Para aqueles que se dizem demasiado ocupados para ler um livro durante o ano “normal” de trabalho, nas férias de Verão deixa de existir essa tão famosa desculpa. Tal como é habitual, o VER sugere 10 livros, com temáticas variadas, para não deixar adormecer por completo os neurónios. Afinal, eles são sempre necessários, faça chuva ou faça sol
POR HELENA OLIVEIRA
TALK LIKE TED: the 9 public-speaking secrets of the world’s top minds
Carmine Gallo
O fenómeno das conferências TED transformou-se numa das fontes mais confiáveis para apresentações de excelência em praticamente qualquer que seja o tópico imaginável.
De acordo com Carmine Gallo, especialista em liderança e comunicação, em todas as suas viagens pelo mundo fora, não existe local algum onde não ouça falar das famosas apresentações TED. Traduzidas em 90 línguas e com os famosos eventos TEDX a terem lugar em 145 países, o autor afirma que, por exemplo, nos Estados Unido, os professores estão a mostrar aos seus alunos um sem número destas famosas TED Talks, que os ajudam a satisfazer novas normas educacionais, as quais colocam uma enorme ênfase na difícil arte de falar em público e nas competências inerentes ao mundo das apresentações. Depois de analisar mais de 500 das melhores Ted Talks, visualizadas mais de 20 milhões de vezes, Gallo chegou à conclusão que o cérebro humano (as mesmas também já foram objecto de estudo por parte de neurocientistas) está “programado” para adorar o estilo que caracteriza as TED.
Para o autor, as boas notícias é que é possível adoptar as técnicas que trouxeram aclamação mundial aos seus oradores, aumentando significativamente as possibilidades de se persuadir a audiência em causa a “incorporar” as ideias que nelas constam. Carmine Gallo identificou nove elementos comuns a todas a s TEDs, garantindo que cada uma delas está devida e cientificamente comprovada para conferir sucesso a um pitch ou apresentação, seja para uma audiência composta por uma pessoa ou por milhares.
THINK LIKE A FREAK: the authors of freakonomics offer to retrain your brain
Steven D. Levitt e Stephen J.Dubner
Steven D. Levitt e Stephen J. Dubner, os autores do best-seller Freakonomics regressam novamente com um livro que explica “como pensar como um Freak”, abordando diversos problemas a partir de uma perspectiva singular e imaginativa como, aliás, é já a sua imagem de marca.
Levitt, professor de Economia na Universidade de Chicago e o jornalista Dubner, continuam, assim, a sua missão de levarem as pessoas que os lêem a pensar mediante formas inteiramente novas no que respeita, em particular, à tomada de decisão e à persuasão.
Seguindo o esquema dos seus dois primeiros livros, os autores oferecem conselhos para lidar tanto com “problemas corriqueiros” como com “grandes reformas globais”. Muitas pessoas, argumentam, “procuram evidências que confirmem aquilo que já pensaram, em vez de novas informações que lhes proporcionariam uma visão mais robusta da realidade”. Levitt e Dubner exortam a uma “abertura mental” para evidências que podem parecer óbvias, contra o que é esperado e até infantis. Para os autores, as crianças têm uma propensão muito maior, face aos adultos, para se concentrarem em problemas pequenos e solucionáveis, em vez de questões “complexas, intratáveis ou irremediáveis”. Levitt e Dubner afirmam ainda que as “as temáticas mais pequenas são, por natureza, menos questionadas e investigadas (…) Ou seja, constituem “território virgem para uma verdadeira aprendizagem e inspirações inovadoras”. Em nove capítulos, cada um deles correspondendo a uma história, os autores oferecem verdadeiras pérolas de aconselhamento: um deles é o de que ninguém deve ter medo de afirmar “não sei”, na medida em que esta confissão é essencial para a aprendizagem. Reformular [as perguntas] é também essencial: “se colocar a questão errada, é quase certo que receberá uma resposta igualmente errada. Levitt e Dubner analisam ainda os altos e baixos dos incentivos e consideram o poder insidioso do “pensamento de rebanho”. Excelentes contadores de histórias, e apesar de admitirem que os seus conselhos possam soar a senso comum, os autores citam igualmente também um conjunto variado de estudos – de psicólogos, sociólogos, educadores e cientistas – para demonstrar que o senso comum é por demais subutilizado.
