O regresso de férias traz muitas vezes um sentimento avassalador de nostalgia, tristeza e ansiedade, um fenómeno comummente designado por “blues pós-férias”. Este estado emocional pode tornar a transição do lazer para a rotina particularmente difícil, uma vez que muitas pessoas lutam para se reajustarem às exigências da vida quotidiana. O blues pós-férias, apesar de sentido por um conjunto alargado de pessoas, é muitas vezes mal compreendido e pouco discutido, deixando muitos a lidar com ele sem apoio ou estratégias adequadas
POR HELENA OLIVEIRA
Se se identifica com o que acima foi escrito, este artigo é para si. O que é bom depressa acaba, já diz o ditado, Setembro chegou, e com ele alguns sentimentos menos bons com os quais somos obrigados a lidar na medida em que não temos outra alternativa. Mas e apesar de não ser fácil, existem várias formas de os ultrapassar.
“Subestimamos o quanto os nossos guiões e as nossas narrativas sobre o Outono que se aproxima nos afectam”, afirma Kari Leibowitz ao The New York Times, uma psicóloga e investigadora cujo próximo livro, “How To Winter”, examina os nossos estados de espírito relativamente às estações do ano e a forma de os reformular. “O Verão são os cones de gelado e estar na praia. As responsabilidades e a vida real são para Setembro”, afirma.
A raiz da tristeza pós-férias reside no forte contraste entre a experiência do desejado período de descanso e a vida de todos os dias. As férias oferecem uma fuga às pressões do trabalho, da rotina e das responsabilidades, permitindo que os indivíduos se entreguem ao relaxamento, à aventura e ao tempo pessoal. Durante as férias, as pessoas dedicam-se frequentemente a actividades de que gostam, passam tempo de qualidade com os seus entes queridos e mergulham em novos ambientes. Esta quebra de rotina traz uma sensação de liberdade e felicidade que é difícil de reproduzir no dia a dia. Em comparação, o regresso ao trabalho, às tarefas doméstica, às aulas e a outras responsabilidades pode parecer esmagador e até deprimente.
Além disso, as férias envolvem muitas vezes uma sensação de antecipação e planeamento. As semanas ou meses que antecedem as férias são preenchidos com entusiasmo e preparação, dando às pessoas algo por que ansiar. Uma vez terminadas, esta sensação de antecipação é abruptamente substituída pela realidade da vida quotidiana, criando um estado de espírito que pode levar a sentimentos de vazio e tristeza. A ausência súbita desta excitação, combinada com o fim de uma experiência agradável, contribui significativamente para o aparecimento da tristeza pós-férias.
Ademais, e como acima mencionado, aguardamos ansiosamente as férias, contando os dias até podermos finalmente escapar às exigências do trabalho e da vida quotidiana. E quando essa escapadela tão necessária chega, entregamo-nos ao relaxamento, ao sono e ao rejuvenescimento. Todavia, quando regressamos de férias, o stress volta a aparecer, apagando rapidamente a sensação de tranquilidade que tanto esperámos por alcançar.
Por outro lado, existe também o que é denominado por o “paradoxo pós-férias”: em vez de nos sentirmos recarregados e revigorados quando regressamos ao trabalho depois de uma pausa, sentimo-nos esgotados e com dificuldade em recuperar o dinamismo habitual. Como afirma Ayelet Fishbach, professora na Booth School of Business da Universidade de Chicago e autora de “Get It Done: Surprising Lessons from the Science of Motivation”, este sentimento parece ser um contra-senso mas é amplamente demonstrado por um conjunto de pesquisas, em particular quando as férias não foram tão revigorantes como desejaríamos. Neste caso em particular e como escreve Amelia Aldao, uma psicóloga de Nova Iorque especializada em terapia cognitivo-comportamental, “espera-se que o Verão ou as férias sejam óptimos e depois não são. Muitas vezes há um desencontro de expectativas, o que pode ser um gatilho para a ansiedade.”
