A pergunta é quase retórica mas serve para introduzir uma recente pesquisa elaborada pelo McKinsey Global Institute de uma realidade para a qual não existem muitos dados: o trabalho independente, as suas variadas formas e os inúmeros benefícios e desafios que o mesmo pode representar não só para a satisfação dos trabalhadores, como para a própria economia. Adicionalmente e em particular devido ao crescimento das plataformas digitais e da disrupção dos modelos laborais tradicionais, este estudo obriga-nos também a reflectir nas mudanças que estamos já a testemunhar no mundo do trabalho, conferindo novas pistas para aquilo que não tardaremos a dar por adquirido e irreversível também
POR
HELENA OLIVEIRA

De acordo com a Digital Company Statistics, e contando já com o mês de Outubro, a Uber conta com cerca de 50 mil novos “agentes” por mês, os quais utilizam a sua plataforma digital, em 400 cidades de 70 países, para transportar passageiros, tendo já realizado mais de dois mil milhões de viagens. Controverso para uns, revolucionário para outros, a verdade é que este modelo de negócio que visa, através de uma plataforma electrónica, ligar pessoas que se querem deslocar nas cidades com outras tantas que estão dispostas a transportá-las, não tem um único trabalhador e não investiu em uma única viatura. Muito por alto, cerca de 1.5 milhões de pessoas “trabalham” para uma empresa que não tem paredes, nem chefes, nem salários e muito menos horários.

Há muito que sabemos que o trabalho para a vida, os horários “certos”, o temor ou a submissão ao “patrão”, entre outras características que definiam o mercado laboral até há relativamente pouco tempo, estão mais do que obsoletas, existindo uma panóplia quase infinita de informação sobre as principais mudanças que têm vindo a alterar, profundamente, a forma como se trabalha, para quem se trabalha e onde se trabalha. Mas talvez não tenhamos ainda a noção de que, nos Estados Unidos e na Europa, existem pelo menos 162 milhões de pessoas que, de alguma forma, trabalham de forma “independente” e não contribuindo, por motivos diversos, para as estatísticas laborais.

[pull_quote_left]Nos Estados Unidos e na Europa, existem pelo menos 162 milhões de pessoas que, de alguma forma, trabalham de forma “independente” e não contribuem, por motivos diversos, para as estatísticas laborais[/pull_quote_left]

E foi para preencher esta lacuna, em conjunto com a tendência visível que, no presente e no futuro próximo, serão cada vez mais as pessoas a engrossarem estes números – por escolha ou necessidade – que o McKinsey Global Institute (MGI), o “braço” de investigação económica da McKinsey & Company, lançou um estudo no início deste mês exactamente dedicado a esta temática, a qual integra também a denominada “gig economý” que, ao contrário do sentido pejorativo que poderá ter em português – a economia dos biscates – é cada vez mais abraçada por diferentes segmentos da população.

Com base em dados governamentais, após consulta de outros estudos que estimam a dimensão deste segmento de trabalhadores independentes, e depois de um inquérito a oito mil pessoas residentes nos Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha, Suécia, França e Espanha (com resultados extrapolados para a Europa dos 15 ou EU-15), o MGI teve como objectivo quantificar o mais correctamente possível o número de pessoas que fazem parte deste “subconjunto” de trabalhadores, em conjunto com as suas motivações e potencial de crescimento.

No total, o relatório estima que a força laboral independente é bem mais significativa do que se supunha e que cerca de 20% a 30% da força de trabalho em idade activa nos Estados Unidos e na EU-15 está envolvida, de alguma forma, no denominado trabalho independente. Com diferenças geográficas, estes trabalhadores independentes podem ser distribuídos em quatro grandes categorias: a dos trabalhadores por conta própria (em inglês, free agents, o que corresponde, neste caso específico, aos nossos “freelancers”) ou seja, aqueles que escolhem activamente o trabalho independente como fonte do seu rendimento principal e que rondam os 49 milhões de pessoas; os trabalhadores casuais que, por escolha própria, optam também pelo trabalho independente para ganharem algum dinheiro extra (64 milhões), os relutantes (23 milhões), que são “obrigados” a fazer do trabalho independente a sua principal fonte de rendimento, mas que prefeririam ter um emprego tradicional e os financeiramente amarrados que, apesar de terem um trabalho “normal”, têm de ter outro independente por necessidade e que totalizam cerca de 26 milhões.