The Obstacle Is the Way: The Timeless Art of Turning Trials into Triumph
Ryan Holiday
Os fracassos e os obstáculos podem ser encarados por muita gente como problemas terríveis mas, para os melhores empreendedores, são sempre encarados como novas oportunidades. A aceitação do fracasso e, até, o seu elogio, têm estado particularmente “na moda” este ano, realidade que pode ser comprovada por uma produção acima da média de artigos e livros sobre a temática. E é exactamente para explorar o tema do “fracasso que pode ser convertido em oportunidade” que Ryan Holiday se dedicou a escrever um literalmente grande livro que tem como base a velha filosofia grega do estoicismo, utilizada por personagens tão díspares como Marco Aurélio, Thomas Eddison ou, mais recentemente, por Steve Jobs. A filosofia do estoicismo sempre foi seguida ao longo de toda a história por imperadores, escravos, soldados, artistas e, ultimamente, por empreendedores, simplesmente porque funciona, como garante o autor. A filosofia em causa oferece as ferramentas, a disciplina e as atitudes necessárias para preparar o leitor a transformar o negativo em positivo.
Ao logo do livro, são revisitadas inúmeras figuras da história que levaram a cabo esta transformação com êxito considerável: desde Theodore Roosevelt, que sofria de asma e a conseguiu ultrapassar com uma energia quase sobre-humana, a Demóstenes, que nascido com um impedimento na fala foi capaz de se transformar na “voz de Atenas, ou do multimilionário John D. Rockefeller que ultrapassou várias crises financeiras, conseguindo sempre lucrar com cada uma delas ou ainda a batalha travada por Lincoln, cuja tendência para depressões graves produziu, no presidente norte-americano, novos sentimentos de compaixão e humildade. Uma interessante viagem histórica até ao empreendedorismo dos nossos dias a não perder.
Essentialism: The Disciplined Pursuit of Less
Greg McKeon
Para todos nós que vivemos no mundo das multi-tarefas e que nos deixamos convencer que é possível “ir a todas”, este é um excelente livro para se ler nas férias. A premissa da obra assenta na capacidade de se resolver um dos grandes puzzles da vida contemporânea: como é que podemos fazer menos e atingir mais? O livro “Essentialism” explica de que forma é possível arranjar uma abordagem diária para maximizar a nossa eficácia, a qual permite concentrarmo-nos apenas nas coisas que realmente importam. Dedicado a todos os que se sentem sobrecarregados com compromissos ou com cargas de trabalho insustentáveis, a obra de McKeown promete alterar a forma como estabelecemos as nossas prioridades e, caso esta filosofia seja igualmente abraçado pelos líderes, aligeirar o nosso trabalho e a nossa vida, tornando-nos todos mais produtivos.
Stress Test: Reflections on Financial Crises
Timothy F. Geithner
É quase impossível contar todos os livros que já se escreveram e publicaram sobre a Grande Recessão de 2008 e sobre as lições que dela se deveriam retirar. Mas o livro escrito por Tim Geithner, enquanto presidente do Banco da Reserva Federal de Nova Iorque e, mais tarde, em 2009, nomeado secretário do Tesouro da administração Obama, conduz o leitor os bastidores da pior crise financeira desde a Grande Depressão de 1930, cobrindo o florescimento e a queda, bem como o resgate e a recuperação, das finanças norte-americanas. Numa espécie de escrita de memória, historicamente bem contada, Geither leva os leitores até ao interior das trincheiras desta guerra com particularidades únicas, explicando as difíceis escolhas efectuadas e as decisões politicamente “intragáveis” que foi obrigado a fazer para consertar o sistema financeiro destroçado e para evitar o colapso da economia real. Esta é a história “privada” de como um pequeno grupo de decisores políticos – nada preparado para lidar com uma crise desta natureza , como confessa o próprio Geithner, e no meio de um cenário extremamente incerto e perigoso – ajudou a evitar uma segunda depressão na América, ao mesmo tempo que perdeu a confiança de muitos norte-americanos ao longo do processo. Stress Test é, igualmente, um bom guia com princípios orientadores de grande utilidade para que todos os governos aprendam a gerir crises financeiras – não repetindo erros cometidos – as quais, obviamente, continuarão a ter lugar na economia global.