Adicionalmente e como também escreve Will deFries que, desde 2014, se dedica a tentar melhorar “a neura de Domingo” na sua popular conta no Instagram intitulada Sunday Scaries, temos uma enorme tendência para adiar o que nos preocupa ao longo das férias de Verão, sendo essa tendência invertida quando se aproxima o seu final e o “preocupo-me mais tarde” torna-se muito cedo quando Setembro tem início e sabemos que teremos as pressões de mais uma época atarefada a abaterem-se sobre nós.
Como afirma e para a generalidade das pessoas, “se Janeiro é a segunda-feira do ano civil, então o Verão é claramente o fim de semana – Junho é a sexta-feira, Julho o sábado e Agosto o domingo preguiçoso e delicioso” e é por isso que muitos de nós nos encontramos actualmente nas garras das “ansiedades de Setembro”.
Mais grave ainda é o facto de o impacto emocional da tristeza ou ansiedade pós-férias poder ser profundo, afectando vários aspectos do bem-estar mental. Os indivíduos podem sentir uma série de emoções negativas, incluindo tristeza, irritabilidade, ansiedade e letargia. Estes sentimentos podem interferir com o desempenho profissional, as relações e a qualidade de vida em geral. Para alguns, os blues podem manifestar-se como dificuldade de concentração, falta de motivação ou mesmo sintomas físicos, como fadiga ou dores de cabeça.
Esta tristeza pode também exacerbar problemas de saúde mental já existentes. Para as pessoas que sofrem de ansiedade ou depressão, a transição das férias para a rotina pode intensificar estas condições, tornando mais difícil lidar com elas. O forte contraste entre a alegria das férias e o stress da vida quotidiana pode fazer com que a rotina pareça ainda mais pesada, levando a um período prolongado de mau humor.
Em suma, a verdade é que as férias oferecem uma pausa temporária dos nossos indutores de stress diários. Dão-nos a oportunidade de descontrair, rejuvenescer e reconectarmo-nos connosco próprios. Durante este período, as nossas mentes e corpos podem descansar e podemos experimentar uma sensação de equilíbrio e calma. No entanto, a transição de volta à nossa rotina regular pode perturbar este delicado estado de equilíbrio, levando ao regresso do stress não saudável e aos seus efeitos secundários indesejáveis.
Como lidar com a ansiedade pós-férias
Embora a tristeza pós-férias seja comum, não é, obviamente, insuperável. Existem várias estratégias que podem ajudar as pessoas a navegar nesta transição emocional e a restaurar um sentido de equilíbrio nas suas vidas.
Se bem que não seja fácil, uma das formas mais eficazes de combater a tristeza pós-férias é regressar gradualmente à rotina. Em vez de saltar directamente para o trabalho ou para as responsabilidades diárias, considere tirar um ou dois dias antes para desfazer as malas, relaxar e preparar-se mentalmente para a transição. Este período de descanso poderá ajudar a reduzir o choque do regresso à rotina e tornar o processo mais suave. E tal como temos rituais pré-férias, como criar uma lista do que levar na mala, pagar contas e concluir tarefas urgentes, é igualmente importante estabelecer uma rotina pós-férias.
Em vez de mergulhar de cabeça no caos da vida quotidiana, permita-se regressar gradualmente ao trabalho, reintegrando as responsabilidades e obrigações profissionais, ao mesmo tempo que inclui momentos de descanso e cuidados pessoais. Reflicta sobre os aspectos positivos das suas férias e encontre formas de os incorporar na sua vida quotidiana. Quer se trate de um passeio matinal tranquilo ou da prática de um passatempo favorito, a integração de elementos da sua rotina de férias na sua vida quotidiana pode ajudar a manter a sensação de serenidade que experimentou.
Se se sente sobrecarregado com as suas responsabilidades iminentes, faça um plano para as enfrentar. Mas em vez de uma lista de afazeres, experimente uma “matriz de afazeres”, aconselha a Harvard Business Review. Rotule as duas extremidades de um eixo x como “urgente” e “menos urgente”, e o eixo y como “importante” e “menos importante”, e depois coloque em conformidade as suas tarefas nos devidos quadrantes. Visualizar onde se enquadram as suas preocupações pode ajudar a mitigar o medo aparentemente sem sentido que sente quando se aproxima o regresso ao trabalho. A ideia é a de se aperceber de que alguns dos itens listados podem ser despachados imediatamente, tendo igualmente uma melhor noção do que precisa de fazer durante o mês de Setembro e que coisas podem esperar até Outubro.
