Desde Lisboa até Nova Iorque, Elizabeth Shipeio tem construído um percurso marcado pela dedicação, pela inovação e por um forte sentido de propósito. Economista de formação e com um mestrado em Gestão, é actualmente Senior Product Marketing Manager na Microsoft, onde encara o trabalho não apenas como uma carreira, mas como uma missão. Apaixonada por temas como a colaboração, diversidade e tecnologia, acredita que o verdadeiro sucesso é alcançado em equipa. Nesta entrevista, Elizabeth partilha como a fé, a empatia e um ambiente de trabalho inspirador fazem toda a diferença – e como se tornou, ela própria, uma “construtora de esperança” no mundo corporativo
POR HELENA OLIVEIRA

Nascida em Lisboa, Elizabeth Shipeio sonhava, em criança, seguir carreira na medicina. No entanto, a vida levou-a por outro caminho: licenciou-se em Economia e concluiu um mestrado em Gestão na prestigiada Nova SBE. Actualmente, vive em Nova Iorque e ocupa o cargo de Senior Product Marketing Manager na Microsoft, onde desenvolve estratégias de marketing para os sectores globais da educação, governo e defesa.

Para além do seu trabalho na gigante tecnológica, Elizabeth é a voz por trás do podcast Faith in Action, um espaço de reflexão sobre a integração da fé no dia-a-dia. Com um forte interesse por temas como saúde mental, diversidade e tecnologia, destaca-se como uma defensora da colaboração no ambiente profissional, acreditando que o verdadeiro sucesso só se alcança em equipa.

Fora do universo corporativo, a arte e a música são paixões que alimentam o seu quotidiano, e um dos seus sonhos é, um dia, gerir uma banda. No centro da sua vida coexistem três pilares fundamentais: a família, a fé e os amigos – fontes de inspiração que a orientam tanto no percurso pessoal como profissional.

Elizabeth Shipeio será, enquanto “Next”, a representante da geração mais jovem dos associados da ACEGE, no seu Congresso Nacional, a ter lugar nos próximos dias 28 e 29 de Março.

Em conversa com o VER, fala da sua visão sobre o mundo laboral, da importância que a fé tem em todas as dimensões da sua vida e de como é importante estar rodeada de “fontes de inspiração”, que a ajudam a ser uma verdadeira “construtora de esperança”.  

O que significa para si ser uma “construtora de esperança” no ambiente de trabalho?

Ser uma construtora de esperança no ambiente de trabalho significa criar um ambiente onde os colegas se sintam apoiados e inspirados. Isto envolve estar atenta às necessidades dos outros, oferecer uma visão positiva e encorajadora, e ser uma fonte de motivação. Claro que nem sempre estamos tão atentos e activos para esta missão, mas é essencial relembrar que temos este papel, que é extremamente impactante e necessário na vida daqueles com quem interagimos no dia-a-dia. É importante existir esse ambiente e essa missão partilhada porque cria modelos de exemplo e partilha desta visão. Tenho a sorte de ter muitas fontes de inspiração no meu ambiente de trabalho que são verdadeiras fontes de esperança.

Quais os principais objetivos do podcast “Faith in Action” e que balanço faz das conversas até agora?

O principal objetivo do podcast é mostrar que a fé pode ser vivida na prática e integrada em todos os aspectos da nossa vida, se assim o desejarmos. Estas conversas têm servido como um ponto de reflexão, permitindo que as pessoas ouçam diferentes perspectivas sobre como a fé se manifesta no dia-a-dia, tanto de jovens como de pessoas mais experientes no trabalho e nas relações pessoais. O podcast foi criado com esse propósito: ser uma fonte de inspiração, um ponto de referência e um espaço de reflexão como sobre como podemos aplicar a nossa fé no dia-a-dia e desenvolvê-la de forma mais profunda. O balanço das conversas tem sido incrível. Para mim, é uma honra estar em contacto directo com pessoas tão inspiradoras. Temos recebido feedback muito positivo dos nossos ouvintes, que dizem que os episódios os têm inspirado a reflectir sobre as suas próprias jornadas de fé e a encontrar maneiras de a aplicar no dia-a-dia. Isso ajuda-me a perceber que somos incrivelmente únicos e que cada jornada é autêntica e ao encontro de Deus.

De que forma a sua fé influencia a visão que tem do trabalho?

Para mim, a fé atribui o verdadeiro valor ao trabalho, vendo-o como uma missão e não como uma fonte de ego. No trabalho, tenho a responsabilidade de usar os meus dons e competências ao serviço da empresa e dos outros,  o que me ajuda a perceber que o meu trabalho pode ser um lugar de santificação, se aceitar a proposta de Deus. Estando sintonizada e atenta, o trabalho torna-se um canal para ajudar a minha empresa, os meus colegas e os clientes da melhor forma possível.

