POR HELENA OLIVEIRA
Economics for the Common Good
Jean Tirole
De economista académico a figura pública depois de ser laureado com o Nobel para as Ciências Económicas em 2014, Jean Tirole escreve agora um manifesto apaixonado dedicado a um mundo em que a disciplina que lecciona na Universidade de Toulouse pode e deve constituir uma força positiva para o Bem Comum. O livro versa sobre a influência da economia, e dos economistas, na sociedade e no papel dos mercados, para além de explanar sobre as principais alterações que a mesma está a sofrer na actualidade. A relação entre o Estado e o mercado, o papel dos negócios e o contributo adequado da disciplina para o bem comum são algumas das incursões escolhidas por Tirole, as quais, apesar de conterem análises “técnicas” são explicadas de forma muito clara, o que é, aliás, apanágio deste vencedor do Nobel.
E para clarificar de que forma é que a economia pode ajudar a atingir este bem que se quer comum, o académico francês partilha a sua visão sobre um conjunto vasto de questões que afectam não só as nossas vidas de todos os dias, como também o futuro da nossa sociedade, incluindo as alterações climáticas, o desemprego, a ordem financeira global pós 2008, a crise do euro, a revolução digital, a inovação e o equilíbrio necessário entre o mercado livre e a regulação. Ou seja, pegando em grandes questões macroeconómicas, como a estabilidade dos mercados financeiros ou como os países deverão lidar com as causas e consequências da instabilidade climática, o Nobel da Economia “mistura-as” de seguida com aplicações da microeconomia, como as políticas de competitividade, as plataformas digitais, a propriedade intelectual, a regulação das indústrias, entre outras.
No blog da Princeton University Press, a editora responsável pela publicação do livro, Tirole afirma que o seu maior objectivo nesta sua incursão pela escrita é mostrar de que forma é que a economia “pode abrir uma janela para o mundo” e como pode, igualmente, ser compreendida pelo comum dos mortais. A sua ambição, diz, é “ajudar as instituições a servirem os interesses gerais através do estudo de situações em que as motivações individuais entram em conflito com os interesses da sociedade, em conjunto com a sugestão de políticas que consigam alinhar os interesses sociais e privados”. E acrescenta que as mãos invisíveis e visíveis – o mercado e o Estado – podem ser mutuamente complementares. “Para funcionar adequadamente, a economia de mercado precisa de um Estado eficiente que seja capaz de corrigir as suas ineficiências, mas todos sabemos que nem sempre este Estado trabalha para alcançar o bem comum: por exemplo, são muitos os países que estão legar às gerações mais novas níveis substanciais de divida pública, desemprego, um sistema educativo degradado, desigualdade e uma ausência de preparação para a convulsão digital (…), sendo que o mundo está também a fazer muito pouco para conter as alterações climáticas”, acrescenta.
Desta forma, o livro leva em linha de conta uma particular atenção ao que os governos estão a fazer de errado e de que forma é que tal pode ser remediado para promover o almejado “Bem Comum”. Um livro de economia com “raízes humanistas” e que nos devolve a esperança para um mundo mais justo e equitativo.
Thank You for Being Late: An Optimist’s Guide to Thriving in the Age of Accelerations
Thomas L. Friedman
De acordo com o famoso colunista do The New York Times, o título deste seu mais recente best-seller é dedicado a todos os que com ele marcam reuniões, chegam atrasados às mesmas e, por isso, lhe oferecem tempo livre e inesperado para pensar.
Habituado que está a reflectir sobre o “estado do mundo”, Friedman acredita que estamos a viver “um dos maiores pontos de inflexão da nossa história”, o qual é dominado pelas três mais potentes forças do planeta – a tecnologia, a globalização e as alterações climáticas –todas elas em aceleramento profundo e simultâneo. Todavia, “em vez de entrarmos em pânico, temos de fazer uma pausa, tentar compreendê-las e abraçá-las de forma produtiva, que é o que este livro tenta fazer”, escreve.
