POR MÁRIA POMBO
De acordo com um relatório da OCDE apresentado no final de 2015, a educação influencia significativamente o crescimento económico e social de qualquer país e assume-se, sem sombra de dúvida, como um dos mais poderosos investimentos que os governos podem (e devem) fazer. Tendo em conta que 80% dos adultos que concluíram o ensino superior conseguiram arranjar emprego, comparativamente a 70% dos que terminaram o ensino secundário e a 60% dos que não foram para além do terceiro ciclo, a mesma organização conclui que as taxas de emprego aumentam à medida que aumenta o nível de educação. Apesar das ainda notórias diferenças entre homens e mulheres no que às oportunidades de trabalho diz respeito, o documento revela que as disparidades de género são inferiores entre jovens com formação ao nível da licenciatura, quando comparadas com aquelas que existem entre grupos que têm níveis de educação mais baixos.
Complementarmente, esta organização revela que os adultos com aproveitamento no ensino superior têm tendencialmente uma vida mais saudável, têm mais interesse pelo mundo que os rodeia e participam mais activamente em diversas acções (como voluntariado), envolvendo-se nas comunidades onde vivem.
No entanto, a visível desadequação dos programas curriculares face às exigências do mercado de trabalho tem impedido muitos jovens de sair do desemprego, prejudicando-os a nível social e financeiro. Adicionalmente, muitos patrões sentem que contratar um recém-licenciado é sinónimo de risco (pelo facto de não conseguirem encontrar candidatos com as competências necessárias para diversas funções) ou de perda de tempo (dado o esforço que implica ter de ensinar ao ‘novato’ o seu ofício).
Encontrar um mecanismo que aproxime as necessidades dos estudantes às da sociedade, permitindo que os anos que estes passam na escola se traduzam em tempo útil e que os conhecimentos adquiridos sejam aproveitados, é, assim, necessário e urgente.
Por este motivo, tem sido feito um esforço, por parte de algumas entidades a nível internacional, no sentido de adequar os conteúdos programáticos às exigências do mercado de trabalho do século XXI. Uma delas é a IBM que, em conjunto com diversas universidades e organizações, entende que ao trabalhador do futuro (e do presente) são exigidas múltiplas competências, em variadas áreas. Contudo, novas competências implicam também novos métodos de ensino, os quais se traduzem em ferramentas que estimulam a interactividade, a colaboração e o espírito crítico dos alunos (logo desde o ensino pré-escolar). Contrariando as metodologias tradicionais (e já ultrapassadas) que requerem dos alunos uma grande capacidade de memorização, estes novos métodos de ensino pretendem incentivar os alunos a pensar pela própria cabeça, através da simulação de situações reais e da promoção de experiências concretas.
Na prática, a importância de ajustar os planos curriculares às reais exigências do mercado de trabalho tem vindo a ser debatida, de modo a que as competências e os conhecimentos adquiridos pelos alunos sejam úteis no exercício de uma profissão. Uma educação adequada aumenta o compromisso dos cidadãos com a sociedade, tornando-a mais competitiva e sustentável.
Ligar as ciências à vida
Foi precisamente da necessidade de modernizar os conteúdos programáticos do ensino básico e secundário, adequando-os à era digital, que surgiu a plataforma Teachers TryScience, resultado de uma parceria entre a IBM, o New York Hall of Science (NYSCI) e a TeachEngineering. Com planos detalhados de aulas, estratégias de apoio aos professores, jogos e experiências, funcionando ainda como espaço de discussão e partilha de ideias, esta plataforma pretende ser uma ferramenta verdadeiramente útil a qualquer professor, aluno e encarregado de educação. Na base da mesma está a compreensão e utilização do conceito CTEM (que deriva da sigla inglesa STEM e significa Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática). Recorrer a este conceito significa utilizar conhecimentos de diversas áreas, numa abordagem interdisciplinar, para resolver um único problema (os alunos aprendem, por exemplo, que uma questão ambiental pode ser resolvida com recurso à Física, à Química e às Ciências Naturais).
