Para os mais distraídos, Portugal tem actualmente uma situação económica e financeira muito séria, que afecta o País há alguns anos e não é uma novidade dos últimos quinze dias. Essa situação é agravada diariamente pelos atrasos de pagamento. Muitos recursos – económicos, humanos e materiais – são dispendidos pelas empresas para cobrar as suas dívidas. O dispêndio desses recursos é excessivo e reduz-lhes a competitividade, tendo como consequência imediata a redução da competitividade do País
POR Filipe Simões de Almeida*

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As maiores empresas têm práticas sistematizadas de gestão de cobranças, com departamentos especializados. No entanto, certamente que passariam muito bem sem essas estruturas.

A Deloitte não é excepção e tem tido dificuldades em alguns casos, sendo de lamentar (mais) os que se verificam com organismos do Estado. Como partner da Deloitte, passei por várias situações desagradáveis e refiro duas, que demonstram a sofisticação dos incumpridores.

Num dos casos, depois de mais de um ano de insistência para cobrar uma factura, um administrador pediu uma reunião comigo para discutir o assunto. Acedi a reunir e fui confrontado com a proposta de receber 50% do montante em dívida, tendo como contrapartida receber de imediato…

Noutro caso, também depois de mais de um ano de insistência para cobrar várias facturas, um administrador marcou uma reunião comigo para exigir a anulação das notas de juros sobre as facturas em mora, sob pena de nunca mais fazer trabalho para esse organismo…

Há muitas outras situações, mas estas ilustram bem a dificuldade por que passam as empresas.
Merece uma chamada de atenção o impacto que este problema tem nas pequenas e médias empresas, que têm que alocar à gestão das cobranças uma percentagem elevadíssima do tempo total da sua força de trabalho. Este tipo de empresas não tem músculo financeiro para suportar o embate, porque as despesas salariais vencem todos os meses e a incerteza nas receitas faz com que os seus fornecedores lhes cortem os abastecimentos e com que os financiadores lhes cortem o crédito, levando-as à falência. Em muitos casos até são empresas viáveis economicamente, mas o aperto financeiro é forte demais e não conseguem sobreviver.

No entanto, por muito séria que seja a situação económica e financeira do País, há um aspecto mais profundo, mais grave e mais difícil de recuperar, que é a falta de ética que se vai presenciando um pouco por todo o lado, naturalmente com honrosas excepções.

Para que Portugal ultrapasse este problema, é preciso que os melhores dêem o exemplo, não apenas com palavras, mas com acções concretas. A Deloitte já tem a boa prática de pagamento pontual aos seus fornecedores.

Com a adesão ao “Compromisso Pagamento Pontual” da ACEGE, a Deloitte tem oportunidade de divulgar essa boa prática, que está perfeitamente alinhada com um dos nossos valores nucleares – a integridade – e com o nosso sentido de responsabilidade social, que talvez seja mais reconhecido pelo Prémio “Empresa mais familiarmente responsável”, que promovemos em parceria com a AESE.

Assim, a ACEGE e a comunidade em geral, podem contar com o exemplo da empresa líder de auditoria e consultoria em Portugal.

A Deloitte sente que, desta forma, contribui para práticas de mercado íntegras, pelo que saúda e agradece esta iniciativa da ACEGE, à qual adere em pleno.

*Filipe Simões de Almeida é Partner da Deloitte

© 2010 – Todos os direitos reservados. Publicado em 19 de Maio de 2010

Valores, Ética e Responsabilidade