A ligeira melhoria nacional no Barómetro de Inovação da COTEC, recentemente divulgado, e que analisa o nível de desempenho em IDI de 52 países, não foi suficiente para o País abandonar a condição de “desperdiçador”. Ocupando a 29ª posição, Portugal precisa “de um maior envolvimento das empresas no “comando” do sistema nacional de inovação, aproximando a investigação e desenvolvimento e a inovação dos mercados onde finalmente se criam o valor e o emprego”, como comenta ao VER Daniel Bessa O Barómetro de Inovação, realizado pela COTEC Portugal em parceria com a Everis, analisa os níveis de IDI (Investigação, Desenvolvimento e Inovação), traçando os diferentes perfis de desempenho de diversos países e apresentando conclusões sobre o posicionamento de Portugal face aos mesmos. Portugal encontra-se na 29ª posição, entre 52 nações analisadas. As conclusões, apresentadas a 27 de Março, em Lisboa, são fruto dos indicadores observados ao longo de 2013. Neste ranking, a COTEC compara o desempenho dos países ao perfil de seis animais – Abelha, Aranha, Cigarra, Lagarta, Formiga e Caracol -, tendo em conta a articulação do conjunto das dimensões “Condições + Recursos” com a parelha “Processos + Resultados”. Cada dimensão é avaliada em função de um conjunto de pilares e indicadores. O perfil Abelha, ou “maduro”, é o mais popular entre os países analisados, e reúne 23 países, em 2014. Caracterizando-se por ter Condições e Recursos elevados, que se traduzem em Processos e Resultados igualmente elevados, este perfil acolheu quatro países (Alemanha, Coreia, Japão e Malta) que, no ano anterior, pertenciam à categoria Aranha (ou perfil equilibrado superior, que este ano apenas alberga a Itália). Esta passagem traduz-se numa perda de equilíbrio entre as Condições e Recursos e Processos e Resultados destas quatro nações. O perfil Abelha ganhou ainda dois países (Austrália e Estónia) que anteriormente eram Cigarra, o que significa que estes incrementaram os seus “Processos e Resultados”, face às “Condições e aos Recursos”, que já eram elevados. Cigarra é o segundo perfil mais popular. Incluindo Portugal, são 15 os países que fazem parte daquele que é considerado o perfil desperdiçador por excelência, devido ao facto de os seus baixos “Processos e Resultados” não traduzirem os elevados “Recursos e Condições” de que dispõe. Esta categoria perdeu a Austrália e a Estónia para Abelha, e ganhou o Canadá ao perfil “maduro”, bem como o Brasil, Grécia, Hungria e Rússia, que anteriormente pertenciam ao “lento” Caracol, caracterizado por apresentar valores médios baixos em ambas as dimensões. O perfil Lagarta, ainda que tenha valores reduzidos, tal como Caracol, apresenta um equilíbrio entre as dimensões, incrementando a parelha “Processos + Resultados”, face ao mais “lento” dos perfis. Dele fazem parte, essencialmente, os países da América do Sul. O perfil Formiga é caracterizado pela sua capacidade de materializar o baixo valor médio do conjunto de dimensões “Condições + Recursos” num valor médio elevado para o conjunto de “Processos + Resultados”. É o perfil trabalhador e concretizador, e a ele pertence apenas a China. A análise feita este ano revela que cerca de 75% dos países mantiveram a sua posição face a 2013, mas que a média dos 52 países analisados altera o seu perfil, passando de Cigarra (desperdiçador) a Abelha (maduro), o que é revelador de uma melhoria global a nível de Processos e Resultados.