Para o autor e jornalista, todos nós sentimos que algo de “grande” se está a passar. Seja no trabalho, nas conversas que temos com os nossos filhos, quando lemos os jornais ou assistimos às notícias: as nossas vidas estão a ser completamente transformadas, em todos os seus domínios, graças a movimentos tectónicos que estão a mudar o mundo tal como o conhecemos. E, de acordo com o marketing que escolheu fazer para seduzir potenciais compradores da sua mais recente obra, Friedman afirma também que o próprio mundo não vai parecer o mesmo depois de mergulharmos nas mais de 500 páginas que escreveu: seja a forma como olhamos para as notícias, para o trabalho que fazemos, para a educação que damos aos mais novos, para os investimentos que o nosso empregador tem de fazer e para as escolhas morais e geopolíticas que os países em que vivemos optam por levar a cabo.
A primeira parte do livro analisa estes três movimentos acelerados, afirmando que esta mudança é tão rápida que “poderá ultrapassar a capacidade do ser humano médio, e das estruturas societais, para a ela se adaptar e absorver”, o que dá origem a uma ansiedade cultural, a climas de descontentamento, ao desmoronamento das instituições, aos conflitos e às migrações, bem como à culpabilização e ao extremismo político.
Para Friedman, compreender o século XXI é compreender estas três grandes forças que “movimentam” o planeta: a lei de Moore, para a tecnologia, o Mercado, para a globalização e a Mãe Natureza, para as alterações climáticas e para a perda de biodiversidade. Sendo que esta tripla aceleração está a transformar por completo cinco grandes domínios: o local de trabalho, a política, a geopolítica, a ética e as comunidades.
Mas e de acordo com o optimismo que o caracteriza, é possível à humanidade ultrapassar estas múltiplas pressões da era da aceleração. Para isso é necessário abrandar, ousar “chegar atrasados” e utilizar esse tempo para reimaginar o trabalho, a política e o que entendemos como “viver em comunidade”.
The Great Leveler: Violence and the History of Inequality from the Stone Age to the Twenty-First Century
Walter Scheider
Por que motivo é a desigualdade cada vez mais persistente? A pergunta – e a resposta nada animadora – são oferecidas através da História Económica, pelo professor de Stanford, Walter Scheider, numa viagem que remonta à Idade da Pedra e que “desagua” nos dias que correm, com rios e mares cada vez menos equitativos.
No centro do debate – e, em grande medida, graças ao economista francês, Thomas Piketty – este livro conduz-nos a uma das temáticas mais preocupantes da história moderna, apesar de ter estado sempre presente na própria História da Humanidade. “Os ricos e os pobres sempre estiveram entre nós”, escreve o autor, ou, pelo menos, “os excedentes sempre existiram” e, com eles, “humanos preparados para os partilhar de forma desigual”.
“Desde que os humanos aprenderam a cultivar, a pastorear e a transmitir os seus activos para as gerações seguintes que a desigualdade económica tem sido um traço característico da nossa civilização”, escreve. E, de acordo com a sua visão pessimista – ou desafortunadamente realista, apenas os eventos violentos conseguiram diminui-la.
Esta tese, assente na terceira visão profética do Apóstolo João e nos Quatro Cavaleiros do Apocalipse – a peste, a guerra, a fome e a morte – serve de mote ao livro de Walter Scheider, que os “substitui” por uma versão mais moderna personificada pela guerra da mobilização de massas, pelas revoluções transformadoras, pelo colapso dos Estados e pelas pragas catastróficas. O autor afirma que só estes “grandes niveladores” foram capazes de, ao longo da nossa História, destruir a prosperidade material dos ricos e reduzir significativamente a desigualdade.
Numa incursão ambiciosa na História da Humanidade, Scheider identifica e analisa um conjunto substancial deste tipo de processos, desde as crises civilizacionais da Antiguidade, às grandes guerras cataclísmicas que assolaram o mundo, passando pelas revoluções comunistas do século XX, até chegar aos dias de hoje, onde a violência que caracterizava o passado está menos presente, felizmente, mas que contribui para aumentar o fosso entre os que têm muito e os que não têm nada, infelizmente.
“Só tipos específicos de violência foram capazes de, consistentemente, diminuir a desigualdade”, escreve o autor. “A guerra tem de ser total; a revolução ultra-violenta e socialmente abrangente; o fracasso do Estado tem de conduzir a uma violência tão intensa que o consiga ‘varrer’ e ‘limpar’ e o mesmo acontece com os efeitos sociais das pandemias”.
