Há muitos executivos que pensam que o tema do financiamento sustentável é apenas europeu, e que nada ocorre nos outros países. No entanto isso é um enorme engano. O tema do financiamento sustentável, ou seja, com critérios ambientais e sociais na análise do risco do projeto, é algo que está a massificar-se pelo mundo
POR SOFIA SANTOS

Vejamos o  exemplo da China:

Em 2015, o Conselho de Estado e o Comité Central do Partido Comunista da China (PCC) divulgaram o Plano Integrado de Reforma para Promover o Progresso Ecológico, o qual inclui um roteiro para estabelecer o sistema financeiro verde no país. Em agosto de 2016, comissões e ministérios relacionados com as áreas das finanças emitiram em conjunto as “Diretrizes para o Estabelecimento do Sistema Financeiro Verde”. Essas diretrizes estabelecem a plataforma política para finanças verdes na China, incluindo a definição oficial de finanças verdes, incentivos, requisitos de divulgação, plano de desenvolvimento para produtos financeiros verdes e mitigação de riscos.

Em junho de 2017, o Conselho de Estado escolheu as províncias de Zhejiang, Guangdong, Guizhou, Jiangxi e Xinjiang como zonas-piloto de finanças verdes para explorar os seus diferentes modelos de desenvolvimento. Além dos planos e políticas gerais de finanças verdes, cada zona piloto foi autorizada a criar as suas estratégias exclusivas. Essas experiências práticas acumuladas nessas cinco zonas-piloto poderão servir de base para a promoção do financiamento verde em toda a China. Neste contexto, várias políticas sobre a definição de finanças verdes e títulos verdes foram definidas pelo Banco Popular da China. Em 2017, a China Securities Regulatory Commission (CSRC) também desenvolveu suas próprias diretrizes de títulos verdes, bem como a Associação Nacional de Investidores Institucionais do Mercado Financeiro (NAFMII).

No início de 2022, o Banco Popular da China, a Administração Estatal para Regulamentação do Mercado (SAMR), a Comissão Reguladora de Bancos e Seguros (CBIRC) e a Comissão Reguladora de Valores Mobiliários da China (CSRC) emitiram o Décimo Quarto Plano Quinquenal para Desenvolvimento e Estandardização Financeira. O Plano identifica as principais tarefas e metas para os próximos cinco anos, incluindo o estabelecimento de padrões financeiros verdes claros e executáveis ​​para divulgação e avaliação ESG, contabilidade de carbono para instituições financeiras, estatísticas de empréstimos, finanças de carbono e transição finança.

Em junho de 2022, o CBIRC emitiu as Diretrizes para Finanças Verdes no Setor Bancário e de Seguros, elevando o financiamento verde no setor bancário e de seguros a um nível estratégico. Essa diretriz traz assim a concessão de crédito, a subscrição do setor de seguros e os negócios de gestão de ativos para o âmbito das finanças verdes, o que idealmente mobilizará mais finanças verdes.

Na recente visita da Secretária de Estado do Tesouro Americana Janet Yellen á China, Yellen afirmou numa mesa redonda de especialistas na China que a colaboração entre as duas potências no financiamento climático é “crítica”, reconhecendo que sendo os dois maiores emissores de gases de efeito estufa do mundo e os maiores investidores em energia renovável, têm uma responsabilidade conjunta – e capacidade – de liderar o caminho. Adicionou que o financiamento climático deve ser direcionado de forma eficiente e eficaz, tendo pressionado a China a apoiar as instituições multilaterais existentes, como o Fundo Verde para o Clima, enquanto pedia a inclusão do setor privado na transição para emissões líquidas zero.

Tudo isto são bons desenvolvimentos.

Talvez estejamos mesmo a mudar e haja uma luz ao fundo do túnel.

NOTA: Artigo elaborado com a colaboração de Daniel Loreggia, no âmbito de um estágio profissional na Systemic

CEO da Systemic