A UNIAPAC – que congrega líderes empresariais católicos de todo o mundo – realizou o seu mais recente congresso mundial em Manila, nas Filipinas, juntando cerca de 700 empresários e empreendedores provenientes de 40 países. Entre várias temáticas discutidas, foi sublinhado que a luta contra as desigualdades em prol do bem comum é um desafio obrigatório e que é necessário privilegiar a construção de pontes através de modelos empresariais baseados na espiritualidade
POR HELENA OLIVEIRA
O Congresso Mundial da UNIAPAC é um evento internacional que se realiza de dois em dois anos, reunindo líderes empresaria católicos de todo o mundo, unidos num objectivo comum de promoção global da actividade empresarial como uma vocação nobre.
Pela primeira vez, o evento realizou-se na Ásia, mais concretamente em Manila, nas Filipinas, de 23 a 26 de Outubro último, tendo como tema principal “Os Novos Paradoxos para a Sustentabilidade dos Negócios”. Em 2022, e sob o mote “Coragem para Mudar: a criação de uma nova economia para o bem comum”, o congresso teve lugar em Roma, onde gestores e empresários foram recebidos numa audiência especial privada com o Papa Francisco.
Este ano, com a presença de cerca de 700 líderes empresariais provenientes de 40 países, e tendo em conta as celebrações do Ano Santo 2025, o Jubileu convocado pelo Papa Francisco, a UNIAPAC recordou o desafio colocado em 2022 pelo Santo Padre e pelo Cardeal Czerny, os quais exortaram à procura de inspiração que leva à acção, “a ser criativos e a agir com coragem, como Deus, nosso Pai e Santo Padroeiro, para viver a responsabilidade empresarial como uma nobre vocação” e questionando os presentes se, perante o dever de as empresas fazerem do mundo um lugar melhor, estes eram, genuinamente, “Líderes da Laudato Si’ e da Fratelli Tutti”.
Nas resoluções apresentadas no final do congresso, a UNIAPAC relembrou que os seus pilares para a acção assentam em inspirar, representar, encontrar e conversar com as pessoas, numa união entusiástica e numa partilha de abertura de espírito. Como se pode ler no documento final apresentado, o facto de o Congresso se realizar na Ásia, permitiu uma mudança de perspectiva e a obtenção de novos conhecimentos, a partir de um maior enraizamento na sua cultura e pessoas, com “a conversão, a criatividade e os pobres a estarem, de alguma forma, presentes”, a par dos conceitos de harmonia, equilíbrio e cuidado.
Relembrando que a luta contra as desigualdades em prol do bem comum é um desafio obrigatório, a UNIAPAC defendeu igualmente que esta luta exige dignidade, virtude e exploração de caminhos, privilegiando a construção de pontes e a mudança de espaços através de modelos empresariais baseados na espiritualidade. “Temos de dar o exemplo, caso contrário os outros não nos seguirão. As desigualdades conduzem efectivamente a uma falta de participação e a um potencial abuso de domínio, que são perigosos para o ‘jogo limpo’ e a inclusão”, pode igualmente ler-se no documento final apresentado.
Adicionalmente, e confrontados com as vastas e crescentes desigualdades no mundo actual, para a UNIAPAC é necessário investir na ideia de cuidar “da nossa casa comum, da nossa criação, dos pobres e vulneráveis, não fazendo algo por eles, mas com eles”, ter a noção de que “os limites planetários não são ilimitados”, aceitar “o desafio do investimento ético”, pois existe esperança de que mudanças positivas sejam possíveis. “A recolha e a partilha de provas apoiam a nossa coragem e ajudam-nos a ultrapassar o medo”, pode ler-se ainda.
Para os líderes católicos, fazer bem fazendo o bem é parte integrante dos negócios que visam atingir o bem comum, de acordo com a sua vocação e tendo em conta o combate das desigualdades. E, como afirmam também, a perturbação dos mercados de trabalho representa um sinal de que a mudança é inevitável, sendo o reforço da educação e da formação essencial para sustentar o futuro da sociedade e das empresas.
