O trabalho “dá dignidade e sentido à vida das pessoas”. Impressionado com a “situação aflitiva” dos jovens em Portugal, a quem “foi cortada a possibilidade de construírem o seu projecto de vida no país”, Diogo Ribeiro, estudante na República Checa, lançou-se na aventura de criar o Emprego pelo Mundo que, em apenas dois meses, soma mais de 1 milhão de visualizações e 5 mil membros no Facebook. Todos procuram as ofertas de emprego e dicas de trabalho que a plataforma reúne, em 34 países dos cinco continentes. Em entrevista ao VER, este jovem português explica como a sua experiência com diversas culturas, a energia dos seus 24 anos e uma rede de muitos amigos, se transformaram numa iniciativa voluntária contra o desemprego
Aos 24 anos, Diogo Lino Ribeiro estuda no famoso Instituto de Química de Praga, na República Checa, onde chegou já com uma larga experiência de vida em vários países do mundo. Consternado com a preocupante taxa de desemprego em Portugal, especialmente entre os jovens, decidiu criar uma plataforma que agrega ofertas de emprego um pouco por todo o mundo, bem como dicas úteis para conseguir um trabalho, adequadas aos diferentes mercados: o Emprego pelo Mundo. A ideia de criar este grupo de partilha de informações de Emprego no Estrangeiro e em Portugal, que ganhou visibilidade no Facebook, surgiu a partir de um pedido da família de Diogo Ribeiro, para que colocasse para alugar, em sites especializados, uma casa localizada em Búzios, no Brasil. Diogo não só o fez, como resolveu criar um blog onde também promovia aquele destino, “para ser mais fácil arranjar hóspedes”. Inesperadamente, começou a receber currículos de pessoas que lhe pediam emprego, pensando que se tratava de um resort ou de uma guest house (segundo o jovem estudante, dado que “têm uma visão de condomínio”). Muitos eram “jovens que pediam com uma humildade, um desespero e uma vontade de trabalhar que não podiam deixar ninguém indiferente”. Com experiência na área da pesquisa – “determinante para encontrar as pessoas e as informações certas” – adquirida numa empresa onde trabalhara, já na República Checa, Diogo Ribeiro começou a publicar no seu blog oportunidades de emprego. O reconhecimento foi tal que o passo seguinte foi criar o Emprego pelo Mundo. Hoje, o estudante português que desde os três anos de idade anda a ‘correr mundo’, gere o projecto com o apoio de dois outros jovens, dedicando-se principalmente à actualização da pagina e à busca de oportunidades e notícias sobre emprego pelo mundo. Já Cristiano Silva faz as reportagens “Portugueses pelo Mundo” e “Carreiras” e Pedro Maia trata de toda a área de Imagem e Design e gere o grupo no Facebook. De Portugal para o Mundo E se a iniciativa “nasceu para todos os portugueses que procurem emprego no estrangeiro e em Portugal”, certo é que neste curto espaço de tempo, o site integra já ofertas de emprego em 34 países dos cinco continentes. Os destinos mais solicitados são, segundo Diogo Ribeiro, os países da UE, da CPLP e ainda a Austrália, a Nova Zelândia e alguns países árabes. As propostas de emprego estão organizadas pelas principais áreas de actividade: Arquitectura, Comunicação, Design, Direito, Economia, Educação, Engenharia, Hotelaria, Marketing, Saúde e Turismo.Todas as profissões que exigem pessoal qualificado têm procura, mas “é sobretudo nas áreas da saúde e da engenharia que os pedidos são mais frequentes”, adianta. Candidatos a emprego encontram-se, como seria de esperar, “em todas as áreas”, mas as pofissões ligadas ao Ensino são das mais procuradas, conclui. O Emprego pelo Mundo inclui ainda uma zona de oportunidades em destaque e um espaço de notícias de economia e emprego, com novidades e actualidade sobre os mercados de trabalho a nível internacional; e informação prática com dicas para emigrar, para preparar ou ir a uma entrevista de emprego, ou para tirar o melhor partido do perfil profissional. Em entrevista ao VER, o fundador e administrador deste grupo que tem por principal ambição “contribuir para resolver a situação de desemprego em que as pessoas se encontram”, garante que, apesar de o projecto ainda não ter retorno financeiro, o maior retorno “é o prazer que este trabalho nos dá”, ao contribuir para aquela que foi a ideia original do projecto: “ajudar os jovens a aventurarem-se à conquista do mundo”, estendendo a mão a oportunidades, noutros países, que os ajudem a realizar “aquilo que o nosso país nega”.