Desta forma, estimular o pensamento crítico e criativo, apelar ao uso de conhecimentos de diversas áreas, encorajar os alunos a procurarem soluções alternativas e a pensarem “fora da caixa”, demonstrar que podem existir várias soluções e abordagens para resolver um único problema e que uma simples questão pode levantar outras questões, são alguns objectivos do conceito CTEM. Complementarmente, despertar os alunos para o gosto das matérias que são tendencialmente mais indesejadas, demonstrando-lhes a sua importância e utilidade no dia-a-dia, constitui uma das principais vantagens da utilização deste método, como revelam as diversas actividades existentes na plataforma.
Os planos de aulas, disponíveis em inglês e espanhol e criados para servirem de material de apoio aos docentes, contêm toda a informação necessária para que estes possam dar aulas focadas nas matérias CTEM: nesta secção do site são descritos os materiais necessários, os objectivos, o local e clima mais apropriados, a idade que os alunos devem ter, etc. Em cada aula existe um espaço dedicado a comentários, onde outros professores podem avaliar essa experiência ou dar sugestões de materiais, servindo de referência para os restantes. A acompanhar a descrição (escrita) das lições, existem ainda outros materiais de apoio, como vídeos ou apresentações, aos quais os professores e alunos podem recorrer para aprofundar conhecimentos ou como inspiração para trabalhos futuros.
Adicionalmente, na categoria Estratégias e Tutoriais estão disponíveis alguns vídeos de actividades já realizadas. Na mesma área, existem ainda algumas sugestões de mecanismos aos quais os professores podem recorrer para atingir determinados resultados: um vídeo, por exemplo, demonstra que fazer perguntas que estimulem os jovens a olhar à sua volta, explorando o mundo que os rodeia, os torna mais cooperativos e curiosos, melhorando o ambiente na sala de aula, entre os alunos e entre estes e o professor.
Apelando à interacção e partilha de ideias entre os docentes, a plataforma dispõe ainda de uma área dedicada à discussão saudável e ao diálogo, promovendo assim o sentido de pertença a uma comunidade com interesses comuns. Os grupos são criados pelos utilizadores, conforme a necessidade de abordar um determinado tema ou de reunir docentes de um país específico. Um dos exemplos é o grupo português, denominado de Comunidade TTS Portugal, o qual foi criado para juntar os professores das mais diversas escolas do nosso país, incentivando-os a partilhar as experiências feitas e os resultados já obtidos.
Com tradução em diversas línguas (incluindo português), a plataforma contém ainda uma secção com actividades “menos complexas e exigentes”, que podem ser feitas em casa, num curto espaço de tempo e cujo objectivo é apelar à criatividade e observação do meio ambiente, por parte das crianças e dos jovens, recorrendo a materiais simples (como rolos de papel e pacotes de leite, por exemplo). Esta é uma área “diferente” das restantes: para além das disciplinas “básicas” (Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática), abrange matérias mais específicas como as Ciências Sociais, a Medicina, a Saúde e as Ciências Espaciais. Em todas as acções desta categoria são ainda dadas dicas aos pais e professores, estimulando a interacção e a colaboração entre estes e os jovens.
Incentivar, envolver, observar e aprender
Em Portugal, a IBM associou-se ao Pavilhão do Conhecimento para promover a plataforma Teachers TryScience ao longo do ano lectivo 2015/2016. Estimular, em diversos ambientes, a aprendizagem baseada no desenvolvimento de projectos e na partilha de experiências, demonstrando que é possível criar novas formas de trabalho e inovar dentro e fora da sala de aula, é um dos grandes objectivos desta parceria, a qual conta ainda com o apoio da Direcção-Geral da Educação e do Centro de Competências TIC – EDUCOM.
Na qualidade de directora da Divisão de Marketing, Comunicações e Cidadania da IBM Portugal, Lara Campos Tropa realça o “carácter inovador do programa Teachers TryScience”, o qual “procura incentivar a aprendizagem baseada no desenvolvimento de projectos e assenta sobretudo no trabalho colaborativo dentro da sala de aula, através da resolução de problemas e desafios do mundo real”.
Realizar acções de formação para professores do ensino básico e do secundário, e criar quiosques com actividades práticas e breves – denominadas Minutos com Ciência – para os alunos, no Pavilhão do Conhecimento, são duas das linhas orientadoras desta acção, a qual conta ainda com o desenvolvimento de actividades ligadas à Engenharia, em várias escolas no concelho de Lisboa, numa abordagem ainda mais próxima dos estudantes. Comum a todos estes eixos de actuação é a importância de serem promovidos, junto dos alunos mas também dos professores, a curiosidade, o poder de observação e a consciência de que este método, por ser mais prático e interactivo, se traduz numa ferramenta útil e importante para os estudantes de hoje e trabalhadores de amanhã.