Também pode tentar “microdosear” algumas tarefas de Setembro durante os primeiros dias, afirma Christian Waugh, professor de psicologia da Wake Forest University que estuda mecanismos positivos para lidar com a situação. As transições lentas são sempre mais fáceis do que as rápidas, afirma. Assim, comece devagar e com pouco.
Uma atitude comum é a de sentir-se tentado a sair do modo de férias, enfrentando de imediato o maior e mais problemático item da sua lista de tarefas de regresso, mas esta abordagem frequentemente não resulta. Mergulhar num stress agudo no momento em que volta aos seus deveres profissionais torna difícil livrar-se dele e, muitas vezes, esse stress torna-se contagioso e estende-se também aos seus colegas de trabalho. Em vez disso, os especialistas recomendam que se comece devagar e com pouco esforço e que se realizem primeiro as tarefas mais fáceis – aquelas que se sabe que se podem realizar com rapidez e confiança. Pense nisto como um plano de integração para o ajudar a regressar à vida profissional. Ao começar com tarefas fáceis de gerir, irá gradualmente recuperar o ímpeto, caso contrário, estará constantemente a tentar recuperar o atraso ou a responder a emails durante todo o dia.
Além disso, resista ao impulso de assumir demasiados compromissos adicionais à medida que se vai “instalando”. Algumas pessoas sentem que podem perder “espaço” durante as férias e preocupam-se com a possibilidade de se tornarem invisíveis no trabalho. E num esforço para recuperar a relevância e a visibilidade, oferecem-se como voluntários para projectos e tarefas que acabam por os sobrecarregar e que não ajudam a demonstrar as competências de que necessitam para serem promovidos.
Estabelecer novos objectivos ou planos é igualmente útil neste período de transição. Ter algo pelo qual ansiar é um antídoto poderoso para o desânimo pós-férias. Definir novos objectivos ou planear actividades futuras pode ajudar a reacender uma sensação de antecipação e entusiasmo. Quer se trate de planear uma escapadela de fim de semana, de estabelecer objectivos pessoais ou de embarcar num novo projeto, ter uma mentalidade voltada para o futuro pode mudar o foco do que foi perdido para o que está para vir.
Adicionalmente, é importante lembrar que no mundo hiperconectado de hoje, é fácil ficar sobrecarregado com o fluxo constante de notificações e exigências. Aprender a estabelecer limites e a desligar-se da tecnologia é crucial para manter a serenidade. Estabeleça horários específicos em que se desligará dos e-mails relacionados com o trabalho e ignore as redes sociais, permitindo-se descontrair totalmente. Ao estabelecer limites, cria espaço para relaxar e evita a intrusão do stress na sua vida pessoal.
E, finalmente, não resista (nem sequer o pode fazer, na verdade). As transições são inerentemente stressantes e poderá ter de aceitar que esta altura do ano será sempre complicada. “Passar de uma atividade para outra é sempre mais difícil do que fazer o que se tem feito”, afirma Ayelet Fishbach, professora de ciências comportamentais na Booth School of Business da Universidade de Chicago, que estuda a motivação. Começar um novo projeto – ou, neste caso, uma nova estação – é a parte mais difícil, mas uma vez iniciado, torna-se tudo mais fácil.
Em suma, a tristeza pós-férias é uma reação emocional comum ao fim de uma experiência agradável e ao regresso à rotina. Embora a transição possa ser um desafio, a compreensão das causas e dos efeitos dos blues pós-férias pode ajudar as pessoas a enfrentar este período com maior facilidade. Ao regressar à rotina, incorporando actividades agradáveis na vida quotidiana, estabelecendo novos objectivos, e procurando apoio de familiares, amigos e colegas, torna-se possível ultrapassar a tristeza pós-férias e restaurar uma sensação de equilíbrio e bem-estar nas nossas vidas. Em última análise, a chave para ultrapassar a tristeza pós-férias reside em abraçar o presente, encontrar alegria no quotidiano e manter uma perspetiva de futuro. E pensar que para o ano há mais.
Imagem: © Rayi Christian Wicaksono/Unsplash.com
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