Em relação a este orçamento e à proximidade do ato eleitoral que se encontra a caminho, tenho duas convicções: há Estado a mais e pessoas, família e sociedade civil a menos. A meu ver, este é o resumo geral do que nos é proposto no OE 2024: um ganhar de peso do Estado que se tornou omnipresente em demasiadas áreas da nossa vida coletiva e pessoal, dificultando o futuro do nosso país, atrasando o desenvolvimento e, por consequência, prejudicando os mais desfavorecidos
POR PAULO BARRADAS

Sobre o primeiro ponto, o que está a mais neste orçamento:

Na ACEGE acreditamos que um país é o resultado da ação dos seus cidadãos, das famílias e das empresas. É pela força das pessoas e dos órgãos intermédios da sociedade que se pode construir um país com futuro, um país de pessoas e famílias que seja sustentável. O Estado não pode ser o protagonista, devendo sim manter as condições e as bases estruturais para o desenvolvimento do país.

Infelizmente o que vemos é o contrário: existe uma presença permanente do Estado envolvendo as diferentes áreas da nossa vida e reforçando o peso dos impostos sobre pessoas e empresas. Mesmo quando, como este ano, nos fizeram crer que os impostos iriam baixar, percebemos que afinal a carga total de impostos aumentará.

Continuamos a ver um Estado que assume um papel de intervenção direta na economia, um Estado que distribui donativos e apoios individuais de acordo com a sensibilidade mediática do momento, tornando a economia e as pessoas reféns da sua ação, ao mesmo tempo que não consegue assegurar aquilo que é básico para a vida coletiva: Saúde, Educação e Justiça.

Continuamos a assistir a um Estado que deseja fazer tudo sozinho, como se fosse o único ator, a única entidade com capacidade de resolver os problemas, quando na realidade vemos os problemas a agravarem-se.

Este é o problema central deste orçamento. É um orçamento para o Estado, para a manutenção da sua máquina de intervenção, esquecendo o país e aqueles que deveriam ser os atores do seu desenvolvimento, da iniciativa e do empreendedorismo nacional.

Sobre o segundo ponto – o que falta neste orçamento -, considero que faltam as Pessoas, as Empresas, e a Sociedade Civil.

Na ACEGE não acreditamos num futuro liderado pelo Estado e por um conjunto de decisões políticas. Acreditamos nas Pessoas, na sua capacidade de organização e decisão. Acreditamos nas Empresas e nos Empresários, com a sua capacidade de arriscar, constituir equipas e resistir.

Acreditamos nas Pessoas com “coração”, na Verdade e na Justiça nas organizações, sem as quais nada pode acontecer, e embora não sendo o tema direto do OE2024, preocupa-nos muito a degradação do ambiente moral em que vivemos.

Estamos a braços com uma crise política com repercussões preocupantes na economia, provocada por pessoas que perderam a noção da ética, da verdade e do bem comum. É este ambiente de verdade que tem de ser restaurado na sociedade portuguesa, temos de resgatar a verdade como base de todo o desenvolvimento de Portugal.

Por isso, defendo que falta neste orçamento uma clareza nas apostas, a verdade na orçamentação de alguns serviços, nomeadamente nas áreas da saúde e da educação, bem como a diminuição dos apoios e subsídios que só criam dependências e desincentivam o trabalho.

Falta a coragem de diminuir a carga fiscal aumentando a competitividade do país, de ser exigente com a organização e racionalidade da administração pública, caminhar para a excelência com respeito por todos os trabalhadores portugueses.

Falta combater a corrupção e o “amiguismo”, e lutar por um sentido e um desígnio para o país.

Termino reforçando a ideia inicial sobre este orçamento: há Estado a mais e pessoas a menos.

Paulo Barradas

Paulo Barradas é o Presidente da Bluepharma