O inverno está muitas vezes associado a uma melancolia profunda relacionada com as baixas temperaturas, a diminuição da luz do sol, a redução da duração dos dias e a ausência de cores mais vivas, com a predominância de tons frios. Por isso, intensifica a sensação de solidão e contemplação, o que pode contribuir para distúrbios como o Transtorno Afetivo Sazonal (TAS), mais conhecido como depressão sazonal ou tristeza de inverno
POR INÊS CAPELA

O TAS é uma condição que afeta cerca de 1 a 3% dos adultos em climas temperados, e está associada a depressões que ocorrem regularmente no inverno, com remissão na primavera ou no verão seguinte. Porém e apesar de menos comum, pode igualmente acontecer seguindo o padrão oposto, manifestando-se durante os meses de verão e tendo remissão dos sintomas no inverno.

Sinais como humor deprimido, aumento do apetite, cansaço, letargia (apatia) e aumento da duração do sono durante o inverno, podem estar associados ao TAS, sendo que este distúrbio é mais prevalente em mulheres.

Há várias comorbidades associadas ao TAS e que intensificam as preocupações em relação a este distúrbio, como é o caso do retraimento social (devido a uma maior quantidade de tempo de sono, falta de energia para participar em atividades ou eventos sociais), o desejo por carboidratos e açúcares e tendência a comer demais e a ganhar peso.

Mas afinal, porque acontece?

 De acordo com vários estudos sobre o tema, pode existir uma menor quantidade de serotonina no cérebro (a chamada hormona da felicidade e que regula o humor, o sono, o apetite, o ritmo cardíaco, a temperatura corporal, a sensibilidade e funções cognitivas

e uma quantidade excessiva de produção de melatonina (a hormona responsável pelo nosso sono), podendo ser esse o motivo subjacente à TAS, já que esta combinação de diminuição da serotonina e aumento da melatonina afeta os ritmos circadianos.

Além disso, a falta de exposição solar ao ar livre pode diminuir a produção de vitamina D, que tem sido associada igualmente à produção de serotonina que, como já enunciado antes, é também responsável pela estabilidade do humor, atenção e outras funções pré-frontais importantes.

Descubra o que pode fazer para prevenir ou atenuar os seus sintomas

Dadas as causas já apontadas, devemos tentar agir para contrariar a normal tendência de dormir mais tempo e ficar mais tempo em casa. Por isso, é importante priorizar atividades no exterior e garantir alguma exposição solar, para aumentar o consumo de Vitamina D.

Optar por uma alimentação saudável é uma grande ajuda: dever-se-á optar por uma dieta rica em proteínas, vegetais, alimentos não processados e carboidratos complexos.

Também a prática regular de atividades físicas pode ajudar a melhorar o humor e reduzir os sintomas da TAS, mesmo que seja apenas uma caminhada rápida.

Além disso, existe sempre a possibilidade de experimentar técnicas de relaxamento e atenção plena, como meditação, ioga ou respiração profunda, que podem ajudar a reduzir o stresse e a melhorar o bem-estar emocional.

Nos casos em que os sintomas persistam, é importante procurar ajuda médica para minimizar os mesmos: a terapia cognitivo-comportamental, que é uma abordagem terapêutica eficaz que pode ajudar a identificar e a mudar padrões de pensamento negativos, pode ser uma opção, bem como a farmocoterapia, a psicoterapia e a fototerapia.

Inês Capela

Inês Capela estudou Psicologia em Inglaterra, na Middlesex University London, e concluiu os estudos em Psicologia Clínica e da Saúde na Universidade Católica do Porto. Conduziu investigações em Portugal e Espanha, desenvolvendo intervenções e programas de saúde mental ao investigar a eficácia dessas abordagens para diversas condições de saúde mental.
Terapeuta da New Life Portugal.