Foi curioso o modo como o grupo trocou ideias que tinham sempre por base o impacto que o trabalho tem, ou pode ter, na vida do outro, e como a falta dele nos faz estar associados a projetos sociais e/ou de voluntariado. No fundo, foi comum pensarmos que ainda dividimos o tempo entre o que é trabalho, e nos sustenta, e o que realmente nos dá prazer fazer
POR ISABEL MARIZ
No verão de 2023, em Lisboa, os jovens viveram um intenso momento com o Papa Francisco, que deixou uma palavra também aos líderes mundiais, questionando se a mensagem clara dos jovens terá sido ouvida: «Esperamos que o mundo inteiro ouça esta Jornada Mundial da Juventude e veja a beleza dos jovens a avançar».
Meses depois do maior evento católico do mundo, com mais de 1,5 milhões de pessoas, desejamos que o entusiasmo, a alegria e a beleza transbordem e ofereçam à Igreja do nosso tempo o alento que há muito lhe falta. Criamos espaço para a partilha de pensamentos que aprofundámos no decorrer destes dias ao escutar as importantes mensagens que o Papa Francisco nos deixou.
Como as JMJ não são apenas um ponto de partida, passamos da teoria à prática: para que não fiquem só as palavras e para que se tornem reais e presentes no dia-a-dia de todos os profissionais católicos. Por isto, e inspirados nas principais mensagens do Papa Francisco durante as JMJ, organizámos um dia com o propósito de, em conjunto, procurar soluções transformadoras.
Assim como as JMJ inspiraram a juventude em Lisboa, o Next Summit foi um espaço colaborativo e inovador para passarmos à ação e, juntos, desbravarmos o caminho da esperança e do renascimento nesta nossa jornada empresarial em Portugal. Num dos painéis propostos, com base no lema «Ser empreendedor de sonhos», e partindo do discurso do Papa Francisco, onde se ouviu «Substituí os medos pelos sonhos, não sejais administradores de medos, mas empreendedores de sonhos!», discutiu-se de que forma podíamos contribuir para uma sociedade onde se alimentam os sonhos e onde cada um coloca os talentos a render.
Ainda com ecos do testemunho do António, partimos pedra a partir da premissa «Se o dinheiro não existisse, o que escolherias tu ser?». Esta pergunta arrojada tinha como objetivo desmistificar o medo que ainda sentimos em assumir que não estamos 100% felizes no que fazemos, que não nos sentimos realizados e que talvez apenas seguimos determinado caminho por falta de coragem de sair da zona de conforto. E, ainda, porque vivemos num mundo que nos chama constantemente a responder a responsabilidades financeiras (e bem), mas que não fomenta um lugar onde seguimos o nosso sonho e vocação.
Foi curioso o modo como o grupo trocou ideias que tinham sempre por base o impacto que o trabalho tem, ou pode ter, na vida do outro, e como a falta dele nos faz estar associados a projetos sociais e/ou de voluntariado. No fundo, foi comum pensarmos que ainda dividimos o tempo entre o que é trabalho, e nos sustenta, e o que realmente nos dá prazer fazer.
Mas passando realmente à prática, fica o principal sonho de apostar num sistema educativo menos standard, com capacidade para ir ao encontro de cada vocação, estimulando assim várias áreas pedagógicas, desde o desporto aos clubes de leitura ou pintura, etc. Uma escola, que numa primeira fase, conta com um ensino mais diversificado e com tempos letivos próprios para que cada aluno se descubra. Pensar numa forma de ter políticas que favoreçam o ensino articulado.
E, para gerações que já trabalham, e que mesmo inseridas num mundo laboral estão sempre a tempo de mudar o rumo, privilegiar o work-life balance, e assim promover e usufruir das atividades fora do trabalho que tanto nos preenchem. Certamente compreendemos que cada um de nós será mais rentável no seu trabalho quanto mais realizado for pessoalmente.
O que senti nesta oficina foi ainda uma alegria imensa por parte de todos os participantes em ser voz ativa na sociedade. Um empenho em querer fazer e pensar diferente, com toda a dedicação que isso acarreta. Senti, tal como acredito que o São João Paulo II sentiu, «Santos que estejam no mundo; e saibam saborear as coisas puras e boas do mundo, mas que não sejam mundanos… santos de calças de ganga e sapatilhas».
Isabel Mariz
Natural do Porto, tem 30 anos. Bióloga de formação, mas atualmente trabalha na área de gestão de saúde. «O que me move todos os dias? Saber que com pequenas coisas posso melhorar o dia de alguém. Há beleza na alegria dos outros»