Como seria de esperar, aqueles que optam, livremente, por este caminho laboral sem vínculo a patrões, horários ou escritórios físicos (os freelancers e os casuais) reportam níveis elevados de satisfação com a sua vida profissional, comparativamente aos que o fazem por necessidade ou por não terem alternativa, e independentemente do país, idade ou níveis educacionais, o que indica que é cada vez maior o número de pessoas que valoriza os aspectos não monetários do trabalho “por conta própria”. Mas não só.

Independentes por opção demonstram maiores níveis de satisfação com o trabalho

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De acordo com o relatório publicado pelo MGI, esta força de trabalho independente é bastante diversificada, seja em termos de grupos etários, níveis de rendimento, competências académicas e género, sendo que esta “classificação” é comum a todos os países analisados, o mesmo acontecendo com o desejo de “ser patrão de si mesmo”. Complementarmente, é também possível encontrar trabalhadores independentes num conjunto alargado de ocupações e sectores.

Por outro lado, a pesquisa efectuada deita igualmente por terra alguns mitos que rodeiam o trabalho independente no século XXI. E o primeiro diz respeito ao facto de serem os millennials que dominam este segmento – aqui considerados como os menores de 25 anos -, que representam, no relatório em causa, menos de um quarto dos trabalhadores independentes. O mesmo acontece com os trabalhadores de baixos rendimentos que, de acordo com o senso comum, são aqueles que mais “biscates” fazem para fazer face às suas necessidades. Apesar de 40% a 55% dos agregados de baixos rendimentos contarem com algum tipo de trabalho “independente”, em todos os países analisados – com excepção de Espanha – estes representam também menos de 25% dos que ganham dinheiro com este tipo de escolha laboral. Uma outra constatação, que também não gera surpresa é o facto de, e apesar de este tipo de trabalho ser muito comum nos sectores da construção, do trabalho doméstico, dos serviços personalizados e no dos transportes, também é o eleito por muitos profissionais, como médicos, terapeutas, advogados, contabilistas, designers de interiores e os “escritores”, que englobam também os tradutores e os jornalistas.

[pull_quote_left]Aqueles que optam, livremente, por este caminho laboral sem vínculo a patrões, horários ou escritórios físicos reportam níveis elevados de satisfação com a sua vida profissional[/pull_quote_left]

A pesquisa realizada sugere também que muitas pessoas escolhem esta “independência” porque são particularmente atraídas pela sua autonomia e flexibilidade mas, e obviamente, existem outras tantas que o fazem devido a constrangimentos económicos ou a condições particulares do mercado de trabalho.

Todavia, o que é claro é que aqueles que escolhem, porque assim o desejam, a via do trabalho independente são os que níveis de contentamento mais elevados com a sua vida profissional demonstram. Aos inquiridos foi pedido que avaliassem a sua satisfação relativamente a 14 aspectos da sua vida laboral, com os “freelancers” ou independentes por opção reportaram níveis mais elevados de satisfação comparativamente aos que têm um “emprego tradicional” em 12 dos itens considerados, sendo que estes últimos apenas se manifestaram “contentes” nas duas dimensões remanescentes.

Os independentes por opção – e convicção – sentem-se muito mais envolvidos com o seu trabalho, saboreando a oportunidade de serem patrões de si próprios, em conjunto com o facto de poderem ser também donos do seu tempo. Adicionalmente, afirmam também sentir-se mais satisfeitos do que os trabalhadores tradicionais em outras dimensões menos “óbvias”, como no que diz respeito a uma maior facilidade em expressarem a sua criatividade, até às oportunidades de aprenderem coisas novas ou sentirem um maior reconhecimento do seu trabalho por parte dos seus clientes. No geral, sentem-se igualmente felizes com os seus níveis gerais de rendimentos e tão satisfeitos quanto os trabalhadores tradicionais relativamente à segurança destes mesmos rendimentos e aos benefícios neles incluídos (o que em Portugal e como sabemos, ainda não acontece).

Já os “casuais”avaliam também a sua satisfação como superior à demonstrada pelos trabalhadores “tradicionais” em cinco das 14 dimensões analisadas, estando igualmente satisfeitos nas restantes, sendo que muitos decidiram transformaram os seus hobbies em tarefas pagas ou enveredaram por esta via complementar simplesmente porque retiram prazer em fazer um trabalho diferente daquele que constitui a sua actividade principal.