Capital in the Twenty-First Century
Thomas Piketty
Considerado, sem qualquer réstia dúvida, como o literalmente grande livro do ano (com “apenas” 700 páginas na versão inglesa e 1000 na original, francesa) e, muito provavelmente, da década – como já o apelidou Paul Krugman, entre outros – o livro Le Capital au XXIe siècle (cuja versão portuguesa será lançada em Outubro) tem como questão principal as dinâmicas da acumulação e distribuição do capital, “seguidas” desde o século XVIII. Com uma temática central crescentemente preocupante – a desigualdade – o livro do economista francês segue a sua evolução de longo prazo, a concentração da riqueza ao longo dos últimos séculos, afirmando que as perspectivas de crescimento económico residem no centro da economia política. Todavia e até à realização deste trabalho extremamente meticuloso, as respostas satisfatórias a este tipo de dinâmica, simplesmente não existiam devido à ausência de dados adequados e de teorias orientadoras claras. No livro de Piketty, o autor analisa um conjunto de dados de 20 países, da Europa, e também os Estados Unidos, tendo como ponto de partida, em alguns casos, o século XVIII, com o objectivo de dar a conhecer padrões chave, tanto em termos económicos como sociais, que comprovem a sua tese. De acordo com muitos analistas e especialistas, as conclusões retiradas por Piketty transformarão, significativamente, o debate e a agenda para a próxima geração no que respeita à riqueza e à desigualdade. Apesar de demonstrar que o crescimento da economia moderna, em conjunto com a difusão do conhecimento, permitiu ao mundo evitar as desigualdades previstas por Karl Marx como apocalípticas, Piketty considera também que as profundas estruturas do capital e da desigualdade não sofreram as modificações necessárias para irem ao encontro do optimismo que seguiu à Segunda Guerra Mundial. Como escreve a Harvard Business Review, o trabalho de Piketty é, para além de extremamente ambicioso, muito original e rigoroso, reorientando a compreensão vigente sobre a história económica e confrontando todos os actores políticos, económicos e sociais com lições de sensatez e seriedade.
Things a Little Bird Told Me: Confessions of the Creative Mind
Biz Stone
Escrito por Biz Stone, co-criador do Twitter e CEO da start-up Jelly, o livro em causa conta a deliciosa história profissional do seu próprio autor, em conjunto com os seus vários altos e baixos, num tom humorista e inspirador para os empreendedores da actualidade. Enquanto co-fundador do Twitter, Stone discute o poder da criatividade e de como a aperfeiçoar, através de histórias da sua vida e carreira, ambas longe do que pode ser considerado como “normal”. Depois de ter sido considerado pela revista masculina GQ como “o nerd do ano” e, mais tarde, pela revista Time, como uma das pessoas mais influentes do mundo, Biz Stone representa e estimula sentimentos diferentes em pessoas distintas. Todavia, todos lhe reconhecem algumas qualidades inequívocas, tais como a sua imensa criatividade, o seu sentido de humor e a sua tendência para o optimismo – mesmo em alturas complexas. O co-fundador da plataforma social que mudou, literalmente, a forma como funciona o mundo do trabalho, recorda muitas histórias pessoais desde os tempos que passou na Google e, obviamente, no Twitter, partilhando o seu conhecimento sobre a importância da ingenuidade nos dias que correm. Para o autor, a empatia é crucial para o sucesso pessoal e global, como também o são o saber fracassar, o valor da vulnerabilidade, a ambição e a cultura organizacional. Um livro divertido e ideal para ler nas férias.
