O Relatório Europeu de Pagamentos 2024 (European Payment Report – EPR) da Intrum analisa os comportamentos de pagamento das empresas portuguesas num cenário de incerteza económica e política. Publicado em maio de 2024, o estudo abrange 25 países europeus e destaca as tendências em atrasos nos pagamentos, na gestão do crédito e nas prioridades estratégicas das empresas em Portugal. No meio da crise política e do abrandamento económico, as empresas portuguesas mostram resiliência e otimismo cauteloso, com foco no crescimento, na redução de custos e na transformação digital. A IA e as novas tecnologias de pagamento emergem como ferramentas cruciais para a eficiência e a competitividade. Este relatório mostra tendências valiosas para empresas e analistas sobre de como mitigar riscos financeiros e melhorar o desempenho económico num ambiente sempre dinâmico
POR PEDRO COTRIM

Em Portugal, 2024 começou com incertezas devido à crise política, resultando na dissolução do parlamento e na convocação de eleições antecipadas. Este cenário gerou apreensão económica, afetando empresas de todas as dimensões. Apesar de tudo, a economia nacional continuou a crescer em 2023, embora em ritmo desacelerado, influenciada por tensões geopolíticas e pela inflação.

A Intrum, especialista em gestão de crédito, apresenta os resultados do seu estudo anual sobre prazos de pagamento, prioridades e preocupações das empresas portuguesas.

Otimismo Cauteloso das Empresas

As empresas portuguesas estão otimistas, mas cautelosas. Em 2024, 57% das empresas priorizam o crescimento, 34% investem em novas tecnologias e 25% focam-se em parcerias estratégicas. Em 2023, 66% das empresas adotaram medidas para reduzir custos e aumentar a eficiência. No entanto, a instabilidade geopolítica e os custos elevados dos empréstimos fazem com que 54% das empresas sejam cuidadosas nos planos de financiamento e de despesas.

Comportamento e Prazos de Pagamento

A resiliência das empresas aos atrasos de pagamento aumentou, mas muitas ainda pagam aos fornecedores mais tarde do que aquilo que aceitariam dos seus clientes. Em 2024, 38% das empresas portuguesas pagavam com atraso, contra 29% em 2021. Estão a ser implementadas regulamentações europeias para reduzir os prazos de pagamento, especialmente para proteger as PME.

Iniciativas e Prioridades Estratégicas

As empresas estão focadas em reduzir riscos de crédito, fortalecer a liquidez, reavaliar os contratos com fornecedores e melhorar as práticas de pagamento. Reduzir custos e aumentar a eficiência são prioridades contínuas. A transformação digital também é uma prioridade estratégica, com as empresas a procurarem melhorar as práticas de pagamento e em garantir pagamentos pontuais aos fornecedores.

As empresas enfrentam desafios como inflação elevada, altas taxas de juros e perturbações na cadeia de valor. O volume de incobráveis variou por setor, com transportes e hotelaria a apresentarem os piores desempenhos. Em média, as empresas portuguesas gastaram 10,27 horas por semana a tentar recuperar pagamentos em atraso, uma ligeira redução em comparação com 2023.

Inteligência Artificial (IA) e Tecnologias de Pagamento

A IA está a ganhar destaque na gestão de pagamentos, oferecendo soluções personalizadas e automatizando processos manuais. As empresas temem ficar para trás se não adotarem novas tecnologias de pagamento. A IA pode ajudar a reduzir fraudes, a perceber o comportamento dos clientes e a otimizar processos de pagamento, mas também apresenta riscos como falta de visibilidade nas decisões tomadas pela tecnologia.

O relatório sugere que as empresas devem:

– Transitar de uma mentalidade de desaceleração para uma perspetiva de crescimento.

– Apoiar uma cultura de pagamento pontual para evitar um círculo vicioso de atrasos nos pagamentos.

– Adotar a IA com consciência dos riscos, investindo em competências e formação para extrair valor real da tecnologia.

O estudo foi realizado através de entrevistas telefónicas e questionários na web, entre dezembro de 2023 e março de 2024, abrangendo 25 países europeus e envolvendo 9.255 executivos a nível europeu, dos quais 240 eram de Portugal.