Seja para oferecer aos outros ou a nós próprios, um livro é uma espécie de “prenda que não falha” e que está sempre presente nos embrulhos de Natal. Com 2023 a chegar ao fim, multiplicam-se as listas dos mais vendidos e dos que figuram em rankings vários para se apurar quais é que alcançaram o estatuto de “melhor livro do ano”. Desta forma, e apesar de a escolha ser complexa, sugerimos 5 livros que visam responder a 5 questões: por que motivo “falhar” se encontra na moda; quais os principais riscos e inovações na IA para a próxima década; estaremos à beira do fim da nossa privacidade; como repensar a ciência, a economia e a diplomacia para alcançar resultados mais visíveis na luta contra as alterações climáticas e, por último, quais as razões para substituir as directrizes organizacionais convencionais por normas informais e “não ditas”. “Food for thought” que pode ser acompanhada por sonhos e rabanadas
POR HELENA OLIVEIRA

Right Kind of Wrong: The Science of Failing Well

Amy Edmondson

Até há relativamente pouco tempo, habituámo-nos a pensar no fracasso como um problema que nos trazia vergonha e que devia ser evitado a todo o custo. Mas, nos últimos anos, passou a ser normal ouvirmos dizer que falhar é necessário e que o devemos fazer depressa e muitas vezes.

De acordo com Amy Edmondson, professora em Harvard e considerada uma das mais conceituadas psicólogas organizacionais do mundo, o problema é que nenhuma destas abordagens distingue os bons fracassos dos maus e, como resultado, perdemos a oportunidade de “falhar bem”. Para além de apresentar três arquétipos do fracasso – o simples, o complexo e o inteligente – Edmondson explica ainda como saber aproveitar o potencial revolucionário dos “bons fracassos” e como eliminar eficazmente os maus. O livro tem como base a investigação de uma vida inteira sobre a ciência da “segurança psicológica” e mostra que as culturas mais bem-sucedidas são aquelas em que se pode fracassar abertamente, sem que os erros sejam considerados uma falha de quem os comete. A autora mostra-nos como podemos abrir espaço para o fracasso, reconhecendo que as nossas emoções e necessidades pessoais fazem parte da solução.

The Coming Wave: Technology, Power, and the Twenty-First Century’s Greatest Dilemma

Mustafa Suleyman

Estranho seria se não constasse desta pequena lista de sugestões um livro sobre Inteligência Artificial, em particular num ano em que os seus avanços e visibilidade pública bateram recordes. E é útil saber que o seu autor, Mustafa Suleyman, é o co-fundador da empresa pioneira em IA, a DeepMind, agora parte da Google, e alguém que estado no centro desta gigantesca revolução. Todavia, é também Suleyman que, em cerca de 300 páginas, pretende persuadir os leitores de que a inteligência artificial (IA) e a biologia sintética (SB) ameaçam a nossa própria existência e de que só temos uma janela estreita para as conter antes que seja demasiado tarde. Como afirma o próprio autor, em breve viveremos rodeados de IA(s), que realizarão tarefas complexas operando empresas, produzindo conteúdos digitais ilimitados e gerindo serviços governamentais essenciais. Para Suleyman, a vaga que se avizinha fará com que a próxima década seja a mais produtiva da história, representando nada mais, nada menos do que uma mudança radical na capacidade humana, introduzindo riscos e inovações a uma escala impressionante. Com alguns capítulos a gerarem calafrios, Suleyman estabelece também “o problema da contenção” – a tarefa de manter o controlo sobre tecnologias poderosas – como o desafio essencial da nossa era, para o bem e para o mal. Um livro imperdível.

Your Face Belong to US: The Secretive Start-Up On A Mission To End Privacy

 Kashmir Hill

Este livro poderia estar nas estantes das livrarias dedicadas ao género do terror. Mas o problema é que o conteúdo nele narrado, para além de assustador, é real. A repórter do New York Times, Kashmir Hill, relata a história da Clearview AI, uma empresa que construiu uma das mais sofisticadas tecnologias de reconhecimento facial e de pesquisa de sempre. Como explica jornalista, a aplicação pode utilizar uma fotografia de qualquer um de nós (desde que esteja online, claro) para encontrar o nome, os perfis nas redes sociais, os amigos e familiares – e até a morada da pessoa em causa. Estaremos cada vez mas perto do fim da privacidade?

