Vivemos expostos a uma quantidade de informação sem precedentes, muito para além da nossa capacidade de processamento. E um dos resultados desta realidade é a incapacidade de a avaliar e de tomar decisões. Além disso, este excesso de informação pode levar-nos a limitar as nossas actividades sociais, tem efeitos perniciosos na nossa saúde mental, produz insatisfação e desmotivação no nosso trabalho e, de um modo geral, leva-nos a experimentar sentimentos muito negativos
POR HELENA OLIVEIRA

Não é novidade para ninguém o facto de, na sociedade moderna, estarmo-nos a afogar num dilúvio de informação. Sempre que acedemos à Internet ou ligamos a televisão, somos bombardeados com notícias, perspectivas, opiniões, factos e informações, já para não falar de uma verdadeira enxurrada de fake news. Cansados e desorientados neste ambiente de repetição constante e infindável, somos inundados com informação 24 horas por dia, sete dias por semana.

Como resultado, aprender a arte de separar o trigo do joio e levar vidas produtivas que sejam significativas e profundas é fundamental para profissionais, estudantes e qualquer pessoa que deseje concentrar-se e não se deixar perder nas malhas do excesso de informação. Saber o que está a acontecer em todo o mundo em tempo real e ininterruptamente, por exemplo, causa fadiga mental e exaustão, o que reduz a produtividade e causa falta de concentração.

Hoje em dia, todos têm acesso a carregar e divulgar informações graças a tecnologias como a Internet e a World Wide Web e, para além dos canais de informação  “normais”, acedemos a notícias de várias espécies, em particular através das redes sociais como o Twitter, o Instagram e o Facebook os quais, com os seus influencers, são responsáveis por uma geração de dados monumental. O cenário está tão complicado que, e de acordo com o Digital News Report, um relatório anual sobre o estado dos media em mais de 50 países publicado pelo Reuters Institute for the Study of Journalism, os dados tem vindo a apontar, de forma crescente, que são cada vez mais as pessoas que desistiram de ver, ler ou ouvir notícias: a título de exemplo e em 2017, 29% dos inquiridos confessaram evitar notícias, valor que subiu para 39% em 2023. Importante é também o facto de, e através dos meios acima citados, a maioria das informações não ser censurada ou devidamente escrutinada antes de chegar à Internet ou ao utilizador final.

Com a digitalização da vida profissional e privada, a informação está disponível em grandes quantidades em formato digital; vivemos numa “sociedade da informação”, termo popularizado pelo doutorado em Filosofia Laszlo Z. Karvalics em 2007. É possível aceder de forma conveniente e activa a conteúdos diversificados, e também recebemos passivamente grandes quantidades de informações por diversas vias. Apesar dos diferentes canais de informação, esta é maioritariamente consumida através de ecrãs e alguns especialistas referem-se a este fenómeno como “diversidade homogeneizada”. Actualmente, a quantidade de informação que é gerada a cada dois dias é aproximadamente equivalente à quantidade de informação que foi criada entre o início da civilização humana e o ano de 2003, como afirmam dois psicólogos da APA (American Psychological Association), Thomas Jackson e Pourya Farzaneh, , citados num estudo recente sobre o tema . A quantidade de informação disponível tornou-se assim excessiva, sendo cada vez mais difícil avaliar a sua qualidade. Como resultado, a sobrecarga de informação tornou-se um problema generalizado. De facto, a mesma foi citada como um dos factores de stress mais frequentes por 22,5% dos respondentes numa amostra representativa de um inquérito realizado na Alemanha.

De acordo com o mesmo estudo acima citado, a evidência empírica mostra que a sobrecarga de informação está directamente relacionada com a tensão/stress, o esgotamento/burnout e várias outras queixas de saúde, ao mesmo tempo que está negativamente relacionada com a satisfação no trabalho. Além disso, a sobrecarga de informação está associada a diversos outros problemas, especialmente em relação a perturbações e interrupções. Por último, os estudos mostram que a qualidade das decisões dos indivíduos é afectada pela sobrecarga de informação.

Cientistas querem reconhecer a sobrecarga de informação como um novo tipo de poluição

Numa carta aberta recentemente publicada pela Nature Human Behavior – e com base num estudo alargado, publicado na revista Nature com o apoio da UE por um conjunto de cientistas– , “se estamos todos conscientes dos perigos da poluição do ar, da água e da terra”, os especialistas em causa defendem “o reconhecimento e a mitigação de outro tipo de poluição ambiental que representa perigos pessoais e sociais equivalentes: a sobrecarga de informação”.