Uma leitura sombria, mas apaixonante, com argumentos densos, negros e preocupantemente convincentes.
Nas livrarias em 2018
When: The Scientific Secrets of Perfect Timing
Daniel Pink
Tal como o que acontece com “parceiros de escrita” como Malcolm Gladwell ou Dan Ariely, sempre que Daniel Pink lança um novo livro, o sucesso parece ser garantido, independentemente do timing que escolhe para o fazer. E é já na primeira semana do novo ano de 2018 que Pink estará nas livrarias com a sua mais recente obra dedicada, exactamente, ao “timing” perfeito enquanto arte, o qual pode fazer a diferença em muitos domínios da nossa vida. Por exemplo, saiba que se pretender pedir um aumento, deverá pedi-lo ao seu chefe durante a manhã e nunca depois das 14h55.
Como habitualmente, Daniel Pink mune-se das mais recentes pesquisas nos domínios da psicologia, da biologia e da economia para nos ajudar a melhor viver, trabalhar e atingir o almejado “sucesso”. De que forma é que podemos utilizar os padrões escondidos do nosso dia-a-dia para “construirmos” o melhor horário para as nossas múltiplas funções? Por que motivo é que saber fazer as “paragens certas” ajuda os estudantes a terem melhores notas e os trabalhadores os maiores picos de produtividade? Como podemos transformar um início de dia aos tropeções num verdadeiro e fresco recomeçar? E qual a altura certa para deixar um emprego, mudar de carreira ou celebrar um casamento?
Tendo como argumento principal que o “timing” certo é da mais crucial importância para muitas das esferas da nossa vida, Pink mergulha nos ritmos circadianos (cuja pesquisa conferiu, inesperadamente, o Nobel da Medicina, a um trio de cientistas em 2017), nos padrões bimodais, nos clusters de dados e em outros temas da literatura de negócios actual para explorar quais são as alturas mais propícias para se realizar determinadas tarefas ou para aumentar a produtividade, a felicidade ou “temas conexos”. E algumas das conclusões revelam que é durante a manhã que as melhores coisas acontecem e que as tardes são períodos em que os níveis de energia são mais baixos e onde reina o negativismo. Daniel Pink assegura mesmo e por exemplo que é durante a tarde que os lapsos éticos tendem a acontecer com maior frequência.
Como não poderia deixar de ser, todos estes eventos são devidamente acompanhados por exemplos ilustrativos e pesquisas de ordem variada – Pink é um excelente contador de histórias – o que confere substância a um livro que, à primeira vista parece ser mais uma incursão na auto-ajuda “barata”. Mas desenganem-se os leitores, pois Pink tem provas dadas de que as suas pesquisas resultam sempre em “food for thought”. E este livro é mais uma prova disso mesmo.
The Culture Code: The Secrets of Highly Successful Groups
Daniel Cole
Qual é a diferença entre uma turma do pré-escolar e uma turma de estudantes de negócios? Para já e apesar de os segundos já terem no currículo um conjunto significativo de casos de estudo e de fórmulas que os ensinam, supostamente, a gerir organizações, em conjunto com muita literatura e experiência de como funciona o trabalho em equipa, a verdade é que “estão já completamente envolvidos num processo psicológico denominado ‘gestão de status’”. E enquanto os mais velhos se atropelam para ganhar uma posição de relevo na liderança dessas mesmas equipas, “os mais novos – sim, os miúdos do pré-escolar – simplesmente fazem as coisas acontecer: amontoam-se em grupos meio desordenados, pegam no que têm em mãos de forma animada, deixam para trás e rapidamente aquilo que não lhes interessa e não investem muito do seu ego no empreendimento que lhes foi atribuído”.
No ambiente de negócios actual e onde a colaboração se assume como a “rainha-mãe”, qualquer que seja a ajuda para compreender de que forma é que grupos bem-sucedidos trabalham é bem-vinda, em particular se soubermos distinguir os sinais que são transmitidos, a linguagem que é falada e as fórmulas que estimulam a criatividade no interior dessas equipas. E é sobre o poder das culturas que melhor sabem colaborar que versa o novo livro de Daniel Cole, considerado por muitos como o “guru do desenvolvimento de talentos”.
