O Relatório sobre o Futuro do Emprego 2025 do Fórum Económico Mundial traça um quadro dinâmico, mas desafiante, da força de trabalho global, à medida que a tecnologia, a sustentabilidade e as mudanças económicas redefinem os cenários de emprego. Com a inteligência artificial e a automação a impulsionar uma transformação sem precedentes, o relatório destaca uma mudança líquida projectada de 23% no mercado de trabalho global nos próximos cinco anos. Sublinha igualmente a necessidade urgente de requalificação, prevendo-se que quase metade dos trabalhadores adquiram novas competências para se manterem competitivos
POR HELENA OLIVEIRA
Ao longo da última década, o relatório bianual do Fórum Económico Mundial (FEM) sobre o futuro dos empregos acompanhou a evolução das tendências tecnológicas, sociais e económicas para tentar compreender as “perturbações” profissionais e identificar as oportunidades de transição dos trabalhadores para os empregos do futuro.
E tal como se pode ler no The Future of Jobs Report 2025, publicado a 7 de Janeiro último, à medida que entramos em 2025, o panorama do trabalho continua a evoluir a um ritmo acelerado. Os avanços transformacionais, particularmente na inteligência artificial generativa (GenAI), estão a remodelar indústrias e tarefas em todos os sectores. Estes avanços tecnológicos, no entanto, estão a convergir com um conjunto mais vasto de desafios, incluindo a volatilidade económica, os realinhamentos geoeconómicos, os desafios ambientais e a evolução das expectativas da sociedade. Em resposta, esta quinta edição do relatório sobre o futuro do emprego alarga o seu âmbito, oferecendo uma análise abrangente das tendências interligadas que estão a moldar o mercado de trabalho global.
Tendências principais que irão transformar o mercado laboral global até 2030
As mudanças tecnológicas, a fragmentação geoeconómica, a incerteza económica, as alterações demográficas e a transição ecológica – individualmente e em conjunto – são alguns dos principais factores que deverão moldar e transformar o mercado de trabalho global até 2030. O Relatório sobre o Futuro do Emprego 2025 – que é elaborado a cada dois anos pelo FEM- reúne a perspetiva de mais de 1.000 empregadores líderes a nível mundial – que representam colectivamente mais de 14 milhões de trabalhadores em 22 indústrias e 55 economias de todo o mundo – para analisar o impacto destas macrotendências no emprego e nas competências, bem como as estratégias de transformação da força de trabalho que os empregadores planeiam adoptar em resposta, no período de 2025 a 2030.
- O alargamento do acesso digital
Prevê-se que o alargamento do acesso digital seja o factor mais transformador – tanto nas tendências relacionadas com a tecnologia como em geral – com 60% dos empregadores a esperarem que transforme a sua actividade até 2030. Os avanços nas tecnologias, em particular a IA e o processamento de informações (86%), a robótica e a automação (58%) e a produção, armazenamento e distribuição de energia (41%), também deverão ser particularmente transformadores. Prevê-se que estas tendências tenham um efeito divergente nos empregos, impulsionando tanto as funções de crescimento mais rápido como as de declínio mais célere e alimentando a procura de competências relacionadas com a tecnologia, incluindo a IA e os grandes volumes de dados, as redes e a cibersegurança e a literacia tecnológica, que deverão ser as três principais competências de crescimento mais rápido.
- O aumento do custo de vida
É a segunda tendência mais transformadora em geral – e a principal tendência relacionada com as condições económicas – com metade dos empregadores a esperar que este aumento transforme a sua empresa até 2030, apesar de uma redução prevista da inflação global. O abrandamento económico geral, apesar de em menor grau, também permanece no topo das preocupações e espera-se que transforme 42% das empresas. Prevê-se que a inflação tenha uma perspectiva mista para a criação líquida de emprego até 2030, enquanto o crescimento mais lento deverá deslocar 1,6 milhões de empregos a nível mundial. Prevê-se igualmente que estes dois impactos na criação de emprego aumentem a procura do pensamento criativo e de competências de resiliência, flexibilidade e agilidade.
Mitigação das alterações climáticas
A mitigação das alterações climáticas é a terceira tendência mais transformadora em termos globais – e a principal tendência relacionada com a transição ecológica – enquanto a adaptação às alterações climáticas ocupa o sexto lugar, com 47% e 41% dos empregadores, respectivamente, a esperarem que estas tendências transformem a sua actividade nos próximos cinco anos. Esta realidade está a impulsionar a procura de funções como engenheiros de energias renováveis, engenheiros ambientais e especialistas em veículos eléctricos e autónomos, todos eles incluídos no top 15 dos empregos de crescimento mais rápido. Espera-se também que as tendências climáticas conduzam a um maior enfoque na gestão ambiental, que entrou pela primeira vez na lista das 10 competências de crescimento mais rápido do relatório The Future of Jobs 2025.