A directora do Departamento Educativo e Programação Científica do Pavilhão do Conhecimento – Ciência Viva, Inês Oliveira, explica que a “concretização de pequenos projectos de investigação incentiva a aprendizagem de conteúdos e o desenvolvimento de competências, ao mesmo tempo que estimula a curiosidade, tenacidade, criatividade e inovação”. Adicionalmente, a também especialista em Biologia Molecular refere que “o programa educativo Teachers TryScience é um bom exemplo de como é possível conciliar o ensino formal e não formal na exploração de conteúdos e promoção da literacia científica entre jovens”, salientando que “o papel dos (bons) professores vai para além da formação académica, contribuindo tanto para o desenvolvimento social e moral dos alunos como para o seu desenvolvimento intelectual”.
Os resultados são evidentes e o balanço desta iniciativa, em Portugal, é bastante positivo. Os Minutos com Ciência somam já a participação de aproximadamente 1500 professores e respectivos alunos, ao longo dos últimos cinco meses. No entanto, a responsável pelo Departamento Educativo do Pavilhão do Conhecimento explica que “a maior conquista deste projecto é conseguida no relacionamento mais directo com os professores, quer através das acções gratuitas de formação de curta duração, quer através da Escola Ciência Viva, por onde passam semanalmente cerca de 50 alunos e dois professores”.
Complementarmente, e apesar de algumas actividades estarem ainda a decorrer, Lara Campos Tropa destaca o empenho de Portugal no que respeita à implementação do conceito CTEM, não só “pela divulgação dos conteúdos da plataforma Teachers TryScience”, como também “pelo facto de conseguirmos apurar, junto de alunos e de professores, de que modo estes mesmos conteúdos e planos de aulas se enquadram e podem ser explorados e alinhados com os programas curriculares dos diferentes níveis de ensino”.
Entre barcos de papel e bolas de pingue-pongue
As actividades propostas na plataforma são variadas, bem como as conclusões a que se pretende chegar com uma mesma experiência, ou até os materiais que se podem utilizar.
De forma muito resumida, apresentamos algumas dessas experiências, conscientes de que existem tantas outras, possivelmente mais interessantes e muito mais complexas, por descobrir.
Os barcos de papel de alumínio são um bom e simples exemplo. Testar a sua capacidade de flutuação, comparando-a com a capacidade de flutuação de uma bola do mesmo material ou de um barco com uma fisionomia diferente, é o principal objectivo desta experiência. Esta é uma actividade com um nível de dificuldade reduzido, que estimula a curiosidade dos jovens e a interactividade entre estes e os adultos.
Descobrir os melhores materiais para limpar manchas de óleo é outra actividade proposta na plataforma. Esta é ligeiramente mais complexa que a primeira e os seus resultados não são tão facilmente observáveis. No entanto, a mesma estimula o raciocínio e a curiosidade das crianças, alertando-as para os danos provocados pelo derramamento de óleo no ambiente.
Recorrendo a pedaços de maçã, fio, cabides e gaze, a experiência Salve a sua pele pretende alertar as crianças para os perigos da exposição solar sem protecção. Através desta experiência, os miúdos podem observar as diferentes tonalidades e texturas que os pedaços de maçã (que simulam a pele) vão adquirindo ao longo do dia. Tal como a primeira, esta actividade promove a interacção e o diálogo entre os mais novos e os adultos, estimulando o uso de protector solar adequado e de cremes hidratantes, durante e após os períodos mais quentes.
Capaz de levar qualquer criança ao céu é a actividade que simula a formação de crateras por cometas. Com a ajuda de adultos e com recurso a diversos materiais, como pedras ou bolas de pingue-pongue, esta experiência permite que as crianças tenham noção do impacto causado por cometas e asteróides quando estes colidem com corpos sólidos (como planetas). Através dela, as crianças conseguem ter noção de como o tamanho, a velocidade e a trajectória feita por estes corpos celestes originam crateras com tamanhos diversos, podendo determinar a vida e a morte de um ecossistema.
Jornalista