Por contraste, as pessoas que não podem escolher o tipo de trabalho que prefeririam – os trabalhadores “tradicionais” e os independentes “por necessidade”, demonstram estar consideravelmente menos satisfeitos do que os que têm a possibilidade de seguirem as suas preferências, o que também não é propriamente surpreendente. Mas e no que respeita a estes dois sub-conjuntos, os independentes por obrigação mostram-se mais satisfeitos com a flexibilidade e conteúdo do trabalho que realizam, o mesmo não acontecendo com o seu nível de rendimentos e, em particular, com a (in)segurança inerente ao mesmo

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Plataformas digitais e a disrupção dos modelos laborais

Apesar da extensa cobertura mediática a que têm estado sujeitas, as plataforma digitais “on-demand” ou da “economia da partilha” como a Uber, o Freelancer.com, a TaskRabitt, a Upword, o Airbnb, entre outras, proporcionam ainda uma pequena porção de trabalho independente na actualidade.

[pull_quote_left]As plataformas digitais têm vindo a crescer a um ritmo significativo nos últimos anos e 15% dos trabalhadores independentes já as utilizaram para obter rendimentos[/pull_quote_left]

Mas também é verdade é que estas mesmas plataformas têm vindo a crescer a um ritmo significativo nos últimos anos e 15% dos trabalhadores independentes já as utilizaram para obter rendimentos. As que vendem bens/produtos são as que melhor se posicionam como geradoras de rendimento e, neste caso e particular, listando as suas ofertas em mercados como por exemplo o eBay e a Etsy. Entre 25% a 40% daqueles cuja fonte de rendimento independente é proveniente do “aluguer” de activos utilizam plataformas digitais como a HomeAway, o Airbnb ou a VRBO. E quanto às plataformas que oferecem serviços, como a Uber, a Taskrabit e a Upwork, foram utilizadas por apenas 6% dos trabalhadores independentes nos Estados Unido e na Europa dos 15.

Todavia, e à medida que assistimos à fraca expansão das plataformas digitais, estas são excelentes candidatas a gerarem um efeito transformador quando aplicadas ao mercado laboral. Como refere o relatório do MGI, há já umas décadas que Ronald Coase [Nobel da Economia em 1991] constatou que as empresas reuniam muitas funções no interior de uma única organização porque era demasiado complexo, moroso e dispendioso coordenar todas as transacções através de um mercado externo. Mas e como sabemos, a Internet está a reduzir substancialmente estes custos, tornando possível conduzir mais transacções bem além das fronteiras de uma empresa. E as plataformas digitais que criam mercados para a prestação de serviços ampliam ainda mais esse benefício. Assim, os mercados para o trabalho independente poderão ser transformados mediante formas diversas:

  • Escala mais alargada. As plataformas digitais de “matching” estabelecem redes enormes de utilizadores interligados e criam mercados transparentes nos quais os vendedores e os compradores se “encontram entre si” com apenas uns cliques. Para actividades que não exijam serviços “presenciais”, o potencial de escala do mercado é global, dada a ubiquidade dos dispositivos digitados conectados e inteligentes.
  • Correspondências (matches) mais rápidas e melhores a partir de informação em tempo real. As plataformas digitais aceleram a correspondência entre a oferta e a procura. A pesquisa eficiente através de algoritmos possibilita a melhor das correspondências entre as especificidades das tarefas, dos bens ou activos que estão a ser oferecidos ou procurados e podem ainda ser combinados com informação em tempo real que permite uma coordenação eficiente entre as duas partes intervenientes na transacção, mesmo em termos de tempo e localização.
  • Informação mais rica e serviços complementares. As plataformas digitais permitem que trabalhadores e clientes partilhem dados de perfis e recomendações; muitas vezes, é a própria plataforma que recolhe dados que ajudam a fornecer credibilidade tanto no que respeita aos trabalhadores independentes como aos seus clientes, antes e depois da transacção. Por seu turno, vendedores e compradores são capazes de construir relações de confiança imediata na medida em que as classificações (ratings) e as avaliações (reviews) são agregadas de acordo com transacções passadas. Adicionalmente, o risco também é removido através de uma infra-estrutura de pagamento e de um protocolo que tem de ser cumprido enquanto condição obrigatória de participação.
  • Custos marginais perto do zero. O custo de adicionar mais participantes à plataforma é reduzido [para as próprias plataformas] e as barreiras à entrada de novos trabalhadores são igualmente baixas. Os indivíduos conseguem criar o seu perfil com facilidade e começarem de imediato a procurar tarefas, como é o caso da plataforma Freelancer.com e os artesãos independentes podem criar uma loja gratuita no Etsy e listarem os seus produtos por 20 cêntimos cada um.

