De acordo com um estudo recente realizado pela consultora Accenture a 250 executivos de topo espalhados por diversas geografias, a maioria das empresas encontra-se verdadeiramente comprometida com a sustentabilidade enquanto fonte de crescimento e não somente como uma via para melhorar a sua reputação. Os executivos concordam também que a sustentabilidade não é só uma licença para operar nos mercados mais sensíveis às questões ambientais, sociais e económicas, mas um activo chave para receitas futuras
A consultora Accenture questionou 250 executivos sénior em oito mercados em todo o mundo para explorar o relacionamento existente entre negócios sustentáveis e crescimento comercial. O questionário cobriu os Estados Unidos, o Japão, a Alemanha, a França e o Reino Unido, mas também as economias emergentes da China, Brasil e Índia. Entre as principais questões, contam-se: quais os mercados que mais comprometidos estão com estratégias de negócio sustentáveis? Os líderes de negócio estão a encarar a sustentabilidade como um risco ou como uma oportunidade? Estão a encará-la como um estímulo para novas receitas ou novos custos? O VER apresenta os principais resultados desta pesquisa. É hoje claro que a sustentabilidade está a tornar-se parte integrante da forma como se fazem negócios. Muitas empresas estão a comprovar que, ao colocarem o ambiente e a sociedade no centro das suas estratégias e operações, melhor qualificadas se tornam para gerir ou melhorar a sua reputação, para cumprirem com as regulamentações e para reduzirem custos. E, talvez o mais interessante seja a tendência crescente de se olhar para a sustentabilidade como uma fonte – ou como a fonte – de receitas e crescimento do negócio. Entre as explicações para esta tendência crescente reside o constrangimento permanente dos recursos combinado com o debate do impacto das emissões, os quais estão a contribuir para o estabelecimento de uma plataforma para produtos e serviços inteiramente novos, tais como a distribuição de energia renovável ou os veículos eléctricos. No que respeita aos mercados emergentes, existe um reconhecimento crescente de que processos e materiais alternativos e mais sustentáveis são necessários para evitar as práticas tradicionais de asfixia de perspectivas de crescimento num conjunto distinto de sectores industriais. Adicionalmente, o fraco crescimento económico em muitas economias maduras da actualidade está a resultar numa necessidade urgente de se identificarem novas fontes de receitas e, consequentemente, na procura de novos produtos e categorias de serviços sustentáveis. Neste caso em particular, a força das tendências de sustentabilidade nos mercados emergentes é particularmente reveladora. Importância da sustentabilidade para os negócios é crescente Com base nesta definição, e de acordo com os resultados do estudo, mais de nove em cada 10 executivos auscultados acreditam que a sustentabilidade é de importância significativa para as suas empresas, sendo que 48% a qualificam como muito importante e 44% como factor crítico para o negócio. No que respeita às divergências geográficas, quase dois terços dos decisores em mercados emergentes afirmam que a sustentabilidade é crítica para o negócio, contra apenas um terço no Japão e, mais revelador ainda, contra um quarto dos respondentes nos maiores mercados europeus (Alemanha, França e Reino Unido). Questionados sobre a importância da sustentabilidade para o crescimento futuro, os executivos das diversas regiões concordam que sim (78%), sendo que apenas no Japão a percentagem desce abaixo dos 70%. No que respeita a esta pergunta, o mais significativo prende-se com o facto de apenas 21% dos executivos, a nível global, a considerarem como periférica em relação ao negócio, comparativamente a 32 por cento que assim a consideravam num questionário similar conduzido em 2011. Para os autores do estudo, a descoberta mais optimista resultante deste inquérito cifra-se no facto de as empresas aceitarem, actualmente, a sustentabilidade como uma necessidade comercial quando, no passado, apenas as considerações relativas ao mero cumprimento das regras e dos custos serem dominantes. As exigências dos consumidores constituem o principal motivo de investimentos nas iniciativas sustentáveis, sendo que a preocupação genuína com o ambiente e a sociedade aparece em segundo lugar. É igualmente interessante o facto de os sentimentos se terem alterado desde 2010, ano em que a Accenture, em conjunto com o Global Compact das Nações Unidas, realizou uma pesquisa junto de CEO, os quais elegiam como principal motivador para acções de sustentabilidade a marca e a reputação. Expansão no mercado lidera a agenda de crescimento sustentável De acordo com a consultora, a sua experiência com os clientes demonstra que esta realidade está a afirmar-se não só nas economias industriais emergentes, como a China e a Indonésia. O trabalho desempenhado com a Vodafone, por exemplo, demonstra que a utilização das tecnologias móveis pode aumentar os rendimentos e dar origem a mercados sustentáveis entre os pequenos agricultores de zonas rurais em regiões como a África subsaariana.
