O Laboratório Português de Ambientes de Trabalho Saudáveis (LABPATS) tem como objetivo o estudo aprofundado, sistemático e ecológico da saúde e bem-estar dos profissionais e das organizações, em conjunto com a promoção e proteção da saúde e dos riscos em contexto laboral em Portugal, não negligenciando o desempenho. Recentemente, realizou um estudo para aferir quais os modelos de trabalho preferenciais dos trabalhadores portugueses. Teletrabalho? Trabalho Híbrido? Ou trabalho presencial?
POR TÂNIA GASPAR
O que dizem os resultados do Laboratório Português dos Ambientes de Trabalho Saudáveis (LABPATS) sobre os trabalhadores portugueses?
Analisámos diferentes dimensões do ambiente de trabalho: a cultura organizacional, a relação com as lideranças, a responsabilidade social interna e externa da empresa e os recursos para a saúde ocupacional em contextos de teletrabalho e de trabalho híbrido. Tendo em conta o modelo ecológico e sistémico de ambientes de trabalho saudáveis adotado pelo LABPATS, foram comparados os três grupos: totalmente presencial, teletrabalho e formato híbrido.
Foram encontradas diferenças entre os três tipos de formato de trabalho em relação a todas as dimensões estudadas, tendo sido identificados valores mais positivos associados a uma perceção de ecossistemas de ambientes de trabalho mais saudáveis pelos profissionais em trabalho híbrido, seguidos dos profissionais em teletrabalho e, por último, dos profissionais em trabalho exclusivamente presencial.
De facto, o teletrabalho e o trabalho híbrido estão associados a uma maior perceção de autonomia, flexibilidade e mesmo confiança por parte do empregador. Esta maior autonomia e flexibilidade promovem um maior bem-estar dos profissionais, uma maior capacidade de conciliação entre a vida profissional e pessoal, uma melhor gestão do trabalho, podendo assim conduzir a um melhor desempenho.
Os trabalhadores em situação de trabalho híbrido consideram que a sua organização tem uma cultura mais preocupada com o bem-estar dos trabalhadores e que tem práticas e estratégias para promover a saúde dos profissionais e da organização como um todo. Ao nível do compromisso da liderança, os trabalhadores referem que a liderança se preocupa com o bem-estar dos trabalhadores, a qual se caracteriza pela coordenação, orientação, organização, eficiência e encorajamento.
Ao nível do empenho profissional, os profissionais do regime híbrido referem sentir-se mais motivados e satisfeitos com o seu trabalho. Na sequência da pandemia de COVID-19, o regime de trabalho mais comum para os trabalhadores do conhecimento é agora uma espécie de modelo híbrido, um tipo de “trabalho flexível em que um trabalhador divide o seu tempo entre o local de trabalho e o trabalho à distância”. Estas modalidades oferecem aos trabalhadores um maior nível de controlo sobre o local (localização) e o momento (calendário) em que as suas tarefas de trabalho são executadas, o que permite melhorar a flexibilidade, a autonomia e o equilíbrio entre a vida profissional e a vida privada.
Em termos de ambiente psicossocial de trabalho, os profissionais revelaram que têm uma relação positiva com a chefia, baseada na confiança e transparência na comunicação, que se sentem valorizados e que os conflitos são resolvidos de forma justa. Os profissionais em trabalho híbrido, quando comparados com os profissionais em teletrabalho e, sobretudo, quando comparados com os profissionais em trabalho presencial, apresentam mais competências de gestão do stress e menos sintomas de burnout, como a exaustão, a tristeza e a irritabilidade. São também os mais satisfeitos com o ambiente físico de trabalho em termos de qualidade, condições e equipamentos.
Adicionalmente, os profissionais em formato híbrido são os que mais referem que a organização promove o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal, promove o desenvolvimento pessoal e profissional e preocupa-se com as fragilidades familiares dos profissionais. Os profissionais em trabalho híbrido destacam-se como os que mais referem que a empresa promove e facilita recursos para a adoção de um estilo de vida saudável e de saúde ocupacional.
E no que respeita à saúde mental?
Os profissionais em formato híbrido mostram melhores indicadores de saúde mental. Menos tristeza, stress e irritabilidade e menor interferência do trabalho na vida pessoal e familiar. Verificou-se igualmente que as características sócio-demográficas têm mais impacto no caso do trabalho presencial e híbrido, com os profissionais casados a manifestarem uma perceção menos positiva.
Para todos os tipos de formato de trabalho, o envolvimento dos trabalhadores, o ambiente psicossocial e o stress são fatores importantes para a saúde mental. Para o teletrabalho e o trabalho presencial, o envolvimento da chefia e o ambiente físico são também importantes. E são os profissionais em teletrabalho que mais referem a importância dos recursos de saúde para a sua saúde mental.
Em suma:
O trabalho à distância, especialmente o trabalho híbrido, está associado a uma perceção de ambiente de trabalho mais saudável em relação aos diferentes sistemas do ecossistema de trabalho. O profissional tem a oportunidade de passar dias em casa ou a trabalhar remotamente, o que lhe permite autonomia e conciliação e, por outro lado, nos dias em que tem trabalho presencial, está em contacto com colegas e chefias e pode desenvolver e aprofundar essas relações interpessoais de trabalho.
Verificou-se que os profissionais em trabalho presencial e em teletrabalho apresentam necessidades acrescidas de promoção da saúde mental e de prevenção do stress e do burnout, associadas à liderança e ao ambiente físico.
Assim e como acima enunciado, o trabalho remoto e híbrido tem vantagens para os profissionais e para as organizações.
No entanto, é importante referir que alguns empregos não permitem a realização de trabalho remoto ou híbrido e que nem todos os profissionais têm uma perceção positiva do mesmo e identificam vantagens nestas formas de trabalho. Nestes casos, será importante analisar, planear e implementar medidas que permitam a estes profissionais ter um ambiente de trabalho mais saudável, numa perspetiva biopsicossocial, ambiental e sistémica.
Por fim, são os profissionais em teletrabalho que mais devem ser reforçados em termos de recursos de saúde, uma vez que estão exclusivamente à distância e não têm acesso aos recursos disponibilizados na organização e comunidade envolvente.
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Agregada e Doutorada em Psicologia, Doutorada em Gestão, Mestre em Saúde Pública e Licenciada em Psicologia Clínica.
Professora Associada com Agregação e Diretora do Serviço de Psicologia, Inovação e Conhecimento(SPIC)/ Universidade Lusófona
Coordenadora do Laboratório Português de Ambientes de Trabalho Saudáveis https://laboratoriopats.wixsite.com/labpats/