Em suma, as tecnologias digitais tornaram possível a entrada de novos players nos ecossistemas do trabalho independente, fornecendo mecanismos eficazes de “correspondência” e, em alguns casos, criando nova procura e tornando possíveis novos tipos de actividades que geram rendimento

[pull_quote_left]As tecnologias digitais tornaram possível a entrada de novos players nos ecossistemas do trabalho independente, fornecendo mecanismos eficazes de “correspondência” e, em alguns casos, criando nova procura[/pull_quote_left]

Mas e como alerta o relatório do MGI, a verdadeira questão subjacente ao crescimento das plataformas digitais de trabalho independente não está relacionada com a forma como estes números podem crescer, mas sim com o desafiar de noções há muito estabelecidas no que respeita à organização das empresas. É que a tecnologia torna possível que o velho modelo de empresa com empregados que trabalham numa hierarquia elaborada de funções especializadas possa um dia abrir caminho para organizações muito mais simplificadas que se baseiem apenas numa rede informal de fornecedores externos de inúmeras actividades. Tal como os modelos de trabalho sofreram alterações substanciais com o advento da Revolução Industrial, a natureza do trabalho pode estar a evoluir novamente à medida que a revolução digital ganha terreno.

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Força de trabalho independente poderá vir a crescer significativamente

São vários os factores que apontam para um potencial de crescimento da força de trabalho independente. Na pesquisa do MGI, cerca de 14% dos inquiridos que têm um emprego tradicional em conjunto com os que não estão, actualmente, no activo, reportaram que gostariam de se tornar trabalhadores independentes. Para além de poder “ir buscar” um conjunto significativo de pessoas aos seus empregos tradicionais, o trabalho independente poderá, igualmente, “recolocar” uma significativa porção de pessoas pertencentes à população inactiva e desempregada. Dados governamentais revelam que 232 milhões de adultos nos Estados Unidos e na EU-15 estão inactivos, desempregados ou trabalham menos do que um part-time – e que pelo menos 100 milhões destes gostariam de começar a trabalhar ou aumentar as suas horas de trabalho (20 milhões nos Estados Unidos e 84 milhões na EU-15). O relatório sublinha ainda que as oportunidades flexíveis são particularmente dedicadas a estudantes, reformados, pessoas com necessidades especiais e cuidadores– grupos estes que perfazem quase 40% dos trabalhadores independentes casuais inquiridos para este mesmo estudo, sendo que o segmento sénior é aquele que merece uma observação mais cuidada. Por exemplo, a plataforma Airbnb afirma que os seniores representam o segmento demográfico de acolhimento com maior crescimento (10% dos que “oferecem” locais de hospedagem têm mais de 60 anos), enquanto 25% dos motoristas da Uber têm mais de 50 anos.

[pull_quote_left]Tal como os modelos de trabalho sofreram alterações substanciais com o advento da Revolução Industrial, a natureza do trabalho pode estar a evoluir novamente à medida que a revolução digital ganha terreno[/pull_quote_left]

Mas existe sempre o reverso da medalha, com alguns trabalhadores independentes a declararem que preferiam um emprego “estável”. Partindo do princípio que estes dados se mantêm constantes, o relatório do MGI estima que 30% a 45% da população em idade activa gostaria de ganhar o seu rendimento principal, ou um complemento ao mesmo, através do trabalho independente. E caso pudessem escolher o estilo de trabalho preferencial, a força laboral independente poderia crescer de 76 milhões de americanos para 129 milhões e de 89 milhões para 138 milhões na Europa dos 15.

Já no outro lado da equação, existem também razões para se acreditar que a procura possa crescer no que respeita aos serviços fornecidos pelos trabalhadores independentes. As plataformas digitais estão a expandir os mercados para muitos tipos de serviços ao consumidor, específicos, incluindo o transporte, a limpeza e o fazer compras, por exemplo. Para o seu relatório, o MGI indagou os inquiridos no que respeita à sua disponibilidade para pagar a alguém para fazer algumas tarefas domésticas, ao mesmo tempo que cruzou dados governamentais sobre o tempo que se gasta a realizar as mesmas. O resultado cifrou-se em 6,2 mil milhões de horas nos Estados Unidos e 8,5 mil milhões na Europa que poderiam dar origem a novas oportunidades para os trabalhadores independentes. Por fim e para as empresas, existe igualmente espaço para um crescimento adicional da utilização de trabalhadores independentes. O MGI analisou ainda mais de 150 categorias ocupacionais para avaliar que tipos de trabalho seriam mais facilmente realizados por pessoas que o fizessem de forma independente, concluindo que existe uma significativa oportunidade de crescimento para a procura empresarial.

