O Programa AconteSer – Liderar com Responsabilidade encerra a sua segunda fase de execução com sucesso, cumprindo o principal objectivo a que se propôs: reforçar a competitividade das empresas. A partir de Junho, a Tomada de Posição Pagamentos Pontuais estará em foco, mobilizando o meio empresarial para aquele que é um mínimo ético particularmente crucial num contexto económico que fez disparar o estrangulamento das tesourarias
POR GABRIELA COSTA

“É nas alturas de crise que o líder tem de assumir plenamente a sua missão no desenvolvimento da empresa, dos colaboradores, das famílias e da comunidade onde está inserido”

O Programa AconteSer – Liderar com Responsabilidade tem uma ambição exigente: ajudar a combater a falta de competitividade das micro, pequenas e médias empresas nacionais, dotando-as de instrumentos de gestão responsável, através da partilha de boas práticas que potenciem a acção empresarial.

Lançada em Outubro de 2011, a iniciativa liderada pela Associação Cristã de Empresários e Gestores (ACEGE), em parceria com a CIP – Confederação Empresarial de Portugal, o IAPMEI – Agência para a Competitividade e Inovação, a APIFARMA – Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica e a Caixa Geral de Depósitos, o programa financiado pelo QREN-COMPETE – Fundo Europeu para o Desenvolvimento Regional, promoveu já perto de noventa acções, incluindo seminários de boas práticas nas PME, inscritas no Kit AconteSER – um instrumento “físico” de gestão em sete áreas temáticas: Líder, Empresa, Colaboradores, Comunidade, Fornecedores, Clientes e Ecoeficiência. No total, estas acções envolveram a participação de mais de 1500 líderes empresariais.

E se, no momento do arranque da iniciativa, foi dado o primeiro passo de uma longa caminhada – “provocar um tsunami de Responsabilidade Social nas empresas, rasgando a situação psico-negativa da actualidade” que envolve o País, nas palavras de António Pinto Leite, presidente da ACEGE -, hoje o projecto envolve mais de mil empresas e organizações, graças às sinergias estabelecidas entre a malha regional de que gozam as quatro associações que lideram o projecto, envolvendo os seus parceiros locais numa acção que tem já um âmbito nacional.

Renovar o compromisso com a liderança responsável num momento em que as empresas portuguesas (e o País) continuam a sofrer verdadeiros terramotos nas suas estruturas é, para os promotores do Programa, imperioso. Afinal, é apelando à responsabilidade individual daqueles que lideram as empresas na nossa economia, que estas se transformam.

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Pagar a horas é essencial para a recuperação económica
Na sessão de encerramento da segunda fase deste Programa, realizada a 28 de Fevereiro, no Pólo da Foz (Porto) da Universidade Católica Portuguesa, foi reforçada a importância do pagamento pontual a fornecedores como factor central para a recuperação económica e para o desenvolvimento sustentável do País.

O evento reuniu a presença do secretário geral da Associação Cristã, Jorge Líbano Monteiro, que apresentou as grandes conclusões da iniciativa até à data, e de dois dos promotores do projecto, Nuno Fernandes Thomaz, da ACEGE, e José António Barros, da CIP, que perante os resultados divulgados, avaliaram os benefícios que as empresas obtém, ao adoptarem uma liderança responsável.

A sessão contou também com a participação de Paulo Nunes de Almeida (Fundação AEP), Aníbal Campos (AIMMAP) e João Costa (ATP), num painel dedicado à importância das associações sectoriais na promoção de lideranças responsáveis. No final do evento foram atribuídos diplomas às empresas que integram o Programa AconteSer, bem como aos subscritores do Compromisso Pagamento Pontual.

O Programa envolve hoje mais de mil empresas e organizações, envolvendo os parceiros locais das quatro associações que lideram o projecto, numa acção que tem já um âmbito nacional

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Concluída a segunda fase do Programa que promoveu a viabilização de uma tesouraria sustentável nas PME, num ano em que foi transposta para Portugal a Directiva Comunitária que estabelece limites aos prazos de pagamento de facturas a fornecedores, e aprovado o Regime de Contabilidade de IVA de Caixa, encontra-se a decorrer, até Junho deste ano, a terceira fase. A qual mantém a tónica na problemática dos “pagamentos pontuais”, reconhecida por todos ao longo do projecto como um factor central para o desenvolvimento da economia portuguesa e para a recuperação do País. Nesta fase, o foco é a Tomada de Posição da ACEGE e demais parceiros do AconteSer sobre esta matéria, materializada a 30 de Outubro do ano passado, na Conferência “Pagar a Horas, Fazer Crescer Portugal”.

