O termo mais traduzido de sempre não está na Terra, está a 150 milhões de quilómetros de distância. Todas as civilizações o contemplaram, dando-lhe uma infinidade de nomes, refletindo culturas, mitologias e reverências. Apesar da distância – a sua luz demora cerca de oito minutos a chegar à Terra –, tem enorme influência em tudo. Uma pequena flutuação na sua atividade produz auroras mais longe do polo, conforme sucedeu neste fim-de-semana. O que são afinal estas luzes no céu?
POR PEDRO COTRIM
Desde os antigos egípcios que adoravam Rá, o deus do Sol, à homenagem da civilização Inca a Inti, a divindade benevolente do Sol, e à reverência japonesa por Amaterasu, a deusa celeste do Sol, o fascínio pela nossa estrela não tem limites. Não é apenas luz e calor no cosmos, mas também um símbolo de unidade e diversidade, um testemunho da experiência humana partilhada e da procura universal de compreender e honrar as forças celestiais que moldam a nossa existência e a matéria que nos faz.
Se víssemos de muito longe, testemunharíamos uma lindíssima dança entre a nossa estrela e o grão de areia que é o nosso lar. Para nós é obviamente eterna, para a grande escala astronómica obviamente não é. Perceberíamos a sua natureza dinâmica, que daqui nos parece muito estática, pintando o cosmos com manchas e erupções solares e lançando a sua luz sobre o nosso planeta. No entanto, para além deste espetáculo hipnotizante, existe uma ligação mais profunda, uma ligação que molda o próprio tecido do clima da Terra e inspira admiração nos corações dos astrónomos e dos poetas.
Voltámos recentemente a ver uma «gracinha» do Sol com estas auroras, fenómenos de luz que se observam predominantemente nas regiões polares. Ocorrem quando as partículas carregadas do sol, transportadas pelo vento solar, interagem com o campo magnético da Terra.
O recente episódio de auroras em Portugal deveu-se precisamente ao aumento da atividade solar. Por vezes, a frequência e a intensidade das tempestades solares e das ejeções de massa coronal aumenta, levando a mais interações com o campo magnético da Terra e, consequentemente, a mais atividade auroral, mesmo em regiões mais afastadas dos polos, como Portugal.
O ciclo solar é uma flutuação natural no nível de atividade do sol, com uma duração típica de aproximadamente 11 anos. Durante este ciclo, o número de manchas solares na superfície do Sol aumenta e diminui. As manchas solares são áreas mais frias e escuras do Sol causadas por intensa atividade magnética. Estão frequentemente associadas a erupções solares e a ejeções de massa coronal, que são erupções maciças de matéria solar para o espaço.
O Sol também emite continuamente um fluxo de partículas carregadas conhecido como vento solar. Quando a Terra encontra estas partículas, elas interagem com o campo magnético do nosso planeta, que forma uma barreira protetora à volta da Terra chamada magnetosfera. A maior parte do vento solar é desviado pela magnetosfera, mas algumas partículas são canalizadas para os polos ao longo das linhas do campo magnético.
Quando as partículas carregadas do vento solar colidem com os gases da atmosfera terrestre, como o oxigénio e o azoto, transferem a sua energia para estes átomos e moléculas. Esta energia excita os átomos e fá-los emitir luz, originando as impressionantes auroras boreais. As cores das auroras dependem do tipo de gás envolvido e da altitude a que as colisões ocorrem.
Embora as auroras sejam mais frequentemente observadas perto dos polos da Terra, durante os períodos de maior atividade solar, podem por vezes ser vistas em latitudes mais baixas. Este fenómeno é conhecido como uma exibição auroral ou uma tempestade auroral. As regiões mais próximas dos polos, como a Escandinávia, o Canadá e o Alasca, têm maior probabilidade de ver auroras regularmente, mas durante eventos solares particularmente fortes, podem ser visíveis muito mais a sul, chegando mesmo a regiões como Portugal.
As auroras, além de nos encantarem com a sua beleza, conectam-nos profundamente com a Terra e os eventos contemporâneos. São mais um reflexo refletindo da grandiosidade do cosmos, mas também das complexas dinâmicas que moldam nossa vida diária. Num mundo cada vez mais interligado e em constante mudança, estes fenómenos lembram-nos da importância de estarmos conscientes da influência cósmica na nossa existência terrena.
Não são apenas espetáculos celestiais, mas também mensageiros de nossa interdependência com o universo e do papel que desempenhamos na proteção e preservação do nosso precioso lar. Talvez nos convidem a refletir sobre a fragilidade do meio ambiente e a urgência de agir em prol da sustentabilidade, lembrando-nos de que somos guardiões responsáveis deste lindíssimo planeta a que chamamos casa.
Imagem: ©Max Stoiber/Unsplash.com
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