A liderança no feminino melhora a performance das empresas, e tem sido um dos principais motores para o crescimento global e para competitividade, conclui o mais recente relatório da OIT sobre igualdade de género no mundo dos negócios, nomeadamente em altos quadros. Mas a representatividade das mulheres na gestão de topo continua tão diminuta que, em todo o mundo, apenas 5% do total de CEO vestem saias
POR GABRIELA COSTA

A presença de mulheres na gestão de topo melhora a performance das empresas. A constatação, demonstrada em inúmeros estudos e análises de especialistas sobre igualdade de género no mundo profissional, e destacada pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) no relatório divulgado a 12 de Janeiro, Women in Business and Management: Gaining Momentum, não passa disso mesmo, de uma constatação que, a ser realidade, diminuiria a lacuna, ainda tão evidente a nível global, no que concerne oportunidades (de carreira e não só) para homens e para mulheres.

Prova disso é a segunda grande conclusão do relatório da agência das Nações Unidas, o qual reúne informação completa e actual de diversas organizações internacionais, como o Fórum Económico Mundial, a Comissão Europeia, a UNESCO, o Pacto Global das Nações Unidas, a McKinsey, a Catalyst, o Financial Times e a Fortune, e as estatísticas da OIT em 80 dos 108 países onde disponibiliza os seus dados, sobre a situação global das mulheres no mundo dos negócios e, concretamente, em posições de liderança: apesar do reconhecimento crescente das mais-valias desta presença, ou do aumento nunca visto do número de negócios lançados por mulheres e de cargos de chefia liderados no feminino, é urgente incrementar o número de mulheres em lugares de topo, que actualmente representa apenas, e não obstante, 5% do total de CEO das maiores empresas globais. Quanto maior for a empresa, menor é a probabilidade de ser dirigida por uma mulher, ditam as estatísticas.

A análise ao longo do relatório realizado pelo Bureau for Employer’s Activities (ACT/EMP) assenta, sobretudo, num inquérito que a OIT desenvolveu em 2013, abrangendo um universo de quase 1300 empresas, a actuar em 39 países de África, Ásia e Pacífico, Europa Central e de Leste e América Latina e Caribe, incluindo nas regiões em desenvolvimento, com a ajuda das organizações patronais, a nível nacional.

A sondagem incidiu nos principais obstáculos ao progresso das carreiras profissionais das mulheres na gestão de topo, avaliando as medidas e políticas de que as empresas dispõem (ou não) para promover a sua ascensão a altos cargos. Em 30% das organizações inquiridas, não existia um única mulher nas equipas de direcção, e em 65%, as colaboradoras representavam menos de 30% do total de cargos de chefia.

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Igualdade, a “opção inteligente” para a competitividade

Os progressos alcançados são insuficientes, e o caminho para a paridade laboral continua “a não ser fácil”. Para além do reduzido número de CEO que são mulheres, calcula-se que o número de empresários do sexo masculino é superior ao dobro do número de mulheres na mesma posição.

E, se finalmente as empresas e as organizações patronais começam a valorizar as qualidades que as mulheres trazem à liderança na gestão, e procuram, ainda que muito lentamente, alterar atitudes, o caminho, para além de difícil, é longo. Dita o relatório da OIT que “se não se tomarem medidas, serão necessários entre cem a duzentos anos para alcançar a igualdade de género em cargos de liderança”.

[pull_quote_left]A nível mundial, 87% das empresas são dirigidas por homens e 13% comandadas por mulheres[/pull_quote_left]

As mulheres continuam, pois, a deparar-se com “telhados de vidro” no seu local de trabalho, conclui a OIT, e é “altura de quebrar barreiras de uma vez por todas”, conclui a directora do ACT/EMP, Deborah France-Massin.

Já para o director da OIT, a presença das mulheres no mercado de trabalho “é cada vez mais significativa para o crescimento económico e para o desenvolvimento, tanto a nível empresarial como nacional”, como vem demonstrar o relatório publicado na semana passada. Razão pela qual a OIT quer, com este documento, demonstrar às empresas os benefícios que podem advir do seu reconhecimento e apoio ao talento das mulheres: “à medida que o seu nível de educação supera o dos homens, em quase todas as regiões [do mundo], elas representam um banco de talentos e um recurso nacional incríveis”, sublinha Guy Ryder no prefácio de “Women in Business and Management: Gaining Momentum”. Promover a igualdade de género no local de trabalho é pois, “não só a opção mais justa, mas também a mais inteligente”, apela.

De resto, a pesquisa da OIT “demonstra que o aumento da participação das mulheres no mercado trabalho tem sido o maior motor para o crescimento global e para competitividade”, acrescenta a directora do Gabinete para as Actividades dos Empregadores da organização.

Mas, se assim é, por que razão persiste uma profunda desigualdade entre sexos, no que respeita a oportunidades de carreira, delegação de cargos em áreas estratégias e de tarefas sobre decisões económicas ou financeiras, equidade salarial ou benefícios concedidos aos trabalhadores? Porque “ampliar os negócios geridos por mulheres e alargar a sua presença em cargos de tomada de decisão envolve questões particularmente complexas e desafiantes”, as quais, de resto “reflectem as múltiplas disparidades que subsistem, num mercado de trabalho sexista”, explica Guy Ryder.

