POR MÁRIA POMBO
Tendo nascido entre os anos 80 e meados da década de 90, os millennials (também conhecidos por geração Y) são uma espécie de “geração da mudança” e estão a transformar o mundo muito mais do que qualquer outra. Os jovens que pertencem a este grupo já conseguiram revolucionar, por exemplo, o modo de viajar (ao nível dos transportes e também do alojamento), de aceder a notícias, os hábitos de consumo e a atitude perante o mercado de trabalho.
Esta é a geração que tende a casar mais tardiamente e que menos se preocupa com a religião e com a escolha de um partido político. Devido às consequências da crise, também é a primeira geração que sabe que não existem empregos para a vida e que um canudo já não representa estabilidade financeira, estando constantemente em busca de novos desafios e de melhores oportunidades a nível profissional.
Por outro lado, é também reconhecida como a “geração quer-tudo”. Os jovens Y querem um bom emprego mas também querem ter uma boa aparência, ser saudáveis, cultos e socialmente activos. Estes são jovens que procuram estabilidade financeira para poderem comprar não só objectos de primeira necessidade, como também bens e serviços mais “triviais” e até considerados fúteis. Ironicamente, são a geração que mais uso dá a objectos em segunda mão e que colocou o vintage e a cultura da partilha novamente na moda.
Estas e outras conclusões estão presentes num relatório recente, elaborado pela Gallup e denominado How Millennials Want to Work and Live. Neste documento, e recorrendo a diversos estudos, esta agência de análise de dados, que pretende ajudar os empresários e gestores a resolver problemas urgentes, traça o perfil dos millennials norte-americanos, explicando quais são as suas principais diferenças relativamente às anteriores gerações, no trabalho e na vida, de modo a que os CEO possam preparar as suas organizações para os cativar e receber.
De acordo com Jim Clifton, os millennials são, de facto, uma geração revolucionária e diferente de todas as outras, sustentando a sua opinião com recurso a diversos indicadores. O presidente e CEO da Gallup explica que, para estes jovens, por exemplo, o trabalho tem que ter significado. Se, para gerações anteriores, como os baby boomers, o ordenado é a principal motivação pela qual trabalham, para os membros da geração Y a realidade é diferente, já que, para além do salário, estes necessitam de um propósito, ou seja, de um “motivo maior”, o qual é, muitas vezes, mais decisivo que uma remuneração elevada. Esta é também uma geração que procura não tanto a satisfação no trabalho, mas mais a progressão: assim, não são as regalias (como café e snacks gratuitos) que lhes captam o interesse, mas sim o modo como conseguem evoluir e desenvolver as suas potencialidades.
[quote_center]A Gallup considera que, se forem desenvolvidas, “as forças podem ser infinitas”[/quote_center]
Talvez seja o motivo acima descrito que justifique o facto de os jovens Y não quererem ter patrões (no sentido de meros proprietários de organizações) mas sim líderes e mestres. Estes jovens procuram chefes que os acompanhem e que os compreendam, e que sejam capazes de os ajudar a melhorar, dia após dia. Complementarmente, e ainda de acordo com Jim Clifton, para os millennials o acompanhamento constante é mais importante do que as avaliações anuais.
A Gallup considera que “as fraquezas nunca se transformam em forças”, mas estas últimas, “se forem desenvolvidas, podem ser infinitas”. Esta é também, e como explica Clifton, uma das máximas dos Y, os quais, mais do que corrigir os seus pontos fracos, almejam desenvolver e explorar as suas qualidades e aptidões, maximizando-as.
Adicionalmente, o documento conclui que, para a geração mais qualificada de sempre, um emprego não é “só” um emprego mas sim uma importante parte da vida. E este é, possivelmente, o ponto que liga todos os anteriores entre si: se o trabalho faz parte da vida e a vida faz parte do trabalho, então o mesmo deve garantir alguma estabilidade financeira mas também deve ter um propósito e um motivo que justifique empenho e dedicação por parte dos colaboradores.
Complementarmente, no exercício da sua função, o trabalhador millennial deve poder explorar as suas capacidades, dando o melhor de si e sentindo que consegue sempre fazer mais e melhor. Por fim, entre o colaborador da geração Y e o seu director deve existir uma boa e frequente comunicação, de modo a que seja criada uma relação de confiança, a qual se deve distanciar, em muito, das “velhas” avaliações periódicas.
