar que existe uma economia diferente. Não desanimeis: deixai-vos guiar pelo amor do Evangelho, que é o trampolim para qualquer mudança e que nos exorta a entrar nas feridas da história e ressuscitar. Lançai-vos com criatividade na construção de novos tempos, sensíveis à voz dos pobres e comprometei-vos a incluí-los na edificação do nosso futuro comum».
Foi com este repto que arrancámos mais um ano lectivo, que está a chegar ao fim. Foi um ano cheio de desafios, em que fomos sentindo o cansaço do online e, talvez por isso, alguma desmobilização dos pioneiros da Economia de Francisco. No entanto, não desanimamos e continuamos empenhados em promover uma economia mais justa, fraterna e solidária.
Assim, foi com grande expectativa que recebemos a notícia de mais um evento da Economia de Francisco, de 22 a 24 Setembro de 2022, finalmente em Assis, finalmente cara a cara. Num tempo em que a Europa volta a ver a guerra no seu território e se avizinha uma crise inflacionista e alimentar, em que as desigualdades ficaram mais expostas como consequência da pandemia e em que os fenómenos climáticos extremos se multiplicam, a Economia de Francisco faz ainda mais sentido.
A comitiva portuguesa está já a formar-se e em contacto para sonhar esta viagem, mas ainda há vagas disponíveis. As inscrições estão abertas aqui até ao fim de Junho. Que ninguém fique de fora e que sejamos capazes de responder, cada um à sua maneira, ao apelo que o Papa nos lança!
Jesuíta desde 2017, tem formação em Economia, Estudos de Desenvolvimento e Filosofia. Actualmente vive em Santo Tirso e trabalha no Colégio das Caldinhas.