POR HELENA OLIVEIRA
The Age of Sustainable Development
Jeffrey D. Sachs
Considerado como um dos mais reputados economistas do mundo no que às questões do desenvolvimento sustentável dizem respeito, Jeffrey D. Sachs, o director do Earth Institute da Universidade de Columbia, onde também é professor, oferece uma brilhante e acessível análise exactamente sobre a necessidade global de se atingir um equilíbrio entre o desenvolvimento económico e a sustentabilidade ambiental.
Apelidando-a de “a maior e mais complexa luta jamais enfrentada pela humanidade”, Sachs guia-nos, nesta obra, nos “enrodilhados” e interligados desafios que a compõem, como a pobreza, o excesso de população, a extinção das espécies, a sobreexploração dos oceanos, a urbanização, a mobilidade social e as alterações climáticas, afastando-se das habituais narrativas repletas de jargão e de ideias (mal) feitas que tentam explicar este gigantesco e intrincado tópico.
O especialista sublinha que o desenvolvimento sustentável é, mais do que qualquer outra coisa “um exercício de resolução de problemas”, apelando a uma abordagem holística e a novas ideias que possam produzir “sociedades prósperas, inclusivas, sustentáveis e bem governadas”.
Sachs explica a história do desenvolvimento económico mundial, os factores que “ajudam” a que alguns países sejam mais pobres que outros (tais como muitas regiões insulares de África), a ciência das alterações climáticas, de que forma é que os progressos tecnológicos contribuíram para o esgotamento da pesca em alto mar, o “negócio inacabado” da mobilidade social e a necessidade cada vez mais urgente de se apostar em tecnologias sustentáveis e numa maior produção agrícola (especialmente na África subsaariana e do sul). E, para cada um destes grandes tópicos, o autor oferece detalhes e histórias com humor acompanhadas por gráficos, mapas e fotografias que conferem sólidos argumentos à sua escrita.
Adicionalmente, o autor analisa cada um destes desafios tendo em conta o contexto dos Objectivos do Desenvolvimento Sustentável, formulados em 2012 na Conferência do Rio +20, os quais irão ser formalmente adoptados ainda este ano. Sachs garante ainda que as soluções são exequíveis e economicamente acessíveis, apesar da oposição forte que se continua a fazer sentir graças aos interesses instalados e à inacção dos governos.
Um livro imprescindível para as gerações presentes que pretendem deixar um planeta habitável, mais justo e equitativo para as gerações futuras.
Climate Shock: The Economic Consequences of a Hotter Planet
Gernot Wagner & Martin L. Weitzman
Por muitas que sejam as evidências, os estudos, os apelos e as provas científicas, as discussões em torno dos perigos das alterações climáticas continuam a ser, em mais círculos do que aqueles que seriam desejáveis, emocionais, carregadas de valores culturais e até explicadas biblicamente. Assim e para que passem a fazer parte integrante das políticas nacionais e globais, é urgente que o mundo comece a discuti-las através da linguagem prática – e eficaz – da segurança e da gestão de risco. Se encaradas através de uma lente mais económica, o dinheiro necessário para as mitigar no curto prazo – através de mecanismos como o preço nas emissões de carbono, o investimento em energias limpas ou os fundos de preservação das florestas – poderá transformar-se num tópico mais “compreensível” para uma classe alargada de líderes.
Este é o argumento escolhido pelos dois economistas que assinam este livro, os quais optaram por analisar as alterações climáticas comparando o aquecimento global com outros riscos e perigos enfrentados pela humanidade.
Gernot Wagner, economista sénior do Environmental Defense Fund e Martin L. Weitzman, professor de Economia na Universidade de Harvard, começam por apresentar um cenário em que uma catástrofe global – definida por um eventual aumento nas temperaturas médias de seis graus – tem cerca de 10% de possibilidade de vir a ocorrer. E sublinham que mesmo metade desse valor provocaria na Terra mudanças irrevogáveis, para as quais fizeram cálculos aproximados.
De acordo com os autores, um aumento catastrófico da temperatura representaria entre 10% a 30% de custos na produção económica global, ou cerca de 7 a 22 triliões de dólares (tomando o ano de 2013 como exemplo). Estes custos estariam associados aos investimentos maciços em infra-estruturas industriais necessários para ajudar o planeta a fazer uma complexa transição para uma nova era climática, em conjunto com soluções para se lidar com um aumento significativo do nível das águas dos mares. A quantificação em termos de perdas de vidas humanas, do reino animal e dos ecossistemas consiste num exercício ainda mais difícil de prever.
