POR SÓNIA BEXIGA/OJE
Peter Villax, administrador da Hovione e presidente da Associação das Empresas Familiares, foi o orador convidado da mais recente conferência da ACEGE – Associação Cristã de Empresários e Gestores.
Claramente satisfeito com o convite, pela oportunidade de, pela primeira vez, afirmar publicamente que é um “empresário cristão”, Peter Villax, à luz da sua experiência enquanto presidente da Associação das Empresas Familiares, recordou que estas empresas (por definição da Comissão Europeia, toda e qualquer empresa em que o capital é detido por uma família e onde se encontra pelo menos um membro a trabalhar, ou no caso de ser uma cotada a família deter 25% do capital) passam por três fases fundamentais: a criação, que de uma forma geral assenta na simples necessidade de sobrevivência; a consolidação, a mais importante de todas as fases, e por último, a de grande crescimento, apenas alcançada quando a segunda fase decorre com sucesso.
“Para ter sucesso é preciso ultrapassar o grande desafio da profissionalização da gestão, que é essencial para ultrapassar o trabalho do seu fundador e o dos seus filhos e conseguir crescer. Para tal, tem de se ir ao exterior procurar os melhores profissionais e tentar não estagnar, e realmente conseguir crescer”, sublinhou Peter Villax.
[pull_quote_left]Apenas com a cultura do mérito e o envolvimento de todos nas principais decisões é possível mitigar os problemas no seio da família e da empresa[/pull_quote_left]
Tendo em conta que uma empresa familiar tem uma visão a longo prazo, conta desde logo com uma liberdade maior e, neste contexto, quem a lidera tem de se dedicar a pôr em prática os seus valores, a passá-los aos membros da família e a trabalhar em prol da continuidade, porque “na realidade, uma empresa familiar é uma projecção da família”, vincou o orador. Mas sendo uma empresa familiar, também os problemas e as barreiras para ultrapassar assumem contornos diferentes.
E, precisamente no espírito da conciliação entre o trabalho e a família, estas empresas podem ser palco de situações como o questionar de uma promoção deste e não do outro membro da família, entre outros cenários do género. Situação que, para Peter Villax, apenas se resolvem recorrendo à meritocracia. “Apenas com a cultura do mérito e o envolvimento de todos nas principais decisões, como a importante preparação da sucessão na presidência (que deve ser iniciada 15 a 20 anos antes), é possível mitigar os problemas no seio da família e da empresa”, salientou Villax, deixando ainda uma nota sobre a importância e o peso determinante que encerra um “Protocolo de Família”, o qual ainda não existe em Portugal.
Trata-se de um documento que comporta a hierarquia da família, organizando os seus membros por áreas e respeitantes poderes de decisão, estipulando quem ocupa o conselho de administração, o órgão consultivo e o conselheiro, entre outros. Para o empresário, criar este documento, existente noutros países e que começa a ter validade, por exemplo, na vizinha Espanha – e que estará para a organização familiar como o pacto social está para as empresas -, faria toda a diferença, pois permitiria que, tendo em conta que é concebido em ambientes de paz e com o consenso de toda a família, fosse um instrumento fundamental para a organização e funcionamento da família, e consequentemente da sua empresa.
Apesar de estar longe de ser uma realidade, para Peter Villax, o primeiro passo para concretizar este seu “sonho” passa por conseguir que, legalmente, para além das figuras da pessoa colectiva ou individual, seja criada a “pessoa familiar”, sempre com carácter opcional.
Artigo originalmente publicado no jornal económico OJE. Republicado com permissão