Envelhecimento e declínio da população em idade activa
Adicionalmente, duas mudanças demográficas estão a transformar cada vez mais as economias e os mercados de trabalho mundiais: o envelhecimento e o declínio da população em idade activa, predominantemente nas economias com rendimentos mais elevados, e a expansão da população em idade activa, predominantemente nas economias com rendimentos mais baixos. Estas tendências conduzem a um aumento da procura de competências em matéria de gestão de talentos, ensino e mentoria, a par de motivação e auto-consciência. O envelhecimento da população impulsiona o crescimento dos empregos no sector da saúde, como os profissionais de enfermagem, enquanto o aumento da população em idade activa impulsiona o crescimento das profissões relacionadas com a educação, como os professores do ensino superior.
Situação geoeconómica e tensões geopolíticas
Prevê-se que a fragmentação geoeconómica e as tensões geopolíticas conduzam à transformação do modelo de negócio de um terço (34%) das organizações inquiridas nos próximos cinco anos. Mais de um quinto (23%) dos empregadores globais identificam o aumento das restrições ao comércio e ao investimento, bem como os subsídios e as políticas industriais (21%), como factores que moldam as suas operações. Quase todas as economias para as quais os inquiridos esperam que estas tendências sejam mais transformadoras têm um comércio significativo com os Estados Unidos e/ou a China. Os empregadores que esperam que as tendências geoeconómicas transformem as suas actividades têm também mais probabilidades de efectuar operações offshore – e ainda mais probabilidades de efetuar operações re-shore. Estas tendências estão a impulsionar a procura de funções relacionadas com a segurança e a aumentar a procura de competências em matéria de redes e cibersegurança. Está também a aumentar a procura de outras competências centradas no ser humano, como a resiliência, a flexibilidade e a agilidade, a par da liderança e a influência social.
Extrapolando a partir das previsões partilhadas pelos inquiridos no âmbito do Inquérito sobre o Futuro do Emprego, de acordo com as tendências actuais, no período de 2025 a 2030, a criação e a destruição de postos de trabalho devido à transformação estrutural do mercado de trabalho ascenderá a 22% do total de postos de trabalho actuais. Prevê-se que isto implique a criação de novos empregos equivalentes a 14% do emprego total actual, ou seja, 170 milhões de empregos. Contudo, este crescimento deverá ser compensado pela deslocação do equivalente a 8% (ou 92 milhões) dos empregos actuais, resultando num crescimento líquido de 7% do emprego total, ou seja, 78 milhões de empregos.
Aumento e declínio das profissões
Prevê-se que os postos de trabalho que registem o maior crescimento em termos absolutos de volume incluam trabalhadores agrícolas, motoristas de entregas, trabalhadores da construção civil, vendedores e trabalhadores da indústria alimentar. É estimado igualmente que os empregos na área da economia dos cuidados, tais como profissionais de enfermagem, profissionais de serviço social e de aconselhamento e auxiliares de cuidados pessoais, registem um crescimento significativo nos próximos cinco anos, juntamente com funções na área da educação, tais como professores do ensino superior e secundário.
Mas são as funções relacionadas com a tecnologia as que registam um crescimento mais rápido em termos percentuais, incluindo Especialistas em Big Data, Engenheiros Fintech, Especialistas em IA e Aprendizagem Automática e Programadores de Software e Aplicações. As funções de transição ecológica e energética, incluindo Especialistas em Veículos Autónomos e Eléctricos, Engenheiros Ambientais e Engenheiros de Energias Renováveis, também figuram entre as funções de crescimento mais rápido.
Já no que diz respeito aos empregados de escritório e de secretariado – incluindo caixas, assistentes administrativos e secretários executivos – deverão registar o maior declínio em números absolutos. Assim, as empresas esperam que as funções que registem uma diminuição mais rápida incluam os Empregados dos Correios, os Caixas de Banco e os Empregados de Introdução de Dados.
Em média, os trabalhadores podem esperar que dois quintos (39%) dos seus conjuntos de competências existentes sejam transformados ou fiquem desactualizados durante o período de 2025-2030. No entanto, esta medida de “instabilidade de competências” abrandou em comparação com edições anteriores do relatório, passando de 57% em 2020, na sequência da pandemia, para 44% em 2023. Esta constatação poderá dever-se ao facto de uma percentagem crescente de trabalhadores (50%) ter concluído medidas de formação, requalificação ou melhoria de competências, em comparação com 41% na edição de 2023 do relatório em causa.