No fundo, os millennials querem ser vistos como pessoas, com todas as suas potencialidades, e não como meros colaboradores que apenas cumprem a função para a qual foram contratados.
Millennials: uma geração mais livre e descomprometida
Comparando com as anteriores gerações, a dos jovens Y é a menos comprometida com o trabalho, existindo apenas 29% de trabalhadores a sentirem-se emocionalmente ligados ao seu emprego, e 55% a afirmarem que não se sentem envolvidos com o mesmo. Esta é, também, uma geração que se revela indiferente ao cumprimento de horários só para ficar bem na fotografia.
O documento conclui também que, embora existam muitas teorias que defendam o contrário, esta geração – a qual foi e é uma das principais vítimas do desemprego provocado pela crise – gostaria de se sentir comprometida com o trabalho, mas não consegue encontrar, por parte da maioria das empresas, condições para lá permanecer – e isso traduz-se numa procura constante de novas e mais atractivas oportunidades.
Neste sentido, 21% dos jovens desta geração afirmam ter mudado de trabalho no último ano, uma percentagem que é três vezes superior à de trabalhadores de outras gerações. Complementarmente, metade destes “perpetuamente insatisfeitos” espera ficar no actual local de trabalho durante apenas 12 meses, o que, para as empresas, significa que cerca de 50% dos postos de trabalho que hoje estão ocupados por millennials serão, a curto/médio prazo, ocupados por novos colaboradores.
E esta questão não é, de todo, simples: se é verdade que a crise económica (e a consequente falta de oportunidades de emprego) obriga estes jovens a serem mais “desligados”, também não é mentira que a própria economia sofre com esta postura, já que o desemprego e o subemprego (ou seja, o emprego precário, sem garantias de continuidade e de baixo salário) continuam a ter níveis elevados. Adicionalmente, e se por um lado as empresas não conseguem dar aos trabalhadores as condições necessárias para que estes se sintam dedicados e sejam capazes de assegurar funções de maiores responsabilidades, por outro, não podemos ficar indiferentes ao facto de que as exigências que fazem (por exemplo, em termos de experiência profissional) tornam muitos cargos inacessíveis a esta geração de “eternos estudantes”.
[quote_center]21% dos jovens Y mudaram de trabalho no último ano, o triplo do registado nas outras gerações[/quote_center]
Importa, também, salientar que esta rotatividade constante gerada pela falta de compromisso por parte dos millennials custa aos Estados Unidos mais de 30 mil milhões de dólares, anualmente.
Adicionalmente, e tendo noção de que já não existem empregos para a vida e uma licenciatura não assegura um posto de trabalho, 60% dos jovens Y revelam-se disponíveis para trabalhar em variadas áreas e para assumir funções diferentes ao longo da vida. Esta percentagem é 15% superior à que revelaram, todos juntos, os trabalhadores das gerações anteriores. Complementarmente, e como já foi referido, este segmento populacional é aquele que mais activamente procura melhores oportunidades: 36% afirmam que, no espaço de um ano, pretendem procurar formas de crescer profissionalmente, mesmo que seja fora da organização onde trabalham, sendo de apenas 21% a percentagem de Xers e baby boomers que assumem fazer o mesmo.
Convictos de que a boa comunicação é um dos principais motivos que levam um trabalhador a sentir-se mais comprometido com o trabalho, os millennials necessitam de receber feedback, de forma constante, por parte dos seus superiores (ou não estivessem eles contactáveis quase 24 horas por dia em diversas plataformas online). Para além de estimular o compromisso, estes encontros regulares entre os gestores e as suas equipas aumentam a performance e contribuem para o crescimento da própria empresa. A parte “má” é que esta característica dos millennials pode ser encarada, por muitos gestores, como uma fraqueza, já que a necessidade de estímulos constantes e de acompanhamento permanente pode revelar pouca autonomia.