Como afirmam, com a Internet ao alcance dos nossos dedos através dos smartphones e de outros dispositivos, estamos expostos a uma quantidade de dados sem precedentes, muito para além da nossa capacidade de processamento. O resultado é a incapacidade de avaliar a informação e de tomar decisões. Além disso, este excesso pode levar-nos a limitar as nossas actividades sociais, a sentirmo-nos insatisfeitos com o nosso trabalho, desmotivados e, de um modo geral, pessimistas. Por seu turno, afirmam também, os economistas estimam que este fenómeno tem um custo global de cerca de 1 trilião de dólares, declarando que para além dos efeitos emocionais e cognitivos, as considerações contextuais e ambientais podem aumentar os custos pessoais e económicos.

Os investigadores comparam a sobrecarga de informação com outras mudanças históricas na sociedade: a publicação “aberta” trouxe a necessidade de filtrar a investigação de baixa qualidade inerente ao vasto número de publicações acessíveis, a Revolução Industrial deu origem à poluição atmosférica e os activistas ambientais ajudaram a introduzir mudanças legais e económicas para ajudar a reduzir a poluição. Do mesmo modo, a chamada “poluição da informação” ou “poluição de dados” deve ser devidamente abordada.

Do ponto de vista da ciência da computação, há pelo menos três níveis de sobrecarga de informação identificados pelos autores do estudo: “mecanismos neurais e cognitivos ao nível individual… informação e decisões ao nível do grupo… (e) interacções ao nível da sociedade entre indivíduos, grupos e fornecedores de informação”. Ademais, estes níveis não funcionam de forma independente, pelo que o fluxo de informação pode ser tratado como uma rede multinível com múltiplos nós, o que pode dar origem a uma mudança abrupta. Os investigadores citam o trabalho em equipa como exemplo: a sobrecarga de informação de um membro da equipa pode prejudicar o desempenho do grupo, o que se transforma num problema complexo.

“A sobrecarga de informação pode ter implicações graves”, afirmou Curt Breneman, Ph.D., director da Rensselaer’s School of Science e um dos responsáveis pelo estudo. “Começa por corroer a nossa saúde emocional, o nosso desempenho profissional e a nossa satisfação, influenciando posteriormente as acções de grupos e, em última análise, de sociedades inteiras.

Como a sobrecarga de informação afecta a nossa saúde mental

Lidar com o excesso de informação pode ser esmagador e desgastante para a mente, o que insta a gerirmos eficazmente a nossa interação com a mesma enquanto uma prioridade máxima para salvaguardar a nossa saúde mental. É essencial que avaliemos, ajustemos e moderemos continuamente os nossos hábitos de consumo de informação para manter o equilíbrio e o bem-estar mental nesta era de sobrecarga de informação.

Mas quais são os principais efeitos negativos deste fenómeno?

Em primeiro lugar, está comprovado que este bombardeamento constante de informação leva a níveis elevados de stress e ansiedade. A necessidade avassaladora de processar cada informação e a incapacidade de o fazer pode criar um estado mental instável. As pessoas também podem acabar por se sentir perdidas e ansiosas, lutando para discernir o que realmente importa.

Adicionalmente, o ruído constante criado pela sobrecarga de informação tem um efeito colectivo na nossa mente, desenvolvendo ansiedade e confusão. A tensão e a inquietação perpétuas podem aumentar, afectando o nosso bem-estar emocional, o que pode levar a muitos desconfortos psicológicos, como alterações de humor, irritabilidade e depressão.

Por outro lado, o desejo incessante de estar sempre a par de tudo e a ligação permanente ao mundo digital põem em risco a qualidade e a duração do nosso sono. A interacção constante com os ecrãs e a luz azul que os acompanha perturbam o nosso ritmo natural de sono, deixando-nos cansados e mentalmente tensos.

Um ciclo de sono perturbado não só afecta a nossa saúde física, como também prejudica significativamente as nossas capacidades mentais. A fadiga resultante agrava os níveis de stress, diminui a nossa capacidade de regular as emoções e tem impacto no nosso humor geral, criando um ciclo vicioso de agitação mental.

Também está comprovado que um mundo repleto de informações provenientes de inúmeras fontes divide a nossa atenção e torna a concentração em tarefas específicas aparentemente impossível. As distracções contínuas têm um impacto negativo na nossa capacidade de manter a concentração. Assim, temos uma menor sensação de realização porque demoramos mais tempo a concluir as tarefas que temos em mãos.

