Martin Burt, empreendedor social, fundador da Fundación Paraguaya e co-criador da ferramenta “Poverty Stoplight”, cujo objectivo é ajudar as famílias a medir o seu próprio nível de pobreza para possibilitar o delinear de estratégias para aliviar ou resolver as suas principais necessidades descobriu, ao longo de todo este processo, que os seus próprios trabalhadores tinham condições de pobreza muito similares aos das suas “famílias-clientes”. E foi esta descoberta que o levou a “olhar para dentro” e a adaptar a metodologia do seu Poverty Stoplight ao mundo empresarial, a qual permite que “os empregadores tenham uma abordagem e um conhecimento mais próximo da vida dos seus empregados, optimizando a utilização dos recursos da empresa e aumentando o impacto dos programas de benefícios disponíveis”. Em entrevista, Martin Burt clarifica a sua implementação e utilização, explica por que motivo a mesma beneficia não só os trabalhadores como também os próprios empregadores e garante que esta ferramenta de inovação social e tecnológica – que chega agora a Portugal – melhora os indicadores de produtividade, o clima de trabalho, o volume de negócios, criando igualmente um importante sentimento de pertença. Ora leia…
POR HELENA OLIVEIRA

Há cerca de dois anos, e no seguimento do seu livro “Who Owns Poverty” e da su intervenção no Congresso Mundial da UNIAPAC, o VER escreveu um artigo sobre a visão peculiar que tem sobre a pobreza e como o Poverty Stoplight estava a ajudar as famílias a medir o seu próprio nível de pobreza e a encontrar estratégias para resolver as suas privações. Entretanto, um Stoplight semelhante está a ser utilizado pelo sector privado. Pode explicar a “história” por detrás desta abordagem inovadora?

Inicialmente, a Fundación Paraguaya visava eliminar a pobreza, ajudando as famílias a melhorar os seus rendimentos através de formação financeira e de oportunidades de micro financiamento. Assim, foram muitas as famílias com quem trabalhámos que conseguiram superar a pobreza de rendimentos, mas que continuaram a viver em condições precárias, em bairros inseguros, a cozinhar em condições insalubres, ou sem acesso a serviços básicos de saúde, água limpa, entre outros.

Desta forma percebemos que tínhamos de trabalhar não só na geração de rendimentos, mas também na abordagem da multidimensionalidade da pobreza, para que as próprias famílias pudessem ser agentes de soluções para os outros aspectos da sua pobreza multidimensional.

Após várias pesquisas académicas, mas sobretudo através de consultas e entrevistas com as próprias famílias, desenvolvemos um método participativo e simples de auto-avaliação que mede a pobreza multidimensional através de indicadores adaptados a cada contexto. Com base na auto-avaliação, cada família faz um plano para superar a pobreza e recebe orientação/formação para melhorar os seus indicadores de pobreza.

Todavia e durante este processo, fizemos uma outra descoberta: os nossos próprios trabalhadores da Fundación Paraguaya tinham as mesmas condições de pobreza multidimensional que os nossos clientes. A partir daí, decidimos também “olhar para dentro” e trabalhar para melhorar a qualidade de vida dos nossos empregados.

O Stoplight [inquérito composto por 50 indicadores e dividido em 6 dimensões – Rendimento e Emprego; Saúde e Meio Ambiente; Habitação e Infra-estruturas; Educação e Cultura; Organização e Participação; Interioridade e Motivação, nas quais as cores do semáforo representam três respostas possíveis para cada indicador] convida os participantes a reflectir sobre como certas situações da sua vida podem ser diferentes. Este processo é repetido para cada indicador, que é dividido em três níveis de pobreza para avaliar essas possíveis situações: se apontam para a pobreza extrema (vermelho), para a pobreza (amarelo) ou para a ausência de pobreza (verde). Cada nível tem uma imagem ou desenho, assim como textos simples para ajudar os participantes a identificar as suas condições de vida de uma forma compreensível e significativa.

Com base no inquérito que é aplicado através de uma plataforma tecnológica (computador ou outro dispositivo), o processo permite às organizações que o implementam uma gestão de dados em tempo real, um fácil acompanhamento do progresso das famílias, a par de informação geo-referenciada a nível familiar para a gestão do programa.

