Com base nos insights de filósofos, psicólogos e “mentores espirituais” antigos e contemporâneos, Oliver Burkeman oferece um guia divertido, bem-humorado, prático e, em última análise, profundo, sobre o tempo e a gestão do tempo. Rejeitando a fútil fixação moderna do “fazer tudo”, o livro 4 mil semanas apresenta aos leitores ferramentas para construir uma vida mais significativa, abraçando a finitude, mostrando como muitas das maneiras inúteis através das quais pensamos sobre o tempo não são verdades inevitáveis e imutáveis, mas apenas escolhas que fazemos como indivíduos e como sociedade – e que é possível fazer as coisas de forma diferente
POR HELENA OLIVEIRA
“Tentar tornar-se mais eficiente apenas nos deixa mais stressados, e tentar limpar o convés da água que transborda simplesmente faz com que ele se encha novamente mais rápido”, escreve Oliver Burkeman, que afirma igualmente que “ninguém na história da humanidade jamais alcançou o ‘equilíbrio entre vida pessoal e profissional’, seja lá o que isso for”.
“Four Thousand Weeks: Time Management for Mortals” [em português, “4 mil semanas: Gestão do Tempo para Mortais”]é uma visão revigorante da luta perene de administrar o tempo num mundo que parece acelerar a cada dia que passa. O próprio título, fazendo referência ao número médio de semanas que dura uma vida, dá o tom para um livro que investiga profundamente a condição humana e a nossa relação com o tempo.
Burkeman, um jornalista experiente e autor (re)conhecido pelas suas explorações perspicazes sobre produtividade e felicidade, traz para a mesa, ou para este livro, uma mistura de inteligência, sabedoria e conselhos práticos. Em vez de oferecer soluções rápidas para problemas intemporais ou esquemas de horários rígidos para quem acredita que a mera organização faz milagres, o autor adopta uma abordagem mais filosófica, convidando os leitores a questionar a própria natureza do tempo e a obsessão cultural pela produtividade que todos, de uma forma ou de outra, sentimos.
Como escreve, “a esperança média de vida humana é absurda e insultuosamente breve. Supondo que você viva até os oitenta anos, você terá pouco mais de quatro mil semanas de vida”. E ninguém precisa de dizer que não há tempo suficiente, pois no fundo todos temos essa percepção. “Vivemos obcecados com as nossas listas de tarefas cada vez maiores, com as nossas caixas de correio sobrelotadas, com o equilíbrio entre vida pessoal e profissional e numa batalha incessante contra a distracção; e somos inundados com conselhos sobre como nos tornarmos mais produtivos e eficientes, a par de ‘truques’ para optimizar os nossos dias. Mas essas técnicas muitas vezes acabam por piorar as coisas. A sensação de urgência e ansiedade torna-se mais intensa e ainda assim as partes mais significativas da vida parecem estar logo além do horizonte. Adicionalmente, raramente estabelecemos a ligação entre as nossas lutas diárias com o tempo e o principal problema da sua melhor gestão: o desafio de saber como melhor utilizar melhor as nossas quatro mil semanas”.
Com base nos insights de filósofos, psicólogos e “mentores espirituais” antigos e contemporâneos, Oliver Burkeman oferece um guia divertido, bem-humorado, prático e, em última análise, profundo, sobre o tempo e a gestão do tempo. Rejeitando a fútil fixação moderna do “fazer tudo”, 4 mil semanas apresenta aos leitores ferramentas para construir uma vida mais significativa, abraçando a finitude, mostrando como muitas das maneiras inúteis através das quais pensamos sobre o tempo não são verdades inevitáveis e imutáveis, mas apenas escolhas que fazemos como indivíduos e como sociedade – e que é possível fazer as coisas de forma diferente.
Um problema óbvio que muitas vezes sentimos com o tempo é que simplesmente ele nunca é suficiente. Desde chefes exigentes a vidas sociais ocupadas, passando pela criação de filhos pequenos até a um segundo emprego para fazer face às despesas, quase todas as pessoas estão sujeitas a exigências aparentemente intermináveis de tempo. Se ao menos conseguíssemos ser mais eficientes na sua utilização, poderíamos ser mais felizes – as nossas listas de tarefas seriam realmente concluídas, o nosso equilíbrio entre vida pessoal e profissional seria resolvido e imaginamos que seríamos mais “ricos” e saudáveis. Certo?
Errado, argumenta Burkeman. “Nunca chegará o dia em que finalmente teremos tudo sob controle”, escreve logo no início do livro. Em vez disso, a sua proposta é abraçar a libertação de limites. “Aceite que o tempo é finito, que só pode fazer coisas até um certo ponto e que só tem uma vida. Em breve verá a luz e começará a afastar-se de armadilhas perigosas, como a esperança de conseguir tudo o que acha que é seu dever fazer. Isso é um beco sem saída e percebê-lo é libertador”, escreve também.
