Quantas vezes me aproximo dos outros com esta saudação? Que tenho para lhes oferecer? Como posso ajudar a construir a paz com os outros?
POR JOÃO PEDRO TAVARES
Esta é, porventura, a mais marcante saudação, a mais transformadora alguma vez feita, há dois mil anos! Novas vidas foram transformadas a partir daqui pois esta é uma saudação de nova vida também. Para ricos ou pobres, integrando-os. Para doentes ou sadios, sem discriminar. Para fortes ou fracos, sem distinção.
Num mundo dividido, em que morre uma pessoa à fome a cada quatro segundos, onde existem 575 milhões em pobreza extrema, em que metade são crianças. Um mundo em guerras que não terminam, em espirais de violência. Num mundo polarizado, em que os extremos crescem e se afastam, a comunicação se torna mais difícil com progressiva falta de confiança nas quatro principais instituições: empresas, governo, ONG e meios de comunicação social (relatório global Edelman Trust Barometer), torna-se mais premente esta saudação e, mais ainda, que seja algo que se oferece a quem connosco se cruza.
Desejar reconhecida e convictamente a paz não é algo menor, mas maior, enorme até. É descentrar-me de mim e centrar-me naqueles a quem me dirijo, desejando-lhes o melhor que lhes posso oferecer. Não é superioridade, mas sinal de aproximação e de compromisso. Não é relaxe nem ausência de tensões, mas construir a partir das realidades que nos cercam, como promotores de pontes, de ligações, numa entrega de nós mesmos como parte integrante, não excluindo nada. Reconhecendo-nos limitados e pequenos.
Sabendo o quão importante é esta saudação, pergunto-me: quantas vezes me aproximo dos outros com esta saudação? Que tenho para lhes oferecer? Como posso ajudar a construir a paz com os outros? A minha empresa é um lugar de paz? O que é verdadeiramente importante? A que me comprometo? Falta-me autoridade para o fazer? Ou, tão pouco a valorizo ou nem sequer a considero como verosímil?
Seguramente que entre amigos ou familiares ser-me-ia quiçá mais fácil ensaiar esta abordagem. Mas, haverá lugar para o fazer na competição e pragmatismo da vida profissional e empresarial? Estranharia que alguém me saudasse desta forma? Imaginaria um líder empresarial a saudar os seus colaboradores desta forma? Ou os seus clientes ou fornecedores? Ou, até, os seus competidores?
Se fosse saudado desta forma provavelmente poderia estranhar, mas seguramente que ficaria desarmado. Não deixemos de o ensaiar e de procurarmos ser construtores da paz com e nos outros. Se o fizermos estaremos, seguramente, a percorrer novos caminhos e a fazer novas descobertas.
Artigo originalmente publicado na RR. Republicado com permissão.
Presidente da ACEGE – Associação Cristã de Empresários e Gestores