Desta forma, o Poverty Stoplight nasceu como uma resposta a uma necessidade global e clara de uma metodologia que colocasse as famílias como protagonistas do seu processo de medição e superação da pobreza. Este modelo já foi implementado em mais de 160 empresas no Paraguai, com a Rede Stoplight presente em 44 países de todos os continentes.

Como descreveria esta “ferramenta de produtividade e não de caridade” a um CEO ou a um líder/executivo de topo?

A qualidade de vida de um empregado tem um impacto directo na sua produtividade e no seu desempenho na empresa. Portanto, um empregado que vive bem é uma pessoa que contribuirá para o mecanismo que gera a rentabilidade da empresa.

Um empregado cujo bebé adoece, um trabalhador que vive demasiado longe e tem de se levantar muito cedo para chegar ao local de trabalho, um colega de trabalho que teme pela sua segurança no seu bairro: todas estas pessoas faltam frequentemente ao trabalho ou, mesmo que estejam presentes, estão mentalmente ausentes e são improdutivas. Além disso, está provado que se nos preocupamos com a sua qualidade de vida, a sua produtividade aumenta, e com isso, os lucros da empresa crescem também.

Todavia, o objectivo não é retirar os nossos empregados da pobreza: esse não é o papel da empresa. Trata-se de os inspirar a fazer algo para melhorar as suas vidas, em conjunto também com a oferta de soluções para as suas necessidades utilizando a força negocial, contactos e capacidades inovadoras da organização, sem gastar mais dinheiro. Cada pessoa tem o potencial de ser um agente da sua própria melhoria.

O Stoplight baseia-se no reconhecimento desse potencial, o qual pode ser bloqueado por razões históricas, sociais ou outras. Quando os empregados se apercebem do potencial que têm para melhorar as suas vidas, visualizam os seus desafios e transformam-nos num plano para ultrapassar a pobreza. O papel da empresa é utilizar a sua força negocial para gerar oportunidades, ligando-se a outros actores da sociedade em benefício dos seus empregados.

E é assim que o Poverty Stoplight permite que os empregadores tenham uma abordagem e um conhecimento mais próximo da vida dos seus empregados, optimizando a utilização dos recursos da empresa e aumentando o impacto dos programas de benefícios disponíveis.

Qual é o principal objectivo da adopção do Poverty Stoplight nas empresas?

O Stoplight é um poderoso instrumento para ligar os empregadores aos seus próprios empregados e transformar o conceito e os esforços de Responsabilidade Social Empresarial, a fim de melhorar a qualidade de vida das pessoas que trabalham para o crescimento da empresa.

Se os trabalhadores se sentirem confortáveis e valiosos na organização que os acolhe, o seu compromisso aumenta. Além disso, a empresa é escolhida e reconhecida como uma instituição onde os empregados se podem desenvolver e esta noção pode também contribuir, a longo prazo, para aumentar a produtividade.

E que tipo de benefícios – para a empresa e obviamente para os empregados – são os mais expectáveis?

As empresas que implementaram o Stoplight relataram que, graças à informação dada pelo inquérito, passaram a conhecer melhor os seus empregados, o que gerou empatia, solidariedade e uma relação mais próxima entre ambas as partes. Por seu turno, estes benefícios tiveram um impacto directo no que respeita a um compromisso maior por parte dos trabalhadores, num melhor ambiente de trabalho e no aumento do sentimento de pertença à empresa, o que os faz sentirem-se mais valorizados.

Outras empresas afirmaram que observaram um impacto positivo na rotatividade do pessoal e nas ausências injustificadas. O que é obviamente positivo pois afecta de alguma forma a eficiência e a produtividade.

O acesso a estes novos dados gera um valor importante para a empresa. Permite uma melhor gestão das suas acções e optimiza a utilização dos seus recursos.

Esta ferramenta inovadora já está a ser utilizada por um número significativo de empresas, não só no Paraguai, mas também noutros países. Que tipo de feedback está a receber deste compromisso e envolvimento por parte do sector privado?

As empresas têm-nos dito que consideram o Stoplight útil nas suas empresas, uma vez que podem redireccionar os seus recursos de uma forma melhor e concentrar-se em necessidades específicas, principalmente nas áreas dos Recursos Humanos e da Responsabilidade Social Empresarial.

