A superação da grave crise que o país atravessa “passa principalmente pelo desempenho colectivo e individual dos portugueses, e exige, por um lado, enorme rigor e, por outro, rasgo, criatividade, talento e espírito empreendedor, fundamentais para o encontro das saídas mais céleres e eficazes”. Quem o diz é Faria de Oliveira, orador convidado no Encontro do núcleo de Leiria da ACEGE realizado no âmbito do lançamento do Kit de Boas Práticas de gestão AconteSer
Considerando que o actual momento é de “grande apreensão, inúmeras interrogações sobre o futuro e muito baixas expectativas”, Faria de Oliveira avaliou os “custos pesados” para o país de uma austeridade e uma diminuição do nível de vida que “terão de prevalecer nos próximos anos”. Terão, diz, se o ajustamento drástico que está a ser feito obedecer a uma finalidade: tornar a economia competitiva e o desenvolvimento sustentado. Na opinião do presidente da CGD, a superação da crise que estamos a viver “passa principalmente pelo desempenho colectivo e individual dos portugueses, e exige, por um lado, enorme rigor e, por outro, rasgo, criatividade, talento e espírito empreendedor, fundamentais para o encontro das saídas mais céleres e eficazes”. E, embora as soluções não sejam “só nacionais”, mas também europeias, em Portugal a crise deve-se, fundamentalmente, a três desajustamentos internos, defende: endividamento excessivo do Estado, das empresas, dos bancos e das famílias; um modelo económico “errado” e pouco competitivo que conduziu “a um crescimento anémico da economia nos últimos dez anos” (crescimento médio de 0,7%/ano); e o adiamento de reformas estruturais “urgentes, que tenderiam a promover a nossa competitividade face à evolução do contexto internacional”. Metas num caminho estreito É, pois, necessário “saber seguir o caminho muito difícil e estreito” capaz de repor “a credibilidade e a confiança dos mercados”, para que a Troika e a União Europeia reforcem, “se necessário”, o seu apoio ao país. Significa isto que “temos de cumprir rigorosamente as metas, temporais e quantitativas, definidas e mostrar capacidade para vir a justificar mais apoios (aumento do montante da ajuda, acréscimo de fundos estruturais e prazos mais dilatados), através de ganhos de confiança nos diferentes agentes”, avisa. Temos, ao mesmo tempo, de “esperar uma resposta mais apropriada da União Europeia face à crise da dívida soberana e do Euro”, censura. Em síntese, para o presidente da CGD, não obstante vivermos actualmente condicionados pelo processo de consolidação orçamental e pela desalavancagem do sistema financeiro, temos de criar condições para preparar o crescimento económico. Neste contexto, Faria de Oliveira identifica um conjunto de oportunidades que o Programa da Troika representa, as quais “não podemos desbaratar”: realizar reformas sempre adiadas, dinamizar o modelo de crescimento da economia e atrair investimento, empreender, inovar e melhorar a produtividade, e redimensionar o sector público (uma “tarefa gigantesca”), entre outras. Um país ameaçado com uma moeda forte
A nível externo, as maiores dificuldades derivam, para este responsável, da resposta que a União Europeia vem dando à crise da dívida soberana; ao crescimento das outras economias; e à estabilidade dos mercados. Reforçando a ideia de que desde que Portugal está integrado na União Europeia “a solução final é sempre europeia”, o presidente da CGD lembrou que a crise da dívida soberana, afectando vários Estados Membros da Europa, “gerou uma crise do Euro e uma descrença crescente no projecto político europeu”. Minimizando o risco de desintegração europeia ou a perpetuação de uma Europa a várias velocidades (com “um Euro Norte e um Euro Sul”), Faria de Oliveira sublinha que a zona Euro não é determinada só pela crise: a UE “tem uma posição líquida favorável no contexto internacional” e, contrariamente aos outros espaços económicos relevantes (EUA, Japão, Reino Unido), a zona euro “tem 7% mais de activos do que de passivos no que respeita à posição de investimento internacional”, ainda que concentrados na Alemanha, Holanda e Dinamarca. Ou seja, apesar de tudo o euro mantém-se uma moeda forte, garante. Face a esta realidade, “os alicerces de mudança estão aí, no novo modelo de governo económico em construção, que obriga a uma maior coordenação dos orçamentos nacionais”, comenta, deixando uma nota pela positiva: “o crescimento económico é a única solução para a Europa e o seu grande desafio”. Para o presidente da CGD, a agenda da competitividade, uma política fiscal sólida e uma eficaz coordenação da política económica são os grandes desafios que o velho continente enfrenta. Como é sabido, a curto prazo “o maior problema que a Europa enfrenta é o da Grécia”, mas a saída deste país da União Europeia poderá acarretar “o colapso da Zona Euro” ao qual esta “dificilmente sobreviverá, desde logo pelos efeitos no próprio mercado interno”. Recordando que a União Económica e Monetária não foi concebida para se fragmentar, Faria de Oliveira insiste que “é do interesse europeu segurar o Euro”. Até porque os mercados têm vindo a mostrar que “o efeito de contágio seria inevitável, não só em Portugal e na Irlanda mas também em Itália e na Espanha”, países que, no seu conjunto, representam quase 30% da economia europeia. “E a França está já na calha, com um défice orçamental muito elevado (5,8%) e uma dívida pública muito alta”, acrescenta. Cumulativamente, os efeitos na banca europeia, “designadamente na França e na Alemanha, onde a exposição à dívida soberana é grande”, não podem deixar de ser considerados. Certo de que “a decisão é predominantemente política”, o presidente da CGD reitera a sua esperança em que “não obstante as dificuldades de decisão dos líderes da Europa, se chegará no próximo Conselho Europeu a soluções que garantam a sustentabilidade da UEM e reforcem a União Europeia”.
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Jornalista