POR JORGE MARQUES DOS SANTOSSegundo estudos recentes, 33 % das empresas referem que o atraso nos pagamentos penaliza ou retarda o seu crescimento; 23% referem que contratariam mais trabalhadores se os pagamentos fossem pontuais e previsíveis; 42% referem que passam por restrições de liquidez devido aos pagamentos fora de prazo. Estes dados constituem uma forte motivação para que as empresas, as autoridades e os consumidores garantam pagamentos atempados, e para que a questão dos pagamentos justos e a horas se mantenha com elevada importância na agenda política.
Dispomos já de um quadro regulamentar preciso e harmonizado em todo o espaço europeu e nacional. Nos últimos anos, tem-se feito um importante esforço para aumentar a sensibilização de todas as partes envolvidas nestes processos que promovem o impacto positivo que uma cultura de respeito pelos prazos de pagamentos introduz na competitividade da economia, no crescimento e no emprego.
A Agência para a Competitividade e Inovação, (IAPMEI) reconhece, neste tema, um alinhamento com a sua missão, em especial no que respeita à intervenção destinada ao reforço das capacidades endógenas das empresas. O IAPMEI desenvolveu um conjunto de iniciativas neste domínio, desde logo no âmbito do Programa ACONTESER, da Associação Cristã de Empresários e Gestores (ACEGE), aderindo ao Compromisso Pagamento Pontual. Felicito esta associação pelo trabalho desenvolvido na mobilização de um número cada vez mais vasto de entidades a este Compromisso e, na divulgação de um tema que, todos sabemos, continua a condicionar uma dinâmica mais eficiente e saudável da economia portuguesa.
Sabemos que atravessamos um período muito exigente, com impactos em muitos e diversificados domínios na sociedade portuguesa. Esta situação faz um apelo adicional a determinadas alterações nos comportamentos, nas responsabilidades e nas expectativas de desempenho dos diversos agentes económicos.
É, contudo, gratificante reconhecer que as empresas em geral, e muito em particular as PME, têm sido protagonistas de uma dinâmica de resistência e de superação de um pesado conjunto de adversidades. Entre estas impõem-se as referências ao déficit de capitalização, à falta de liquidez e às persistentes dificuldades no acesso ao crédito, aliadas a uma forte instabilidade e a crescentes níveis de exigência dos mercados.
[quote_center]Acreditamos que a promoção de boas práticas é mais eficaz quando associada a mecanismos de distinção e de reconhecimento social[/quote_center]
Acreditamos que a situação actual exige uma maior ousadia, uma maior determinação mas, também, um maior sentido de responsabilidade social na definição das estratégias empresariais e nas práticas de negócio.
A ausência de pontualidade nos pagamentos manifesta-se, com intensidades variáveis, um pouco por toda a Europa, mas assume uma expressão particularmente significativa em Portugal. Trata-se de uma “má-prática” que introduz fortes condicionantes ao desempenho da economia, com consequências evidentes ao nível da reputação e da qualidade do ambiente de negócios, mas também ao nível da riqueza criada, do emprego e da produtividade.
Acreditamos que “competitividade” e “estratégias de desenvolvimento sustentáveis” são conceitos indissociáveis que incorporam um relevante vector de responsabilidade social. As empresas sabem que precisam de se afirmar, de forma distintiva e inovadora, nos mercados em que se inserem. Sabem, também, que a reputação e o reconhecimento de práticas socialmente responsáveis são elementos essenciais de um desempenho diferenciador e (ainda) inovador. Sabem, ainda, que estes elementos contribuem para uma notoriedade mais positiva junto do mercado e para um acréscimo da sua competitividade.
É esta realidade que nos leva a acreditar que a promoção de boas práticas é mais eficaz quando associada a mecanismos de distinção e de reconhecimento social e mecanismos que promovam a projecção pública dos compromissos de responsabilidade social.
A situação melhora mas, pouco e devagar.
O que fazer? Há que insistir:
- na divulgação dos impactos negativos e das vantagens;
- na promoção de boas práticas associada a mecanismos de distinção e de reconhecimento social, amplificando os seus efeitos demonstradores;
- na promoção de mecanismos que estimulem a projecção pública dos compromissos de responsabilidade social assumidos pelas empresas (ou outras entidades), que podem funcionar como poderosos indutores de dinâmicas de mobilização e de adesão, sobretudo por parte das empresas de menor dimensão e arrastar todos os intervenientes nas cadeias de fornecimento.
Vale a pena lutar por esta causa pois, para além de fomentar a responsabilidade social das empresas, é uma forma de injectar fundos na economia, contribuindo para o seu crescimento sustentado. Temos de combater a inércia, pois muitas das vezes nem sequer se enfrentam dificuldades financeiras que justifiquem o incumprimento, sendo quase uma demonstração de um falso poder sobre o outro.
Não façamos aos outros o que não queremos que nos façam a nós.
Presidente do Conselho Directivo do IAPMEI