Com base num excelente trabalho de investigação jornalística, e como refere o Finantial Times (o livro está na sua lista de “livros do ano”), Kashmir conta de que forma “esta pequena empresa de IA, lançada pelo engenheiro informático Hoan Ton-That e pelo político Richard Schwartz, em conjunto com um elenco de personagens controversas da extrema-direita, chegou rapidamente ao topo”, partilhando a sua aplicação com bilionários, instituições governamentais e policiais, entre outros “clientes. Com uma escrita verdadeiramente cativante, “Hill tece a história da Clearview AI com uma exploração da forma como a tecnologia de reconhecimento facial está a remodelar as nossas vidas, desde a sua utilização por governos e empresas como a Google e o Facebook (que decidiram que esta “versão”era demasiado radical para ser lançada) até às consequências dos preconceitos raciais e de género incorporados na IA”. E alerta, em breve “poderá expandir o alcance do policiamento – como aconteceu na China e na Rússia – e conduzir-nos a um futuro distópico”. E se não acredita, vale a pena visitar o seu website.

Five Times Faster: Rethinking the Science, Economics, and Diplomacy of Climate Change

Simon Sharpe

Em plena Cimeira do Clima e recordando a hipocrisia que é fazer-se uma COP numa região cujo desenvolvimento assenta em biliões de petrodólares, ficámos a saber, de acordo com a BBC, que os Emirados Árabes Unidos tencionam utilizar o seu papel de anfitrião das conversações da ONU sobre as alterações climáticas como uma oportunidade para fechar acordos sobre petróleo e gás. Fomos igualmente informados que o homem que preside a esta mais do que importante reunião de líderes é o sultão al-Jaber, o director executivo da empresa petrolífera estatal Adnoc, a qual planeia aumentar a sua produção petrolífera em 42%, passando de mais de mil milhões de barris em 2023 para quase 1,5 mil milhões em 2030. O mesmo al-Jabar tem sido o centro de polémicas várias depois de ter proferido a frase “Não existe nenhuma ciência, nem nenhum cenário, que diga que a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis é o que vai permitir atingir o 1,5°C”, apesar de se ter retratado uns dias depois. Com pouca fé, mas com uma réstia de esperança, esperemos que desta COP28 possam sair, finalmente, acordos vinculativos que permitam salvar o planeta. O livro acima sugerido é escrito por Simon Sharpe, que passou dez anos na vanguarda da política e da diplomacia no domínio das alterações climáticas. De acordo com as suas palavras, “na nossa luta para evitar alterações climáticas perigosas, a ciência está a dar os seus ‘socos’, a diplomacia está a escolher as batalhas erradas e a economia tem lutado do ‘lado contrário”. Com uma escrita cativante, a mensagem do autor é igualmente alarmante, pois é urgente que possamos agir com a rapidez suficiente para nos mantermos seguros. Repensar as estratégias e reorganizar os esforços no que respeita à ciência, à economia e à diplomacia constituem os três principais pilares da escrita de Sharpe. Ou seja, o livro, informativo e acessível, constitui um manual para que cientistas, líderes empresariais e decisores políticos possam trabalhar em conjunto para conseguir uma transformação sistémica muito mais rápida do que a que tem prevalecido até agora.

How work works: The Subtle Science of Getting Ahead Without Losing Yourself

Michelle King

Ao longo de duas décadas de investigação sobre culturas organizacionais, Michelle King descobriu que as pessoas que têm sucesso possuem uma competência particularmente única: elas sabem como funcionam os locais de trabalho. Mais especificamente, para progredir, não confiam nas regras formais escritas, muitas vezes genéricas e desactualizadas, que durante um século definiram o local de trabalho. Em vez disso, aprenderam a avaliar a forma como se devem comportar e actuar, tomando consciência das regras informais (e não ditas) em substituição das directrizes organizacionais “convencionais”. Com base em entrevistas a centenas de empregados que alcançaram posições de liderança, a autora centra-se em cinco áreas por excelência:

  • Navegar em redes informais;
  • Desenvolver a auto-consciência e aprimorar a consciência relativamente aos outros;
  • Aprender as competências necessárias para se adaptar a condições em mudança;
  • Obter apoio para a próxima promoção;
  • Encontrar significado e realização no trabalho.

O livro de King é uma espécie de manual que ensina a fazer com que estes sistemas funcionem para quem quer progredir na carreira (quem não quer?) e chegar a posições de liderança.

Como escreve, o “novo mundo do trabalho exige uma nova forma de trabalhar”.

Nota: Apesar de estarem em inglês, todos os livros acima sugeridos podem ser adquiridos em livrarias portuguesas. Basta clicar no link do título de cada um.

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