Nenhuma mulher na administração em metade dos países

Atentemos então aos números da desigualdade nesse mercado sexista: nos últimos 20 anos houve um aumento do número de mulheres empregadas em cargos profissionais médios e altos superior a 20%. Ao mesmo tempo, os quadros de empresas exclusivamente masculinos têm estado em declínio.

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Contudo, a percentagem de mulheres que assumem a presidência das direcções é ínfima: em metade dos países abrangidos no inquérito da OIT nenhuma empresa tinha uma administração liderada por uma mulher. A nível mundial, 87% das empresas são dirigidas por homens e 13% comandadas por mulheres. A Noruega tem a maior proporção de empresas com presidentes mulheres (13,3%), seguida da Turquia (11,1%).

Paralelamente, o relatório revela que um quinto dos negócios é possuído e gerido por mulheres, mas na sua grande maioria trata-se de micro ou pequenas empresas, o que faz prevalecer a sua exclusão dos altos cargos de decisão, no conjunto do meio empresarial.

[pull_quote_right]Em 30% das 1300 organizações inquiridas, não existe uma única mulher nas equipas de direcção[/pull_quote_right]

Quanto a cargos directivos, e considerando as estatísticas da OIT nos 108 países até 2012, a Jamaica tem a maior proporção de mulheres nos mesmos, com 59,3%, enquanto o Iémen tem a menor, com 2,1%. Portugal situa-se na 40ª posição, com 34,6%, logo seguido do Reino Unido (na 41ª posição, com 34,2%), num ranking em que os Estados Unidos ocupam o 15º lugar, com 42,7% de mulheres em funções de chefia. A França é o país europeu mais bem classificado, com 39,4%, na 24ª posição, a quem se segue a Rússia, na 25ª, com 39,1%.

Em África, o Gana ocupa o 26.º lugar, com 39%, seguido pelo Botswana (28.º, com 38,6%). Na Ásia, as Filipinas lideram o ranking, com um honroso 4º lugar (47,6% de mulheres em cargos de direcção), seguidas da Mongólia, com 41,9%, em 17.º lugar. Com 53,1%, a Colômbia ocupa a segunda posição da lista a nível mundial e a primeira na América Latina, seguida pelo Panamá no quinto lugar global (47,4%).

Já de acordo com dados mais recentes da Catalyst, incluídos também no relatório da OIT, e referentes às percentagens de lugares ocupados por mulheres nas equipas de direcção em Março de 2014, somente nos países nórdicos (Finlândia, Noruega e Suécia) e no Reino Unido a proporção de trabalhadoras nestes cargos ultrapassa os 20%.

Entre os 10 e os 20% estão nações como a Austrália, a França, a Alemanha ou os EUA. Já o Brasil, o México, a Espanha e a China se classificam no grupo de países onde as mulheres ocupam entre cinco a dez por cento dos lugares na direcção. E a China, a Índia, o Japão e a Rússia no mesmo grupo de Portugal: o dos países em que essa presença se reduz a menos de cinco por cento.

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Poder no feminino ainda em desequilíbrio

Para a OIT, os 30% de representatividade feminina na gestão de topo “são a massa crítica necessária para que as opiniões das mulheres sejam tidas em conta na gestão das empresas”. Portugal, está, como se vê, bem abaixo desse objectivo. Muito poucas mulheres lideram nas empresas nacionais. Face à desigualdade de género na gestão, o Governo quer lançar novos apoios à contratação para as mulheres. Supondo-se que “as grandes empresas que têm mulheres nos seus conselhos de administração têm melhores resultados”, como alerta a OIT, e para atacar o desemprego feminino, o executivo quer financiar parte do salário dos trabalhadores do sexo sub-representado em certas profissões. Não obstante a promoção da igualdade de género estar consagrada por lei, a mesma está longe de ser uma realidade, a todos os níveis, incluindo no mercado de trabalho.

[pull_quote_left]Em metade dos países inquiridos nenhuma empresa tinha uma administração liderada por uma mulher[/pull_quote_left]

As recomendações para inverter a actual tendência passam por encontrar “soluções flexíveis” para gerir compromissos de trabalho e familiares, em alternativa ao tratamento especial ou à imposição de quotas; providenciar uma cobertura de protecção para licença de maternidade e apoios aos filhos para as profissionais, retendo assim talentos femininos; alterar mentalidades de forma a quebrar barreiras culturais; combater o assédio sexual; implementar políticas e medidas de recursos humanos que tenham em conta a igualdade de género; e garantir que são confiadas às mulheres as mesmas tarefas que aos homens, incluindo ao nível da tomada de decisões.

E, se “é crítico que mais mulheres cheguem a posições altas em áreas estratégicas, para construir um conjunto de candidatas potenciais para altos cargos, como directoras ou presidentes de empresas”, como sublinha a representante do Gabinete da OIT que coordenou este relatório, certo é que perante os inúmeros obstáculos que persistem (com uma concentração de mulheres a permanecerem em certos tipos de funções como recursos humanos, comunicação e serviços administrativos), é fundamental uma nova dinâmica, assente nos inovadores modelos de negócio apresentados no feminino, para, efectivamente, reduzir a desigualdade de género.

Jornalista