O feedback geral é positivo, as empresas “implementadoras” sentem-se parte de uma comunidade de boas práticas onde partilham ideias e estratégias de soluções para os indicadores de pobreza relatados pelos seus empregados, utilizando-as para gerar mais oportunidades e mesmo novas relações comerciais.

Já os empreendedores também nos disseram que graças ao Stoplight, os empregados têm menos ausências injustificadas, maior desempenho, um melhor trabalho de equipa e, conjuntamente, níveis de solidariedade mais elevados entre os seus pares.

O Stoplight será lançado em breve em Portugal pela ACEGE e em conjunto com vários parceiros. Com base na sua própria experiência, quais são normalmente os principais obstáculos à sua adopção e implementação?

Nem sempre é fácil promover um método que implique uma mudança na mentalidade dos participantes, razão pela qual alguns podem pensar que o Stoplight é um programa de “assistência” em vez de um programa concebido para promover o seu próprio empowerment. Portanto, isto requer uma comunicação intencional, transparente e estratégica desde o início, razão pela qual foi concebido um plano de comunicação estratégica para os funcionários das empresas.

Da mesma forma, os resultados do Stoplight servem para gerar uma mudança profunda nas empresas que o implementam, as quais têm muitas vezes de confrontar as suas ideias ou percepções sobre quais são as necessidades dos participantes e compará-las com as relatadas pelos próprios. Em alguns casos, tal pode resultar na confirmação de ideias e percepções que temos sobre a pobreza mas, na maioria dos casos, os resultados desafiam a forma como a abordamos e levam-nos a reflectir e a reavaliar as nossas crenças.

Afirma que “este instrumento visa ir além da responsabilidade social das empresas como forma de ajudar todos os trabalhadores a eliminar a pobreza”. Não considera que tal afirmação poderá criar expectativas demasiado altas nos trabalhadores no que respeita à forma como a organização irá responder aos resultados do inquérito?

Esta abordagem transcende a Responsabilidade Social Empresarial porque visa medir as necessidades específicas de cada empregado e avaliar (após um determinado período de tempo) que progressos foram alcançados para resolver essas necessidades. Existe um inquérito que é realizado antes e outro que é feito depois, sendo assim possível medir o impacto.

Por outro lado, a concepção da comunicação estratégica é primordial, para que os trabalhadores compreendam que não é a empresa, mas eles próprios os responsáveis pelo sucesso que vão atingindo. Assim, está provado que este facto reduz significativamente o risco de gerar expectativas injustificadas. Acima de tudo, é muito importante ouvir as experiências de outras empresas em todo o mundo que já passaram pelo mesmo processo e implementaram diferentes formas de comunicar esta mensagem aos trabalhadores.

Se a comunicação for eficaz, é um programa que não só transforma a realidade do empregado, mas também a realidade da empresa, gerando solidariedade, ligando pessoas e humanizando as organizações, tudo isto, em última análise, projectado para clientes e fornecedores.

Que diferentes tipos de soluções ou medidas podem as empresas adoptar depois de receberem os resultados da auto-avaliação dos seus empregados sobre a sua própria pobreza?

Após o inquérito, cada empresa recebe um relatório descritivo dos dados recolhidos. Os dados são também ligados a um Tableau Dashboard para que as partes interessadas possam dinamizar as visualizações. Isto é muito importante pois permite tomar decisões oportunas com base nas necessidades reportadas.

As empresas também participam num workshop para dar prioridade aos indicadores e construir soluções. Este workshop define quais os indicadores a trabalhar durante o ano, combinando os seguintes critérios: indicadores vermelhos e amarelos mais elevados reportados, indicadores mais elevados priorizados pelos empregados, potenciais alianças com outros actores sociais para resolver indicadores, e “perícia empresarial”. Por exemplo, uma importante cadeia de farmácias no Paraguai trabalhou em vários indicadores, mas enfatizou os que estavam relacionados com as dimensões da saúde e do ambiente.