Supersurvivors: The Surprising Link Between Suffering and Success
David B. Feldman e Lee Daniel Kravetz
Um pouco na linha de algumas sugestões já anteriormente referidas no que respeita a transformar o fracasso em sucesso, os autores desta obra, especialistas em aconselhamento e profundos conhecedores do que se faz na vanguarda da psicologia, vão ainda mais longe e tentam perceber como é possível, depois de uma grande tragédia, as pessoas recomporem-se e, em muitos casos, renascerem com uma força adicional. A este comportamento chama-se resiliência e, para os autores, é a resposta ideal a qualquer tipo de adversidade. Feldman e Karvetz revelam de que forma é que muitas pessoas “respondem” a tristezas inimagináveis, seja uma doença grave, a mortes de entes queridos, a acidentes e a traumas, de uma forma muito mais corajosa do que supostamente seria de esperar. A partir de histórias extraordinárias de pessoas cujo sofrimento lhes abriu a porta para o sucesso, em conjunto com as últimas descobertas cientificamente comprovadas sobre o crescimento pós-traumático, este é um livro singular, que “ilumina” e inspira. Como aperitivo, poderá ler a história de como um homem, cego, conseguiu remar por todo o Atlântico ou de como uma mulher sobrevivente ao genocídio que teve lugar no Ruanda foi nomeada por Barack Obama para exercer funções na Casa Branca.
Collective Genius: The Art and Practice of Leading Innovation
Linda Hill, Greg Brandeau, Emily Truelove e Kent Lineback
À habitual lista de sugestões de leituras para as férias, não podem faltar temáticas sobre inovação e liderança. E, neste caso, o mote é: se pretende que a sua organização seja mais inovadora, então talvez esteja na altura de mudar a forma como a lidera. Os grandes líderes da inovação não têm por hábito “caber” no modelo convencional de “boa” liderança. Não são, geralmente, visionários que “apontem o caminho” para inspirar os outros a segui-los. Pelo contrário, criam antes o contexto no qual os que com eles trabalham estejam dispostos e sejam capazes de inovar. Como é famosa a citação de um determinado líder “o meu trabalho é preparar o palco e não actuar no mesmo”.
Esta é a mensagem-chave oferecida pelos autores de Collective Genius os quais, liderados pela académica especialista de Harvard, Linda Hill, passaram uma década a estudar líderes de firmas inovadoras nos Estados Unidos, Europa, Índia e Ásia, de que são exemplo empresas como a Pixar, a Google, a Volkswagen, a IBM, a Pfizer, entre outras.
Com base no estudo das características comuns aos executivos de topo que lideram estes colossos organizacionais, os autores demonstram os motivos devido aos quais estes líderes não carregam, nem devem carregar, o “fardo” da criatividade. Ao invés, têm como missão construir culturas que estimulem a inovação através dos denominados “génios colectivos”.
The Alliance
Reid Hoffman, Ben Casnocha e Chris Yeh
Num mundo dominado pela mobilidade e que já não “aceita” o denominado emprego para a vida, os líderes e os colaboradores estão a travar uma luta particular no que respeita a questões de compromisso e lealdade. O livro em causa apresenta uma nova estrutura para servir o “inovador pacto do talento”, o qual permite aos empregados desenvolverem as suas competências, ao mesmo tempo que oferecem contributos significativos aos seus empregadores. Os autores oferecem uma verdadeira riqueza de práticas sobre o tópico em causa, desde a experiência da presidência, por parte de um dos autores, Reid Hoffman, do LinkedIn, à escrita de múltiplos best-sellers, centrados no aconselhamento em gestão e investimento em dúzias de start-ups bem-sucedidas. O objectivo desta obra é, em primeiro lugar, alterar a visão de como gestores e líderes encaram a abordagem do talento e de como é possível, e imprescindível, estabelecer novos laços entre empregadores e empregados. |