De acordo com estas probabilidades, e considerando as astronómicas somas de dinheiro em causa – um argumento com mais peso do que os demais – os autores oferecem análises puramente económicas para investimentos “com sentido”que permitem abordar as alterações climáticas a curto e médio prazo.
O problema é que continua a ser difícil convencer as pessoas a assegurarem-se contra uma possibilidade, principalmente quando não a consideram iminente e, em casos mais graves, nem sequer real. Os autores dão um exemplo no mínimo caricato: os líderes globais mais facilmente convencidos serão para construírem um sistema de detecção e deflexão de um asteróide que possa vir a atingir a Terra, do que em investir em políticas ambiciosas que sirvam para reduzir os impactos das alterações climáticas, mesmo sabendo-se que estas são “globais”, de “longo prazo”, “irreversíveis” e “preocupantemente incertas”.
Todavia, o livro em causa não foi escrito para convencer os “não-crentes”, mas sim para munir os líderes empresariais, políticos, economistas e decisores globais que parecem ainda estar comodamente sentados à espera de uma abordagem puramente racional e financeiramente convincente para agirem. Sendo assim, é hora de se levantarem e pôr mãos à obra.
Rise of the Robots: Technology and the Threat of a Jobless Future
Martin Ford
Como se já não bastasse o enorme desemprego que afecta a Europa e também o resto do mundo, e a ascensão das máquinas – ou dos robots – num futuro muito próximo (e já mesmo no presente) promete vir a roubar muitos postos de trabalho (ainda) ocupados por humanos. Se são muitos os que ainda acreditam que a revolução tecnológica da actualidade terá efeitos similares à revolução industrial do século XIX – a qual eliminou muitos postos de trabalho, mas criou outros tantos para poder satisfazer as necessidades trazidas pelas inovações de uma nova era – o reconhecido empreendedor de Silicon Valley, Martin Ford, não está, de todo, optimista.
Para o autor deste livro, à medida que a tecnologia continuar a acelerar e as máquinas começarem a tomar conta delas próprias, as pessoas serão, crescentemente, um “bem descartável”. Sublinhando que a inteligência artificial já iniciou a sua marcha para tornar alguns “ bons empregos” em tarefas obsoletas, de que são exemplo vários serviços administrativos, tarefas jornalísticas e até funções de programação de computadores, Ford argumenta que a substituição destas tarefas “humanas” por robots e software inteligente é uma inevitabilidade. E, à medida que assistimos a tanto progresso, os empregos dos trabalhadores de colarinho branco e azul acabarão por se evaporar, asfixiando, ainda mais, as famílias da classe baixa e média. Em simultâneo, os agregados encontram-se “sob assalto”, com custos explosivos nomeadamente no que respeita a duas grandes indústrias – a da educação e a dos cuidados de saúde – as quais, até agora, ainda não foram completamente transformadas pelas tecnologias de informação. Sem quaisquer paninhos quentes, Martin Ford alerta para um desemprego de proporções astronómicas, em conjunto com o aumento (ainda mais vincado) das desigualdades e da insegurança económica.
Os argumentos de Ford são ainda mais assustadores e preocupantes, na medida em que não estão, de todo, envoltos em qualquer tipo de histeria ou exagero gratuitos, obedecendo apenas uma reflexão clara e prática da realidade que nos cerca. Para o autor, as soluções que têm vindo a ser aplicadas para lidar com a disrupção tecnológica, em especial as que visam mais formação e mais educação, não irão funcionar e é necessário decidir, agora, se pretendemos um futuro mais igualitariamente próspero ou níveis catastróficos de desigualdade e insegurança económica.