A Plataforma Stoplight Tech também fornece um Banco de Soluções com mais de 300 acções para “resolver” indicadores, as quais foram geradas pelas empresas que fazem parte da Rede Stoplight. É também importante mencionar que a plataforma permite geo-referenciar a localização dos agregados familiares, para que as empresas tenham acesso a um mapa que realce a qualidade de vida dos seus trabalhadores com base na sua residência. Esta funcionalidade é importante porque permite às empresas executar actividades específicas com base nesta informação e conectar-se com parceiros estratégicos nas suas áreas de influência.

Há alguma mensagem em particular que queira deixar às empresas/líderes portugueses que desejem participar neste projecto?

As empresas podem ser agentes multiplicadores de mudança na sociedade concentrando-se apenas nos seus próprios empregados. Adicionalmente, as empresas que se focam no bem-estar dos seus trabalhadores melhoram os indicadores de produtividade, o clima de trabalho, o volume de negócios, criando igualmente um importante sentimento de pertença.

O Poverty Stoplight facilita este trabalho e proporciona o acesso a uma ferramenta de inovação social e tecnológica que visa dirigir eficazmente recursos e esforços.

E o que vem a seguir para o Poverty Stoplight?

A nossa visão é a de um mundo sem pobreza onde todos queremos viver, pelo que cada acção desenvolvida no âmbito do plano de escala é uma resposta a esta aspiração. Estamos concentrados em continuar a melhorar e incorporar novas funcionalidades na plataforma tecnológica, reforçar a comunidade de boas práticas que reúne os “implementadores” do Stoplight de todo o mundo e, sobretudo, comunicar e gerar incentivos para que as próprias famílias superem a pobreza.

Estamos também no processo de adaptação do Stoplight a outras necessidades. Presentemente, dispomos de um Semáforo Educativo, que visa eliminar o abandono escolar, e de um Semáforo Ambiental, que promove hábitos pró-ambientais ao fornecer informação para activar uma acção crítica nas pessoas como meio de gerar mudanças positivas na realidade do indivíduo e do ambiente que o envolve.

Editora Executiva

1 COMENTÁRIO

  1. As empresas são um multiplicador de mudanças numa sociedade, face à sua forma de organização operacionaL, contudo a mudança iniciase na escola pela aprendizagem dos preceitos educacionais envolvendo as matºeria necessaria para o desenvolvimento da juventude, depois cabe ás empresa proprocionar os conheciemntos adqueridos ao bem estar do seu sistema operacional e do trabalhador. A situação do Paraguai sen uma indece de pobreza bastae acentuado com uma populçaõ à volta dos 7milhões de habitantes e é um dos componentes da MERCOSU, tendo forte influencia Brasileira; pretencendo à Mercosul, que proporcionou melhor indece de crescimento operacional. Perante isso as empresas mais produtivas são de origem agricultura e na tranaformação de produtos e o indece de formação é baixo. Assim as iniciativas expostas pelos empresarios deram algum resultado proprocionando um crescimento económico e um melhoria na população nos ultimos anos. Todavia os inqueritos efectivados tiveram um abrangente reduzido, mantendo ainda uma plantaforma de procura de cooperação entre as empresas e os seus trabalhadores, a fim de que o seu desenvolvimento se possa manter no indece de crescimento para quilibrar os paises da sua perifiria, ou seja mais nas possibiliaddes tecnológicas, onde existe um atraso consideravel. Em Portugal já foi aplicado uma situação similar sobre um inquerito aos trabalhadores e no qual posteriormente era dado a conhecer ás empresas a posição dos seus trabalhadores perante a mesma, isto estava enquadrado na formação de horas anuais e segurança desses trabalhadores. Por isso no contexto analitico a esta situação de cooperação entre os grupos de gestores e trabalhadores, não tem tido o sucesso que se esperava; até porque a carencia de formação dos trabalhadores Portugueses ainda se encontra num nivel condiconado face ás necessidades operacionais no desenvolvimento das empresas havendo carencias em várias especialidades económicas. Com uma pobreza de cerca 19% e os ordenados ainda abaixo da média europeia, o impacto disto numa sociedade de 6,4% desempregados e com o um nivel de 80% das empresas com menos de 10 trabalhadores de facto um olhar para uma ferramente que procura uma estabilidade social e estruturação das empresas de forma que possam procederem ao aumento da sua capacidade produtora de forma que a estabiliadde social se estruture numa organização de combate ao desemprego e por conseguinte à pobreza em que as partes são compensadas.

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