Criar valor partilhado com a Economia de Francisco
Em Maio de 2019 e através de uma carta-convite, o Papa dirigiu-se aos jovens apelando à criação de uma “aliança” capaz de “mudar a economia de hoje e dar alma à economia do amanhã”. Este convite viria a dar origem à denominada Economia de Francisco, a qual apoia o crescimento de uma nova alma na economia e nos mercados financeiros. E, no Congresso em Manila, foi ainda recordado o desafio feito por Francisco aos líderes juvenis: “não sejais administradores de medos, mas empreendedores de sonhos” e “desenvolvam um modelo de negócio social para uma economia mais humana”.
Apoiando esta visão, o protocolo UNIAPAC para líderes empresariais e organizações constitui uma ferramenta estratégica para esta jornada, tendo integrado os princípios da economia do bem comum e tendo como objectivo construir relações com empresários e empreendedores de todo o mundo, criando valor partilhado com a Economia de Francisco e os jovens que a subscrevem.
Inteligência Artificial, dignidade humana e fé
Por seu turno, os desafios impostos pela Inteligência Artificial (IA) na actualidade foram igualmente tema em debate.
Como afirmam, “queremos enfrentar a incerteza e discutir a IA e os desafios que lhe estão associados com o objetivo de moldar a nossa responsabilidade em torno da ética, para uma IA centrada na dignidade humana e guiada pela fé. Os receios, as preocupações e os desafios em torno da IA têm de ser enquadrados. A IA, como qualquer outra ferramenta, não é boa nem má por si só. Os seus valores éticos dependem da forma como a utilizamos e de quem beneficia com ela. Com a graça de Deus, precisamos de um quadro que garanta que a IA funcione para todos e não apenas para o lucro e a eficiência, mas para o bem comum e o florescimento humano”.
Afirmando-se empenhados em praticar o pensamento social cristão nas empresas e em fazer a diferença, a UNIAPAC defende o encontro entre a fé a e acção, acreditando que são possíveis grandes mudanças, afastando-se assim do cepticismo corrente e aprofundando, ao invés, as raízes com as respectivas periferias, de forma a fazer a diferença em conjunto com todos.
Desta forma, a UNIAPAC compromete-se com as seguintes medidas:
- Promover o Protocolo UNIAPAC;
- Manter o diálogo e a liderança intergeracional juntamente com os jovens empresários sob o teto da Economia de Francisco;
- A desempenhar o seu papel para evitar os abusos da IA, e
- A aumentar o seu empenho na formação sobre os desafios globais e as suas respostas.
E, para que tal aconteça, alertam, é necessária uma representação activa junto de diferentes instituições e parcerias.
Nas resoluções finais apresentadas, a UNIAPAC sublinha ainda o seguinte: “a nossa área de influência, a harmonia, é o equilíbrio entre as empresas, as pessoas e a natureza. Temos de continuar a partilhar histórias inspiradoras que apoiem o desenvolvimento da nossa acção em torno da promoção da prosperidade e da redução das desigualdades de uma forma concreta. Isto também reforçará a nossa contribuição para a próxima geração de líderes empresariais e empreendedores”.
Adicionalmente e citando a encíclica He Loved Us, Dilexit nos, publicada recentemente, a UNIAPAC acredita que esta última pode ajudar a compreender que ‘o que está expresso neste documento permite-nos descobrir que o que está escrito nas encíclicas sociais Laudato si’ e Fratelli tutti não é alheio ao nosso encontro com o amor de Jesus Cristo, pois bebendo desse amor tornamo-nos capazes de tecer laços fraternos, de reconhecer a dignidade de cada ser humano e de cuidar juntos da nossa casa comum’”.
“Recebemos uma vocação suplementar, que nos mostra que a finalidade do bem comum e a contribuição para o desenvolvimento integral da humanidade estão intimamente ligadas ao amor, tal como o conhecemos na caridade tradicional”, referem ainda.
Imagem: ©UNIAPAC
Editora Executiva