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Benefícios e desafios económicos

Para além dos efeitos da satisfação individual expressa pelos que optam pelo caminho oposto ao do emprego tradicional, o trabalho independente pode gerar benefícios mais alargados. Os modelos de negócios digitais diminuíram os custos de transacção para os consumidores, permitindo a oferta de produtos e serviços com maior qualidade e colocando novas conveniências na ponta dos seus dedos. Por outro lado, as empresas e as organizações no geral beneficiam também desta maior escala: ou seja, podem manter as suas principais operações e enfoque naquilo que fazem melhor e contar com fornecedores de serviços independentes sempre que deles precisarem – por exemplo, contratando criativos da escrita e designers para criar um projecto de marketing específico quando a sua equipa “residente” não possui este tipo de competências. E, por último, a disponibilidade de trabalhadores independentes é particularmente valiosa para as startups que não têm meios financeiros para contratar empregados a tempo inteiro para determinado tipo de funções como a contabilidade, aconselhamento legal ou o web design.

[pull_quote_left]O trabalho independente goza também de um potencial interessante para criar benefícios macroeconómicos[/pull_quote_left]

De acordo com o relatório do MGI, o trabalho independente goza também de um potencial interessante para criar benefícios macroeconómicos. Em primeiro lugar, porque pode aumentar a participação da força laboral e o número de horas trabalhadas na economia – as oportunidades flexíveis associadas ao trabalho independente seriam bem adequadas aos 100 milhões de adultos inactivos dos Estados Unidos e da Europa dos 15 que afirmaram desejar ganhar e trabalhar mais horas. Para os desempregados, o trabalho independente pode também fornecer uma boa tábua de salvação no que respeita á geração de algum rendimento enquanto estes procuram novas oportunidades de trabalho.

Em segundo lugar, existem também caminhos apetecíveis para um potencial aumento de produtividade, na medida em que o trabalho independente permite às pessoas especializarem-se naquilo que fazem melhor e no que lhes confere um maior sentido e satisfação. Na medida em que muitos estudos indicam que estar “comprometido com” ou gostar verdadeiramente do trabalho que se faz é meio caminho andado para o aumento da produtividade, eis mais um benefício adicional. Os mercados online permitem também que produtos e serviços de nicho sejam oferecidos aos consumidores que deles precisam, estimulando assim uma procura mais duradoura e estável. E novos e inovadores tipos de serviços digitalmente fornecidos poderão aumentar igualmente o próprio consumo.

[pull_quote_left]Os desafios e oportunidades colocadas pelo trabalho independente têm de ser consideradas também num contexto de mudanças substanciais que está a afectar todos os mercados laborais, incluindo os efeitos da automatização e da globalização[/pull_quote_left]

Mas como não há bela sem senão, o problema é que uma boa parte do debate público sobre o trabalho independente está ainda muito polarizada, o que é ainda mais exacerbado pelo facto de esta alteração de paradigma estar a ocorrer num contexto de ansiedade geral sobre a qualidade destas funções e de como as tecnologias digitais estão a mudar o mundo do trabalho para (quase) toda a gente. E se algumas preocupações fazem mais sentido no mundo do trabalho independente, outras também se aplicam num universo em que são cada vez menos os mercados de trabalho tradicionais que oferecem a tão almejada segurança laboral e um pacote completo de benefícios.

Apesar de os governos, os intermediários e os inovadores terem dado já alguns passos preliminares no sentido de minimizar algumas das principais preocupações dos trabalhadores em vínculo – como a segurança no desemprego, seguros por incapacidade e pensões de reforma – muito há ainda a fazer nestas questões em particular e numa panóplia de outras tantas que nem sequer foram ainda abordadas. Mais ainda, os desafios e oportunidades colocadas pelo trabalho independente têm de ser consideradas também num contexto de mudanças substanciais que está a afectar todos os mercados laborais, incluindo os efeitos da automatização e da globalização.

E talvez seja mais do que tempo para se pensar seriamente em todas estas problemáticas.

Fonte: Independent Work: Choice, Necessity and the Gig Economy
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