Funcionar como motor de arranque para um movimento de mobilização socioprofissional que, a médio prazo, agilize uma plataforma de interacção entre profissionais, empresas e projectos que necessitam de apoio de gestão ou financiamento é o que propõe a Beside, recente rede da sociedade civil que visa acabar com o desperdício de talentos em Portugal. O VER assistiu a uma sessão de coaching sobre Gestão da Mudança, e entrevistou a fundadora da Beside, Suzana Ferreira, a propósito do “bright side” da nova realidade económica e, consequentemente, socioprofissional
POR GABRIELA COSTA

“ A forma mais eficaz de gerir a mudança é criá-la” – Peter Drucker

© Beside

O que realmente constitui um diferencial, no mercado e na vida, é o nível de autonomia das pessoas – não a capacidade de se adaptarem a mudanças, mas a de iniciarem a mudança. Foi com esta convicção que Alexandra Barosa Pereira, Executive Coach (PCC) & Owner at ABP Corporate Coaching, ‘convenceu’ uma plateia de várias dezenas de pessoas que, seja em que área for, vale sempre a pena mudar se, como o conceito implica, a alteração do modelo ou da situação que vivemos for acompanhada da concretização do desejo de transformação.

É que toda a mudança requer adaptação – factor a que a natureza humana responde normalmente com insegurança ou rejeição – e, se existem vários tipos de mudança (da planeada, com vista a obter melhorias, à estratégica, que promove a alteração de posicionamento e por vezes implicações profundas, passando pela emergente, que surge como resposta a problemas concretos não antecipáveis, e pela improvisada, que resulta de decisões tomadas em tempo real e não de decisões proactivas ou reflectidas), como explica a especialista, mudar é um processo que envolve, necessariamente, sensibilização para abraçar o novo ou desconhecido, e capacidade para a adopção de práticas conducentes a esse processo.

“Capacidade empresarial, colaboração e aprendizagem são três forças de desenvolvimento” que facilitam a renovação de um projecto, diz Suzana Ferreira mas, face a estes contextos, há que conciliar “as facetas racionais com as emocionais, a vertente técnica com a vertente social, os interesses da organização com os interesses das pessoas”, concluiu Alexandra Barosa Pereira, na intervenção que realizou a 27 de Novembro, numa acção de coaching dedicada à Gestão da Mudança promovida pela Beside, em Lisboa.

No mundo actual, a mudança caracteriza-se por concorrência a uma escala global; tecnologia e telecomunicações que obrigam à obtenção constante de novas informações num curto espaço de tempo; capacidade para chegar a qualquer tipo de informação de uma forma rápida, encurtando-se o tempo para o processamento sustentável da mesma informação; e por uma comunidade de pessoas muito informadas, e, por isso, com elevadas expectativas, conclui.

Na sua opinião, as pessoas que têm maior capacidade de adaptação “serão aquelas que mais rapidamente conseguirão traduzir a informação recolhida em conhecimento útil para o seu projecto de vida”, e serão também aquelas que, “com paixão, promovem um real envolvimento com o mesmo, demonstrando empreendedorismo, colaboração em rede e disponibilidade para uma aprendizagem constante”. As mudanças mais duradoiras serão, pois, “aquelas que são baseadas nos valores das pessoas, nas suas crenças, esperanças e sonhos”.

E se os grandes obstáculos à mudança são “a saída da zona de conforto e a disponibilidade para uma (re)aprendizagem de outras formas de funcionar, ou seja, para a adaptação a contextos que poderão ser desconhecidos e até mesmo adversos, procurando-se novos hábitos que melhor servirão as necessidades do momento”, as pessoas melhor preparadas para fazer face a estes obstáculos são “aquelas que desenvolvem competências como ser pró-activo, saber trabalhar em grupo, ser visionário, promover a (auto)motivação, saber administrar conflitos, saber assumir riscos, saber escutar, saber comunicar, saber estabelecer e manter uma rede de contactos em diferentes contextos e ser resiliente”, enumera.

Pessoas assim “serão aquelas que vão criar a mudança e não ficar à espera que seja o contexto a criar a mudança por elas”. Porque, como diz Peter Drucker, criar a mudança é a melhor forma de a gerir nas nossas vidas.

“Existe um desperdício gradual de talentos em Portugal”
Em entrevista ao VER, Suzana Ferreira, Fundadora da Beside, explica como, a partir da constatação de que existe um desperdício gradual de competências e talentos em Portugal, reforçado pela situação económica que o país atravessa, nasce um espaço que cria dinâmicas inovadoras de ligação entre pessoas, projectos, potenciais financiadores e empresas, conjugando as novas tecnologias e as redes sociais com os modelos mais tradicionais de encontros presenciais, com uma finalidade: criar novas oportunidades no mercado de trabalho e na economia em geral que permitam manter os quadros qualificados existentes no nosso País.