Um Portugal “embrulhado” O “jardim à beira-mar plantado” lidera o grupo dos países da Europa do Sul, ocupando a posição cimeira em todas as dimensões, excepto na “Resultados”, onde é ultrapassado por Espanha e Itália. Se considerarmos que “Condições” é a dimensão em que mais nos destacamos pela positiva, percebemos que existe uma clara falta de eficácia e eficiência. O facto de termos melhores “Condições + Recursos” do que “Processos + Resultados” é, aliás, uma tendência acompanhada por todos os países deste grupo. Portugal permanece, no entanto, abaixo dos países de dimensão semelhante à sua (Áustria, Bélgica, Finlândia, Holanda e Irlanda). Relativamente aos pilares de cada dimensão em análise no Barómetro, a nível nacional, registam-se crescimentos e decréscimos, na sua maioria ligeiros, embora algumas com oscilações significativas. “Networking e empreendedorismo” foi o pilar que mais se destacou pela positiva, resultado do crescimento da vontade e da confiança dos portugueses na retoma da economia.
O bom posicionamento nacional nos indicadores “Nível de restrição judicial referente à entrada de capitais”, “Tempo para criação de Novas Empresas”, “Qualidade do Sistema de Educação” e “Qualidade das Instituições de Investigação Científica” permite que o pilar “Envolvente Institucional”, a nível global, se estabeleça positivamente. O pilar “Tecnologias de Informação e Comunicação”, que também pertence à dimensão “Condições”, revela igualmente um ligeiro incremento face ao ano anterior. Em dois dos sete indicadores deste pilar (“Linhas fixas de telefone por 100 habitantes” e “Acesso à Internet de banda larga pelas escolas nacionais”), Portugal encontra-se mesmo acima da média global, tal como já tinha sido verificado no ano anterior. Uma subida ligeira foi registada ao nível do “Financiamento”, que apesar ser ténue traduz um sinal de recuperação face à grande descida de 2013. Este tinha sido, aliás, o protagonista da maior quebra registada e reforça a confiança na retoma da economia. Apesar de, teoricamente, o pilar “Impactos de Inovação” não registar alterações, observa-se o crescimento do indicador “Vendas New-to-Firm (% do volume de negócios)”, compensado pela quebra do indicador “Introdução de produtos ou processos inovadores pelas PME em percentagem do total de PME”. Embora se registe um crescimento ligeiro da pontuação no pilar “Impactos Económicos”, Portugal inclui-se entre os 20% de países pior classificados, em cinco dos seis indicadores que o compõem, o que não permite que o país se posicione acima do 48º lugar, entre os 52 países. O pilar “Aplicação de Conhecimentos” foi aquele em que se verificou uma descida mais acentuada, resultado da maior quebra de produtividade dos últimos quatro anos (que, segundo dados do INE, ocorreu no terceiro semestre de 2013). O “Capital Humano” regista uma quebra ligeira, acompanhada por uma descida drástica do indicador “Doutorados em Ciências & Engenharia e Ciências Sociais e Humanidades entre os 25 e os 34 anos”. Este dado é revelador da dificuldade na atracção e retenção de talentos no País, actualmente. Suíça e Paraguai: os dois pólos da inovação
No grupo de países considerados Líderes em Inovação, a Suíça, a Finlândia, a Dinamarca, a Suécia e a Alemanha mantiveram os lugares de topo. Houve, no entanto, uma ligeira alteração relativamente ao ano anterior, com a Holanda, a Noruega e a Irlanda a substituírem a República da Coreia, os Estados Unidos da América e o Reino Unido, que caíram para o grupo dos Seguidores. Além dos países acima referidos, fazem parte deste grupo o Luxemburgo, a Islândia, o Japão, a Áustria, a França, a Bélgica e a Nova Zelândia, que apresentam um bom desempenho global. Portugal integra o grupo dos Inovadores Moderados, que é constituído essencialmente por países anglo-saxónicos, da Europa do Sul, do Centro e de Leste, bem como pela China e por Israel. Com os piores resultados ao nível do desempenho global encontram-se o Paraguai e a maioria dos restantes países do Mercosul, assim como alguns do PECO (Países da Europa Central e Oriental), a Grécia e a Índia. Todos eles foram, por isso, classificados como países que têm um desempenho “Incipiente” em matéria de IDI.
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Jornalista