Todos nós somos empreendedores, embora muitas vezes não demos conta disso. Desde pequenos que arriscamos fazer coisas novas. Uns arriscam mais do que outros. E muitas das coisas correm bem, outras nem tanto. Mas empreender é isso mesmo: é seguir um caminho que pode terminar em nada, pode até terminar mal, mas pode também ser a razão, a maneira de viver e de ser
POR MARIA DE FÁTIMA CARIOCA

Envolto num contexto de turbulência e incerteza, o mundo continua a girar e a mudar. Neste contexto, e para além de outras características igualmente determinantes, é imprescindível desenvolver, ao longo de toda a vida, uma mentalidade empreendedora para, face ao ambiente, local ou global, enfrentar os desafios com inteligência, ambição, audácia e otimismo. Esta mentalidade empreendedora – atitudes e comportamentos que resumem a forma como os empresários tendem a pensar e a agir – permite identificar e capitalizar oportunidades, mudar de rumo quando necessário e encarar os insucessos, pessoais, profissionais ou empresariais, como uma oportunidade para aprender e melhorar.

O empreendedorismo na ótica profissional e de criação de novos negócios passa fundamentalmente por pensarmos numa causa, numa ideia ou num novo projeto, despertar a vontade de concretizar, encontrar os recursos certos, incluindo os financeiros, realizar testes que nos digam se a opção que tomámos é a mais correta e seguir em frente, determinados a implementar o projeto, com coragem e resiliência. O propósito será sempre, fazer diferente, fazer melhor todos os dias, em busca de um mundo melhor, de melhor servir os outros, muitas vezes os clientes e todos os stakeholders, ou ainda, com frequência, em busca de uma vida melhor. Vendo bem, não é muito diferente de outras iniciativas que tomamos quotidianamente.

Inovar e empreender, hoje, já não é uma moda ou uma atividade complementar…é uma necessidade crítica de diferenciação e de competitividade, aplicando-se na vida pessoal, a nível das empresas e, sem qualquer dúvida, a nível nacional! Daí a urgência de criar culturas de iniciativa empreendedora para os jovens lançarem as suas aventuras empresariais (entrepreneurship) e/ou desenvolverem iniciativas empreendedoras dentro das organizações onde estão (intrapreneurship). Culturas onde o pensamento crítico, a criatividade e a capacidade de gerar novas ideias sejam estimulados, simplesmente porque são estas características que fazem acontecer as mudanças disruptivas, criar negócios e acelerar o crescimento das empresas.

Existem várias formas de inovar e de criar culturas de empreendedorismo dentro e fora das organizações. Por um lado, endógenas partindo de uma lógica de despertar e inspirar as suas pessoas a pensar e trabalhar segundo uma lógica inovadora, questionando e propondo soluções estruturadas de melhoria contínua em produtos e processos. Por outro lado, exógenas colaborando com o ecossistema empresarial a nível global e trabalhando em parceria com outras empresas ou instituições que tragam, de forma rápida e eficiente, soluções inovadoras.

Seja como for, a exigência dos mercados e clientes, a forte concorrência que se vive em todos os setores de atividade e a crescente regulação, obrigam as empresas a uma constante mudança, a novas regras e a uma alteração, por vezes radical, dos seus modelos de negócio. E, nesse sentido, são necessários líderes que pensem, sintam e dominem todos os temas relacionados com a inovação e a sua gestão, no sentido de melhor aproveitarem a potencialidade das suas equipas, do contexto e da tecnologia disponível, que diariamente revoluciona o negócio e a experiência de cliente.

Na AESE, como Business School, fundada por empresários há mais de 40 anos, a liderança e o empreendedorismo estão no nosso ADN. Há muito que, no nosso Executive MBA temos uma área de empreendedorismo e acesso a mentores experientes que tem trazido ao mercado algumas startups, com provas dadas nas suas indústrias. Ser empreendedor é ter um mindset, uma atitude, uma maneira de pensar próprias, mas sobretudo é estar disponível para empreender, para a ação. Isso ensinamos. Isso aprendem e vivem os nossos participantes; assim como sabem que todo o líder pode, e deve, ser um empreendedor, esteja ele numa pequena ou numa grande empresa, numa empresa familiar, numa empresa cotada em bolsa ou numa multinacional.

Mas acreditamos que, atualmente, para preparar líderes disruptivos e ousados é necessário mais. O papel de uma Business School na preparação de líderes empreendedores é multifacetado e envolve não apenas a transmissão de conhecimento, mas também o fornecimento de oportunidades práticas e uma cultura que estimula a inovação e encoraja a iniciativa empresarial. Empreender pode, muitas vezes, ser um caminho solitário e árduo. Fazê-lo acompanhado e saber-se apoiado, ameniza muitos desses momentos e acelera o ritmo do caminhar.

Assim, dando novamente o exemplo da AESE, desenvolvemos um ecossistema baseado numa abordagem abrangente – abordagem 360º. Trata-se de um ecossistema completo que reúne professores da AESE, do IESE e de outras escolas associadas, empresários e aspirantes a empresários, investidores e outros líderes empresariais. Disponibilizamos a mentoria, as redes de parceria, o acesso ao financiamento e complementamos com investigação. Tudo ingredientes necessários para dar vida aos sonhos empresariais!

Sobretudo, procuramos criar um ambiente e uma mentalidade mais inclusiva para as startups conviverem e trabalharem em conjunto com empresas já estabelecidas, certos de que desta convivência colaborativa nascem novas ideias e novas soluções são cocriadas, numa relação gratificante para todos.

O Mundo, Portugal e as nossas empresas necessitam, mais do que nunca, de líderes empreendedores. Hoje estamos a percorrer um caminho nunca trilhado que nos exige, para além da capacidade estratégica, da inteligência adaptativa, da eficiência e dos bons resultados que são todos imprescindíveis para a sustentabilidade da organização, criatividade e audácia para nos aventurarmos por novos temas, novos modelos, novas configurações organizacionais. Exige empresas e líderes dispostos a serem pioneiros, os únicos capazes de não se limitarem a percorrer caminhos já conhecidos, mas ousarem, parafraseando Waldo Emerson, “seguir por onde não há caminho e deixar rasto”.

Publicado no Deans’ Corner do Jornal de Negócios. Republicado com permissão

Professora de Factor Humano na Organização e Dean da AESE Business School