A fé é uma lembrança constante de que Deus está comigo, ajudando-me a identificar o que é realmente importante e como posso ser uma melhor profissional e pessoa, mesmo com todas as tarefas do dia-a-dia, a pressão e o ritmo da indústria, dando-me uma orientação clara de como devo comportar-me e agir.

Num mundo profissional competitivo, de que forma é que a fé a ajuda a manter o equilíbrio e o foco?

A competição sempre existiu, mesmo quando eu era aluna e, no campo profissional, essa competição continua, sendo até promovida. A fé dá-me a perspectiva de que cada pessoa tem o seu próprio caminho e função, que cada ser humano é único, criado por Deus com características próprias. Portanto, vamos sempre servir de maneiras diferentes. Tento ao máximo desenvolver competências para ser útil no mercado e ser um agente de mudança e produtividade na minha empresa. No entanto, acredito mesmo no cliché que a competição deve ser connosco próprios, não com os outros, ou seja, sentirmo-nos a crescer e a desenvolver.

Acredito na comparação com os outros se servir como fonte de de inspiração e de aprendizagem, especialmente se admiramos a forma como alguém age, vive ou trabalha. Isso pode motivar-nos a desenvolver-nos também, mas dentro dos nossos próprios limites, realidade e contexto. Acho ilusório tentar igualar ou ser outra pessoa, A competição pode desviar-nos do nosso caminho essencial. Em vez disso, devemos ajudarmo-nos uns aos outros a desenvolver os nossos caminhos de forma mais acelerada e produtiva, respeitando a jornada única de cada um.

A fé ajuda-me a lembrar que o meu valor não depende de comparações ou de títulos de trabalho no LinkedIn.

O que a motiva a continuar a crescer profissionalmente, além do salário e da estabilidade financeira?

Crescer apenas por crescer, em termos de posição ou título de trabalho, não é o que me motiva. Embora a estabilidade financeira seja importante, há três factores principais que me motivam. Primeiro, acreditar na empresa onde estou, nos seus valores, na forma ética de como faz negócios e na sua visão inovadora e responsável. Estar entusiasmada com os produtos e acreditar que eles realmente podem fazer diferença no mercado. Segundo, estar num trabalho onde posso aprender, e desenvolver-me como pessoa e profissional. Sentir que as competências que adquiri este ano são diferentes das que adquiri há dois anos e ver-me nesse processo de desenvolvimento. Terceiro, trabalhar num ambiente saudável e com pessoas que admiro e com quem gosto de trabalhar. Estes factores combinados são o que realmente me motivam a continuar a crescer profissionalmente.

O que espera de um líder que seja um verdadeiro “construtor de esperança”?

Para mim, alguém que seja um lider construtor de esperança é capaz de apoiar, capacitar e guiar a sua equipa com empatia e transparência. Um líder que vê os membros da sua equipa como pessoas, não apenas como profissionais, e reconhece que cada pessoa tem uma vida além do trabalho, com desafios e objetivos próprios. Admiro muito um lider que tem como valores a transparência e a honestidade, porque gera confiança e traz clareza nos passos a seguir. Um líder que celebra as conquistas da equipa e está presente nos momentos difíceis com o mesmo grau de compromisso será muito mais respeitado. Este tipo de líder inspira confiança e esperança, e consegue trazer uma visão positiva para o futuro, mesmo que este seja desafiante.

Se pudesse mudar algo no mundo corporativo para torná-lo mais humano e inspirador, o que seria?

Muitas coisas, mas começaria por promover a colaboração saudável e a transparência, que são essenciais para criar um ambiente onde as pessoas são desafiadas e estimuladas a serem humanas e competentes. Quando existe um ambiente que celebra o respeito, a competência, a exigência, isso serve de exemplo para que outras pessoas também queiram seguir esses valores. É importante formar um ambiente onde as pessoas se sintam cada vez mais capacitadas para serem humanas e éticas.

Em relação às lideranças, é vital que os líderes percebam a responsabilidade que têm em serem modelos de referência para as suas equipas e sejam premiados por terem uma atitude de verdadeiro líder, que está ao serviço da sua equipa e é contrutor de esperança. O mundo corporativo tem como objetivo servir os seus clientes e gerar receitas a partir desse serviço, mas deve fazê-lo de forma clara, ética e responsável.

Cada vez mais, o mundo corporativo precisa de reconhecer seu papel, não só com as equipas que lida directamente, mas também como exemplo e modelo para o mundo. Muitas empresas adoptam políticas de maior ética e responsabilidade, e isso serve como modelo para que outras empresas sigam o mesmo caminho. Isso contribui para um ecossistema económico mais forte e mais íntegro.

NOTA: A ACEGE irá realizar o seu Congresso Nacional nos dias 28 e 29 de Março sob o tema “Construtores da Esperança”. Caso esteja interessado em participar, consulte o programa aqui.

Editora Executiva

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