Adicionalmente, a capacidade de atenção fracturada restringe as nossas capacidades intelectuais, reduzindo a nossa eficiência e produtividade. A luta para nos concentrarmos devido à sobrecarga de informação pode levar à frustração e a uma maior sensação de sobrepeso. Todos estes efeitos podem tornar a realização das tarefas mais quotidianas um desafio.

Por último, mas não menos importante é o facto de as redes sociais serem um terreno fértil para a comparação com os outros, o que pode levar a problemas de auto-estima. A exposição constante aos “destaques”- dos outros pode levar a sentimentos de inadequação e a uma menor auto-estima, alimentando o descontentamento e uma percepção distorcida da realidade.

O efeito adverso de tal comparação na nossa saúde mental é grave. Fomenta uma auto-imagem negativa e intensifica os sentimentos de inveja e insatisfação. Este sentido distorcido do eu pode permear a nossa vida quotidiana, afectando o nosso comportamento, as nossas relações e a nossa perspetiva geral da vida.

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Como lidar com a sobrecarga de informação?

Lidar com a sobrecarga de informação é cada vez mais importante no actual mundo acelerado e orientado por dados. Eis algumas estratégias para ajudar a gerir e a liderar eficazmente este constante tsunami de informação, em particular no local de trabalho:

  1. Dar prioridade às informações
  • Faça a distinção entre o que é urgente e o que é importante. Concentre-se na informação que tem um impacto direto nos seus objectivos ou nas decisões mais críticas. Estabeleça objectivos claros para si e para a sua equipa. Consuma apenas informações que estejam de acordo com esses objectivos, ajudando a filtrar dados irrelevantes.
  1. Utilizar a tecnologia de forma sensata
  • Automatize a filtragem: utilize ferramentas e software que possam ajudar a filtrar, organizar e dar prioridade à informação, como filtros de correio eletrónico, agregadores de notícias e ferramentas de gestão de projectos.
  • Limpeza digital: Limpe regularmente o seu espaço de trabalho digital – cancele a subscrição de e-mails desnecessários, organize ficheiros e simplifique as suas aplicações e ferramentas.
  1. Delegar e colaborar
  • Capacite a sua equipa: delegue tarefas de recolha e processamento de informações a membros de confiança da equipa. Incentive-os a resumir e a apresentar apenas as informações mais importantes.
  • Ferramentas de colaboração: utilize plataformas de colaboração onde os membros da equipa possam contribuir para a recolha de informações, reduzindo a carga de trabalho de uma única pessoa.
  1. Estabelecer limites
  • Limite o tempo que gasta em actividades com muita informação, como verificar e-mails, redes sociais e actualizações de notícias. Programe horários específicos para estas actividades em vez de estar constantemente a reagir a novas informações.
  • Crie períodos de trabalho para a concentração: estabeleça períodos “sem interrupções” em que você ou a sua equipa podem concentrar-se no trabalho profundo sem serem bombardeados por novas informações.
  1. Desenvolver o pensamento crítico
  • Avaliar a qualidade da informação: incentive o pensamento crítico para avaliar a relevância, a credibilidade e a fiabilidade da informação antes de agir sobre ela.
  • Questionar regularmente os pressupostos e verificar as informações, em vez de as tomar pelo seu valor nominal. Isto reduz o risco de actuar com base em informações erradas.
  1. Consciência e reflexão
  • Consumo consciente: pratique a atenção plena para se aperceber de quando começa a sentir-se sobrecarregado. Faça pausas regulares para limpar a mente e recarregar as baterias.
  • Reflectir e rever: no final de cada dia ou semana, reveja a informação que processou. Identifique o que foi mais valioso e pense em como pode melhorar as suas estratégias de gestão da informação.
  1. Simplificar a comunicação
  • Quando partilhar informação, seja claro e conciso. Incentive os outros a fazerem o mesmo, reduzindo a quantidade de troca de dados desnecessários.
  • Resumos e marcadores: utilize técnicas de resumo e marcadores para comunicar mensagens importantes de forma eficiente.
  1. Definir expectativas e cultura
  • Cultive uma cultura de trabalho que valorize a concentração em vez da multitarefa constante. Incentive as pausas e desencoraje a expectativa de respostas instantâneas às mensagens.
  • Instrua a sua equipa: dê formação à sua equipa sobre como lidar eficazmente com a sobrecarga de informação. Partilhe dicas e ferramentas que tenham funcionado para si.

Imagem:© Jude Mack/Unsplash.com

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