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Suzana Ferreira, fundadora da Beside
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Como nasceu esta rede da sociedade civil dirigida a profissionais qualificados, que promove a partilha de ideias, conhecimento e de oportunidades de desenvolvimento pessoal e empresarial?
A iniciativa Beside nasce da conjugação de um conjunto de vontades dos seus fundadores, para apoiar os inúmeros talentos disponíveis no mercado neste momento, fruto da situação económica por que estamos a passar. Estes talentos poderiam perder-se no mercado de trabalho, fosse pela sua passagem forçada a posições de menor relevância onde os profissionais não poderiam utilizar as suas competências adquiridas, fosse pela opção cada vez mais realista da emigração como alternativa a quem não encontra colocação no mercado de trabalho.

Esta é uma situação que nos levou a agir, dado o crescimento muito grande do número de pessoas cujas competências e talentos, por força desta fase de transição, na sua grande maioria forçada pelas circunstâncias, pudessem estar a ser desperdiçadas.

Adicionalmente, a massificação das tecnologias de informação e as redes sociais vieram criar uma nova dinâmica de interligação e comunicação entre as pessoas, pelo que o surgimento desta iniciativa vem na sequência da constatação da realidade com que estes profissionais se deparam, conjugada com este novo paradigma tecnológico e de relacionamento. Assim, tirámos partido destas duas condicionantes para criarum novo espaço presencial direccionado para estes profissionais – criando dinâmicas novas de ligação entre pessoas, projectos, potenciais financiadores e empresas, conjugando as novas tecnologias e os modelos mais tradicionais de encontros presenciais, e criando novas oportunidades no mercado de trabalho e na economia em geral que permitam manter os quadros qualificados existentes no nosso País.

Quais são os objectivos fundamentais desta iniciativa?
A iniciativa Beside parte de uma constatação importante – Portugal tem um conjunto de profissionais qualificados e experientes como nunca teve na sua história recente. Adicionalmente, existe uma necessidade por parte das empresas de encontrar quadros para as suas organizações, bem como um conjunto de fontes de financiamento disponíveis e não utilizadas que podem ser capitalizadas para criação de novos projectos.

O principal objectivo da Beside é exceder-se a si própria, isto é, funcionar como motor de arranque para um movimento de mobilização socioprofissional que dê resposta a uma realidade cada vez mais generalizada. Idealmente, a médio prazo a Beside terá agilizado uma plataforma de interacção entre profissionais e empresas que contribua para identificar novas oportunidades profissionais, mas também muitos e interessantes novos projectos que necessitam de apoio de gestão ou financiamento, que possam desta forma ser proporcionados.

A grande finalidade da Beside é criar sinergias para motivar a geração de novos projectos a partir do talento e competência dos seus membros. Como é que, tendo por base os targets Empregabilidade, Rede de Contactos e Requalificação, a plataforma apoia os profissionais qualificados no desenvolvimento de modelos de inovação social?
O princípio subjacente à iniciativa é permitir que cada pessoa encontre o seu espaço e possa contribuir para a criação de novas oportunidades profissionais para as pessoas que integram a rede, e para outras que a venham a integrar. A Inovação Social é mais uma das áreas em que pensamos que uma iniciativa como a Beside pode funcionar como um espaço de acolhimento para essas ideias poderem ser apresentadas, discutidas e iniciadas, assim como tantas outras, desde que integradas nos princípios explanados no manifesto IMPULSO.

Porque é que lançaram o Manifesto IMPULSO e o que pretendem alcançar com este documento que serve para ‘espalhar a palavra’ em relação à possibilidade que todas as pessoas têm de encontrar um caminho alternativo para a sua vida?
Fruto do modelo escolhido para desenvolvimento da iniciativa, o Beside não pretendia criar um conjunto de regras estritas para os seus membros, nem uma base dogmática e rígida de funcionamento. É intuito desta iniciativa, no âmbito do seu modelo em rede, criar um conjunto de princípios comuns em que todos os participantes ou potenciais aderentes ao projecto se revejam e que permita que esta rede funcione numa lógida de peer review, em que todos sejamos capazes de garantir a sua continuidade e possamos ter um ponto de identificação comum. Esse marco fundador é o Manifesto IMPULSO.

Quais são os mecanismos de acção do projecto utilizados para impulsionar a carreira profissional de quem se encontra em fase de transição ou de quem procura novos desafios de trabalho, tendo ou não trabalho fixo?
Os mecanismos de acção da iniciativa Beside assentam em dois eixos fundamentais: a criação de um espaço real e virtual com características únicas, e a divulgação de projectos, financiamentos e acções específicas para suporte e partilha de experiências para quem se encontra numa fase de transição de carreira ou procura alargar os seus conhecimentos.