O autor analisa casos de estudo tão diferentes quanto o trabalho feito pelas equipas profissionais de basquetebol, até às forças especiais da Marinha norte-americana, passando por várias empresas reconhecidas pelo seu sucesso colaborativo, elegendo a simples máxima “estamos nisto todos juntos” como o melhor caminho a seguir para uma cultura organizacional de excelência. “Qualquer aspecto de um empreendimento colaborativo, seja um projecto de marketing empresarial ou uma start-up para vender café, tem de passar pelo sentimento de conexão entre as pessoas, por uma boa liderança e por um sentimento de segurança, ou seja, que as pessoas sejam tratadas com respeito e de forma autêntica”, escreve. Apesar de estas receitas parecerem simples – e amplamente debatidas – Daniel Cole confere-lhes um novo significado e excelentes dicas para que possam ser implementadas em qualquer local de trabalho.
O especialista em gestão de talentos dedica igualmente uma parte do livro ao trabalho com as gerações mais novas, as quais, de acordo com a sua visão, “não estão acostumadas às normais brutalidades do ambiente laboral”. “Exagerar na comunicação de expectativas nunca é demais”, sublinha, acrescentando que nos grupos de maior sucesso, os líderes são persistentes em articular os seus objectivos com as características singulares de cada pessoa, articulação essa obrigatória para que o trabalho seja bem feito. E, citando o líder da Pixar, e no seguimento da ideia que as pessoas são muito mais produtivas e realizadas se forem bem tratadas e atenciosamente geridas, “mais vale investir em boas pessoas do que em boas ideias”.
Treating People Well: The Extraordinary Power of Civility at Work and in Life
Lea Berman & Jeremy Bernard
É a prova de que tratar bem as pessoas está na ordem do dia – pelo menos idealmente – com a diferença de que este livro é escrito por dois antigos funcionários de um dos mais exigentes locais de trabalho do mundo: a Casa Branca. Cada um deles com uma administração diferente no currículo – Lea Berman serviu George W.Bush e Jeremy Bernard trabalhou directamente com Barack Obama -, os autores alertam que, tal como cada um dos presidentes em causa definiu o seu próprio mandato para a América, cultivando hábitos de perseverança, comedimento e decência, o que, por seu turno, confere autoridade moral a quem os pratica, o mesmo deve acontecer em qualquer que seja o ambiente, laboral ou social. Assim, e consequentemente, o livro oferece um conjunto variado de lições aprendidas e vividas na Sala Oval que podem ser aplicadas às vidas quotidianas de todos nós, numa espécie de guia para atingir o sucesso pessoal e profissional na vida moderna.
As experiências diárias na Casa Branca constituíram uma excelente experiência para aprender lições preciosas sobre como trabalhar de forma produtiva com pessoas de diferentes “escolas da vida” e com pontos de vista completamente distintos. E nada melhor do que a sabedoria adquirida destes insiders de Washington com celebridades, líderes estrangeiros e com os mais imprevisíveis animais do mundo – os políticos americanos – para alcançar esse objectivo.
Na verdade, o livro é dedicado às muitas pessoas que se sentem inseguras em determinados meios sociais, que desejam relacionar-se melhor com os outros ou que querem subir novos degraus na escada da cooperação com os colegas e/ou superiores hierárquicos. Os autores esmeram-se em sugestões para se irradiar confiança mesmo quando não a sentimos, oferecem diversas formas de melhorar a nossa reputação junto daqueles que connosco se cruzam, colocando a ênfase nas competências sociais que, apesar do ambiente digital em que vivemos, continuam a ser críticas para o nosso sucesso enquanto seres humanos.
Os dois antigos profissionais da Casa Branca comprovam ainda que as competências sociais constituem comportamentos que podem ser apreendidos por qualquer um e contam diversas histórias que se passaram consigo próprios e que os transformaram em “árbitros sociais” num ambiente inicialmente hostil e cheio de obstáculos.
Numa espécie de mapa, são conferidas as linhas orientadoras para não nos perdermos nos diversos trilhos minados que caracterizam as esferas do mundo adulto, onde uma boa dose de sentido de humor e uma aplicação consistente de atenção, respeito, ponderação e escuta activa constituem elementos essenciais a uma boa convivência.
Editora Executiva