O princípio do pagamento pontual parece relativamente simples e óbvio para qualquer empresa, mas perante a cultura de grande permissividade inerente a este tema em Portugal, esta não é uma prática muito comum, principalmente em tempos de crise. A proposta desta nova fase do programa prende-se, assim, com o “compromisso público das empresas no sentido do pagamento pontual aos fornecedores,contrariando desta forma uma ‘chaga’ no mundo empresarial português”.

Considerando que o pagamento na data acordada “constitui um princípio elementar de responsabilidade social e um mínimo ético”, os líderes do projecto defendem que nem o mau exemplo do Estado, nem a crise económica devem servir de pretexto para as empresas não pagarem de forma pontual.

Na prática, ao aderirem a este programa, as empresas comprometem-se a acordar prazos de pagamento com o fornecedor; a garantir que os pagamentos são efectuados até à data de vencimento das facturas ou que renegociam nova data, em caso de necessidade; a dar conhecimento por escrito da adesão a este compromisso; e a solicitar a suspensão ou cancelamento deste compromisso sempre que não o possam cumprir.

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Um compromisso com a competitividade nacional
Com vista a cumprir o seu grande objectivo – reforçar a competitividade empresarial portuguesa – o Programa AconteSer apoia as empresas há já mais de dois anos, mobilizando-as para três compromissos de gestão fundamentais, estruturados nos três eixos de actuação do projecto: Compromisso Pagamento Pontual, Compromisso Conciliação Família e Trabalho e Compromisso Desenvolvimento Pessoal.

E se o primeiro eixo tem merecido destaque em toda a dinâmica desenvolvida pelos promotores da iniciativa desde 2011, devido à emergência de encontrar soluções para as dificuldades de liquidez e de acesso a crédito que as PME enfrentam em resultado da crise instalada no País, a atenção ao complexo equilíbrio entre vida profissional e familiar e ao projecto de vida dos colaboradores tem, também, sido alvo de iniciativas no âmbito do Programa.

Nomeadamente através da realização de estudos, da divulgação dos novos desafios enfrentados pelas famílias na actual conjuntura, e da certificação das organizações como empresas familiarmente responsáveis, mediante o cumprimento de determinados requisitos, no primeiro caso; e do lançamento da plataforma Aprender e Agir, que fornece serviços e instrumentos de desenvolvimento pessoal e profissional às empresas e respectivos colaboradores através de um regime de blended learning (aprendizagem presencial e à distância), no segundo.

Para as suas quarta e quinta fase, o AconteSer prevê desenvolver a operacionalização do novo critério para a atribuição do Prémio PME Excelência, e alargar o seu âmbito de actuação do universo das PME às grandes empresas, mantendo sempre em acção o eixo que promove a competitividade nacional através de uma cultura de pagamentos atempados.

Até lá, o Programa caminha a bom caminhar, disseminando boas práticas que “potenciam a acção empresarial”, criando “um ciclo virtuoso para a economia”.

O atraso dos pagamentos na economia
Para além dos efeitos económicos nefastos que as facturas emitidas e não pagas representam em Portugal, o problema do atraso no pagamento a fornecedores origina um elevado número de falências, entre as empresas (muitas PME) que, com pouca capacidade financeira, vêm estes atrasos causar estrangulamentos de tesouraria muitas vezes fatais.

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Consequentemente, esta má prática acentua os números do desemprego a nível nacional, provocando ainda concorrência desleal por parte das empresas incumpridoras. Os números que avaliam esta chaga são reveladores:

Em Portugal, no ano de 2012, as facturas emitidas e que não foram pagas atingiam os 5,9 mil milhões de euros, o que representa cerca de 4% do PIB ou 8% do empréstimo da troika ao nosso país.

Segundo a União Europeia, o atraso nos pagamentos representa 25% do total das falências na Europa;

• O agravamento de 12 dias no prazo médio de pagamento aos fornecedores, entre 2006 e 2011, originou, segundo o estudo da ACEGE com a Augusto Mateus & Associados uma diminuição anual de cerca de 14.000 postos de trabalho e uma quebra do PIB de 0,4%.

• Na concorrência desleal que provoca; as empresas que pagam em atraso penalizam as empresas que honram os seus compromissos e fazem uma concorrência desleal.

Fonte: Estudo Augusto Mateus-ACEGE 2013