Para uns, é a campanha mais aborrecida (leia-se “menos chocante”) da Benetton. Para outros, a famosa marca italiana, através da sua Fundação UNHATE, está a contribuir, pela primeira vez, para apoiar financeiramente as causas sociais que elege. Desta feita, com um concurso dedicado aos jovens desempregados de todo o mundo, convidados a submeter esboços de projectos que valham a pena ser financiados, desde que promovam um qualquer tipo de impacto social efectivo. Meio milhão de euros servirá para implementar os 100 melhores
Estes são apenas quatro dos cerca de 100 milhões de jovens que, em todo o mundo, não têm emprego. E são também algumas das caras escolhidas da nova campanha da Bennetton que, este ano, trocou as imagens tradicionalmente controversas por rostos reais da crise que afecta o emprego jovem. A campanha “UNEMPLOYEE OF THE YEAR”, concebida em conjunto com a Fundação UNHATE (v.Caixa), visa alterar as ideias preconcebidas sobre o desemprego jovem e fazer valer a crença de que, com uma ajudinha, esta criatividade global desperdiçada poderá ser invertida e colocada ao dispor da comunidade. Todos aqueles que se encontram em situação de desemprego, com idades compreendidas entre os 18 e os 30 anos, são convidados (portugueses incluídos) a submeter esboços de projectos que valham a pena ser financiados, desde que promovam um qualquer tipo de impacto social efectivo. Os 100 melhores projectos, que serão votados pela comunidade online de desempregados, terão o apoio financeiro da UNHATE para a sua posterior implementação. Para dar a conhecer a iniciativa, a United Collors of Benneton realizou um filme que presta homenagem à juventude da actualidade e que traça o retrato do dia-a-dia de jovens NEETs (Not in Education, Employment or Training), com ênfase na sua luta para encontrarem emprego sem, em simultâneo, perderem a sua dignidade, ao mesmo tempo que alerta para a indiferença e para o estigma que muitos destes jovens enfrentam na sociedade actual. Estes NEETs, que dão a cara pela campanha, foram escolhidos em todo o mundo com base nos perfis que narram a construção da sua identidade, não apenas em termos académicos, mas em conjunto com as suas paixões e interesses. Ou seja, os jovens foram desafiados a criar um CV com a sua “não-experiência de trabalho” e a submeter a ideias socialmente conscientes. Vestidos, ironicamente, como “homens e mulheres de negócios”, os jovens que aparecem nos cartazes, disponíveis em todas as lojas da conhecida marca, pretendem enfatizar a ideia de que esta nova geração simplesmente se está a esforçar para alcançar o seu próprio futuro. E que o facto de não ter emprego não significa, de todo, que seja preguiçosa, inútil ou até anarca, como é apelidada por muitos, mas antes criativa, inteligente e com uma consciência social verdadeiramente apurada. Com uma parceria firmada com a MTV e vários media digitais, a campanha será emitida em cerca de 35 países e o seu projecto de comunicação, que se pretende global e viral, incluirá não só a imprensa escrita, como a televisão e, obviamente, os media sociais. Veicular uma mensagem positiva Assim, e contrariando os estereótipos negativos associados a uma geração que se afastou, como é natural, aliás, das características das que a precederam, a Benetton optou por evidenciar a juventude desempregada não como os trabalhadores que não são, ou que não conseguem ser, mas antes como futuros empreendedores que não só podem criar o seu próprio futuro, como contribuir para melhorar o futuro de outrem. Para os que estão habituados à controvérsia e choque normalmente associados às campanhas da Benetton, esta poderá ser considerada a mais “aborrecida” de sempre. Mas a verdade é que a conhecida marca italiana não dá ponto sem nó. No início deste ano, a gigantesca Nielsen, especializada em estudos de mercado, publicou um estudo no qual 66% dos consumidores entrevistados, em todo o mundo, afirmavam preferir marcas de empresas que, comprovadamente, tinham implementado programas de “retorno para a comunidade”. Adicionalmente, 46% dos inquiridos asseguraram estarem dispostos a pagar mais pelos produtos oferecidos por estas empresas. Fazer o bem (e demonstrá-lo) é, de forma crescente, um bom negócio e é sabido que não existe empresa que se preze que não tenha um qualquer programa de responsabilidade social e que não se esforce para o divulgar. E, tal como o The Guardian escreveu, a propósito deste assunto, as empresas estão a esforçar-se por ocupar os espaços outrora preenchidos pelas organizações não-governamentais e pelos governos, espaços esses que nunca antes tinham sido ocupados por qualquer marca. As campanhas publicitárias da marca italiana tiveram sempre um duplo efeito nas pessoas: ou são admiradas ou são demonizadas. Mas a verdade é que cumprem um dos mandamentos do marketing: correm as bocas do mundo e o retorno é sempre conseguido, mesmo quando são compulsivamente retiradas, como aconteceu com a enorme controvérsia da campanha que apresentava alguns líderes mundiais, o Papa Bento XVI incluído, a beijarem-se contra o ódio. E também ninguém se esqueceu ainda da famosa fotografia de um doente de Sida no seu leito de morte ou a do bebé renascido ainda ligado à sua mãe pelo cordão umbilical. Todavia, o que os críticos mais evidenciam neste tipo de publicidade é o facto de que, apesar de sensibilizar para questões tão díspares como a politica, a religião ou, na década de 90, os tratamentos para a Sida, ser demasiado abusiva e “chocar por chocar”, sem nunca oferecer soluções para os problemas ou apoio às causas que elege e para as quais poderia efectivamente contribuir em termos financeiros. Desta vez, e disponibilizando meio milhão de euros para os vencedores das 100 melhores ideias, a Benetton troca o “mais aborrecido” pelo “mais eficaz”, mesmo que a campanha tenha custado, especula-se, mais de 20 milhões de euros. Como afirmou, em conferência de imprensa o recentemente empossado novo presidente do conselho de administração do Grupo, Alessandro Benetton, o objectivo agora é a criação de “uma nova geração Benetton, a Benetton 2.0” e a diferença é que [agora] a Benetton, “procura falar sobre questões sociais contemporâneas e precisa de ter uma resposta prática aos problemas para os quais tentamos sensibilizar as pessoas”. Meio milhão de euros poderá ser um bom começo. Nota: Os jovens portugueses interessados em participar no concurso, poderão fazê-lo através do site da UNHATE Foundation
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