As competências mais valiosas e a atracção e retenção de talentos
O pensamento analítico continua a ser a competência essencial mais procurada pelos empregadores, com sete em cada 10 empresas a considerarem-na essencial em 2025. Seguem-se a resiliência, a flexibilidade e a agilidade, bem como a liderança e a influência social.
Por seu turno, a IA e os grandes volumes de dados estão no topo da lista das competências de crescimento mais rápido, seguidas de perto pelas redes e cibersegurança, bem como pela literacia tecnológica. Complementando estas competências relacionadas com a tecnologia, espera-se também que o pensamento criativo, a resiliência, a flexibilidade e a agilidade, juntamente com a curiosidade e a aprendizagem ao longo da vida, continuem a crescer em importância no período 2025-2030. Por outro lado, a destreza manual, a resistência e a precisão destacam-se com notáveis declínios líquidos na procura de competências, com 24% dos inquiridos a preverem uma diminuição da sua importância.
Embora se preveja que o número global de postos de trabalho aumente até 2030, as diferenças de competências existentes e emergentes entre as funções em crescimento e em declínio poderão exacerbar as lacunas de competências existentes. Prevê-se que as competências mais proeminentes que diferenciam os empregos em crescimento dos empregos em declínio incluam resiliência, flexibilidade e agilidade, a gestão de recursos e operações, o controlo de qualidade e a programação e literacia tecnológica.
Tendo em conta a evolução das exigências em matéria de competências, a escala de actualização e requalificação da mão de obra que se prevê ser necessária continua a ser significativa: se a mão de obra mundial fosse constituída por 100 pessoas, 59 necessitariam de formação até 2030. Destas, os empregadores prevêem que 29 poderiam ser requalificadas nas suas funções actuais e 19 poderiam ser requalificadas e reafectadas a outras funções dentro da sua organização. No entanto, é pouco provável que 11 pessoas recebam a requalificação ou a atualização de competências necessárias, o que colocaria as suas perspectivas de emprego cada vez mais em risco.
As lacunas de competências são categoricamente consideradas a maior barreira à transformação do negócio pelos inquiridos sobre o Futuro do Emprego, com 63% dos empregadores a identificá-las como uma barreira importante no período 2025-2030. Consequentemente, 85% dos empregadores inquiridos planeiam dar prioridade à melhoria das competências da sua força de trabalho, sendo que 70% dos empregadores esperam contratar pessoal com novas competências, 40% planeiam reduzir o pessoal à medida que as suas competências se tornam menos relevantes e 50% planeiam fazer a transição do pessoal de funções em declínio para funções em crescimento.
Espera-se que o apoio à saúde e ao bem-estar dos trabalhadores seja uma das principais prioridades para a atracção de talentos, com 64% dos empregadores inquiridos a identificarem-no como uma estratégia fundamental para aumentar a sua disponibilidade. Iniciativas eficazes de requalificação e melhoria de competências, juntamente com a melhoria da progressão e promoção de talentos, são também consideradas como tendo um elevado potencial de atracção dos mesmos. O financiamento e a oferta de requalificação e melhoria de competências são considerados as duas políticas públicas mais bem-vindas para aumentar a disponibilidade de talentos.
O inquérito sobre o futuro do emprego conclui também que a adopção de iniciativas de diversidade, equidade e inclusão continua a aumentar. O potencial de expansão da disponibilidade de talentos através da exploração de grupos de talentos diversificados é destacado por quatro vezes mais empregadores (47%) do que há dois anos (10%). As iniciativas de diversidade, equidade e inclusão tornaram-se mais prevalecentes, com 83% dos empregadores a comunicarem a existência de uma iniciativa deste tipo, em comparação com 67% em 2023. Essas iniciativas são particularmente populares para empresas sediadas na América do Norte, com uma taxa de aceitação de 96%, e para empregadores com mais de 50.000 funcionários (95%).
Até 2030, pouco mais de metade dos empregadores (52%) prevêem afectar uma maior percentagem das suas receitas aos salários, sendo que apenas 8% esperam que esta percentagem diminua. As estratégias salariais são impulsionadas principalmente pelos objectivos de alinhar os salários com a produtividade e com o desempenho dos trabalhadores e competir pela retenção de talentos e competências. Por último, metade dos empregadores planeia reorientar a sua actividade em resposta à IA, dois terços planeiam contratar talentos com competências específicas em IA, enquanto 40% prevêem reduzir a sua força de trabalho nos casos em que a IA pode automatizar tarefas.
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