Geração Y marca a diferença (também) no trabalho
Sendo a primeira geração de nativos digitais, os millennials dão muito mais utilidade à internet que qualquer outra geração anterior. Ver notícias, pagar contas, fazer compras, ouvir música e aceder a diversos conteúdos de entretenimento são algumas das mais vulgares acções que os millennials fazem diariamente através de dispositivos móveis e com recurso à internet, dando uma menor utilização aos meios tradicionais (como a televisão convencional, a rádio e os jornais em papel). Uma outra particularidade destes jovens é que, enquanto muitos representantes de outras gerações navegam nas redes sociais e vêem notícias a partir de computadores portáteis e tablets, 85% dos Y utilizam essencialmente o próprio smartphone, não tendo necessidade de recorrer a outros aparelhos.
Em termos de consumo, esta é claramente a geração menos comprometida e fidelizada com qualquer tipo de marca, produto ou empresa. Adicionalmente, – e este é um indicador que realmente deve preocupar as empresas – os millennials são uma geração activamente descomprometida com marcas, procurando sempre as melhores oportunidades e perseguindo a melhor relação qualidade/preço/satisfação. No sector da aviação, por exemplo, o “desprendimento” não deixa margem para dúvidas, existindo apenas 12% de jovens Y totalmente comprometidos com uma determinada companhia, enquanto 46% revelam ser activamente descomprometidos.
[quote_center]Em termos de consumo, a geração Y é menos fidelizada com qualquer tipo de marca, produto ou empresa[/quote_center]
Nos últimos anos, sete em cada 10 millennials compararam preços online, sendo que as restantes gerações não foram além dos 55%, neste hábito. Esta geração é igualmente reconhecida por fazer compras em segunda mão e dar uma nova vida a objectos usados, mais do que qualquer outra. Paradoxalmente, e apesar da utilização de produtos em segunda mão e da constante comparação de preços, a geração Y revela ser menos preocupada com as poupanças que as restantes gerações, fazendo compras, muitas vezes, por pura diversão e impulso e valorizando mais a experiência do que os objectos em si.
Ainda em termos de consumo, uma outra particularidade dos Y é o facto de, entre os seus membros, a utilização de cupões de desconto ser muito pouco comum (sendo mais habitual entre os Xers e os baby boomers, os quais fazem também compras com mais frequência que os jovens). Contudo, os millennials têm um comportamento semelhante ao das restantes gerações no que respeita à frequente preferência por produtos de marca branca e medicamentos genéricos.
Por todos os motivos acima apresentados, Jim Clifton está certo que “os millennials são profundamente diferentes das anteriores gerações” e “vão mudar o mundo decididamente mais do que todas elas”. Para já, estão a ser disruptivos na forma de comunicar (ou não fossem eles os primeiros nativos digitais), mas também no modo de fazer compras, no tipo de produtos que escolhem e no modo de utilizar o dinheiro, já que, ao mesmo tempo que compram por impulso, também fazem constantes comparações de preços, dispensam fidelizações e optam, muitas vezes, pelo que é usado.
Complementarmente, estes jovens estão a marcar a diferença no modo de viajar – plataformas como a Uber e a Airbnb já fazem parte da vida de qualquer um destes jovens e, independentemente das polémicas a que possam estar associadas, não deixam indiferente nenhum dono de hotel ou de empresa de táxis. Em termos materiais, são tendencialmente mais desligados que os membros das anteriores gerações.
Para além de todos os factores já referidos, os Y têm marcado a diferença em termos de postura no (e perante o) trabalho: são a geração mais qualificada de sempre e não deixam de ser aquela a quem mais portas têm sido fechadas, procurando constantemente novas oportunidades, dentro e fora da sua área de formação. Ainda neste campo, um outro grande sinal de diferenciação desta geração, face às restantes, consiste no facto de estes jovens necessitarem de um propósito, tanto ou mais do que de um salário, para se manterem ligados a uma determinada empresa, como também já sublinhado. Adicionalmente, estes trabalhadores valorizam o empenho mais do que o horário, e a maximização das suas capacidades mais do que a correcção das fraquezas.
Por todos estes motivos, se é empresário ou gestor e pretende dar emprego a um jovem millennial, considere sugerir-lhe que pretende ajudá-lo a crescer e a desenvolver as suas aptidões, que estará perto para lhe tirar todas as dúvidas e que, para si, a comunicação é fundamental para o bom funcionamento de qualquer equipa ou organização.
Jornalista