Escrito de forma crua e absolutamente desapaixonada – o que contribui ainda mais para aumentar o seu impacto – The Rise of Robots infere que a humanidade não tem um futuro risonho à sua espera, a não ser que muito se venha a alterar. Como alternativa e para evitar um colapso social fatal, Ford identifica um sistema que começa a ser tema em debate em vários países – ao qual o VER irá dedicar um artigo em Setembro – e que tem a ver com o “rendimento básico incondicional” – que será alvo de uma experiência-piloto em Utrecht, na Holanda, já no próximo ano e que em Portugal tem também já várias vozes aderentes. Para o autor, as forças do mercado livre e as exigências dos consumidores (bem patentes já no número de armazéns crescentemente automatizados da Amazon, por exemplo) tornarão impossível, e dentro de menos tempo do que o que julgaríamos possível, continuar a empregar números alargados de seres humanos.
Que futuro para as gerações que se seguem?
PostCapitalism: a Guide for our Future
Paul Mason
Na senda de vários movimentos, activistas, ensaios e literatura de ordem variada que clamam pela necessidade de um “pós-capitalismo”, o jornalista e editor de Economia do Channel 4, Paul Mason, acabou de lançar mais uma acha para esta fogueira animada por contributos crescentes.
Tal como aconteceu com o feudalismo há cerca de 500 anos, a substituição do sistema capitalista por um pós-capitalista será acelerado por choques externos e moldado pela emergência de “uma nova espécie de seres humanos” e de uma economia que se pautará por novos valores e comportamentos. Este é a crença fundamental do autor, a qual tem origem em três grandes alterações veiculadas pelas tecnologias de informação de há 25 anos a esta parte.
A primeira, e já enunciada no livro acima sugerido, tem a ver com a redução da “necessidade” do trabalho, tornando cada vez menos claras as fronteiras entre este e o tempo livre, em conjunto com um enfraquecimento visível dos laços que o mantiveram ligado, até agora, aos salários. A próxima vaga de automação, assegura o autor, actualmente “adiada” devido ao facto de a nossa infraestrutura social ainda não ser capaz de arcar com as suas consequências, irá reduzir, de forma gigantesca, a quantidade de trabalho necessária – não só em termos de subsistência, mas também no que a uma vida decente e digna para todos diz respeito.
A segunda está relacionada com o facto de a informação estar a corroer a capacidade dos mercados para estabelecerem preços de forma adequada. Ou seja, porque os mercados têm como base a escassez, sendo que vivemos, em simultâneo, numa era em que a informação é cada vez mais abundante. Os mecanismos de defesa dos mercados, afirma o autor, têm tendência para formar monopólios – de que são exemplo os gigantes da tecnologia – numa escala nunca vista nos últimos 200 anos. Todavia, estes não se manterão para sempre. Ao se construírem modelos de negócio e ao se partilharem valorizações com base na captura e privatização de toda a informação socialmente produzida, estes colossos da tecnologia estão também a edificar um edifício corporativo frágil às custas de uma das mais básicas necessidades humanas: a de se utilizar as ideias livremente.
Por último, Mason alerta para o facto de estarmos a assistir ao erguer espontâneo da produção colaborativa: bens, serviços e organizações que estão a surgir e que já não respondem ao que ditam os mercados ou as hierarquias da gestão. Para o autor, o maior produto de informação do mundo – a Wikipedia – é feito por voluntários, de graça, e está a abolir crescentemente o mercado das enciclopédias e a despojar a indústria da publicidade de um valor anual estimado em 3 mil milhões de dólares. Oferecendo outros exemplos, como as novas moedas – de que é exemplo a virtual Bitcoin – aos bancos de tempo, ao vasto número de pessoas que estão a alterar os seus comportamentos, a descobrir novas formas de propriedade e de crédito, em conjunto com maneiras completamente distintas de fazer negócios, o autor afirma que estamos numa era “contrária” ao capitalismo corporativo tal como o conhecemos.
Ao contrário do pessimismo de Martin Form acima referido, Mason está, contudo, muito optimista. E a sua crença – bem expressa neste livro – é a de que das cinzas da recente crise financeira se erguerá uma economia global mais justa e sustentável. Visionar um caminho para além do capitalismo, defende, já não é um sonho utópico. Pelo contrário, esta é a primeira vez, na história humana em que, equipados com uma compreensão vasta do que em torno de nós se passa, é possível prever e moldar, em vez de simplesmente reagir, a mudanças sísmicas. Será?
