Nos tempos que correm, as diferenças vão moldando as nossas ideias, as nossas conversas, as nossas formas de estar e actuar; onde também a saúde mental se vai destacando, e bem, nas prioridades de cada um, a saúde física e a sua acessibilidade são também prioridades que vão ganhando dimensão: quem, de nós, sabe que não vai pertencer a este grupo?
POR MARGARIDA TEIXEIRA DE SOUSA

Na BTL (Bolsa Turismo de Lisboa), entre os dias 16 e 18 de março, mais de 40 oradores subiram a um palco dedicado ao tema Digitalização, Pessoas e Sustentabilidade.

Assistimos, no dia 17 Março, à apresentação «Turismo inclusivo: por um Portugal sem barreiras» por Nuno Cunha Leal, consultor da Accessible Portugal, para perceber o impacto deste segmento de mercado inovador nas pessoas e na sociedade.

A marca Accessible Portugal tem vindo desde 2006 a ser desenvolvida com o intuito de promover o Turismo Acessível para todos. A Accessible tem como principal função a produção de bens e serviços inclusivos que se encontram disponíveis nas suas plataformas de turismo acessível. Desta forma, o turismo inclusivo acaba por ser uma adaptação turística moldada para acolher todas as pessoas, independentemente de alguma deficiência temporária ou permanente, grávidas, famílias com crianças pequenas ou idosos, uma vez que, o público–alvo deste segmento turístico é totalmente inclusivo. E esta é a diferença.

Todos os destinos promovidos pelas Accessible, ao disponibilizarem acessos e estruturas disponíveis a todos, não colocam em causa a deslocação, a estadia nem o bem-estar de ninguém, permitindo sempre uma experiência positiva.

Para além do desenvolvimento dos territórios que se vão preparando para acolher a diversidade de clientes/turistas que o mercado está disponível para trazer, reduz-se a sazonalidade, melhora-se a qualidade de vida dos residentes, também eles com uma diversidade de necessidades que devem ser satisfeitas.

Esta acessibilidade é uma oportunidade de mercado, mas mais que isso, trata-se de ética, hospitalidade, segurança dos próprios ambientes. Trata-se da dignidade de cada ser humano, da sua autonomia, da liberdade de direitos, da igualdade, como referido na Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, desde 2006, «art. 30 alínea e) Assegurar o acesso das pessoas com deficiência aos serviços de pessoas envolvidas na organização de actividades recreativas, turísticas, desportivas e de lazer».

O turismo é actualmente uma actividade com forte impacto na sociedade, e olhando para o horizonte futuro, o turismo inclusivo relaciona-se com sustentabilidade económica, social e financeira; por isso, grande fidelização dos clientes.

Em 2050 teremos uma população muito mais envelhecida, e é também aqui se notará a necessidade dos serviços inclusivos da Accessible Portugal.

Em entrevista com Nuno Cunha Leal, consultor da Accessible Portugal, são claras as 3 dimensões da acessibilidade em que a organização actua: a da acessibilidade física aos ambientes; a do ambiente social através da formação das pessoas e dos colaboradores em atendimento inclusivo; e a da informação, com acesso à informação disponível, aos conteúdos, páginas web, mas também o acesso à informação sobre a própria acessibilidade dos recursos turísticos.

O último passo concretizado pela Accessible Portugal foi o projecto AcessTur, também de promoção do turismo acessível e inclusão social,  com o apoio do Turismo do Centro e de sete Comunidades Intermunicipais (CIM) incluindo 90 municípios, com o objectivo de qualificação da oferta e da procura turística; da desmistificação dos preconceitos e estereótipos sobre as pessoas com deficiência ou algum tipo de característica diferenciadora/necessidades especiais; e do desenvolvimento do potencial turístico da Região Centro.

Algumas actividades identificadas neste projecto AcessTur e em curso foram o Manual de Boas Práticas de um Hotel Acessível e Inclusivo; a preparação de recursos turísticos de referência para o Turismo Acessível e Inclusivo; a construção de clubes de fornecedores de produtos e serviços de Turismo Acessível e Inclusivo, entre algumas outras actividades.

Um projecto de enorme relevo na nossa sociedade, especialmente nos tempos que correm, onde as diferenças vão moldando as nossas ideias, as nossas conversas, as nossas formas de estar e actuar; onde também a saúde mental se vai destacando, e bem, nas prioridades de cada um, a saúde física e a sua acessibilidade são também prioridades que vão ganhando dimensão: quem, de nós, sabe que não vai pertencer a este grupo?

Referências adicionais:

https://www.nestportugal.pt/events

https://accessibleportugal.com/quem-somos/

https://www.turismodeportugal.pt/pt/Paginas/homepage.aspx

MARGARIDA TEIXEIRA DE SOUSA

Licenciada em Gestão e Mestrado em Empreendedorismo e Inovação Social. Trabalha na ACEGE