Portugal tem um conjunto de profissionais qualificados e experientes como nunca teve na sua história recente – Suzana Ferreira, fundadora da Beside .
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Na conjuntura actual, o mercado de emprego apresenta grandes desafios para os profissionais qualificados que são o target da iniciativa Beside, nomeadamente empregabilidade, criação e actualização de uma rede de contactos, e requalificação. Todos estes problemas apresentam desafios específicos, nomeadamente:

– Empregabilidade – numa época de forte retracção do mercado de trabalho, fruto da recessão, as empresas tendem a não contratar ou a adiar contratações, o que impossibilita o mercado de absorver os profissionais que perdem o seu emprego;

– Rede de contactos – Um dos maiores problemas existentes para quem perde o emprego ou está à procura de uma oportunidade diferente da actualmente experienciada prende-se com a dificuldade em identificar quem podem ser os seus potenciais interlocutores e/ou como chegar à fala com potenciais parceiros;

– Requalificação – num momento de transição entre empregos, torna-se especialmente difícil para os profissionais encontrar oportunidades de formação compagináveis com o seu estatuto e com a sua situação.

A Beside é dirigida a profissionais de alta qualificação no mundo empresarial, para ajudar a encontrar o “bright side” da nova realidade económica e, consequentemente, socioprofissional. Como parte desta realidade, a Beside procura também contribuir para estabelecer uma ponte entre novas oportunidades de desenvolvimento de negócio e potenciais participantes ou financiadores, divulgando quer projectos quer formas de financiamento.

Dentro desses mecanismos, de que importância se reveste a área da formação, no âmbito da qual realizam sessões de coaching e pitching & networking?
Não existe uma hierarquia de prioridades nas acções desenvolvidas dentro da Beside, assumindo todas a mesma relevância. Acreditamos que cada uma das sessões tem uma finalidade específica e criámo-las tendo em conta esse pressuposto. Naturalmente que à medida que formos recebendo mais informação dos diversos participantes das sessões Beside iremos afinar a oferta de acordo com esses dados.

Que balanço faz da curta vida da Beside considerando que, desde o seu arranque, em Maio, angariou já 50 membros, construiu uma estrutura com grupos de trabalho em áreas tão diversas como competências, parcerias ou comunicação em sites e redes sociais, e realizou vários eventos de apresentação de projectos e ideias dos membros da Rede?

A Beside assume-se como uma iniciativa de fundo. Como todas, quando estamos no seu início, não conseguimos vislumbrar o caminho que iremos trilhar, apenas os passos que demos em conjunto. E esses enchem-nos de orgulho. Orgulho porque um conjunto de pessoas das mais diversas proveniências se decidiram juntar para concretizar esta ideia. Orgulho porque conseguimos mobilizar um conjunto apreciável de entidades e pessoas para o apoiar. Orgulho porque cada nova sessão e cada novo participante nos traz ensinamentos e sugestões para tornar a iniciativa mais efectiva.

E orgulho porque esta equipa tem uma dedicação e um empenho enormes para, de forma desinteressada, contribuir para fazer uma diferença para as pessoas que connosco partilham experiências, saberes e vivências.

Quais são as apostas futuras da Beside, no curto e médio prazo?
Acredito, assim como todos os Besider’s, que esta iniciativa, uma vez lançada, dará início a um círculo virtuoso de melhoramentos – vamos melhorar o que fazemos actualmente, com os pontos que identificarmos como áreas a desenvolver. Mas iremos também estudar modos de alargamento desta rede, de forma a permitir que mais pessoas tomem contacto com a realidade e os conhecimentos / informação partilhados com os participantes nas sessões BESIDE.

Boardwalk session #1
A Beside realiza a 11 de Dezembro, no BES ARTE & FINANÇA, em Lisboa, mais uma acção, desta vez dedicada ao valor da experiência em Portugal.Conheça aqui a Agenda do evento:16.30 Registo
16.45 Networking & Coffee Delta Q
17.00 Apresentação da BESIDE por Jorge Rodrigues e da Agenda 2013 por Suzana Ferreira
17.15 Apresentações e inspiração:
NATA – uma marca portuguesa inspiradora
TAILORS – profissionais publicitários recomeçam com business ideas
PPL – como captar financiamento para projectos através de uma plataforma digital, ou o modelo de crowdfunding

18.00 Networking & wine Adega Mayor
18.30 Boardwalk session: Quanto vale a experiência em Portugal
Kick off- Suzana Ferreira
Experiência desperdiçada ou capacidade adiada?
Moderador- Paula Viegas
Mesa redonda:
Eduarda Luna Pais – Elping
Fernanda Carvalho – Accenture
Fernando Neves de Almeida – Boyden
Marta Maia – Jeronimo Martins

Jornalista