Empresário enérgico, criativo e com uma profunda Fé cristã, fez do Senhor o seu Sócio, doou-Lhe a sua riqueza e dedicou o fim da vida a espalhar a Palavra pela comunidade empresarial
POR JOÃO RODRIGUES PENA
Robert Gilmour (RG) LeTourneau (1888 – 1969) é talvez o inventor, empresário e empreendedor cristão mais inspirador de sempre. Tornou-se o maior industrial de máquinas de terraplanagem da sua época e destacou-se, acima disso, pela sua contribuição para a difusão do Evangelho através da gestão dos seus negócios e de uma poderosa ação filantrópica, colocando-se entre os mais destacados homens de negócios cristãos de todos os tempos.
RG nasce em Vermont a Novembro de 1888 no seio duma família de agricultores. Quando a família se muda para Portland, frequenta a escola até ao ensino médio e aos 14 anos começa a trabalhar numa fundição de ferro. Passa por inúmeros empregos, sempre ligados a máquinas que cedo se revelam a sua paixão e o levam a concluir um curso por correspondência de Engenharia de Máquinas tirado a ferros no meio da sua frenética atividade profissional. Combate na Marinha durante a I Guerra Mundial e regresssa aos 28 anos para assumir sociedade numa oficina de venda e reparação de automóveis. Mas o seu sócio torna-se alcoólico, o negócio entra em falência e RG abandona-o ficando com uma dívida pessoal de US$ 5.000.
Desempregado e mais do que falido, compra um trator a crédito e dedica-se a trabalhos ocasionais de nivelamento de terras para fazendeiros e empreiteiros locais. RG alega que essa experiência terá sido o trabalho mais satisfatório que alguma vez teria tido. Passo a passo e já saldada a dívida, expande-se para contratos de nivelamento de terras cada vez maiores, esforçando-se para inventar sempre mais e melhores equipamentos para acelerar o trabalho, garantir o máximo de encomendas e conseguir melhores margens.
Mas RG não estava bem com a sua consciência: como bom cristão sentia-se demasiado obcecado com os negócios e que tinha de fazer mais por Deus, honrando o profundo legado dos seus Pais e das suas irmãs missionárias. RG procura o seu pastor, o reverendo Devol, para obter conselhos. Está convencido que qualquer pessoa que estivesse totalmente comprometida com Cristo tinha de ser sacerdote ou missionário e estava disposto a abandonar os negócios e seguir esse caminho. Depois de o ouvir em confissão, o pastor contraria-o com uma simples frase que vai guiar RG para o resto de sua vida: “Deus também precisa de homens de negócios“. É a revelação que o leva a ver que o seu negócio era a melhor materialização da sua Fé … desde que Deus fosse seu Parceiro, seu Sócio na empresa.
Mas a parceria não foi um caminho de rosas. Em 1927, início da Grande Depressão, um trabalho de construção civil corre mal e RG fica a braços com US$ 100.000 em dívidas. No momento não entende como o seu Parceiro o tinha deixado endividado (!) e incerto sobre como alimentar a família. Entretanto, o seu fiador faz pressão para reaver cada centavo devido, obrigando RG a trabalhar aos domingos ou penhoravam o negócio e a sua casa. A dívida acaba por vencer e o fiador visita à empresa determinado a arrestar os bens de RG. Mas fica impressionado com o ritmo de trabalho, não cobra a dívida e permite que RG continue a trabalhar.
A dada altura, RG apercebe-se que não tinha cumprido a sua promessa anual de missões e decide compensar o Senhor prometendo uma doação de US$ 5.000 à sua igreja. O fiador quando soube não quis acreditar – RG estava tão atrasado a amortizar a dívida que fazer doações estava fora de questão. Mas o fiador não sabia quem era o Sócio de RG – quase por milagre o negócio consegue manter-se à tona e o compromisso das missões é pago na íntegra. E é nessa altura que se dá a viragem do negócio de RG LeTourneau.
Embora ainda se considerasse acima de tudo um empreiteiro, RG foi desenvolvendo um segundo negócio vendendo os equipamentos de terraplanagem inventados por si. O advogado de RG sugere que a solução dos problemas financeiros passava por abandonar a incerta atividade de construção e dedicar-se em exclusivo ao fabrico de equipamentos. A receita funcionou – entre 1932 e 1938, não obstante a Grande Depressão, os lucros da empresa crescem de $52 mil USD em 1932 para $1.412 mil USD em 1938.
Em 1935, graças à rentabilidade da nova empresa, RG e a esposa Evelyn formalizam uma cisão de capital com 10% para o casal …. e 90% para o Senhor, nascendo a Fundação LeTourneau para gerir a administração das doações. Comenta Le Tourneau. “Não é quanto do meu dinheiro eu dou a Deus, mas quanto do dinheiro de Deus eu guardo para mim”.. Em 1959, depois de doar US$ 10 milhões para obras religiosas e educacionais, a Fundação LeTourneau ainda tinha um património de cerca de US$ 40 milhões.
Aos 77 anos, RG entrega a liderança do negócio ao seu filho Richard, mas continua a trabalhar todos os dias na prancheta do seu modesto escritório, até que em 1972 a LeTourneau Technologies é vendida, estando hoje integrada no Grupo Komatsu.
Em 1959, RG LeTourneau tinha superado um medo vitalício de falar em público na inauguração duma nova fábrica. Exortou os seus companheiros cristãos na sala a fazerem mais pelo Senhor através dos seus negócios. O sucesso deste discurso leva-o na direção de um compromisso vitalício para falar sobre os cristãos nos negócios por todo o País até ao fim da sua vida, dez anos depois.
RG LeTourneau foi um homem de Deus com um percurso empresarial notável onde vale destacar três princípios do seu legado para ilustrar o título da nossa coluna, o impacto da fé cristã na criação e gestão empresarial:
- avançar em empreendimentos arriscados com energia e inovação pode trazer falhanços mas no fim a profunda Fé no Senhor vai garantir o sucesso
- a Fé dum empresário pode levá-lo a questionar a sua vida de negócios mas não o deve fazer porque “Deus também precisa de homens de negócios”
- “Não é quanto do meu dinheiro eu dou a Deus, mas quanto do dinheiro de Deus eu guardo para mim”
R.G. Le Tourneau foi um personagem invulgar pela dimensão da sua capacidade empreendedora, da sua energia, da sua criatividade, do seu sentido de humor e da sua bondade. Mas a história da sua vida mostra que foi sempre a Deus buscar as suas forças, a sua persistência, a sua fé no sucesso empresarial. E procurou devolver sempre a Deus o máximo que pôde – fosse na sua riqueza ou fosse, já no fim da vida, usando o seu exemplo para espalhar a palavra da Fé junto de empresários de costa a costa nos EUA.
Imagem: © LeTourneau Ingenuity Center
Engenheiro Civil com MBA por Wharton/NOVA e pós-graduação pela Harvard Business School. Depois de uma longa carreira em Consultoria de Estratégia concluida com o lugar de Presidente da AT Kearney Iberia, passa a focar-se no Desenvolvimento de Empresas Familiares, área onde tem sido cronista regular em vários jornais, conferencista e autor do livro “44250 passo até ao Cume”. É Cavaleiro da Ordem de Malta CGM e associado da CCIP e da ACEGE