Em que medida contribuiu o teu percurso em vários países e as experiências de vida e culturais que tiveste em cada um deles para te lançares neste projecto empreendedor? Mais tarde, já em Portugal, sempre que pude continuei a viajar pela Europa. Quando fui para a faculdade fiz um curso de Verão em Copenhaga sobre marketing cultural e fui também fazer um estágio à China, numa empresa que vendia equipamentos para empresas petrolíferas. Concluindo, depois de ter vivido em ambientes muito diferentes e de ter convivido com gente de todos os lugares do mundo, na escola ou no trabalho, verifico que todos os seres humanos são boas pessoas, fraternas, sociáveis e prestáveis, desde que sejam tratadas com respeito, desde que sejam tratadas como iguais, desde que demonstremos que somos dignos da sua estima. Só se pode falar de modo diferente por preconceito. Eu não tenho preconceitos. Os jovens são então os principais destinatários desta iniciativa. Com 24 anos, como encaras o desemprego jovem galopante em Portugal? E como português no estrangeiro, em que medida vês a emigração destes jovens como uma das alternativas mais viáveis neste momento? Defendo que devemos manter a nossa dignidade. E ser digno, para mim é mostrar que somos capazes de ser úteis em qualquer tarefa que desempenhemos. O trabalho dá dignidade e sentido à vida das pessoas. Quais são os grandes objectivos desta plataforma que agrega ofertas de emprego e informação específica sobre condições e requisitos de emprego em vários países dos cinco continentes?
Qual é a mais-valia da área dedicada a propostas de trabalho em Portugal, que agrega os principais sites de oferta de emprego no País? Nós divulgamos tudo o que nos parece interessante para as pessoas mas, como disse, a oferta é escassa. E em áreas de empregos destinados a pessoas não qualificadas profissionalmente essa escassez estende-se mesmo a países estrangeiros. As propostas de emprego estão organizadas pelas principais áreas de actividade. Quais são as que têm maior procura? E maior oferta? Para além de agregar sites de emprego em cada país, o Emprego pelo Mundo inclui uma zona de publicação de ofertas. Como dinamizam esta área, em articulação com empresas e organizações? O meu sonho é que apareçam mais empresários a oferecer emprego. Por exemplo, no passado Domingo, o jornal Globo, do Brasil, publicou o projecto numa revista especializada em emprego – espero agora que os nossos irmãos brasileiros proporcionem mais oportunidades aos nossos jovens, uma vez que a maioria deles adora o Brasil e é lá que gostariam de trabalhar, mesmo que na Europa, por vezes, tenham mais compensações em termos monetários. Os povos da lusofonia sabem também ser solidários nos momentos difíceis. Esta plataforma inclui ainda uma zona de oportunidades em destaque e um espaço de notícias de economia e emprego. Como é operacionalizado todo o trabalho de agregação de conteúdos – com que equipa e com que financiamento? Por enquanto ainda não avançámos com uma estratégia para a rentabilização do site, mas temos já muitas empresas que querem colocar nele publicidade. Vamos ter de reorganizar o modelo, de modo a incorporar todas essas solicitações de publicidade. Como somos estudantes, são os pais que nos ajudam e, apesar de o site ainda não ter retorno financeiro, o que talvez também fosse estimulante, o prazer que este trabalho nos dá é imenso. A maior ambição que temos no momento é contribuir para resolver a situação de desemprego em que as pessoas se encontram para poderem resolver os seus dramas pessoais. No Emprego pelo Mundo encontram-se ainda dicas para emigrar, preparar ou ir a uma entrevista de emprego, ou tirar o melhor partido do perfil profissional. O projecto assume-se como uma ferramenta útil para combater o desemprego entre os portugueses, seja no País ou no estrangeiro? Têm também uma área dedicada ao percurso de vários portugueses pelo mundo, que dão a sua perspectiva do actual estado socioeconómico de Portugal. Visam também contribuir com massa crítica para a discussão sobre a conjuntura económica mundial e as perspectivas de futuro para o País? Todos são especiais e, embora diferentes, todos são, sem dúvida, muito interessantes. Por um lado a tecnologia vai substituindo o trabalho humano, por outro aumenta-se a idade da reforma e o número de horas de trabalho semanal. Ora, não é preciso ser-se economista para ver que assim não pode ser. Modestamente, acho que as pessoas têm de trabalhar menos, reformar-se mais cedo, consumir menos e, ainda que possa ser controverso, talvez terem reformas de sobrevivência (de um modo digno). |
|||||||||
Jornalista