Tal como já enunciado, e sendo um jornalista que cobre temas como a produtividade, a psicologia popular e mortalidade, Burkeman escreveu, durante anos, uma coluna para o The Guardian intitulada “Esta coluna mudará sua vida”. É ainda autor de dois livros sobre como imaginamos a felicidade HELP!: How to Become Slightly Happier and Get a Bit More Done e The Antidote: Happiness for People Who Can’t Stand Positive Thinking, mantendo uma escrita profusa a partir do seu site e de uma newsletter bimensal. Como resultado, esta obra serve como um guia de alguém experiente quando se trata de terreno intelectualmente complicado.
Um dos pontos fortes do livro reside na disposição de Burkeman em desafiar a sabedoria convencional. O autor argumenta que a busca incessante pela produtividade muitas vezes leva ao esgotamento e à insatisfação, e que a nossa obsessão em extrair até a última gota a produtividade do nosso tempo limitado na Terra pode, na verdade, prejudicar uma vida significativa e gratificante.
Um dos outros temas centrais do livro é o conceito de “essencialismo”. Burkeman argumenta que num mundo repleto de opções e distrações, a nossa capacidade de discernir o que realmente importa é mais crucial do que nunca. Ao nos concentrarmos no essencial e abandonarmos o não essencial, sugere, podemos recuperar nosso tempo e energia para actividades que tragam satisfação genuína.
Burkeman também explora as barreiras psicológicas que muitas vezes nos impedem de aproveitar ao máximo o nosso tempo. Do medo de perder algo importante ao fascínio da multitarefa, disseca os hábitos e crenças que sabotam os nossos esforços para viver de forma mais intencional. Através de análises criteriosas e exercícios práticos, oferece aos leitores estratégias para superar esses obstáculos e cultivar uma relação mais consciente com o tempo.
Um outro dos argumentos mais convincentes do livro é a importância do lazer e do tempo não estruturado. Numa cultura que glorifica a ocupação e a produtividade, Burkeman lembra-nos o valor de abrandar e saborear os prazeres simples da vida. Seja passando tempo com os entes queridos, realizando empreendimentos criativos ou simplesmente permitindo-nos sonhar acordados, o autor argumenta que o lazer não é um luxo, mas uma necessidade humana fundamental.
Ao longo do livro, Burkeman apimenta sua narrativa com anedotas envolventes e exemplos da vida real, tornando ideias complexas em argumentos acessíveis e relacionáveis. Seja discutindo as armadilhas da multitarefa, o mito do equilíbrio entre vida pessoal e profissional ou o paradoxo da escolha, o autor mantém sempre um tom coloquial que mantém os leitores envolvidos do início ao fim. Definitivamente, a ler!
10 ideias marcantes do livro
- “Na nossa busca pela produtividade, não esqueçamos a importância da presença. E por vezes, não fazer nada é a coisa mais produtiva que podemos fazer.”
- “A busca pelo equilíbrio é um esforço fútil num mundo em fluxo constante. Em vez disso, lutemos pela harmonia, abraçando o fluxo e refluxo da vida com graça e resiliência.”
- “A verdadeira medida da riqueza não se encontra nos bens materiais, mas na riqueza das nossas experiências e conexões. Invista com sabedoria.”
- “O tempo não é um inimigo a ser conquistado, mas um companheiro a ser abraçado. Honremos a sua passagem vivendo com intenção e propósito.”
- “No silêncio da solidão, descobrimos as profundezas do nosso ser. Abrace a quietude, pois é lá que encontramos a verdadeira clareza e sabedoria.”
- “Viver plenamente é abraçar a nossa mortalidade, dançar com a impermanência e encontrar a beleza nos momentos fugazes da vida.”
- “A ocupação não é uma medalha de honra, mas um fardo a ser abandonado. Deixemos de lado a necessidade de provar constantemente o nosso valor e, em vez disso, encontremos valor em simplesmente ser.”
- “A busca pela perfeição é uma missão fútil, pois é nas nossas falhas e imperfeições que encontramos a nossa humanidade. Abrace as suas peculiaridades, pois são elas que o tornam único.”
- “Num mundo de distrações, o acto mais revolucionário é prestar atenção. Cultive a presença, pois ela é a porta de entrada para a verdadeira conexão e compreensão.”
- “A vida não é uma corrida até a linha de chegada, mas uma jornada a ser saboreada. Desacelere, respire profundamente e saboreie a doçura de cada momento.”
Nota: Duas vezes por mês, o autor publica uma newsletter chamada The Imperfectionist sobre produtividade, mortalidade, o poder dos limites e a construção de uma vida com significado em tempos de perplexidade. Poderá subscrevê-la aqui.
Imagem: ©Daniele Franchi/Unsplash.com
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