Everybody Matters: The Extraordinary Power of Caring for Your People Like Family
Bob Chapman & Raj Sisodia
“Toda a gente quer fazer melhor. Mostre-lhes a sua confiança. Os líderes estão em toda a parte. Encontre-os. As pessoas atingem metas variadas, de pequena ou grande dimensão, todos os dias. Celebre-as. Algumas pessoas gostariam que as coisas fossem diferentes. Escute-as. Toda a gente importa. Mostre-lhes que assim é”.
Com lançamento previsto apenas para o início de Outubro, o presente livro promete ser um recordista de vendas. Por um lado, porque o tema, por mais “ingénuo” que pareça, está a ganhar adeptos em muitas das empresas que prometeram fazer bem o bem, e ainda melhor. Por outro, porque é escrito por uma dupla de sucesso: Bob Chapman que, em 1997 e em conjunto com Barry-Wehmiller, foi pioneiro em abordar uma estratégia de liderança radicalmente diferente das demais, a qual contribuiu para que a sua empresa se tenha reerguido de tempos difíceis com níveis elevados de moral, lealdade, criatividade e performance de negócio; e Raj Sisodia, co-autor do best-seller Conscious Capitalism: Liberating the Heroic Spirit of Business, sobre o qual o VER já escreveu.
A Barry-Wehmiller, a bem-sucedida e rentável (valorizada em 1,7 mil milhões de dólares) empresa de equipamentos e soluções de engenharia da qual Chapman é CEO sempre rejeitou a ideia de que os seus empregados são simples “ocupadores de funções”, que podem ser manipulados, “geridos” com paus e cenouras e descartados se os superiores hierárquicos assim o entenderem. Na verdade e ao contrário, a Barry-Wehmiller demonstra, todos os dias, que cada pessoa interessa ou, melhor, que todas as pessoas interessam, tal como acontece numa família. E assegura que este sentimento não é apenas mais uma frase feita para embelezar uma qualquer declaração de missão, mas antes a pedra basilar do seu sucesso.
O argumento é simples: se durante tempos difíceis as famílias se unem ainda mais, fazem sacrifícios em conjunto e partilham a dor, seja ela qual for, o mesmo poderá fazer uma empresa. “Se um familiar perde um emprego, a família não despede os seus filhos” é uma das analogias eleitas pelos autores. E foi exactamente essa a abordagem que a Barry-Wehmiller adoptou quando estalou a recente Grande Recessão e as receitas da empresa caíram a pique ao longo de pelo menos dois anos. Em vez de despedimentos massivos, os dois co-fundadores encontraram formas criativas para cortar custos, de que é exemplo o pedido que fizeram a vários dos seus trabalhadores para tirarem um mês de férias não remunerado. Entre outras estratégias praticadas, o resultado cifrou-se num reerguer da empresa, pós período recessivo, com a moral das “tropas” mais elevada do que nunca.
Se a primeira reacção a este tipo de liderança ou de gestão é de cepticismo, a verdade é que os autores argumentam que fazer parte de um local de trabalho excepcional no qual o objectivo é que toda a gente se sinta parte integrante de um processo de confiança e carinho “geral”, é meio caminho andado para o seu sucesso, para além de que o processo de contágio em prol do bem de todos acaba por ser norma.
Assim, Chapman e o co-autor Sisodia demonstram de que forma é possível, a qualquer organização, abraçar esta abordagem, rejeitando as traumáticas consequências dos despedimentos, das regras desumanizadoras e das culturas hipercompetitivas. Assim que se deixar de tratar os trabalhadores como meras funções, o envolvimento destes crescerá substancialmente, abrindo caminho para que estes partilhem o que têm de melhor e colocando os seus talentos ao serviço de um futuro partilhado, asseguram. Os empregados desinspirados deixarão de sentir que o seu trabalho não tem significado e os que têm por hábito levar as suas frustrações profissionais para dentro das suas casas, deixarão de o fazer. Adicionalmente, garantem também os autores, deixarão de existir funcionários a contar os minutos que faltam para a jornada laboral terminar.
O livro conta a história, real, de Chapman para encontrar o seu “chamamento”, e mergulha nos bastidores da empresa que criou, narrando diversos episódios protagonizados pelas suas equipas de trabalhadores que com carinho, empatia e inspiração conseguiram atravessar uma altura de tempestade e reencontrar a bonança. Porque até as histórias empresariais em tempos de recessão podem ter um final feliz.
Editora Executiva