Considerando o número de pobres que se encontram entre as pessoas com emprego, o papel das próprias empresas e no âmbito do programa SEMÁFORO, assume uma relevância particular. As empresas podem ser, neste caso em concreto, consideradas como o primeiro elo de ligação entre as iniciativas de combate à pobreza e os primeiros beneficiários dessas políticas, que são os pobres que se encontram entre a população empregada
POR JOSÉ ANTÓNIO PORFÍRIO

No Dia Mundial dos Pobres, que se celebrou no passado dia 21 de novembro, o Papa Francisco lembrava que o combate à pobreza deve ser feito com “gestos concretos de atenção, justiça, solidariedade e cuidado com o lar comum (…)“.

Em Portugal, de acordo com os últimos dados do INE, cerca de 18,4% da população encontra-se no nível do risco de pobreza, número agravado pela pandemia da Covid-19. Deste total, estima-se que o risco de pobreza para a população empregada cresceu 1,6 pontos percentuais para os 11,2% no ano passado, naquele que é o valor mais elevado nos últimos 10 anos, segundo o INE.

Estes números representam um claro desafio para as empresas: não apenas através do seu desenvolvimento intrínseco e, portanto, através, quer da sua capacidade para gerarem riqueza, quer, sobretudo, do aumento do seu potencial para pagarem salários acima do salário mínimo; mas ainda também através do desenvolvimento de políticas concretas de responsabilidade social que tenham como alvo não apenas stakeholders externos, mas também os seus próprios colaboradores, podendo assim assumir, neste particular do combate à pobreza, um papel fundamental.

Em Portugal, através do programa SEMÁFORO, promovido pela ACEGE, e no qual a DPMC participa com outras instituições de renome, a possibilidade de as empresas desenvolverem políticas concretas para combater este flagelo ganha nova dimensão.

Considerando o número de pobres que se encontram entre as pessoas com emprego, o papel das próprias empresas, em parceria com a ACEGE, no âmbito do programa SEMÁFORO, assume uma relevância particular. As empresas podem ser, neste caso concreto, consideradas como o primeiro elo de ligação entre as iniciativas de combate à pobreza e os primeiros beneficiários dessas políticas, que são os pobres que se encontram entre a população empregada.

Para aderirem a este projeto, as empresas podem considerar diferentes níveis de envolvimento que se podem traduzir, de forma resumida, nos seguintes três níveis:

Nível 1: Disponibilizar o acesso dos contactos dos seus colaboradores, para a promoção do diagnóstico, recebendo um relatório sintético no final. Neste nível, ao facultar o acesso do programa aos colaboradores, a colaboração é importante, assumindo-se que existirá sempre uma certa divulgação interna. No entanto, a empresa não se compromete, efetivamente, a desenvolver quaisquer políticas concretas sobre o tema, a partir dos resultados obtidos, assumindo que os próprios colaboradores, através da sensibilização que obterão acerca da sua realidade em matéria de pobreza, serão os primeiros agentes de mudança para uma situação melhor;

Nível 2: Disponibilizar o acesso dos contactos dos seus colaboradores, para a promoção do diagnóstico, recebendo um relatório detalhado no final. Através deste relatório detalhado, as empresas poderão verificar a situação pormenorizada dos diferentes níveis de pobreza dos seus colaboradores, nas dimensões principais que o SEMÁFORO contempla. A partir daí, a equipa do projeto pode, caso as empresas entendam, ajudar a propor políticas concretas de combate à pobreza, quer de iniciativa própria da organização, quer com o apoio da rede de combate à pobreza instituída pela ACEGE, no âmbito deste projeto;

Nível 3: Apoiar o programa, garantindo o envolvimento de todos os seus colaboradores no diagnóstico, recebendo o relatório detalhado no final, e colaborando com a rede de apoio ao combate à pobreza, a desenvolver neste âmbito do programa SEMÁFORO. Neste nível de suporte ao projeto, que contempla o referido no nível intermédio, a empresa vai mais além, pois, não apenas se preocupa e decide implementar ações concretas para suprir as necessidades detetadas nos seus colaboradores, como também desenvolve a sua política de responsabilidade social, apoiando a construção de soluções, para este fenómeno, na sociedade em geral.

A pobreza não é só económica mas, e como preconiza o SEMÁFORO, deve ser considerada em termos holísticos (abrangendo, pelo menos, 6 dimensões essenciais, a saber: Rendimento e Emprego; Saúde e Meio-Ambiente; Habitação e Infraestruturas; Educação e cultura; Organização e Participação; Interioridade e Motivação). Por outro lado, sabe-se que a pobreza limita a capacidade do ser humano para estar em pleno no que realiza.

Assim, independentemente dos diferentes níveis de desenvolvimento que as empresas considerem, acredita-se que o simples acesso dos colaboradores a esta ferramenta, e aos seus resultados individuais, permitirá alterar a situação própria de quem, muitas vezes, está imerso numa realidade que não domina, mas que lhe determina o ser, sem grande possibilidade de mudança.

Ao mesmo tempo, consideramos que a ação concertada da equipa e dos promotores do programa, com as empresas envolvidas, com o apoio da rede social de apoio ao combate à pobreza, e com a iniciativa própria dos visados que aqui assumem um papel principal como agentes de mudança da sua própria condição, representa um efetivo passo em frente, inédito em Portugal, nas políticas de combate a este flagelo social.

Assim, como nos lembra, novamente, o Papa Francisco, acredita-se que será com estes “gestos concretos de atenção, justiça, solidariedade e cuidado com o lar comum”, enraizados em verdadeiras e efetivas políticas de responsabilidade social das empresas, e imbuídas no seu efetivo Propósito Organizacional, que o sofrimento dos pobres pode vir a ser aliviado, alterando a economia descartável que os obriga a viver à margem e fazendo voltar a florescer as suas esperanças.

Responsável junto das Empresas para o programa SEMÁFORO e CEO da DPMC Portugal