É mais dispendioso ser-se sustentável? Na verdade, os dados demonstram que muitas empresas falharam na geração de um retorno suficiente. 49% dos inquiridos afirmam que as margens são mais baixas nos produtos e serviços sustentáveis, sendo que apenas um quinto (19%) discorda desta proposição. Muito sumariamente, tal significa que os investimentos de metade das empresas não são comercialmente viáveis. Existem duas explicações possíveis para este fracasso: o volume ou a quota de mercado respectiva dos produtos sustentáveis é insuficiente para atingir níveis de produtividade similares aos dos portefólios já existente, ou, em alternativa, a produção de itens sustentáveis é intrinsecamente mais cara, o que é muitas vezes é o caso da reengenharia dos produtos para que se tornem sustentáveis em oposição aos que são concebidos originalmente como tal. Em qualquer dos casos, se as empresas continuarem a trilhar este caminho, significará inevitavelmente que a sua abordagem entusiasta no que respeita aos mercados sustentáveis não poderá constituir uma justificação de longo prazo para os investidores. Enquanto os factores associados à oferta podem explicar as margens mais baixas, o mesmo pode acontecer com a reticência dos consumidores em pagarem mais por produtos e serviços sustentáveis. A comprovar este dado estão 47% dos inquiridos que afirmam que os seus consumidores não estão dispostos a abrir os bolsos neste sentido. Todavia, estas acções podem não ser suficientes e também podem explicar por que motivo algumas empresas não estão a conseguir acompanhar a procura. Mais de 37% dos respondentes afirmam enfrentar este dilema, enquanto uma percentagem similar assegura poder ir ao encontro da procura dos consumidores. Nos mercados emergentes, a percentagem dos que acreditam não conseguir acompanhar a procura é mais substancial: 44%. E este dilema é, muito provavelmente, causado por uma produtividade baixa de mais produtos e serviços sustentáveis, de investimentos controlados devido às margens igualmente baixas ou ainda devido à capacidade ainda emergente para o desenvolvimento deste tipo de produtos. Se as empresas estiverem realmente interessadas em acompanhar a procura, terão de se esforçar mais em termos de eficiência e agilidade das suas operações core e não se preocuparem somente com as suas credenciais sustentáveis.
Envolver os consumidores via tecnologia digital De acordo com os resultados do estudo, mais de metade dos respondentes afirma que as suas empresas estão a utilizar estas tecnologias para envolverem os clientes no que respeita ao seu portefólio sustentável. Globalmente, oito por cento afirmam estar a usar os media sociais e as tecnologias digitais para comunicarem directamente com os seus clientes, sendo que a percentagem duplica nos mercados emergentes, o que demonstra mais uma vez os esforços pioneiros que estão a ter lugar neste tipo de economias. Numa questão distinta, 72% dos inquiridos asseguram que os media sociais terão um impacto positivo na sustentabilidade, na medida em que conferem aos clientes uma maior influência, com 86% das empresas que operam nas economias emergentes a concordarem com esta proposição. Recomendações para um crescimento lucrativo
No centro do desafio encontra-se a escala. Os executivos acreditam que a procura por produtos e serviços sustentáveis irá crescer, mas a não ser que a oferta atinja uma determinada escala, os desafios comerciais enfrentados pelas empresas irão continuar. Num relatório recente realizado em conjunto com o Fórum Económico Mundial (FEM), a consultora Accenture sugere alguns passos que ajudarão os negócios a melhorar a sua capacidade para fazer equivaler a rendibilidade da procura com a adopção em escala por parte dos consumidores.
Estas recomendações não são exclusivas para os produtos e serviços sustentáveis. São, ao invés, comuns a todos os mercados de desenvolvimento acelerado, estando igualmente a tornar-se norma para todos os negócios que se adaptam ao impacto da globalização, das novas tecnologias, dos mercados emergentes de rápido crescimento e de novas fontes de concorrência. Ao colocar em prática operações core mais eficientes em termos de custo, em conjunto com um maior e mais sofisticado envolvimento com os consumidores e com a identificação inteligente de mercados lucrativos, as empresas não só serão capazes de gerar novas fontes de rendimento, como também ficarão habilitadas para irem ao encontro da procura dos consumidores e atingirem receitas maiores com margens mais elevadas. |
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Editora Executiva